Argilas pilarizadas - uma introdução
E Deus formou o homem do barro da terra1...
Argilas têm sido úteis à humanidade desde os primórdios da civilização (ou
talvez desde ainda mais cedo, se a Bíblia for interpretada literalmente)1. Há
dez mil anos atrás o homem já produzia utensílios domésticos e adornos a partir
de barro2. Argilas fazem parte de quase todos os tipos de solo e também podem
ser encontradas no estado puro em depósitos minerais3. Existem evidências
implicando as argilas como catalisadores em vários processos considerados
naturais, como a formação do petróleo, transformações químicas em solos e
reações catalíticas com aminoácidos ligadas à origem da vida4.
Em 1955, Barrer e MacLeod5 sintetizaram a primeira argila pilarizada, criando
uma nova classe de materiais porosos que poderiam vir a ser usados como
catalisadores heterogêneos. Com a crise mundial de petróleo iniciada em 1973,
intensificou-se o interesse por materiais potencialmente aplicáveis no
craqueamento de petróleo que apresentassem poros maiores do que os das zeólitas
então conhecidas6. (Na Figura_1 são comparados os diâmetros de poro de alguns
materiais usados em catálise). Houve, então, um grande esforço no sentido de
sintetizar argilas pilarizadas termicamente resistentes. No início da década de
90, o foco de atenção passou a ser as recém-descobertas peneiras moleculares
mesoporosas7. No entanto, o interesse pela síntese de argilas pilarizadas e seu
uso em catálise continua existindo8.
ARGILAS
Linus Pauling, em 1930, propôs um modelo teórico para a estrutura cristalina
dos minerais argilosos9. Esse modelo postula que tetraedros de SiO4, unidades
estruturais extremamente estáveis, encontram-se polimerizados formando folhas
bidimensionais. A natureza lamelar das argilas inspirou seu nome genérico:
filossilicatos. Em grego, phyllos significa 'folha', ou lamela.
As lamelas são formadas pelo compartilhamento de três dos quatro oxigênios do
tetraedro de SiO4, numa estrutura análoga à da grafita. De forma semelhante,
octaedros contendo um átomo de metal (Al, Mg, ou Fe) no centro e seis átomos de
oxigênio nos vértices também formam estruturas bidimensionais através do
compartilhamento de átomos de oxigênio10, como mostrado na Figura_2. A
combinação dessas duas monocamadas básicas dá origem às classes de argilas
descritas abaixo. As lamelas das argilas denominadas TO ou 1:1 são formadas por
uma monocamada de tetraedros de silício(T) condensada com uma monocamada de
octaedros(O); e as das argilas 2:1, ou TOT, são formadas por um
"sanduíche" de duas camadas de tetraedros contendo uma camada de
octaedros como "recheio", da maneira esquematizada na Figura_3.
As esmectitas, uma importante classe de argilas do tipo 2:1, cuja estrutura é
mostrada na Figura_2, são classificadas de acordo com a localização e o tipo de
cátions presentes na estrutura cristalina. Numa cela unitária composta por 20
átomos de oxigênio e 4 hidroxilas, existem oito sítios tetraédricos e seis
octaédricos12. Quando todos esses sítios são ocupados por cátions, o
filossilicato é chamado trioctaédrico. Quando somente dois terços são ocupados
por cátions, trata-se de um filossilicato dioctaédrico. A Tabela_1 mostra a
classificação das argilas em grupos e subgrupos, de acordo com sua carga
elétrica.
A montmorilonita, a argila mais usada em processos de pilarização, tem a
seguinte fórmula ideal:
M=cátions interlamelares: K+, Na+, etc; e x varia de acordo com a carga da
camada.
Entre as lamelas, podem existir água de hidratação e cátions de compensação,
que são passíveis de troca iônica. As argilas também têm a propriedade de se
expandir, ou sofrer intumescimento, através da introdução de mais água ou de
outros solventes na região interlamelar. Os primeiros experimentos de catálise
utilizando argilas faziam uso dessa propriedade de intumescimento13. O
substrato se difunde no solvente usado para intumescer a argila até encontrar
os sítios catalíticos nas superfícies das lamelas. Como se pode esperar, essa
técnica apresenta vários problemas, dentre os quais, a falta de
reprodutibilidade e pouca resistência térmica do sistema.
ARGILAS PILARIZADAS
Argilas pilarizadas* são materiais que possuem porosidade permanente, obtida
através da introdução de compostos químicos que funcionam como pilares de
dimensão molecular entre as lamelas da argila, mantendo-as afastadas e dando
origem aos microporos. Os compostos químicos que funcionam como suportes, ou
pilares moleculares, entre as lamelas da argila são denominados agentes
pilarizantes. A simples introdução do agente pilarizante por troca iônica, como
mostrado na Figura_4, dá origem às argilas intercaladas. O processo de
calcinação que se segue elimina a água presente entre as lamelas produzindo a
microporosidade característica das argilas pilarizadas.
O objetivo do processo de pilarização é conferir microporosidade ao sistema,
criando materiais contendo poros de dimensões complementares aos das zeólitas,
ou seja, maiores que 7 e menores que 20 Å. Isso pode ser obtido simplesmente
combinando-se uma esmectita com carga negativa baixa com um agente pilarizante
catiônico de alta carga. Dessa forma, se os agentes pilarizantes estiverem
distribuídos de maneira homogênea sobre a superfície das lamelas, um sistema de
canais bidimensionais será criado. Também é necessário que a lamela de argila
seja rígida e não se curve; que a adsorção de agentes pilarizantes na
superfície externa seja desprezível, e que todas as lamelas de argila estejam
pilarizadas14.
Há também as chamadas argilas deslaminadas, introduzidas por Pinnavaia et al.
em 198415. O ordenamento das lamelas nesse tipo de PILC é restrito e portanto a
reflexão 001 de raio X não existe (vide caracterização). No entanto, acredita-
se que ainda haja um número razoável de lamelas pilarizadas de forma que a
microporosidade continua existindo. Nesse caso, além de microporos, combinações
de lamelas se organizam em estruturas tactoidais, promovendo a formação de
macroporos. Esse tipo de estrutura, esquematizado na Figura_5, foi denominado
"castelo de cartas".
A presença de macroporos nas argilas deslaminadas pode aumentar
consideravelmente a velocidade de difusão dos reagentes e, portanto, a
atividade catalítica. Um recente trabalho de Chen et al.16 descreve a
utilização de uma argila pilarizada deslaminada com óxido de ferro na redução
catalítica de NOx.
Além de argilas do tipo esmectitas, existem trabalhos descrevendo a pilarização
de outras classes de argilas, dentre as quais os hidróxidos duplos lamelares17,
como a hidrotalcita18.
AGENTES PILARIZANTES
Os pioneiros na pilarização de argilas utilizaram aminas, de primárias a
quaternárias, como agentes pilarizantes5. No entanto, moléculas orgânicas não
se mostraram resistentes às altas temperaturas necessárias nos processos
catalíticos. Triquelatos de metais de transição, como M(o-fenantrolina) ou M
(2,2'-bipiridina) (M= metal de transição) foram usados como agentes
pilarizantes, mas sofrem do mesmo problema de estabilidade térmica limitada19.
Complexos organometálicos, clusters metálicos, cátions de
fluorohidroxialumínio, cloreto de zirconila e óxidos de metais também mereceram
atenção38,39. Óxidos como SiO2 ou Al2O3 podem ser intercalados diretamente na
forma de sóis24. A introdução da imogolita, um aluminossilicato tubular, deu
origem a uma nova família de argilas pilarizadas20. No entanto, a maior parte
dos trabalhos encontrados na literatura trata da introdução de polioxocátions,
principalmente de alumínio, zircônio, ferro, crômio e titânio, como agentes
pilarizantes. Essas espécies catiônicas além de serem relativamente estáveis
termicamente e hidrotermicamente, também podem atuar como centros
cataliticamente ativos.
SÍNTESE DE ARGILAS PILARIZADAS
A primeira síntese de argila pilarizada termicamente resistente utilizando
polioxocátions como agentes pilarizantes foi publicada por Brindley em 1977
(citado na ref. 14). O polioxocátion a ser introduzido pode ser preparado em
solução ou in situ, isto é, dentro do espaço interlamelar da argila. A
preparação em solução tem a vantagem de permitir um melhor controle da espécie
catiônica desejada. Soluções contendo polioxocátions de alumínio são preparadas
pela hidrólise de um sal de alumínio, tipicamente AlCl3, e posteriormente
neutralizadas com hidróxido de sódio até uma razão [OH]/[Al] entre 1,8 e 2,4
(1,2 e 2,0, segundo Plee et al., citado na ref. 14). Soluções preparadas dessa
forma contém basicamente três espécies: alumínio monomérico hidratado, o
polioxocátion [Al13O4(OH)24(H2O)12]7+, conhecido como íon de e-Keggin, e
alumínio polinuclear. O íon de Keggin, o precursor de agente pilarizante mais
comum, é formado por um tetraedro de AlO4 envolvido por doze octaedros de
hidróxido de alumínio, como mostrado na Figura_6.
A argila, tipicamente montmorilonita, sofre então troca iônica, depois do que
os íons de Keggin devem estar homogeneamente distribuídos na região
interlamelar. Quando a argila é calcinada a temperaturas entre 300 e 500oC, os
cátions tornam-se pilares de óxido de alumínio, com liberação de prótons. Esse
processo produz uma argila pilarizada porosa e de caráter ácido, com uma área
específica entre 200 e 500 m2.g-1. Outros fatores, como a concentração da
argila, o tipo de cátion a ser trocado e a força iônica do slurry (suspensão de
um sólido em um líquido) onde é feita a troca iônica também influem na síntese.
CARACTERIZAÇÃO
Difração de Raios-X
A difratometria de raios-X fornece as informações mais básicas e importantes na
caracterização de sólidos cristalinos. A questão principal que a difratometria
de raios-X esclarece é se a microporosidade foi ou não criada com o processo de
pilarização. Além disso, pode-se obter o valor de d para a difração 001, que
indica a distância entre planos basais sucessivos. Numa esmectita, por exemplo,
a espessura de uma camada é igual a 9,6 Å. Tipicamente, dois tipos de picos são
encontrados no difratograma de uma argila: (a) reflexões basais (001), que são
influenciadas pelo estado de hidratação e pela natureza do íon metálico
encontrado no espaço interlamelar da argila; e (b) reflexões hk0+hkl, que
dependem da natureza da argila. Nas argilas não-pilarizadas, há grande variação
no espaço interlamelar, de acordo com o número de monocamadas de água
presentes, como mostra a Tabela_2. Dessa forma, pode-se medir a variação do
espaço interlamelar causado pelo processo de pilarização. Por outro lado a
calcinação da argila pilarizada reduz o espaço basal entre 1 e 2 Å, devido à
remoção de hidroxilas.
Área Específica
Medidas da adsorção física de um gás inerte sobre a superfície interna de um
sólido microporoso podem fornecer valiosas informações sobre a natureza do seu
sistema de poros. Experimentalmente, mede-se a quantidade de gás adsorvido por
uma amostra do sólido enquanto se varia a pressão parcial do gás mantendo-se o
sistema a temperatura constante. O gráfico obtido é chamado isoterma de
Langmuir. O ponto de equilíbrio da adsorção física é rapidamente alcançado e é
reversível, sendo possível remover o gás pelo simples abaixamento da pressão. A
porosidade do sólido pode causar o surgimento de ciclos de histerese porque o
mecanismo na dessorção passa a ser diferente do que ocorre na adsorção. O
tratamento de Langmuir pressupõe que somente uma monocamada de gás é adsorvida
sobre a superfície, e que os sítios de adsorção são todos equivalentes.
Brunauer, Emmet e Teller mostraram que é possível estender a racionalização de
Langmuir para o caso (mais fiel à realidade) de várias camadas sendo
adsorvidas, utilizando a chamada equação BET22.
Através de medidas de adsorção de nitrogênio, Gonzales et al.23 mostraram que a
área específica de uma argila contendo pilares de alumínio e gálio varia de
acordo com a razão Al/Ga. A introdução do polioxocátion de gálio causou um
decréscimo de até 50% na área específica da GaAl-PILC. Os autores acreditam
que, nesse caso, o processo de pilarização ocorreu em menor grau tendo como
conseqüência a diminuição da área específica. Gil et al.24usaram pressões de
nitrogênio menores que 10-3 (P/P0) para caracterizar SiAl-PILC contendo
diferentes proporções de silício e alumínio. Para razões Si/Al £ 1, foi
constatada a presença de dois tamanhos de poros diferentes. Ainda nesse estudo,
foi verificado que as áreas superficiais diminuíram com o aumento da quantidade
de silício incorporado. O decréscimo observado foi causado pela diminuição no
espaço basal, como revelou a difratometria de raios-X.
Análise Térmica
A primeira PILC sintetizada não podia ser aquecida acima de 250oC, a
temperatura de decomposição dos pilares moleculares de R4N+.5 O uso de
polioxocátions, que não contém ligações C-C, elevou o patamar de resistência
térmica a ca. 500oC. Estabilidade térmica e hidrotérmica é essencial para a
manutenção de alta atividade e é critica na determinação da importância
comercial do catalisador de craqueamento. A resistência hidrotérmica é
necessária porque a formação de coque no processo de craqueamento exige
tratamento com vapor d'água a altas temperaturas para a regeneração do
catalisador. Nos trabalhos mais recentes, isso tem sido tentado através da
introdução de pilares moleculares "mistos", contendo algum outro
elemento além do alumínio. Gonzalez et al.23 mostraram que é possível melhorar
a resistência térmica de uma AlGa-PILC de 500 para 700oC sem afetar suas
propriedades ácidas. No entanto, 2 h a 700oC causa uma diminuição de 30% da
área específica. Por outro lado, a AlGa-PILC de Gonzalez et al. resiste
incólume a uma corrente de ar e vapor a 500oC, como mostra a Tabela_3. Uma PILC
contendo somente alumínio perde quase toda sua microporosidade quando submetida
às mesmas condições. Tang et al.25 afirmam que a estabilidade térmica das PILCs
é atribuída à densidade e à distribuição dos pilares moleculares dentro do
espaço interlamelar. Esses autores melhoraram a estabilidade térmica de uma
AlGa-PILC através da repetição do processo de pilarização, com o intuito de
aumentar o número de pilares moleculares presentes na PILC final.
Espectrofotometria na Região do Infravermelho
Técnicas de infravermelho têm sido utilizadas de duas maneiras na
caracterização de argilas pilarizadas. É possível obter informações sobre a
estrutura das lamelas, como também caracterizar os sítios ácidos normalmente
gerados com o processo de pilarização11.
As hidroxilas estruturais das lamelas nas esmectitas dioctaédricas apresentam
vibrações de estiramento em torno de 3630 cm-1. Para as esmectitas
trioctaédricas, o estiramento dos grupos OH ocorre por volta de 3680 cm-1.
Esses valores variam de acordo com a quantidade de água e o tipo de cátion
presentes na camada interlamelar. Isso ocorre porque as hidroxilas vibram na
cavidade ditrigonal formada dentro da lamela.14 Cátions e moléculas de água
podem penetrar nessa cavidade e interagir com as hidroxilas da camada
tetraédrica. A Tabela_4 mostra como o tipo e a localização de cátions trocáveis
influencia o espectro de infravermelho no caso da saponita.
Por outro lado, os modos de vibração devidos à deformação angular são mais
sensíveis à composição química da camada octaédrica. As hidroxilas da camada
octaédrica podem ser removidas das montmorilonitas por calcinação a 500-700°C,
numa reação endotérmica.
Uma importante propriedade das argilas é sua acidez. Informações sobre a
natureza dos sítios ácidos em sólidos é essencial para avaliação de seu
potencial catalítico. O espectro vibracional da piridina adsorvida numa
superfície ácida sofre modificações de acordo com o tipo de sítio ácido em que
se encontra ligada. Através da mudança na freqüência de certas vibrações no
espectro da piridina adsorvida a uma superfície ácida, é possível determinar a
proporção entre os sítios ácidos de Brønsted e os de Lewis existentes26.
As lamelas das argilas não-pilarizadas têm somente um fraco caráter ácido. Os
sítios ácidos nas lamelas se encontram em sítios de cátions trocáveis e nas
extremidades das lamelas ou em defeitos na estrutura cristalina. No último
caso, as hidroxilas estruturais ficam expostas à superfície produzindo acidez
de Brønsted. Com a introdução de agentes pilarizantes oxi-hidroxicatiônicos, um
aumento significativo na acidez pode ser verificado. Ming-Yuan27 et al.
mostraram que a acidez das PILCs é devida aos agentes pilarizantes
introduzidos, existindo uma proporção direta entre a acidez e a densidade do
agente pilarizante. Numa análise sistemática de argilas pilarizadas com cátions
de alumínio, zircônio e titânio, como também das argilas precursoras, Bagshaw e
Cooney28 demonstraram que o processo de pilarização leva a um aumento
significativo na acidez da argila. Esse aumento no caráter acido das argilas
foi atribuído a dois fatores: (a) o crescimento na área específica em relação à
argila não pilarizada e (b) o surgimento de novos sítios ácidos nos pilares
moleculares introduzidos e nos sítios de ligação entre os pilares e as lamelas.
Processos de calcinação também causam mudanças no perfil da acidez das argilas
pilarizadas. Um recente estudo29 das modificações causadas pelo tratamento
térmico no caráter ácido das PILCs mostra que sítios de Brønsted são menos
estáveis termicamente, isto é, vibrações no infravermelho atribuídas à presença
de sítios de Brønsted perdem intensidade em temperaturas mais altas.
Ressonância Magnética Nuclear
Técnicas de ressonância magnética nuclear de vários elementos, especialmente de
silício e alumínio têm sido de grande utilidade na caracterização de argilas
pilarizadas. Existe um excelente artigo de revisão30 dedicado exclusivamente ao
uso de RMN de alumínio na caracterização de argilas pilarizadas. Nesse artigo,
o autor mostra que o processo de pilarização não afeta a estrutura interna das
lamelas da argila não calcinada. Isso pode ser esperado, porque o processo de
pilarização é simplesmente uma troca iônica. No entanto, a RMN de alumínio se
mostra particularmente útil no exame da natureza e das transformações que sofre
o agente pilarizante durante o processo. O alumínio tetraédrico, localizado no
centro do íon de Keggin, mostra um forte sinal em 62,5 ppm. Esse pico pode ser
detectado tanto na solução de oligocátions precursora como na argila
pilarizada, indicando que a estrutura básica do íon de Keggin resiste incólume
ao processo de preparação da argila na maioria dos casos31. Esse pico pode ser
detectado mesmo depois de calcinação a 500oC se a hectorita, uma argila
contendo pouco alumínio estrutural, for utilizada32. Zhao et al.33 utilizaram
essa técnica para estudar a natureza do agente pilarizante na síntese de uma
argila contendo silício e alumínio como agentes pilarizantes (SiAl-PILC). Eles
afirmam que o oligocátion contendo silício e alumínio na solução precursora
conserva a mesma estrutura do íon de Keggin. Essa afirmação foi contestada num
estudo mais recente. Gil et al.24 afirmam que há, na verdade, uma condensação
entre o íon de Keggin e Si(OH)4, para formar um oligocátion de hidroxisílica-
alumina (HSA), que então foi introduzido na argila. Os autores, no entanto,
nada afirmaram sobre a estrutura do oligocátion que resulta da condensação do
íon de Keggin com Si(OH)4.
MODIFICAÇÃO
Dopagem com metais de transição
A atividade catalítica das PILCs pode ser modificada através de sua dopagem com
cátions de metais de transição34. A substituição de cátions interlamelares de
metais alcalinos ou alcalinos terrosos por cátions cúpricos35 ou de paládio36
causa um aumento na velocidade da reação de Friedel-Crafts, que é catalisada
pelos sítios de Lewis das argilas pilarizadas33. Apesar do processo de
pilarização diminuir a capacidade de troca iônica da argila, Cu(II) pode se
ligar quimicamente com argilas pilarizadas. Estudos com ressonância de spin
eletrônico (ESR) mostraram que os ions cúpricos estão diretamente ligados aos
átomos de oxigênio do pilar molecular, contudo não foi possível identificar o
tipo específico de coordenação existente33.
Modificação com Clusters Metal-carbonila
A introdução de pilares mistos de alumínio e metais de transição abriu novas
possibilidades para o uso de PILCs na catálise oxidativa37,38. Além disso é
possível introduzir nas argilas já pilarizadas clusters de carbonilas contendo
rutênio, ósmio, molibdênio, e irídio, entre outros, que podem ser utilizados na
catálise de reações de Fischer-Tropsch, por exemplo39. Giannelis et al.39
mostraram que a introdução de clusters em PILCs não altera sua estrutura
básica. Há claras evidências de que os clusterssão incorporados no espaço
interior intercristalino das PILCs e não em sua superfície. Os clusterssão
destruídos quando reagem com as hidroxilas dos pilares e espécies contendo o
metal oxidado e as carbonilas são incorporadas aos pilares. Isso acontece de
forma análoga ao processo de síntese de sílica ou alumina contendo clusters
suportados. Como catalisador para reação de Fischer-Tropsch de síntese de
hidrocarbonetos, a RuAl-PILC mostra uma reatividade singular para formação de
produtos ramificados. Os autores demonstram que as PILCs contendo clusters de
metal incorporados são catalisadores bifuncionais: os pilares comportam-se como
a superfície do óxido puro, oferecendo hidroxilas para imobilização do metal,
enquanto os poros oferecem uma microporosidade e acidez semelhante às das
zeólitas.
CATÁLISE COM ARGILAS PILARIZADAS
Argilas pilarizadas catalisam a reação de desproporcionamento de 1,2,4-
trimetilbenzeno para produzir 1,2,4,5-tetrametilbenzeno seletivamente. Os poros
das PILCs possuem portanto, tamanho suficiente para catalisar o
desproporcionamento de um hidrocarboneto aromático de alta massa molecular. A
seletividade para formação do isômero 1,2,4,5-tetrametilbenzeno é proporcional
à distância interlamelar da PILC. Al-PILC com distância interlamelar igual a 5
Å se mostrou mais seletiva do que a Al-PILC de distância interlamelar igual a 8
Å40. A atividade e a seletividade nessa reação são maiores quando se usa SiAl-
PILC em comparação com a Al-PILC. SiAl-PILC possui um número maior de sítios de
Brønsted do que Al-PILC, indicando que a reação ocorre nesse tipo de sítios
ácidos32. Zhao et al.41 mostraram que CrAl-PILC também é mais ativo e seletivo
do que Al-PILC. Além disso, CrAl-PILC resiste a um maior número de ciclos
catalíticos do que Al-PILC. Em todo caso, as PILCs até agora estudadas mostram
uma baixa atividade catalítica comparada àquela da zeólita Y para essa reação.
Argilas pilarizadas promovem o craqueamento do cumeno de maneira semelhante às
sílicas-aluminas, produzindo benzeno e propeno. Como mostra a Tabela_5,
zeólitas como a Y, a ZSM-5 e a mordenita mostram desempenho bastante superior
ao das PILCs no craqueamento de cumeno34. Isso é devido ao caráter ácido mais
forte dessas zeólitas. Argilas pilarizadas são mais eficientes do que as não
pilarizadas por causa do aumento de acidez que o processo de pilarização
promove. A introdução de crômio34 ou silício32 numa Al-PILC também aumenta a
acidez da Al-PILC e portanto melhora a conversão. Esse aumento na atividade
pode ser explicado pelo aumento de sítios ácidos de Brønsted verificado com a
introdução de um segundo elemento, especialmente silício, nos pilares
moleculares.
A literatura recente também descreve o uso de PILCs em vários outros tipos de
reações. Mokaya e Jones utilizaram Al-PILC para desidratar 1-butanol a 2- e 1-
buteno29. Stepanova et al.42 pilarizaram montmorilonita com alumínio e fósforo
e realizaram o desproporcionamento de tolueno. Chen et al.16 promoveram a
redução catalítica de NO com amônia utilizando bentonita pilarizada com óxido
de ferro. A oxidação benzílica de 16 metilenos de arila diferentes para
produzir os respectivos compostos carboxilados utilizando peróxido de terc-
butila e Cr-PILC foi descrita por Choudary et al.43 Pinnavaia et al.44
mostraram que Cr-PILC é cataliticamante mais ativo na conversão de cicloexano a
benzeno do que um catalisador comercial contendo 19% de Cr2O3 suportado em
alumina. Há um exemplo, ainda que contestado, de PILC com performance
catalítica superior a de uma zeólita. Nesse trabalho, Urabe et al.(citados na
ref. 33) mostraram que Al-PILC produz mais p-xileno a partir de tolueno e
metanol do que a zeólita ZSM-5.
CONCLUSÃO
Argilas podem se tornar catalisadores altamente seletivos, principalmente após
sofrerem pequenas modificações na composição ou na estrutura. Os centros
catalíticos desses aluminossilicatos bidimensionais encontram-se uniformemente
distribuídos nos espaços interlamelares. A pilarização pela introdução de
macrocátions do tipo Keggin causa o afastamento das lamelas produzindo um
aumento na área específica, melhorando a estabilidade térmica e provocam o
aparecimento de uma leve acidez de Brønsted. Além da pilarização, metais de
transição podem ser adicionados de acordo com diferentes estratégias para
produzir catalisadores adequados a reações com várias classes de substratos
orgânicos.