EFEITO DO FRIO NA BROTAÇÃO DE GEMAS DE PEREIRA (Pyrus communis L.) cv. Carrick,
EM PELOTAS, RS
EFEITO DO FRIO NA BROTAÇÃO DE GEMAS DE PEREIRA (Pyrus communis L.) cv. Carrick,
EM PELOTAS, RS 1
INTRODUÇÃO
No Sul do Brasil, existem regiões com condições edafoclimáticas propícias para
o cultivo da pereira. Testes realizados com coleções de cultivares mostraram
que a cv. Carrick apresenta boa adaptação, constituindo-se numa alternativa
promissora para os produtores. Entretanto, fazem-se necessários estudos mais
detalhados sobre seu período de dormência.
A superação da dormência, quando não se dá de forma adequada, pode causar
alterações na brotação, através da morte de gemas com conseqüente queda na
produção (Barnola et al., 1976).
As gemas das frutíferas temperadas durante a fase de repouso se caracterizam
por apresentar um estado de maior ou menor profundidade de dormência,
dependente da interação do genótipo com o ambiente (Barnola et al., 1976).
Embora exista o método bioquímico (teste de nucleotídeos) para caracterizar o
nível de dormência, o teste biológico é o único que quantifica a profundidade
de dormência. Este método vem sendo utilizado com bastante freqüência em
frutíferas temperadas, tais como pessegueiros (Bonhomme et al.,1999; Nishimoto
& Fujisaki,1995), macieira (Herter et al.,1992), pereiras (Nishimoto &
Fujisaki, 1995)e videira (Nishimoto & Fujisaki, 1995). Este é baseado no
princípio da inibição correlativa, onde uma gema tem ação sobre a outra.
Entretanto, quando se utilizam estacas, formadas a partir de hastes, contendo
uma única gema, este efeito é eliminado, e a gema poderá desenvolver todo seu
potencial (Champagnat et al., 1983).
O trabalho objetivou determinar a profundidade da dormência das gemas terminais
e axilares de pereira cv. Carrick, submetidas a diferentes quantidades de frio,
bem como a velocidade de brotação a 25oC± 1.
MATERIAL E MÉTODOS
O material vegetal utilizado no experimento, a cultivar Carrick, é originário
dos Estados Unidos da América, sendo um híbrido proveniente do cruzamento das
cvs. Garber x Seckel. Apresenta frutos de tamanho médio com formato periforme,
coloração marrom-esverdeada, com manchas avermelhadas na epiderme e polpa
branca, sabor e qualidade regulares (Ribeiro et al., 1991).
Foram coletados, no dia 1o-6-1999, 50 ramos de plantas pertencentes a uma
coleção instalada na Estação Experimental da Cascata, Embrapa Clima Temperado,
em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Após a coleta, os ramos foram armazenados em
câmara frigorífica a uma temperatura de 4 ± 1ºC, por períodos determinados de
acordo com os seguintes tratamentos: ausência de frio, 272; 544; 816 e 1088
horas de frio (HF).
No final de cada tratamento, 10 ramos foram seccionados em estacas com
aproximadamente 8 cm, permanecendo somente a gema distal superior de cada
estaca. Para diminuir o efeito da desidratação, parafinou-se a porção superior
de cada estaca (exceto a porção que continha a gema apical). A seguir, as
estacas foram acondicionada em bandejas mantida em fitotron, à temperatura de
25°C ± 1 e 14 horas de luz, para forçar a brotação. A avaliação da brotação foi
realizada, semanalmente, anotando-se a data de brotação, no estádio de ponta
verde.
Tempo Médio de Brotação (TMB)
O tempo médio de brotação é o número de dias passado entre a coleta do material
vegetal, em cada época, e a detecção do estádio de ponta verde (PV). O TMB
correspondente ao lote de estacas, para cada um dos tratamentos, foi estimado
pela expressão:
TMB=åniti/n, onde ni= número de gemas brotadas no tempo ti;ti= tempo decorrido
a partir do condicionamento a 25oC± 1,até a brotação; n = número total de gemas
brotadas.
Índice de Velocidade de Brotação (IVB)
O IVB, índice de velocidade de brotação, é um índice proposto para quantificar
a capacidade de brotação das gemas de plantas frutíferas, medida que é análoga
ao índice de velocidade de germinação (IVG) proposto por Amaral (1979) para
calcular o poder germinativo das sementes.
O índice de velocidade de brotação foi calculado através da seguinte fórmula
proposta por Amaral (1979):
IVB = n /åni( 1 / di)
Onde: n = número de gemas brotadas; ni= número de gemas brotadas na data i; di=
dias até a brotação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O frio causou modificações tanto na profundidade de dormência, como na
velocidade de brotação (Figuras_1 e 3, respectivamente). Observa-se, na Figura
1, que a profundidade de dormência das gemas terminais diminuiu à medida que se
aumentou o acúmulo de horas de frio. Neste caso, quando as gemas terminais
foram expostas a 816 e 1088 horas de frio, a superação da dormência deu-se em
menor tempo, comparado aos demais tratamentos. Pode ser ainda observado nesta
mesma figura, que as gemas expostas ao período de 816 horas de frio
apresentaram TMB mais uniforme, representado pelo menor desvio-padrão.
O efeito do frio é conhecido na eliminação da dormência; entretanto, o seu real
mecanismo, considerando-se os aspectos fisiológicos, resta, ainda, ser
aprofundado. Sabe-se que a temperatura intervém ao nível de membrana, direta ou
inderetamente, estimulando as modificações da composição protéica e lipídica
(Mazliak, 1992; Portrat et al., 1995); intervém, ainda, na velocidade das
reações enzimáticas, na respiração e nos fenômenos de transporte (Lance e
Moreau, 1992).
Para o caso das gemas laterais, o TMB não foi influenciado pelo tempo de
exposição ao frio (Figura_2).
No caso de pomáceas, principalmente macieira e pereira, as gemas terminais
exercem um importante papel no controle da dormência sobre as gemas laterais.
Neste caso, apresentam maior profundidade de dormência (Herter, 1992),
necessitando, portanto, de maior período de exposição ao frio.
Em relação à velocidade de brotação (Figura3), esta foi diretamente
proporcional às quantidades de frio. Entretanto, os tratamentos 816 e 1088
horas de frio, embora representem apenas 272 horas de frio, de diferença, podem
ser considerados de igual efeito, pois, em cerca de 15 dias, as gemas atingiram
o índice 100% de brotação. Para o caso das gemas submetidas a 544HF, ocorreu um
aumento rápido, passando de 30% para 80% de brotação, num período de 2 dias,
após 14 dias de exposição, chegando a 100% somente aos 30 dias. Já na
testemunha e 272 HF, o índice de 100% de gemas brotadas ocorreu aos 38 e 29
dias após a retirada do frio, respectivamente.
No tabela_1, são apresentados os dados do número de gemas terminais brotadas a
partir do início da brotação, em função do tratamento de frio submetido. Na
tabela_2, é apresentada a distribuição do número de gemas terminais brotadas, a
partir do qual se calculou o IVB.
De acordo com os resultados do quadro 2, pode-se ver que o tratamento de 1088
horas de frio indicou um IVB de cerca de 6,0 dias e o tratamento de 816 horas
de frio, de 10,2 dias de IVB. Os dois tratamentos diferiram por cerca de 4
dias. Os demais tratamentos apresentaram os IVBs respectivos, com, no mínimo o
dobro daquele do tratamento de 1088 HF.
A partir dos dados do quadro 1 e Figura_3, avaliando a regressão linear do
número de gemas terminais brotadas (Y) em relação aos das de brotação (X),
podem-se estimar as seguintes equações, para cada tratamento:
Poder-se-iam agrupar os tratamentos pela magnitude dos coeficientes angulares
(que indicam a intensidade da resposta de Y a cada variação de X), em 3 grupos:
2 e 3, no grupo de menor intensidade de resposta; 1 e 5,no grupo de intensidade
intermediária; 4, no de maior intensidade. O teste de significância (teste t)
entre as inclinações das retas indicou diferença significativa do tratamento de
816 HF em relação ao tratamento de 544 HF (a=0,05), em relação ao tratamento de
272 HF (a=0,01) e em relação ao tratamento de 0 HF (a=0,06), segundo Gomez e
Gomez (1984).
A brotação das gemas terminais foi mais rápida quando se utilizaram 816 horas
de frio. Resultados de pesquisa têm mostrado que o frio provoca a
homogeneização da dormência, pois as gemas terminais, durante a fase de
repouso, apresentam diferentes níveis de profundidade (Mauget, !987). Deve-se
salientar que a avaliação da velocidade da brotação foi determinada após as
gemas terem sido submetidas ao calor (25ºC). Portanto, estes resultados indicam
que o frio aumentou a velocidade de brotação.
A partir destes resultados, é possível estimar que as gemas terminais da cv.
Carrick necessitam de uma exposição de cerca de 800 horas de frio para superar
a dormência.
CONCLUSÕES
1 - O estado inercial das gemas terminais diminuiu com o aumento do número de
horas de frio a que foram submetida.
2 - O índice de velocidade de brotação do tratamento de 1088 horas de frio, o
de menor índice, não diferiu do tratamento de 816 horas de frio, mas foi
inferior aos demais.
3 - O índice de velocidade de brotação pode ser utilizado para estimar a
necessidade de frio das cultivares.
4 - A intensidade de brotação a 816 horas de frio é superior às demais.
5 -As gemas da cv. Carrick necessitam de uma exposição de 800 horas de frio
para superar a dormência.