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Género de textoArtigo técnico
ContextoLivre
DisciplinaComunicação Técnica
ÁreaCiências

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Monitorização Remota de Pacientes

1. Sumário

A Monitorização Remota de Pacientes (MRP) refere-se à utilização da tecnologia de modo a monitorizar dados fisiológicos de pacientes de risco, permitindo uma observação constante do seu estado clínico, de modo a detetar antecipadamente potenciais crises. Na última década, os avanços tecnológicos permitiram um grande avanço nesta área, resultando em aparelhos portáteis capazes de adquirir, armazenar e ainda de processar sinais biológicos de modo a apresentar um diagnóstico automático.

Este artigo visa transmitir um panorama geral sobre MRP. Serão apresentados conceitos básicos sobre o seu funcionamento, assim como benefícios e desvantagens para ambos os intervenientes: paciente e prestador de cuidados de saúde. Depois de referidos alguns casos concretos serão apresentados resultados atuais sobre o tema. Finalmente, será feita uma discussão sobre os dados apresentados, concluindo com as ideias principais.

Palavras-chave Monitorização remota; Pacientes; Doenças crónicas

2. Introdução

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, as doenças crónicas são a principal causa de morte em todo o mundo, e a sua incidência tem vindo a aumentar. Envelhecimento populacional, obesidade, tabaco e estilos de vida sedentários contribuem para o problema, com resultados devastadores quer financeira quer socialmente. na Europa, morrem anualmente 4.3 milhões de pessoas devido a doenças cardiovasculares, representando 48% do total de mortes, com custos de quase 200 mil milhões de euros. [1]

O uso de tecnologias de monitorização remota provaram melhorar significativamente a eficiência e qualidade dos cuidados de saúde prestados, não melhorando a qualidade de vida dos pacientes, como também reduzindo os custos associados. [2] Adicionalmente, permite o acesso de povoações remotas e isoladas a cuidados de saúde especializados.

A MRP consiste na monitorização constante de pacientes através de pequenos aparelhos que fazem uma medição dos sinais vitais, permitindo uma observação continuada do estado de saúde de forma não invasiva. Alguns destes aparelhos têm a capacidade de processarem os dados clínicos localmente, fazendo um relatório do diagnóstico efetuado e gerando alarmes em caso de emergência. Outros operam periodicamente, fazendo várias medições ao longo do dia, separadas por um certo intervalo de tempo. No fim de cada medição, a informação recolhida é enviada para o prestador de cuidados de saúde, de modo a ser posteriormente analisada por um médico especialista.

Este artigo faz um estudo das aplicações da MRP e analisa as vantagens e desvantagens da sua implementação.

3.1 Métodos

A área com maior aplicação da MRP é, de longe, a cardiologia. Como foi referido anteriormente, as doenças cardiovasculares são responsáveis por quase 50% do total de mortes na Europa, sendo grande parte evitáveis se os pacientes fossem alvo de uma observação constante, vigiando continuamente a sua condição clínica, prevendo potenciais crises e minimizando os seus efeitos.

Outra grande área de aplicação é a pneumologia. A Organização Mundial de Saúde estima que as doenças pulmonares crónicas tenham causado 3 milhões de mortes em 2005 e que em 2030 sejam a principal causa de morte no mundo.

Na maioria dos casos é praticamente impossível oferecer os cuidados de saúde necessários para uma monitorização adequada dos pacientes. Isto deve-se à falta de recursos humanos ou infraestrutura, assim como pode ser problemático o acesso a cuidados de saúde por parte de determinados pacientes como, por exemplo, idosos ou comunidades isoladas.

A redução de erros médicos, bem como a diminuição dos custos associados tornam também a adoção de tecnologias de MRP muito aliciante. A monitorização remota oferece benefícios sociais, económicos e clínicos. Em primeiro lugar, promove a proximidade entre paciente e prestador de cuidados de saúde, na medida em que o paciente é continuamente observado, podendo entrar em contacto com um profissional de saúde em qualquer momento, evitando deslocações para um simples exame que pode ser feito através de MRP. Este facto oferece uma maior autonomia e independência ao paciente, assim como lhe disponibiliza mais tempo e comodidade, resultando num aumento da qualidade de vida. Economicamente, os custos de possíveis deslocações são minimizados, que o paciente precisa de se deslocar ao prestador de cuidados de saúde apenas em casos de emergência ou exames de rotina. Além disso, os recursos humanos necessários para monitorizar o paciente em causa são reduzidos em grande medida, o que permite uma melhor eficiência, possibilitando a prestação de cuidados de saúde a um maior número de pacientes. Finalmente, a nível clínico, a monitorização remota dos sinais vitais oferece uma observação constante, agindo de forma preventiva, minimizando os riscos de uma potencial situação de crise. Em situações de pós-operatório os benefícios também são consideráveis, que o paciente pode retornar a casa mais rapidamente pois pode ser facilmente monitorizado, mantendo o nível dos cuidados de saúde. A recuperação em casa permite ao paciente estar próximo da família, conferindo maior conforto e independência, sendo mais uma vez realçado o aumento da qualidade de vida, quer para o paciente, quer para os que o rodeiam. Adicionalmente, para o prestador de cuidados de saúde, uma redução dos recursos necessários para tratar e monitorizar o paciente, assim como também diminui a taxa de ocupação do hospital ou centro de saúde em causa. Isto leva a uma diminuição de custos de manutenção e uma maior eficiência dos recursos disponíveis.

3.1 Funcionamento

A monitorização remota consiste na observação contínua dos sinais vitais de pacientes, longe de qualquer instituição de cuidados de saúde, recorrendo a tecnologias como a internet para transmissão de dados e a avançados algoritmos de diagnóstico. Para a sua implementação, o paciente terá instalar em casa o aparelho de monitorização e possuir internet ou linha telefónica.

Os parâmetros biológicos mais comummente medidos incluem a pressão arterial, ritmo cardíaco, atividade cerebral, a concentração de uma determinada substância no sangue (glucose ou oxigénio, por exemplo) ou ainda sons respiratórios ou cardíacos. Estes parâmetros estão intimamente ligados com condições médicas onde uma observação constante é crítica.

Os aparelhos de monitorização são de pequena dimensão e portáteis, de modo a que o paciente os possa transportar sem dificuldade. Depois de cada aquisição, os dados clínicos são transmitidos para uma estação local e armazenados. Periodicamente, são enviados para um médico a fim de serem analisados. No caso de aparelhos com capacidade de processamento, quando é detetada um episódio crítico, é gerado um alarme de modo a que se possa atuar e prevenir o mais cedo possível qualquer situação problemática. Outra capacidade valiosa é a de permitir aceder ao historial clínico dum paciente em qualquer altura. Contudo, esse facto pode levantar questões importantes quanto à confidencialidade e à segurança dos dados.

3. 2 Avanços recentes

O desenvolvimento de aparelhos capazes de processamento local e deteção de potenciais crises começou a surgir na última década e procura soluções para várias condições médicas ou outros problemas:

 

  • Epilepsia: a epilepsia é uma doença neurológica que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. O sintoma mais problemático é a ocorrência imprevisível de episódios compulsivos que incapacitam o doente. Chamam-se ataques epiléticos. Um ataque epilético é causado por uma perturbação transitória na atividade elétrica do cérebro, desencadeando uma sobrecarga de atividade elétrica que afeta o funcionamento normal do cérebro, causando alterações nos movimentos, comportamento e estado de consciência do paciente. O projeto europeu EPILEPSIAE visa o desenvolvimento de um pequeno aparelho, transportável pelo doente, que analise em permanência o seu estado cerebral e permita detetar ataques com cerca de 15 minutos de antecedência. Este aparelho possibilitaria ao paciente monitorizar a sua condição evitar situações de risco e melhorar consideravelmente a sua qualidade de vida, na medida em que poderiam ser evitadas episódios de risco como em caso de condução ou ainda situações de exposição social. [3]
  • Cardiologia: na área da cardiologia, diversos estudos mostram uma relação entre alterações dos sons das válvulas cardíacas e função cardíaca. No caso de cirurgia às válvulas, quer seja transplante ou implante de válvulas protésicas, uma observação constante é fundamental. De acordo com Zhang et al. [4], usando técnicas de processamento de sinal para analisar a componente espectral dos sons cardíacos, é possível detetar situações anormais para pacientes com próteses valvulares e ainda identificar problemas específicos como estenoses ou obstruções. A deteção antecipada destes episódios pode evitar situações críticas, potencialmente fatais. Em 2009, Henriques et al. [5] desenvolveu um algoritmo baseado em redes neuronais capaz de obter uma estimativa futura da evolução da condição de um paciente. Em particular, o algoritmo permite prever a ocorrência de episódios de hipotensão críticos, baseando-se no historial clínico do doente. O método proposto permitiu a previsão de crises em 94% dos casos. A deteção antecipada permite aos médicos agirem atempadamente, decidindo qual o melhor tratamento a fim de minimizarem os riscos ou mesmo evitar que a crise ocorra.
  • Pneumologia: nesta área têm surgido vários algoritmos com o objetivo de fazer um diagnóstico assistido por computador. [6, 7, 8] Existem diferentes tipos de sons respiratórios, com diferentes componentes de frequência, podendo alguns deles estar associados com diversas patologias. Os algoritmos referidos analisam os sons respiratórios de modo a detetarem sons anormais e fazem a sua classificação. Existem em desenvolvimento alguns aparelhos para monitorização remota de pacientes com problemas respiratórios. Em [9] é apresentada uma plataforma portátil com capacidade de processamento local. Esta plataforma, que pode ser facilmente transportada pelo paciente, tem acoplado um estetoscópio para a aquisição dos sons respiratórios. A aquisição pode ser feita pelo próprio paciente ou com a ajuda de um familiar em várias posições de auscultação predefinidas. Depois de cada aquisição, os dados são armazenados localmente num cartão de memória ou transferidos para um computador. Posteriormente são enviados para o médico ou a unidade de saúde responsáveis a fim de serem analisados. Existe ainda a possibilidade de processar a aquisição automaticamente, obtendo um diagnóstico e gerando um alarme em caso de deteção de sons anormais. Assim, é possível detetar problemas respiratórios antecipadamente minimizando problemas que possam daí ocorrer.

4. Resultados

Um estudo levado a cabo em 2009 pela empresa de consultoria Spyglass Consulting revela que a MRP apresenta benefícios significativos e melhorias ao nível dos cuidados de saúde para pacientes com doenças crónicas. [10] Este estudo revela como soluções baseadas em MRP possibilita ao prestador de cuidados de saúde identificar pacientes críticos antes da sua condição evoluir para uma situação de emergência, poupando deslocações desnecessárias a uma unidade de saúde assim como previne re-hospitalizações. Ao nível do paciente, a convergência com a eletrónica de consumo, como telemóveis ou computadores, possibilitará que facilmente operem os aparelhos de MRP. Adicionalmente, chegou-se ainda à conclusão que os sistemas de MRP apresentam ainda um investimento inicial elevado para serem implementados em larga escala, apesar de permitirem reduzir custos a médio prazo. Contudo, dados que revelam uma aposta nesse sentido: de acordo com a empresa de consultoria Frost and Sullivan, o mercado da MRP na Europa atingirá um valor de mercado de mais de 300 milhões de euros em 2014, o que representa um aumento de 230% face a 2007. [11]

 5. Discussão

Os factos apresentados revelam o enorme potencial da MRP. Com o envelhecimento populacional, aumento da obesidade e patologias como a diabetes, a incidência de doenças crónicas tenderá a aumentar consideravelmente.

A MRP é apresentada como solução a este problema em vários níveis. Primeiro, aumentando a eficiência das unidades de cuidados de saúde, permitindo servir um maior número de pacientes. Segundo, melhorando a qualidade de vida do paciente, conferindo-lhe maior independência, e permitindo-lhe verificar autonomamente o seu estado de saúde, mantendo-o constantemente informado sobre a sua situação clínica. Além disso, possibilitaria, por exemplo, a recuperação em casa depois de uma intervenção cirúrgica, podendo o paciente entrar diretamente em contacto com um profissional de saúde em caso de emergência. Terceiro, reduzindo os custos de deslocamentos a unidades de saúde. Finalmente, melhorando a qualidade dos cuidados de saúde prestados, por exemplo, com a deteção automática de crises. Muitas áreas da medicina têm um caráter subjetivo e um diagnóstico pode estar sujeito à pessoa que o faz. Por exemplo, numa auscultação, algumas frequências são melhor percecionadas por algumas pessoas, o que pode levar a interpretações diferentes da mesma realidade. Além disso, não as auscultações mas também outros exames médicos requerem perícia e anos de treino. Ao implementar um método de classificação automático, a subjetividade é ultrapassada e o problema em causa é quantificado, o que se pode traduzir em diagnósticos mais completos e fiáveis. Adicionalmente, um sistema de diagnóstico automático consegue analisar quantidades de informação que um humano não consegue.

Existem, contudo, alguns obstáculos à adoção de sistemas de MRP: alguns aparelhos podem ser algo volumosos e pouco práticos de usar, causando desconforto no dia a dia do paciente. Além disso, se forem visíveis, poderão ter algum impacto social e resultar ainda numa sensação de falta de privacidade. Outra questão relevante é a aversão às novas tecnologias por parte dos mais idosos, esta que será a parte da população mais necessitada a nível de cuidados de saúde. Adicionalmente, será necessário um investimento inicial para implementação de MRP, o poderá ser pouco aliciante para alguns pacientes. Contudo, depois de implementado, terá custos fixos bastante reduzidos, consistindo apenas numa ligação à internet e na manutenção do aparelho. Finalmente, a MRP levanta algumas questões a nível de privacidade dos dados. Como estes são armazenados digitalmente e transmitidos por internet, a possibilidade de serem acedidos por terceiros, acidental ou intencionalmente. Consequentemente, será necessário um nível de segurança bastante elevado.

6. Conclusão

Este artigo apresentou as ideias principais na área de MRP. Apesar dos benefícios claros, ainda alguns obstáculos a ultrapassar.

Ao nível da aprovação social, os que irão necessitar mais destes sistemas são os que, tradicionalmente, mais se opõem às novas tecnologias: os mais idosos. Terá de haver uma sensibilização no sentido da adoção de MRP como parte de uma solução para um problema maior, dando ênfase à melhoria da qualidade de vida associada.

Com o evoluir da Tecnologia, os sistemas de MRP virão a ser mais baratos e eficazes, pelo que serão acessíveis a mais pessoas e terão uma adesão maior.

Finalmente, com o aumento populacional, envelhecimento e incidência de doenças crónicas, os atuais modelos de prestação de cuidados de saúde tenderão a deixar de ser sustentáveis, pelo que a adoção de tecnologias de MRP se apresentará como uma solução sólida e fiável.


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