Potencialidades da utilização de compostos de ródio na confecção de sensores
eletroquímicos: uma breve revisão
INTRODUÇÃO
Recentemente, dado ao grande potencial catalítico dos compostos de ródio1-3,
comparados com os de outros metais de transição, tem havido grande interesse na
utilização destes em sensores eletroquímicos. O ródio existe, principalmente,
nos estados de oxidação 0, I, II, e III, sendo o III mais estável na maioria
dos complexos, e o I em organometálicos3-6. Enquanto o ródio metático tem sua
ação mediadora bem estabelecida com aplicação em sistemas para detecção de
lactato7-10, os derivados, ou melhor, seus complexos englobam uma classe cuja
potencialidade é muito ampla, em termos da faixa de potencial a ser
utilizada11-22. Entre os fatores importantes no estabelecimento dessa faixa de
potencial citaríamos o estado de oxidação do metal e os ligantes envolvidos11-
25. Outro ponto a ser considerado é que o ródio, como os demais metais do grupo
da platina, após introdução da cisplatina no arsenal terapêutico contra
tumores, vem sendo, também, investigado por suas propriedades biológicas24-33.
Em função da atividade biológica de compostos de ródio, torna-se relevante a
confecção de biossensores desse elemento para auxiliar no estudo do mecanismo
de ação desses complexos no organismo animal. No campo de biossensores, é
importante frisar que a habilidade destes metais de transição em se ligarem com
biomoléculas tais como enzimas e DNA, deve ser também explorada24-33, haja
visto que, em sistemas vivos, proteínas e DNA são capazes de transferir
elétrons a longa distância e que se atribui a atividade destes complexos a
interferências nestes mecanismos de transferência de elétrons34-41.
Eletrodos a base de DNA, já bem estabelecidos na literatura42-47, mostraram-se
promissores, especialmente para a investigação de fármacos com ação sobre o
DNA, entre estes os nitroimidazólicos48-50, fenotiazínicos 51 e derivados
platínicos52. Os complexos de ródio, cujo mecanismo de ação biológica se
assemelha em alguns aspectos ao dos compostos platínicos, poderiam também ser
investigados através de modelos semelhantes. Também tem sido citada na
literatura53 a potencialidade do uso de complexos eletroativos seletivos como
indicadores de hibridização. Esse fato dá margem ao desenvolvimento de
eletrodos, a base de DNA, modificados por complexos de ródio, visando tanto
estudos de hibridização, quanto a mediação e o aperfeiçoamento das estratégias
de imobilização de reagentes biológicos em biossensores54,55. A utilização de
metais de transição com intuito de se aperfeiçoar sensores eletroquímicos,
visando facilitar a transferência eletrônica enzima-eletrodo e proporcionar um
aumento da seletividade e sensibilidade, tem recebido atenção especial dos
pesquisadores da área de eletroanalítica7-10,56-60. Harwood & Pouton, em
recente revisão56, relataram os complexos de ródio como sendo promissores
mediadores para confecção de biossensores. Portanto, pretende-se relatar aqui
as características eletroquímicas dos principais compostos de ródio que vêm
sendo utilizados, no intuito de se desenvolver novos sensores eletroquímicos.
No presente, pode-se citar, entre os compostos mais promissores, e até aqui
mais investigados, o ródio metálico (micropartículas), os carboxilatos de ródio
(II) e os complexos com ligantes heterocíclicos nitrogenados naftiridínicos,
bipiridínicos, terpiridínicos, entre outros7-23, 56-73.
RÓDIO METÁLICO
Embora o interesse deste elemento quanto às suas propriedades biológicas, no
estado metálico, seja praticamente nulo, suas potencialidades em catálise
levaram à utilização deste elemento na confecção de eletrodos. Neste sentido,
partículas finamente divididas de ródio foram dispersas em eletrodos de pasta
de carbono, e vêm sendo extensivamente testadas na confecção de biossensores
seletivos para lactato7-10.
Biossensores para lactato, utilizando este tipo de eletrodo e lactato oxidase
imobilizada, operam em potenciais onde reações indesejadas são evitadas.
Atribuiu-se este aumento de seletividade à efetiva ação catalítica das
micropartículas de ródio, concernente à geração de peróxido de ródio em menores
potenciais9. O esquema abaixo ilustra a conversão de lactato a piruvato pela
enzima, com formação de H2O2.
LACTATO + Lox (FAD) ® PIRUVATO + Lox (FADH2)
Lox (FADH2) + O2 ® Lox (FAD) + H2O2
2H2O2 + Rh «Rh(H2O2)2
Lox(FAD)+ Rh(H2O2)2« Rh + Lox(FADH2) + 4OH-
Sistemas eficientes para detecção de lactato encontram importantes aplicações
no campo clínico, de fermentações e produtos alimentícios. O sistema citado
acima apresentou potenciais na faixa de -0,1 e 0,25V9.
Utilizando o mesmo princípio, outras enzimas oxidases foram imobilizadas, sendo
utilizado ródio disperso em filme polimérico, ambos depositados
eletroquimicamente sobre carbono vítreo10. Neste caso, a detecção do substrato
pode ser monitorada via O2ou H2O2. No caso da detecção via O2, há a vantagem de
se poder trabalhar em potenciais mais negativos, aumentando a seletividade. Em
contrapartida, este sistema apresenta baixa sensibilidade7-10, o que evidencia
a necessidade de se tentar reduzir os potenciais de operação para H2O2. No
sistema em questão, a eletrodeposição de ródio, em carbono vítreo, mostrou-se
igualmente eficiente na redução catalítica dos potenciais de operação, com as
seguintes vantagens: menor adsorção de H, C=O e O, maior área de contacto
oferecida para estas micropartículas e, ainda, melhor relação sinal/ruído,
quando comparado com Pd e maior sensibilidade na detecção de glicose, quando
comparado com Cu0 10.
As propriedades eletroquímicas do ródio metálico têm sido bem investigadas57, e
por possuir algumas propriedades catalíticas e eletroquímicas vantajosas, o
desenvolvimento de novas técnicas de eletrodeposição, dispersão e fixação do
metal no eletrodo é ainda um campo de trabalho a ser explorado.
CARBOXILATOS DE RÓDIO E ANÁLOGOS
Ao contrário do Rh(0), os carboxilatos de ródio(II) (Fig._1), entre os
compostos de ródio, são os mais estudados, devido às suas propriedades
antitumorais29-33,61-69, além de seu possível emprego em catálise61-63. As
propriedades desses compostos são bastante influenciadas pelos 4 ligantes
equatoriais (R), ligados em ponte, e pelos dois ligantes axiais (L), geralmente
lábeis24,33,61-70.
Embora a força de ligação desses ligantes dependa dos efeitos eletrônicos dos
substituintes, o fator preponderante na atividade biológica está provavelmente
relacionado com as características de lipossolubilidade24. Estudos
eletroquímicos de uma série de carboxilatos, em que se utilizaram diferentes
ligantes equatoriais, estabeleceram que parâmetros eletrônicos exercem grande
influência nos potenciais redox, podendo estes variarem de 1,0 a 1,8V64.
É provável que o mecanismo de ação biológica dos dímeros de Rh(II), esteja
vinculada às reações nas posições axiais (L), com sítios contendo átomos de
enxofre ou nitrogênio, e mais especificamente, com enzimas contendo grupos
tióis, como as polimerases29,30. Por outro lado, a força das ligações axiais,
entre o centro de Rh(II) e o átomo coordenante das moléculas existentes no meio
biológico deve depender, pelo menos em parte, de mecanismos de transferência de
elétrons11,12,64,67,68, com geração de radicais livres e a consequente cisão em
moléculas de DNA e/ou proteínas40,41. Em trabalhos recentes, foi constatado68,
para os lactatos e gliconatos de ródio, hidrossolúveis, que o derivado mono-
hidroxilado se ligava de modo irreversível à amônia, enquanto o derivado poli-
hidroxilado ligava-se labilmente. Neste trabalho68 também se comprovou maior
atividade citostática in vitro para lactato frente às células leucêmicas
humanas K-562. Neste último caso, os parâmetros de solubilidade eram
semelhantes, sendo as maiores mudanças atribuídas aos fatores estéricos e
eletrônicos. No sentido de se verificar a influência de fatores eletrônicos
sobre potencial do par redox Rh2(II)/Rh2(II,III), uma série de carboxilatos [
(RCOO)4Rh2], em que os substituintes R foram escolhidos sistematicamente com
base em diferentes valores de 4s* (soma de efeitos indutivos e polares nos 4
substituintes), foi sintetizada e estudada por voltametria cíclica64. A tabela
1 ilustra os resultados obtidos em DMF.
No estudo em questão, constatou-se que substituintes mais eletrocaptores como
TFA, deslocavam os potenciais positivamente, enquanto substituintes doadores
como isopropil causavam o efeito contrário. A faixa de potencial pode ser ainda
mais estendida, à medida que se substituem carboxilatos por amidatos, chegando,
a um potencial de 0,15V para acetamidatos11,12, o que indica a potencialidade
destes para sensores. Neste caso trocando-se o átomo de ligação direta por
outro menos eletronegativo, no caso O por N, aumenta-se ainda mais a densidade
eletrônica sobre o metal, estabilizando estados de oxidação mais altos11,12.
Num outro estudo onde se variou gradativamente a proporção de ligações diretas
de oxigênio por nitrogênio verificou-se que para cada acetato que era trocado
por acetamidato, na estrutura em gaiola do dímero, houve deslocamento para
potenciais mais negativos de cerca de 200 mV1,12. A influência do solvente
sobre este deslocamento, também foi marcante. Em solventes mais doadores como
acetonitrila e piridina, este deslocamento foi de 220 e180 mV respectivamente,
sendo que para dimetilssulfóxido e trifenilfosfina (0,1M em diclorometano)
decrescia para 120 e 90 mV, respectivamente64.
Todas as reações de oxidação Rh(II)/Rh(II,III) foram reversíveis ou quasi
reversíveis, com separação de picos (Epa-Epc) entre 60 e 80 mV11,12,
características estas favoráveis e de grande utilidade na construção de
sensores.
Ainda seguindo a idéia de se variar os ligantes equatoriais, no sentido de se
reduzir potenciais, aumentando a seletividade, foi sintetizado o dímero com N,
N' difenilbenzamidina [(RCR2NN)4]Rh2, ligante este que apresentava dois
nitrogênios como átomo de ligação direta13.
Comparando-se os carboxilatos com amidatos e este ligante dinitrogenado,
observa-se que enquanto estes sofrem oxidação simples, ligantes mais básicos
como amidatos sofrem 2 oxidações reversíveis formando espécies diméricas do
tipo Rh(II,III) e Rh(III,III)11-15. Além do mais, redução reversível com
formação de espécies Rh(II,I) não tem sido observada para os carboxilatos,
sendo, entretanto, possível nestes ligantes dinitrogenados, cujo voltamograma
apresentou 3 pares redox reversíveis a potenciais positivos com DEp de 60 mV e
1 par redox a potencial mais negativo quasi reversível DEp de 90 mV 13. Os
potenciais de oxidação deslocaram negativamente para 290 e 460 mV (CH3CN x SCE)
respectivamente, quando comparados com medidas feitas nas mesmas condições,
para fenilacetamidato14,15.
Outros complexos dinucleares também estudados foram sulfatos e fosfatos de Rh
(II) e Rh(III)16,70,71, admitindo-se a existência de complexos polinucleares de
íons SO42-com Rh em estados de oxidação mistos70. Observou-se, nesses compostos
por voltametria cíclica, que o DEp dependia da velocidade de varredura, sendo
muito maior que 60 mV, caracterizando um sistema irreversível da reação70, ao
contrário dos análogos acetatos onde DEp=30 mV e independe da velocidade de
varredura. Constatou-se, também, uma relação linear entre a raiz quadrada da
velocidade de varredura e a corrente de pico, indicando que o transporte de
massa é limitado por difusão16,70.
O processo de redução polarográfica depende do pH e envolve doadores de
prótons, estando de acordo com Guillhard70, que sugeriu estar o H+envolvido na
esfera de coordenação. Os possíveis produtos de adsorção são compostos do tipo
Rh(II)-Rh(I), Rh2(I) e H2.
Fosfatos e sulfatos de ródio apresentam algumas semelhanças quanto ao
comportamento eletroquímico70, cujos pares redox, obtidos através de
polarografia, são exibidos na tabela_2.
Voltamogramas cíclicos registrados em solução de fosfatos de Rh(III) e Rh(II)
exibiram três picos catódicos, a potenciais de 0,05V, -0,30V e -0,45V e 2 picos
anódicos a 0,23V e 0,35V 71.
A baixa estabilidade destes complexos confirma o mecanismo proposto para
análogos acetamidatos e carboxilatos, onde constatou-se que ligantes mais
básicos estabilizavam estados de oxidação mais altos71. A eletrodeposição de
Rh0 em eletrodos sólidos origina superfícies estáveis e catalíticas para o
desenvolvimento de eletrodos quimicamente modificados70,71. Em resumo sulfatos
e fosfatos poderiam constituir-se numa alternativa como materiais de partida na
eletrodeposição de micropartículas de ródio metálico.
Já os carboxilatos, acetamidatos e análogos dinitrogenados, em virtude dos
baixos potenciais apresentados são promissores para a confecção de sensores e
biossensores a serem utilizados na elucidação do mecanismo de ação dos
carboxilatos de ródio e serem empregados nos estudos de REA (relação estrutura
atividade). A interação com proteínas e outras biomoléculas pode ter inúmeras
aplicações potenciais, tanto na imobilização destes complexos em sensores,
quanto no uso destes para análises de moléculas de interesse biológico.
COMPLEXOS DE RÓDIO COM LIGANTES HETEROCÍCLICOS NITROGENADOS
Naftiridínicos
A busca por ligantes que coordenam com dois centros metálicos em proximidade,
possibilitando ligações metal-metal17,18, visa a obtenção de propriedades
peculiares como o sinergismo e mediação18. Oxo complexos de rutênio17,18,
binucleares de interesse em catálise homogênea, apresentaram bons resultados na
oxidação homogênea da H2O em H2O2. Complexos com os ligantes tetradentados
naftiridínicos (Fig._2) foram primeiramente sintetizados a partir de acetato de
ródio17.
As propriedades eletroquímicas desses compostos foram investigadas (ref.
calomelano), tendo sido observado um potencial reversível de oxidação à 1,28V,
e ao contrário dos carboxilatos, dois potenciais reversíveis de redução à -0,57
e -1,29V, podendo ser atribuídos à relativa rigidez deste ligante que, além de
minimizar os efeitos estéricos, eleva o potencial catalítico17,18. O
deslocamento do par redox Rh2(III/II)/Rh2(II) de 300 mV para potenciais mais
positivos foi atribuído a ausência de efeitos eletrodoadores de carga negativa
presentes em acetatos e ausentes nestes ligantes neutros e são doadores
pobres17,18.
Estes complexos poderiam ser utilizados na confecção de sensores para detecção
de analitos em que ocorre a geração de H2O2, tais como biossensores contendo
enzimas oxidases como agentes de reconhecimento molecular.
Bipiridínicos
Complexos polipiridínicos de Rh(III) têm provado ser muito ativos em vários
sistemas catalíticos19-21. Vários complexos têm sido sintetizados com intuito
de se buscar novos eletrodos modificados com Rh(III) para redução
eletrocatalítica de prótons19,20, em processos de hidrogenação ou redução
fotoquímica da H2O21 e regeneração de NADH19-21. O comportamento eletroquímico
destes complexos envolvem redução com transferência bieletrônica lenta,
centrada no metal, na transição Rh(III)/Rh(I), de caráter irreversível, seguido
por reduções quasi-reversíveis do ligante20,21. A redução bieletrônica está, em
geral, associada à perda de íons cloreto e ocorre em potenciais abaixo de -1,5V
20,21. A reoxidação pode envolver recoordenação com íons cloreto ou novo
complexo com solventes coordenantes, dependendo portanto, das condições
experimentais19-21. A adição de íons cloreto diminui a diferença dos potenciais
catódicos e anódicos do sistema Rh(III)/Rh(I)21. A presença de substituintes
mais eletrocaptores sobre o anel bipiridínico (bpy)tem marcado efeito
estabilizador sobre baixos estados de oxidação nestes complexos com metais de
transição20.
Este efeito também foi observado quando se utilizou fenantrolina (Fig._3)como
ligante, a qual possui um grupo fenila adicional em ressonância21.
O efeito de adsorção na superfície do eletrodo está associado com o solvente
utilizado, e aumenta em solventes coordenantes como CH3CN e DMSO20. A
eletropolimerização é viabilizada mais uma vez pela presença de grupos
pirrólicos (Fig._4), e ocorre através de oxidação irreversível em potenciais
controlados ao redor de 1V 20. A espessura do filme pode ser aumentada por
sucessivas varreduras a potenciais entre -1,55 e 1 V. Estes valores deslocam-se
para potenciais extremos, respectivamente negativo e positivo, à medida que o
filme cresce20. Os filmes finos foram mais eletroativos e complexos reduzidos
parecem mais estáveis, quando eletropolimerizados20, exibindo alta atividade
eletrocatalítica e estabilidade frente à geração H219,20.
Terpiridínicos
Seguindo a mesma filosofia e considerando a atividade catalítica homogênea do
Rh(terpy)23+(Fig._5)naredução fotoquímica de NAD+ foram descritos eletrodos
modificados por eletropolimerização a 1,4V em carbono vítreo (RCV) de espécies
onde o complexo bis-terpiridina é covalentemente ligado a 2 grupos
pirrólicos22. O eletrodo modificado foi avaliado na regeneração de NAD+a NADH e
comparado com eletrodo de RCV não modificado22. Esse eletrodo também foi
investigado em sistema onde se utilizou ciclohexanona e álcool desidrogenase,
formando ciclohexanol (Fig._6).
A regeneração de NAD+ a NADH não enzimática requer transferência concomitante
de 2 elétrons e 1 próton para NAD+, resultando geralmente numa mistura
contaminada por espécies inativas ou parcialmente ativas. A maior eficência e
seletividade foi obtida em potencial de -0,80 V. Constatou-se boa atividade
destes eletrodos de carbono vítreo modificados na redução de NAD+, sendo a
eficiência destes superior quando comparados a eletrodos modificados com outros
complexos de ródio, com ligantes bipiridínicos e a espécie Rh(terpy)23+quando
em solução22.
OUTROS COMPLEXOS
Entre outros complexos de ródio estudados por eletroquímica merecem ser citados
os s-acetiletos, complexos bimetálicos, e tetranucleares.
s-acetiletos
Fáceis de serem introduzidos à estrutura metálica(Fig.7), vêm ganhando
interesse em catálise. Apresentam alta reatividade, sendo oxidados mono
eletronicamente de modo quasi reversível73. Dada à sua alta reatividade, estes
complexos poderiam ser utilizados na confecção de eletrodos para análise em
fluxo.
Complexos bimetálicos tetranucleares
Foram sintetizados com ligantes bipiridínicos, biquinolínicos e
piridilpirazínicos, porém apresentam baixa estabilidade e são de difícil
síntese, sendo necessário investigar ligantes que assegurem estado de oxidação
e propriedades desejadas74. Apesar da dificuldade sintética, não se descarta a
hipótese do uso destes na confecção de sensores, especialmente pelas
promissoras propriedades sinérgicas destes compostos com múltiplos centros
metálicos.
Complexos de ródio halogenados
Apresentam-se eletroativos, respondendo em processos de redução em potenciais
negativos de 0 à -0,99 V75, podendo, então, funcionarem como uma alternativa
para detecção de analitos oxidáveis ou redutíveis, em baixos potenciais.
Complexos bimetálicos de Rh(I)
Os complexos de Rh(I) mostraram-se facilmente oxidáveis, num processo
envolvendo 2 elétrons resultando em espécies dinucleares de Rh(II). Na troca de
Rh por Ir, observou-se deslocamento negativo dos potenciais de oxidação de 0,88
para 0,80 V, em CH2Cl2,e de 0,44 para 0,16 V, em CH3CN76. Isso pode ser
explicado pelo fato de que solventes doadores como CHCN3deslocam para
potenciais negativos, por adição do solvente ao produto de oxidação, exercendo,
assim, maior estabilização da forma reduzida. Estes efeitos de adição são
maiores em complexos de ródio. Já a troca por substituintes mais fortemente p-
ácidos desloca para potenciais positivos, devido ao decréscimo na densidade
eletrônica sobre o metal de coordenação. A oxidação mostrou-se, em todos casos,
centrada no metal76.
PERSPECTIVAS DA APLICAÇÃO DE COMPOSTOS DE RÓDIO EM SENSORES ELETROQUÍMICOS
Apesar do custo relativamente elevado, os metais nobres apresentam grande
potencial em catálise, sendo úteis portanto para o desenvolvimento de novos
sensores eletroquímicos. O ródio apresentou em alguns sistemas de melhor
desempenho em relação a outros metais do grupo da platina7-10,56.
Entre os derivados de ródio mais promissores podem ser citados:
Os amidatos de ródio, em função da possibilidade de estabelecer ligações axiais
mais lábeis, e portanto, podendo ser utilizados na detecção de bases
nucleotídicas, aminoácidos ou outras moléculas contendo sítios doadores com
nitrogênio ou enxofre, envolvendo fármacos e/ou metabólitos.
Complexos N, N' amidínicos, assim como os amidatos, sofrem reações redox
reversíveis em baixos potenciais podendo estes mediarem vários processos
eletroquímicos, em sistemas complexos, livres de interferências.
Complexos hetererocíclicos nitrogenados que se mostraram úteis, especialmente
em sistemas via H2O2 . E, finalizando, em virtude dos bons resultados obtidos
com micropartículas de Rh0, sulfatos e fosfatos poderiam constituir-se numa boa
alternativa para eletrodeposição deste metal em eletrodos.
CONCLUSÕES
Em vista do estado da arte os compostos de ródio, constituem-se numa
alternativa promissora na confecção de sensores eletroquímicos, em função da
grande possibilidade de variação de suas propriedades de transferência de
elétrons e de modulação dos potenciais redox via variação dos ligantes. Convém
ressaltar que a interação com proteínas, em especial as enzimas, pode-se
constituir numa estratégia favorável, tanto numa imobilização mais adequada
quanto na mediação dos processos de transferência de elétrons com objetivo de
aperfeiçoar os biossensores já existentes.