MODELO DE CENTRALIZAÇÃO DE ESTOQUES PARA A LOGÍSTICA DE SUPRIMENTO DA
EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DA PETROBRAS
1. Introdução
Este trabalho tem o objetivo de apresentar um modelo de apoio à decisão de
centralização de estoques que possa ser base de uma metodologia de gestão
integrada do suprimento das unidades operacionais do segmento de Exploração e
Produção de petróleo (E&P) da gigante do setor petrolífero Petrobras. A
partir da análise de dados e informações relativas aos itens estocados nas
unidades enfocadas e a revisão de estudos similares sobre centralização e
gerenciamento de estoques, selecionou-se um modelo adequado à logística de
suprimento do E&P-Nordeste. Dessa forma, esse vai orientar a escolha da
localização de centrais de administração compartilhada de estoques com base
principalmente nos custos logísticos por unidade da empresa. É pressuposto que
seriam possíveis reduções de estoques de itens comuns pela consolidação da rede
de instalações.
Dessa forma, inicialmente são apresentados resultados de uma revisão de modelos
de centralização de estoques, realizada em journals e revistas de interesse em
logística e na mídia eletrônica. Embora tenha sido feita tendo por base o
período de 1992 a 1998, a busca referenciada evidenciou a relevância de
publicações de períodos anteriores. Na seção seguinte é descrito o problema
específico de gerência de suprimento do segmento upstreamda empresa e o modelo
selecionado para apoio à decisão de centralização. Em seguida, é apresentada a
metodologia do estudo de caso realizado para definição de uma rede consolidada
de instalações e os resultados nele observados. Finalmente, a última seção traz
as principais conclusões do trabalho.
2. Revisão da Literatura de Modelos de Centralização e Gerenciamento de
Estoques
Segundo Meredith (1992), existem diversas razões para se manter estoques, mas
em geral eles podem ser agrupados em cinco funções básicas ou seja, (a)
segurança; (b) antecipação para épocas e ou situações especiais; (c)
fragmentação entre os vários estágios de produção; (d) em trânsito, e (e)
cíclicos, necessários para permitir economias de escala. Estoques de segurança
são mantidos para estabelecer uma margem de segurança ao longo de cadeias de
abastecimento e de forma a minimizar as incertezas, associadas ao suprimento e/
ou demanda, com o objetivo de garantir o funcionamento ininterrupto do processo
produtivo. O estabelecimento dessa margem busca reduzir o risco que a empresa
está disposta a assumir por causa da ocorrência de falta ou falha de estoque. O
estoque de segurança em cada ponto de estocagem na cadeia de abastecimento
depende da variabilidade da demanda da região que ele atende, da incerteza
existente em relação ao lead time e do nível de serviço desejado pela empresa.
Segundo Zin & Marmorstein (1990), os dois métodos mais utilizados para o
cálculo do estoque de segurança são baseados no Sistema de Demanda (DS) e no
Sistema de Previsão (FS). A diferença entre os dois sistemas é substancial.
Resultados de simulações indicam que o FS, embora menos utilizado na literatura
da área de logística, resulta em aproximadamente 15% menos estoque de segurança
para assegurar o mesmo nível de serviço ao cliente que o DS. No método DS '
Sistema de Demanda, o nível de estoque de segurança depende da variabilidade da
demanda. Já no FS ' Sistema de Previsão, esse nível depende da variabilidade
dos erros de previsão da demanda. A formulação para o cálculo do estoque de
segurança no sistema FS é similar ao DS. Entretanto, no DS a previsão implícita
para cada período é a demanda média. Como resultado, o desvio padrão da demanda
equivale ao desvio padrão da "previsão" de erros. O FS é mais
complexo e caro de implementar que o DS, mas potencialmente mais eficiente,
pois requer a estimação do erro de previsão, o que é obtido usando aproximações
baseadas por exemplo na teoria de regressão ou análise de séries temporais,
para prever a demanda para cada período futuro.
Zin et al. (1989) utilizam a abordagem do sistema DS para o cálculo do estoque
de segurança por meio da expressão SS = ks, onde: k = fator de segurança
associado ao nível de serviço desejado; s = desvio padrão da demanda; e SS =
estoque de segurança. A grande vantagem de expressá-lo dessa forma deriva do
fato de existirem tabelas que apresentam a probabilidade de faltar estoque em
função do fator de segurança k, medido em números de desvios padrão em relação
à média da amostra de dados. Lambert & Stock (1993) apresentam uma tabela
relacionando os diversos valores para k aos valores assumidos por suas funções
de densidade e probabilidade e suas expectâncias parciais (Figueiredo, 1999).
Essa tabela foi originalmente desenvolvida por Brown (1967) e os valores nela
contidos foram obtidos a partir da premissa de que a demanda e os erros de sua
previsão apresentam uma distribuição normal. Embora tal premissa pareça atender
à maioria dos casos práticos, é ressalvado que, quando tal não ocorrer, os
valores tabelados poderiam ser recalculados para a distribuição acertada, sem
prejuízo para a especificação funcional do cálculo do estoque de segurança,
válida para qualquer distribuição da demanda e dos erros de sua estimativa.
A revisão da literatura indica como as primeiras referências sobre
centralização de estoques os livros de Starr & Miller (1962) e Brown
(1967). Só anos mais tarde aplicações dos modelos de centralização baseadas na
famosa "lei da raiz quadrada" apareceram nos livros-texto da área de
logística como, por exemplo, Heskett et al. (1973) e Smykay (1973). Heskett et
al. (1973) enumeram, entre outros pontos, os maiores benefícios das estratégias
de centralização versus estratégias de descentralização e os fatores
responsáveis por cada um desses. Smykay (1973) observa que o estoque de
segurança armazenado em um único ponto centralizado é igual à razão do estoque
total de segurança dos vários locais possíveis pela raiz quadrada do número
total de localizações. Embora a comprovação prática da "lei da raiz
quadrada" indique que o total de estoque em um sistema é proporcional à
raiz quadrada do número de localizações onde o produto pode ser estocado, em
nenhuma das referências acima é feita, explicitamente, sua demonstração formal.
Maister (1976) formaliza a "lei da raiz quadrada" e estabelece que,
em geral, a relação entre estoque centralizado e descentralizado é igual a: [/
img/fbpe/pope/v21n2/a02img01.gif], sendo m = número de localizações após a
consolidação e n = número de localizações anteriores à consolidação. Segundo o
autor, essa lei pode ser aplicável tanto ao cálculo da redução do estoque de
segurança, quanto ao cálculo de estoques de manutenção quando for empregado o
lote econômico para pedido de ressuprimentos (EOQ). Ele complementa que, quando
o estoque de manutenção está diretamente relacionado com a demanda média, a
redução obtida com a aplicação da "lei da raiz quadrada" não é
pertinente. Para a dedução da lei, Maister (1976) estabelece as seguintes
hipóteses: as demandas de cada local não são correlacionadas e a variabilidade
da demanda é a mesma para todas as localizações. Uma aproximação da programação
dinâmica para alocar estoques de manutenção e de segurança a várias
localizações, comparando o custo total de estoque centralizado versus
descentralizado, segundo hipóteses menos restritivas que as de Maister (1976) é
feita em 1978 por Das (Das & Tyagi, 1997).
Eppen (1979) estuda os efeitos de centralização nos custos de manutenção e nos
custos de penalidades por transferências entre localizações no problema
conhecido na literatura como do "jornaleiro de múltiplas
localizações". O autor deduz em seu trabalho uma expressão para o custo
total esperado ao consolidar demandas de várias instalações. Segundo ele, o
custo total esperado é uma função dos parâmetros da demanda de cada localização
como média, variância e coeficientes de correlação. A modelagem de Eppen (1979)
permite mostrar que o custo esperado de manutenção de estoques e das
penalidades, em sistemas descentralizados, é maior do que em sistemas
centralizados. Essa modelagem permite observar também que se as demandas são
idênticas e não correlacionadas, esses custos aumentam com a raiz quadrada do
número de locais de armazenagem ou seja, com o "tamanho da
armazenagem" considerada. Outros autores como Chen & Lin (1989) e
Chang & Lin (1991) utilizam a formulação do problema do "jornaleiro de
múltiplas localizações" em suas modelagens.
Ballou (1981) faz uma avaliação empírica da "lei da raiz quadrada"
para o estoque total de segurança, por meio da análise de regressão, usando
dados de várias indústrias. Os parâmetros da equação de regressão mostram que o
nível de agregação do estoque difere de indústria para indústria. O autor
apresenta resultados de diferentes empresas em setores industriais variados,
demonstrando que a "lei da raiz quadrada" é normalmente muito
otimista em relação às reduções do estoque.
Zin et al. (1989) desenvolvem um modelo abrangente, do qual o da "lei de
raiz quadrada" é caso particular. Aquele foi denominado Portfolio Effect
por medir o percentual possível de redução no estoque total de segurança por
meio da consolidação de múltiplas localizações em um número reduzido delas. O
Portfolio Effect é medido como uma função de duas variáveis: a correlação dos
fluxos demandados da série histórica de consumo entre dois locais (coeficiente
de correlação de Pearson) e a magnitude, definida como a relação entre os
desvios padrão do consumo entre duas localizações. Os autores definem o modelo
de Portfolio Effect para os casos de consolidar dois e três locais de estocagem
e sugerem que os valores resultantes da modelagem podem ser usados para
identificar oportunidades de redução no estoque de segurança em um ambiente de
múltiplas localizações.
A medida do Portfolio Effect das consolidações está basicamente relacionada à
noção de agregação de estoques. Em uma rede de múltiplas localizações,
desequilíbrios na disponibilidade dos estoques por aleatoriedade da demanda nas
diferentes localizações podem ser compensados por meio de transferências entre
locais adjacentes. A agregação de localizações é também usada em ambientes não
industriais, em situações como a transferência de pacientes entre hospitais. O
princípio básico que explica o Portfolio Effect está baseado na noção de
agregação de riscos que é utilizado na literatura sobre análise de partes
comuns. Essa trata da medição do efeito do grau de padronização de itens
componentes no estoque total. Essa literatura avalia o uso de um único item de
reposição idêntico como um sobressalente em substituição a um conjunto de
vários itens componentes de forma a se conseguir redução nos estoques de
segurança.
Evers (1995) amplia a análise da "lei da raiz quadrada". Para isso
analisa o problema dos estoques mantidos utilizando o lote econômico ou
determinando a quantidade a ser pedida a partir da demanda média prevista para
o período do lead time. O modelo de Evers (1995) é deduzido a partir de
hipóteses que são pouco prováveis de serem observadas na prática, limitando a
sua operacionalidade. Em sua análise, o autor conclui que seriam necessárias
novas pesquisas para avaliar o realismo das hipóteses estabelecidas e se a
"lei da raiz quadrada" geraria um bom estimador quando pelo menos
algumas ou todas as hipóteses estivessem presentes, semelhantes àquela de
Ballou (1981).
Tallon (1993) estende o modelo de Zin et al. (1989) estudando o impacto da
centralização dos estoques em uma rede consolidada quando a demanda e o lead
time são incertos. O autor propõe um modelo para calcular a redução no estoque
total de segurança, considerando vários padrões alternativos da demanda e do
lead time. Em suas conclusões avalia que a centralização reduz o nível dos
estoques de segurança num ambiente de incerteza. Porém, um maior grau de
centralização pode aumentar as distâncias para os mercados e, conseqüentemente,
prejudicar o atendimento ao cliente. Segundo o autor, essas reduções no nível
de serviço poderiam ser minimizadas por meio de melhorias no sistema de
transportes ou no desempenho do processamento de pedidos. As incertezas
enfrentadas pela empresa poderiam ser reduzidas por meio de acordos contratuais
com clientes e fornecedores. A redução de incertezas pode fazer com que o grau
de centralização seja maior, possibilitando uma maximização nos resultados
obtidos pela consolidação dos estoques.
Mahmoud (1992) apresenta um estudo estendido ao realizado por Zinet al. (1989).
Na verdade, o modelo de Mahmoud (1992) complementa o de Zin et al. (1989), ao
permitir que se calcule a quantidade reduzida no estoque de segurança e se
selecione o(s) melhor(es) local(is) para a centralização dos estoques com base
nos custos logísticos, por meio de um modelo de otimização combinatória. O
autor modela o caso geral do "problema de seleção do esquema ótimo de
consolidação" com uma estrutura funcional semelhante àquela dos modelos de
particionamento e p-medianas. No caso de limites, como exigências de
consolidação em grupos de no máximo duas instalações, Mahmoud (1992) conclui
que o problema é do tipo network weighted matching.
Finalmente, Das & Tyagi (1997) apresentam um modelo para análise formal da
decisão de centralização de estoques em uma perspectiva mais ampla. Os autores
elaboram vários cenários relativos aos componentes do custo logístico e
analisam os efeitos individuais ou combinados desses no grau de centralização
do sistema estudado, composto por três instalações e oito clientes, usando um
modelo de otimização. Seu objetivo é determinar o grau ótimo de centralização
por meio de uma análise das inter-relações dos custos de estocagem e
transportes.
3. O Estudo de Caso
3.1 A Situação em Estudo
A atividade de Exploração e Produção da indústria de petróleo, denominada
segmento upstream, abrange as áreas de prospecção de jazidas, desenvolvimento
de reservas, produção de petróleo e gás natural. Pertencendo o E&P a uma
atividade de mineração ' pesquisa e lavra de hidrocarbonetos, a localização de
suas instalações produtivas depende de onde sejam descobertas as jazidas. Cada
campo, ou grupo de campos de petróleo, se constitui em uma unidade de extração,
cuja vida útil e volume produzido dependem das características do reservatório
até que ele seja depletado. As atividades de pesquisa e desenvolvimento de
reservas caracterizam-se pelo uso intensivo de capital e elevado risco de
insucesso econômico. Essas características refletem-se na busca da maximização
da eficiência operacional na pesquisa exploratória, na perfuração de poços e
também na fase de produção, por meio da operação contínua e da máxima
utilização da capacidade instalada. Segundo Hansen (1996), "essas
características tornam essa indústria objeto da filosofia de economia de escala
isto é, busca de elevados fatores de utilização e de minimização das
interrupções de produção com vistas à redução dos custos unitários dos
produtos". Uma conseqüência dessa filosofia de operação é a geração de uma
grande demanda por atividades de suporte, como serviços logísticos em geral e
de manutenção, que na indústria do petróleo influenciam fortemente os custos
totais de produção.
Em virtude do grande impacto dos custos logísticos nas atividades do E&P e
da perspectiva de ganhos com melhorias na gestão dos processos a elas
relacionados, a atividade de gerência de material ganhou destaque na Petrobras.
O custo médio agregado pela logística de suprimento ao segmento E&P é de
US$ 0,44 por barril produzido, em valores de setembro de 1998. Embora o custo
médio de produção do E&P seja de US$ 5,75 por BOE (Barril de Óleo
Equivalente), há grande variação entre unidades. Por exemplo, os maiores custos
são relativos às áreas de produção do Recôncavo (Bahia), Sergipe-Alagoas
(SEAL), Espírito Santo (ES) e Rio Grande do Norte e Ceará (RNCE) ou seja
US$ 11,62; US$ 10,03; US$ 8,80; e US$ 6,54, respectivamente, por BOE. Os
menores são relativos às unidades UN-SUL e UN-BC (Bacia de Campos). O
posicionamento dessas áreas pode ser visualizado pelo mapa da Figura_1. Da
mesma forma, há variação do valor agregado ao barril de petróleo pela logística
de suprimento por unidade operacional, alcançando valores por barril produzido
de US$ 1,01 na unidade do Espírito Santo e de US$ 0,90; US$ 0,84 e US$ 0,61 nas
três unidades do Nordeste, UN-SEAL, BA e RNCE, respectivamente.
Dentre os itens que compõem o custo total de suprimento de materiais, a
manutenção de estoques tem o maior potencial ou seja, 67% do total, isso
avaliando-se apenas o segundo trimestre de 1998, conforme relatório do Sermat
(1998). A participação de demais componentes de custo é a seguinte: a) pessoal:
16%, b) serviço de terceiros: 6%, c) instalações: 3%, d) material de consumo:
1%, e) overhead: 7%, e f) encargos: 1%.
O atual sistema de gestão de estoques do E&P/Petrobras é descentralizado
com determinados itens podendo ser estocados em várias unidades, com parâmetros
de ressuprimento predefinidos e estoques de segurança mantidos em cada uma
delas. As compras também são feitas de forma descentralizada, sendo que para
alguns itens o fornecedor é único. Essa situação duplica atividades realizadas
dentro do mesmo segmento e diminui uma das forças competitivas da empresa, o
seu poder de compra, isso considerando somente o E&P.
Buscando economias de escala, o planejamento de estratégias logísticas estimula
o projeto de redes orientadas para a eficiência baseadas na consolidação de
locais de estocagem. Visando desenvolver um instrumento de suporte gerencial
para a revisão e o estabelecimento de políticas de gerência de estoques para o
segmento do E&P, foi realizado um estudo de caso para o gerenciamento dos
estoques das suas unidades operacionais do Nordeste. A abordagem adotada nesse
estudo de caso está alinhada às diretrizes de planejamento da alta
administração da empresa que vem procurando estimular o fortalecimento das
parcerias internas e o melhor aproveitamento do potencial de cada unidade, ao
mesmo tempo procurando reduzir custos e fazer prevalecer o poder de compra.
A área considerada no estudo de caso restringiu-se à região Nordeste por motivo
de facilidade de obtenção de dados e conhecimento prévio da situação vigente
nas unidades operacionais do E&P nessa região. Além disso, as três unidades
UN-BA, UN-SEAL e UN-RNCE, responsáveis pela Exploração e Produção
respectivamente na Bahia, Sergipe e Alagoas, e Rio Grande do Norte e Ceará,
apresentam características muito similares de produção em termos de localização
dos poços, com a grande maioria deles localizados em terra e com equipamentos
idênticos para extração do petróleo. A área estudada contém duas das unidades
operacionais com os maiores custos de produção entre aquelas que compõem o
E&P, justificando o planejamento de ações de melhoria que visem redução nos
custos de produção. A produção média das três unidades da região Nordeste é de
245.084 barris por dia, o que equivale a 21% da produção nacional (Figueiredo,
1999). Os estoques dessas unidades totalizam o valor de US$ 219.896.000,00, com
60.197 itens estocados.
3.2 O Modelo Selecionado para Apoiar as Decisões de Centralização de Estoques
Entre os modelos de centralização de estoques da literatura foi selecionado o
modelo de Zin et al. (1989) estendido por Mahmoud (1992) para ser aplicado ao
estudo do caso realizado. O modelo desenvolvido por Maister (1976) seria também
aplicável ao problema em estudo, mas ele é na verdade um caso particular do
modelo de Zin et al. (1989). A seleção desse modelo foi reforçada pelos
seguintes pontos:
1. ele é mais abrangente pois permite selecionar as melhores
localizações para consolidação de estoques;
2. ele analisa o problema de forma integrada, considerando os vários
componentes do custo total, como os custos de transportes, de
manutenção de estoques e de processamento de pedidos e, além disso;
3. ele não exige grandes recursos computacionais para a solução do
problema.
São apresentadas a seguir a generalização do modelo de Zin et al. (1989) e as
extensões do modelo de Mahmoud (1992).
' Generalização do Modelo de Zin et al. (1989)
Zin et al. (1989) definem o efeito da consolidação de instalações existentes em
subconjuntos I' por meio do modelo Portfolio Effect. As seguintes notações são
usadas para generalização desse modelo nas equações (1) a (18):
I = Conjunto de n locais de estoque, indexados por i ;
I' = Subconjuntos de locais de estoque a serem consolidadas, I' Ì
I, |I'| = m, 2 £ m £ n, I' ¹ Æ ;
SSi = Estoque de segurança armazenado no local i, i Î I ;
SSI' = O estoque de segurança central para os locais de estoques
consolidados I';
PEI' = O Portfolio Effect da consolidação dos locais de estoque que
compõem I';
k = Fator do estoque de segurança, determinado gerencialmente,
assumido como idêntico em todos os locais ;
si = Desvio padrão da demanda no local i, i Î I ;
sI' = O desvio padrão central da demanda consolidada dos locais que
compõem I';
Mij = A magnitude relativa entre o desvio padrão da demanda nos
locais i e j, Mij = onde si ³ sj
e sj ¹ 0 ;
rij = O coeficiente de correlação de Pearson das demandas entre os
locais i e j, i, j Î I.
A equação (1) define o Portfolio Effect(PEI') por meio da divisão da taxa de
redução no volume total do estoque de segurança após a consolidação por esse
mesmo volume na situação anterior a ela.
Para facilitar a generalização do modelo, reescreve-se a equação (1) como:
O estoque de segurança em um local i qualquer é calculado como:
Assumindo que k é o mesmo para cada local de estoque i Î I e para todas
consolidações possíveis I'Î I, a equação (2) pode ser reescrita como:
O desvio padrão da demanda no local onde é consolidado o estoque é definido
estatisticamente (Mood et al., 1974) como:
Substituindo a equação (5) na equação (4),
Usando a definição de magnitude Mij, a equação (6) pode ser reescrita como:
Na equação (7) os elementos de I' são indexados tal que sm = max [si; " i
Î I'].
A equação (7) calcula o ganho possível, de forma genérica, com a centralização
de estoques numa rede com múltiplas localizações. Por exemplo, no problema da
análise da consolidação de n = 3 unidades são possíveis as seguintes
combinações: 1-2, 1-3, 2-3 e 1-2-3. Para cada uma dessas consolidações, os
valores percentuais de redução no estoque total de segurança são calculados
conforme as expressões (8) a (11):
' Cálculo da Quantidade Reduzida no Estoque de Segurança pelo ModeloPortfolio
Quantity Effect
O modelo Portfolio Effect desenvolvido por Zin et al.(1989) permite obter uma
medida do percentual de redução no estoque total de segurança conseguido por
meio da consolidação de estoques de múltiplas localizações em um único ponto.
Como os níveis de estoques de segurança armazenados em cada local (SSi) diferem
uns dos outros, o ganho conseguido com a consolidação deve, de fato, ser medido
em termos de redução nas quantidades. Mahmoud (1992) estendeu esse modelo
chamando-o de Portfolio Quantity Effect (PQE), calculando a quantidade total da
redução na quantidade do estoque de segurança, conseguida com a sua
centralização, pela equação (12).
' Cálculo do Ganho na Centralização de Estoque pelo ModeloPortfolio Cost Effect
As decisões tomadas a partir de modelos de centralização de estoques em geral
dizem respeito à quantidade total reduzida no estoque de segurança. Na prática,
o gerente do sistema logístico está interessado em estudar também o efeito
dessas decisões no custo total do sistema e no nível de serviço ao cliente. A
hipótese adotada no modelo estendido por Mahmoud (1992) é de que a instalação
centralizadora de estoques será alocada a uma das localizações já existentes.
Uma análise mais abrangente do problema deveria incluir a determinação de local
(is) ótimo(s) onde se localizaria(m) a(s) instalação(ões) centralizadora(s) com
base em alguns fatores tais como: a distribuição espacial da demanda, a média e
a variância do tempo em trânsito e o nível de serviço ao cliente. Os modelos
clássicos da teoria de localização podem ser usados na determinação dessa(s)
instalação(ões) centralizadora(s). Mirchandani & Francis (1990) apresentam
um trabalho amplo sobre a teoria de localização de instalações.
Para selecionar o local da centralização são calculados os componentes do custo
total associado a essa decisão com base no modelo denominado por Mahmoud (1992)
de Portfolio Cost Effect (PCE). Assim, para cada subconjunto I' de locais
consolidados calcula-se o Portfolio Cost Effect (
) para localizar a instalação centralizadora em r, r Î I'. No caso
geral, em que 2 < m £ n, o número total de operações para avaliações do [/
img/fbpe/pope/v21n2/a02img03.gif] é igual a [/img/fbpe/pope/v21n2/
a02img04.gif], onde o termo <formula/> é o coeficiente
binomial.
O modelo PCE mede a redução no custo total do sistema logístico, o qual inclui
os seguintes componentes:
* Custo de Manutenção de Estoque (PHCEI'r);
* Custo de Transportes (PTCEI'r);
* Custo de Investimento em Instalações (PICEI'r);
* Custo de Processamento de Pedido (PPCEI'r).
O ganho com a consolidação, medido através do modelo Portfolio Cost Effect
(PCE), pode ser calculado conforme a expressão (13):
No cálculo do valor máximo do Portfolio Cost Effect obtido por PCEI'* = [/img/
fbpe/pope/v21n2/a02img06.gif], o número total de avaliações por subconjunto I'
(PCEI'r) pode ser reduzido para <formula/> se forem
tomados apenas os valores correspondentes às instalações centralizadoras por
subconjunto ou seja, aquelas que fornecem os maiores PCEI'r.
' Seleção do Esquema Ótimo de Consolidação (OCS)
O maior ganho total nos valores de PCEI'* é obtido com o esquema ótimo de
consolidação (S*). Mahmoud (1992) definiu o problema de selecionar esse esquema
da seguinte forma:
<OCS> Maximizar<formula/>
Sujeito a :<formula/>
onde:
S é o conjunto de esquemas de consolidação, composto das consolidações I'1,
I'2, ..., I'Z, que satisfazem às duas condições abaixo:
sendo que pela condição (a) cada instalação de I pertence a uma consolidação e,
pela condição (b), cada instalação de I pertence no máximo a um desses
subconjuntos;
C é o subconjunto de todas as consolidações possíveis, sendo C = { I'1, I'2,
..., I'k, ..., I'N}, e
N o número de consolidações possíveis distintas indexadas por k, de forma que
|C| = N, e N = <formula/>
A estrutura do problema definido pelas equações (14), (15) e (16) é similar ao
problema de otimização combinatória conhecido na literatura como problema do
particionamento.
3.3 Metodologia do Estudo de Caso
O problema de gerenciamento dos estoques nas unidades operacionais do Nordeste
do E&P/Petrobras refere-se a um problema de consolidação da rede de
instalações para estocagem de itens de suporte ao processo produtivo ou seja:
Exploração e Produção de petróleo. Sua solução constitui a base para a
definição de uma política ótima para a logística de suprimento. As etapas para
a análise do problema são apresentadas a seguir:
* Levantamento e Análise dos Dados;
* Modelagem do Problema de Consolidação de Estoques;
* Solução do Problema de Consolidação de Estoques;
* Análise dos Resultados do Estudo de Caso.
' Levantamento e Análise dos Dados
A etapa de levantamento de dados foi realizada no período de 01 de julho de
1998 a 30 de setembro de 1998. O objetivo inicial foi identificar os itens
comuns às três unidades operacionais do E&P-Nordeste, utilizando para isso
o banco de dados do Sistema Único de Material (SUM), por unidade operacional da
empresa, via endereços TCP/IP das suas redes internas de informática.
O Manual de Suprimento de Material (MSM) da empresa classifica os itens em
estoque por tipo de gestão, observando a sua situação: Estoque Ativo ou
Inativo; Disponível ou Alienável; a sua aplicação: Consumo, Aplicação
Específica, Especial, ou Análise e o tipo de demanda: Probabilística, Incerta,
Programada, ou Eventual. Assim, os itens são classificados como: Consumo (C),
Imediato (I), Especial (E), Fim (F), Obra (O), Manutenção (M), Análise (A),
Disponível (D), Alienável (V) ou Eventual (L) (Figueiredo, 1999).
Os itens analisados, para os quais se visou reduzir o estoque pela consolidação
de locais do projeto de redes orientadas para a eficiência, foram limitados
àqueles classificados como do tipo Consumo (C) pela empresa ou seja: Estoque
Ativo/Consumo e Demanda Probabilística. Esses itens são caracterizados no MSM
como "enquadrados em modelos de controle aprovados, com parâmetros
implantados ou calculados conforme política de estoques da unidade operacional,
cujo ressuprimento é realizado sem consulta ao cliente, após análise do
histórico de consumo e dos níveis de estoque". A Petrobras, para esses
itens, utiliza o sistema de revisão contínua (s,Q) para o controle do estoque,
sendo s o ponto de pedido e Q o tamanho do pedido de reposição (Silver &
Peterson, 1985).
Para os itens selecionados de demanda tipo Consumo (C), foi feita uma outra
classificação, seguindo o critério de Pareto ou ABC (Lambert & Stock, 1993)
e limitou-se o estudo aos itens classe A, correspondendo a 20 % dos itens
selecionados. Figueiredo (1999) contém a listagem completa de todos os itens
comuns às três unidades operacionais e o histórico de consumo dos itens classe
A, referente ao período de 01 de janeiro de 1996 a 30 de setembro de 1998, com
a descrição destes itens, seus preços unitários e os valores em estoque em 30
de setembro de 1998 de cada um deles.
A partir do histórico do consumo dos itens classe A por unidade, foi feita uma
análise dos dados de base estatística, utilizando o software BESTFIT
(Palisade). Constatou-se que, tanto para o consumo individual quanto para a
soma dos consumos nas três unidades, a hipótese de que a distribuição de
consumo por item segue uma distribuição normal poderia ser aceita. Como para
alguns itens não houve consumo observado em todos os meses no período de tempo
em referência, adotou-se como critério para preparar os dados para a análise
estatística considerar apenas os meses em que foi registrado consumo. Quando em
um mês o item não foi consumido em nenhuma das três unidades, esse mês foi
descartado da série histórica de consumo. Esse critério é justificado pela
avaliação do impacto do coeficiente de Pearson, que mede a correlação entre
demandas no Portfolio Effect, pois caso o critério não fosse considerado, o
percentual de redução no estoque de segurança seria aumentado.
' Modelagem do Problema de Consolidação de Estoques
A modelagem do problema de consolidação baseou-se no modelo de centralização
selecionado na literatura pois esse define, em última instância:
* A quantidade total reduzida no estoque de segurança;
* O ganho anual conseguido com a consolidação pela redução do custo
logístico;
* O melhor local para centralizar o estoque.
O ganho total resultante da redução no estoque de segurança pela consolidação
dos estoques em um número reduzido de instalações centralizadoras pode ser
calculado pelo modelo Portfolio Cost Effect (PCEI'r), composto pelos
componentes de custo de manutenção de estoques, de transportes, de
processamento de pedidos e de investimento. Esse último não será considerado,
no caso em estudo, pelo fato de que o local da centralização será em uma das
unidades preexistentes, que já possui toda a infra-estrutura implantada e
armazéns atualmente com capacidade física e operacional ociosa, sem necessidade
de novos investimentos em expansão.
Esses armazéns foram construídos num período em que as unidades estavam em
franca expansão (década de 1970) e havia uma grande dificuldade para
importação, obrigando a Petrobras a exigir dos fabricantes o fornecimento de
sobressalentes para um horizonte de dois anos de operação, quando comprava um
equipamento novo. Além disso, a infra-estrutura de comunicação e transportes
necessária às operações da empresa era muito deficiente, resultando em ciclos
de pedidos muito longos.
O cálculo da quantidade reduzida no estoque de segurança e dos componentes do
custo logístico do Portfolio Cost Effect são apresentados nos subitens a
seguir.
a) Cálculo da Quantidade Reduzida no Estoque de Segurança
A quantidade total da redução do estoque de segurança por subconjunto de locais
a serem consolidados I' é calculada pelomodeloPortfolio Quantity Effect (PQEI')
representado por:
onde:
PEI' = o Portfolio Effect da consolidação dos locais de estoque que
compõem cada subconjunto I';
SSi = estoque de segurança armazenado no local i.
b) Cálculo do Efeito da Consolidação nos Custos de Manutenção de Estoques
Os custos de manutenção de estoques são diretamente proporcionais à quantidade
e ao tempo que um produto permanece em estoque. Esse custo é composto pelos
componentes relativos a custo de capital; de armazenagem e de risco. Os custos
de capital podem ser avaliados pela aplicação da taxa de interesse ao capital
investido em ativos em estoque e outros necessários para mantê-lo. Os custos de
armazenagem incluem as taxas e os seguros dos ativos, assim como as taxas de
depreciação, os custos de manutenção e reparos, condicionamento do ar,
eletricidade e salários de pessoal, que podem ser contabilizados nesse item. Os
custos de risco incluem exclusivamente os riscos de obsolescência, deterioração
e roubos do estoque.
A Petrobras adota os seguintes valores anuais para o cálculo do custo de
manutenção de estoques (Sermat, 1998):
* taxa de 15% ao ano como parcela do custo financeiro de imobilização em
estoques, que é a taxa de retorno utilizada para novos investimentos;
* taxa de 3% ao ano como medida do custo de perdas e obsolescência.
Conforme Mahmoud (1992), o ganho associado à manutenção de estoques com o custo
de manutenção resultante da redução do estoque de segurança mantido e da
consolidação de locais em subconjuntos I', cuja instalação centralizadora é o
local r, é calculado pela expressão (20):
onde:
hi = custo unitário anual de utilização do local i;
hr = custo unitário anual de utilização do local r onde ocorrerá a
centralização.
c) Cálculo do Efeito da Consolidação nos Custos de Transportes
Quando acontece uma centralização, o fluxo das mercadorias é alterado. O
componente de custo de transporte é um fator crítico na decisão sobre
centralização de estoques em alguns locais. O aumento ou decréscimo nos custos
de transportes devem ser analisados considerando as distâncias e freqüências de
viagens entre os fornecedores, os locais de estoque e os locais de demanda/
clientes. Outros fatores a serem considerados são o volume de mercadorias
movimentadas, as tarifas, as economias de escala e as condições de entrega em
cada rota. No estudo de caso do E&P-Nordeste, considerou-se que os
fornecedores estão localizados na cidade de São Paulo, por ser o Estado de São
Paulo onde está a grande maioria daqueles qualificados no cadastro da
Petrobras. Foi considerado para fins de simplificação da análise do caso que os
locais onde estão os estoques coincidem com a localização espacial da demanda.
O efeito da centralização de estoques em r e de consolidação da rede de
instalações nos custos de transportes (PTCEI'r) foi calculado medindo a
variação entre esses custos nas condições descentralizada e centralizada.
Para efeito de generalização do estudo considerou-se que os fornecedores vendem
seus produtos na condição FOB (Free on Board) para a Petrobras segundo a
classificação INCOTERMS (Internacional Commercial Terms) de 1990. Assim, o
custo de transportes, analisado por trecho fornecedor-unidade centralizadora e
unidade centralizadora-clientes, será calculado, segundo Das & Tyagi
(1997), multiplicando a demanda média anual pelo custo unitário de transporte
da facilidade i para o cliente j.
Os valores referentes aos custos unitários de transportes foram pesquisados
junto a duas das transportadoras que oferecem serviços à Petrobras, que cederam
as suas tabelas de preços para cargas fracionadas, nas quais são considerados a
distância a ser percorrida, o peso e o valor do material. No estudo de caso
foram utilizados os valores fornecidos pela transportadora Cinco Estrelas Ltda,
que apresentou as melhores condições comerciais. Figueiredo (1999) apresenta a
tabela de fretes fornecida pela transportadora e a tabela dos pesos unitários
dos itens analisados. Foram extraídos os códigos utilizados pelas empresas para
calcular o valor do frete em função da distância origem-destino, apresentados
na Tabela_I. Pode-se observar que, para os mesmos trechos, a mudança na origem-
destino altera o código da tarifa, apesar das distâncias serem as mesmas, em
virtude da facilidade operacional encontrada pela transportadora na rota.
d) Cálculo do Efeito da Consolidação nos Custos do Processamento de Pedidos
As premissas do modelo baseiam-se na suposição de que o tamanho do lote de
compra é equivalente à demanda durante o lead time (Zin et al., 1989; 1990).
Como resultado, quando estoques de um conjunto de locais distintos são
consolidados, o tamanho do lote de compra que atende a essas demandas
individuais será a soma das demandas durante o lead time. Isso resulta em dois
tipos de economia. Primeiro, o número total de pedidos feitos pela empresa
diminui para cada opção de consolidação por ciclo de ressuprimento. A redução
do custo de colocar os pedidos de ressuprimento é proporcional ao fator [m ' 1
/ m], onde m é igual ao número de locais pertencentes ao conjunto consolidado
(I'). Em segundo lugar, a empresa pode ressuprir um número maior de produtos a
cada ciclo, o que pode resultar em economias de escala na compra, pela obtenção
de descontos com uma maior quantidade comprada. O ganho líquido obtido pela
redução no custo de compra é medido pelo Portfolio Procurement Cost Effect
(PPCEI'r) que avalia exatamente a variação entre os custos antes e depois da
consolidação.
No E&P-Nordeste, o custo unitário por pedido do processo de compra nas
unidades em estudo, referentes ao primeiro semestre de 1998, está mostrado na
Tabela_II. Esses dados se referem apenas às compras no mercado nacional,
englobando 82% do total das compras da Petrobras. Em 1997, a empresa gastou com
materiais e equipamentos o valor total de US$ 1.710,00 milhões assim
distribuídos ou seja, 82% no mercado nacional (US$ 1.405,00 milhões) e 18% no
mercado externo (US$ 305,00 milhões).
e) Seleção do Esquema Ótimo de Consolidação
Para a definição dos melhores locais das instalações centralizadoras de
estoques é necessário calcular o ganho total por consolidação I', obtido pela
equação:
onde:
PHCEI'r = efeito pela variação do custo de manutenção de estoques;
PPCEI'r = efeito pela variação do custo de processamento de pedidos;
PTCEI'r = efeito pela variação doganho no custo de transportes.
A escolha do local da instalação centralizadora (r) será definida com base no
valor máximo entre os PCEI'r calculados ou seja, PCEI'* por subconjunto I'.
O esquema ótimo da consolidação é obtido pela solução de um problema de
otimização combinatória similar ao problema de particionamento (set-
partitioning) cuja formulação é:
Maximizar<formula/>
Sujeito a<formula/>
Xk
onde:
tik= coeficientes binários da matriz [n, N] (vide Tabela_III);
n é o número de instalações;
N é o número de subconjuntos de consolidações avaliadas.
No caso em estudo de n = 3 localizações, para escolher os melhores locais para
a centralização de estoques dos itens analisados a matriz inicial de seleção do
esquema ótimo é aquela apresentada na Tabela_III. Essa matriz é estruturada de
forma que cada subconjunto de consolidações possíveis seja representado em uma
única coluna. A solução ótima encontrada para o problema determina o ganho
máximo a ser obtido com a consolidação das instalações e quais delas devem ser
selecionadas como instalações centralizadoras por item.
' Solução do Problema de Consolidação de Estoques
A solução do problema pode ser decomposta em cinco etapas:
* cálculo do percentual de redução no estoque de segurança;
* cálculo da quantidade reduzida no estoque de segurança e do efeito da
consolidação nos custos de manutenção de estoques;
* cálculo do efeito da consolidação nos custos de transportes;
* cálculo do efeito da consolidação nos custos de processamento de pedidos;
* seleção do esquema ótimo de consolidação.
Foi desenvolvido um procedimento computacional para implementar essa solução em
uma planilha EXCEL (Microsoft) com interface com o softwarede otimização What's
Best (Lindo). A planilha foi organizada em cinco pastas (PE, PHCE, PTCE, PPCE,
SELECTION), relativas às etapas em que a solução foi decomposta. A Figura_2
traz o esquema básico de solução do problema, identificando a entrada de dados
por pasta.
Figueiredo (1999) traz detalhes sobre essas planilhas, os dados de entrada
nelas introduzidos e os cálculos realizados em cada uma. Esses dados são
relativos a: desvio padrão do consumo em cada unidade operacional, histórico de
consumo para até 33 meses, valor do coeficiente k para o cálculo do estoque de
segurança, preço unitário do item, peso unitário do item em kg e valor dos
fretes para os trechos fornecedor ' unidade operacional e unidade
centralizadora ' unidade cliente. Outros dados de entrada são relativos aos
custos de processamento de pedidos por unidade operacional e a freqüência de
compras por ano, além do custo de utilização dos espaços de armazenagem das
unidades operacionais. Para efeito de simplificação na análise do custo
logístico foi adotado para todos os itens o número de 04 (quatro) compras por
ano. Para a definição do lead time foram utilizados os valores cadastrados no
banco de dados de material da Petrobras. Após o preenchimento de todos os
campos de entrada de dados, executados pasta a pasta na planilha, o ícone de
otimização do software What's Best deve ser ativado e completa-se assim o
procedimento com a geração de um relatório de saída com o ganho total obtido
com a consolidação dos estoques e a seleção do melhor local para instalação da
unidade centralizadora de estoques, entre os locais preexistentes.
' Análise dos Resultados do Estudo de Caso
O resultado inicial da pesquisa de levantamento de dados sobre itens comuns às
três unidades identificou 80 itens cadastrados como demanda tipo Consumo (C) na
classificação Petrobras, totalizando R$ 343.134,00 em valores em estoque. O
modelo selecionado foi aplicado aos itens classe A, segundo a classificação
ABC, com o objetivo de avaliar a redução dos estoques de segurança e dos custos
logísticos, resultantes da decisão de consolidação. A Tabela_IV apresenta os
resultados ótimos obtidos com a aplicação do modelo.
Os resultados indicam potencial de redução nos custos logísticos em todos os
casos analisados de consolidação de estoques. O valor total reduzido depende da
política de estoques selecionada (quantidade de compras por ano e nível de
serviço desejado, ou do parâmetro k utilizado no cálculo do estoque de
segurança), freqüência de consumo e das distâncias entre unidades e entre os
fornecedores e a unidade centralizadora. No caso analisado, o percentual médio
conseguido com a redução nos estoques de segurança, após a consolidação, foi de
30,6%, alcançando 52,6% para um determinado item. Para todos os itens
analisados houve uma redução nos custos logísticos. Os custos de manutenção de
estoques e de processamento de pedidos foram reduzidos em todos os casos,
enquanto que na grande maioria os custos de transportes cresceram quando os
locais de estocagem foram agregados.
A unidade do UN-BA foi selecionada como melhor opção para a centralização dos
estoques, resultantes das consolidações, para quase a totalidade dos itens
analisados. A melhor configuração, para 56% dos itens, foi consolidar a UN-BA
com UN-SEAL. Pode-se explicar esse resultado devido à menor distância da UN-BA
em relação à localização dos fornecedores, estabelecida como hipótese inicial,
localizados no estado de São Paulo. Além disso, pelas tabelas de fretes
fornecidas pelas duas transportadoras pesquisadas, os trechos Salvador-Aracaju
e Aracaju-Salvador apresentam os mesmos valores de tarifas para todas as faixas
de carga, favorecendo sempre a opção de localizar o estoque mais próximo do
mercado fornecedor. Além dos ganhos obtidos, a UN-BA possui melhor infra-
estrutura logística do que as outras duas unidades analisadas, também
possibilitando selecionar outras modalidades para o transporte de materiais de
acordo com a situação de consumo (emergência ou consumo normal) e
características físicas do item.
Esses resultados permitem antever reduções se a análise for estendida aos itens
das demais classificações do MSM da empresa. Dessa forma, o modelo utilizado
poderia ser base de metodologia para estruturar uma rede de centros de serviço
ou de administração compartilhada de estoques aos quais seriam alocados
determinados conjuntos de itens ou de serviços. Além disso, os valores adotados
para os parâmetros do modelo e para definir a freqüência de aquisição dos
materiais, que se traduzem nos resultados apresentados, utilizaram como
fundamento a situação vigente na empresa para os itens Consumo (C). A variação
do parâmetro k para o cálculo do estoque de segurança por local da rede de
instalações da empresa e para a instalação centralizadora por cada item ou
conjunto de itens se associa à variação no nível de serviço. A análise da
variação desse parâmetro, em conjunto com a do padrão de compras por item e por
unidade operacional, pode levar a uma maior ou menor agregação dos estoques por
cada conjunto de itens analisados. Da mesma forma, introduzir a real
distribuição espacial dos fornecedores, uma vez que se adotou uma simplificação
no estudo feito, permitiria avaliar se os resultados se manteriam com origens
situadas em outros estados além de São Paulo.
A Petrobras está adotando políticas que tendem à eliminação de imobilizados em
estoques, ao seu posicionamento estratégico no sistema logístico e à otimização
de recursos disponíveis. Nesse último caso, esses recursos seriam as unidades
operacionais, sua infra-estrutura de armazenagem e de gerência de estoques e o
pessoal qualificado para a análise e a tomada de decisão. A combinação entre a
natureza dos itens e as características do mercado deve ser observada para a
formulação das políticas de suprimento da empresa. Uma vez formuladas, pode-se
tentar traduzi-las em modelos analíticos que permitam visualizar aquela(s) mais
adequada(s) às estratégias da corporação. A seleção e a implantação da política
ótima deve considerar que ela ocasiona custos que devem ser comparados com os
benefícios oriundos da mesma. Soluções com base em metodologias e modelos de
suporte à decisão pouco sofisticados podem orientar os decisores na análise do
custo e do benefício de decisões de centralização de estoques e de serviços e
de otimização dos recursos disponíveis. É esse justamente o caso do modelo de
centralização de Zin et al. (1989) estendido por Mahmoud (1992), que permite
contrapor esses custos aos ganhos associados às economias de escala obtidas com
tais decisões.
4. Considerações Finais
Os resultados obtidos reforçam trabalhos anteriores da Petrobras, como aquele
realizado por um grupo de gerentes da empresa em novembro de 1997 na Fundação
Dom Cabral, utilizando técnicas de simulação para apoiar a análise de decisão
de novos projetos de investimentos. Nesse trabalho obteve-se como resultado da
aplicação dessas técnicas a seleção da UN-BA como o melhor local para a
instalação de uma central de administração compartilhada para a distribuição de
materiais e equipamentos para o Nordeste. Além disso, o modelo aqui escolhido
permite que seja analisada a possibilidade de adoção do conceito de
"parcerias internas" para o gerenciamento dos estoques, apoiando a
seleção da unidade operacional ótima, por região, para o gerenciamento de itens
comuns.
Entretanto, o modelo selecionado considera apenas o efeito da incerteza da
demanda. Para o caso da Petrobras quando as compras no mercado nacional são da
ordem de 82% e os atrasos de fornecimento são penalizados contratualmente, esse
modelo se mostra adequado. Entretanto, para os itens cuja aquisição acontece no
mercado externo, a incerteza no tempo de ressuprimento passa a ter considerável
importância. No caso da Petrobras, a maior parte do transporte internacional é
feita por via marítima e o tempo médio de desembaraço aduaneiro é de 20 dias.
Nesses casos o modelo de Tallon (1993), por considerar tanto as incertezas da
demanda quanto dolead time, seria o mais adequado para o cálculo da redução no
estoque de segurança. Entretanto, as incertezas enfrentadas pela empresa podem
ser reduzidas por meio de alianças estratégicas entre clientes e fornecedores,
melhorias no sistema de transportes e na comunicação entre clientes e
fornecedores, pela utilização do EDI (Eletronic Data Interchange), por exemplo.
Buscou-se basicamente medir o efeito do impacto da centralização de estoques
nos custos logísticos. Um aspecto que não foi medido neste trabalho são as
reduções possíveis nos custos de processamento de faturas ou contas a pagar
quando acontece uma centralização. Segundo pesquisa da empresa de
consultoriaSymnetics, a redução dos custos nos setores de contas a pagar e de
contabilidade da empresa são em média 15% e 47% respectivamente, quando
acontece uma centralização de atividades. Outros estudos, realizados pelaErnest
& Young, comprovaram que nessa situação o custo de processamento de contas
a pagar cai de US$ 8,00 para US$ 4,44, conforme levantamento feito nas 100
maiores empresas assim relacionadas pela revista Fortune (Figueiredo, 1999).
Os resultados da análise realizada sugerem, para futuras pesquisas, um estudo
mais abrangente considerando a possibilidade de criação de novos centros de
distribuição regionais sob a filosofia da administração compartilhada de
estoques, serviços e da informação nas diversas áreas de atuação da Petrobras
no Brasil, tratando a empresa de forma integrada e global. Um outro aspecto
importante a ser observado diz respeito a estudos sobre o comportamento da
demanda para apoio ao dimensionamento dos estoques de segurança e a redução das
incertezas nas estimativas de freqüências de consumo.