COMPORTAMENTO DE SEMENTES DE ROMÃ (Punica granatum L.) SUBMETIDAS À FERMENTAÇÃO
E SECAGEM
COMPORTAMENTO DE SEMENTES DE ROMÃ (Punica granatumL.) SUBMETIDAS À FERMENTAÇÃO
E SECAGEM1
INTRODUÇÃO
A romãzeira (Punica granatumL.), família Punicaceae, tem sido utilizada como
planta frutífera, ornamental (parques e jardins) e reúne propriedades
medicinais (Correa, 1978). Os seus frutos são originários de ovário ínfero e
apresentam pericarpo carnoso-coriáceo; são divididos internamente em muitas
lojas e contêm inúmeras sementes irregularmente facetadas, apresentando
sarcotesta translúcida, mesotesta esclerótica e testa formada de células
polposas (Corrêa, 1978, e Barroso et al., 1999). Segundo Marin et al. (1987), a
sarcotesta, por ser um material gelatinoso que envolve a semente, pode vir a
comprometer ou não sua germinação, tornando-a lenta e desuniforme. Alguns
autores confirmaram tal comportamento, associando-o à possível presença de
substâncias inibidoras da germinação (Lange, 1962; Reyes et al., 1980; Schmildt
et al.,1993).
A remoção da sarcotesta de sementes da romãzeira pode ser feita por métodos
físicos, químicos e mecânicos. Segundo Dias & Barros (1993), a fermentação
é um processo químico que ocorre de forma natural, por reações de hidrólise, o
que facilita a remoção da mucilagem durante a lavagem. Normalmente, este
processo consiste na imersão das sementes em água por um período mínimo de 24
horas, seguida de lavagem em água corrente para a eliminação dos resíduos dessa
mucilagem.
A secagem, para muitas sementes, é necessária para garantir sua qualidade, no
entanto, precisa ser conduzida cuidadosamente, em função dos níveis de umidade
que cada espécie exige ou permite; dependendo da forma com que esta operação
for realizada, poderá ser prejudicial à manutenção da qualidade da semente ou,
mesmo, inutilizá-la totalmente durante o armazenamento (Carvalho &
Nakagawa, 2000).
Com base nessas últimas informações e considerando as peculiaridades das
sementes de romãzeira, o presente trabalho foi realizado com o objetivo de
avaliar o efeito de diferentes períodos de fermentação e condições de secagem
sobre as qualidades física e fisiológica dessas sementes.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi realizado no Laboratório de Análise de Sementes do
Departamento de Fitotecnia do CCA/UFPB, em Areia-Paraíba. Foram utilizadas
sementes oriundas de frutos fisiologicamente maduros (pericarpo amarelado com
manchas vermelhas), colhidas em um pomar doméstico no município de Serraria-PB,
em janeiro de 2000. As sementes, depois de extraídas dos frutos, foram
homogeneizadas e, em seguida, separadas em cinco grupos de acordo com os
diferentes períodos de fermentação (0; 24; 48; 72 e 96 horas) em solução de
água destilada e açúcar (10:1). Ao término dos períodos de fermentação, as
sementes foram lavadas em água corrente e submetidas ou não à secagem à sombra,
em condições de laboratório (32 °C e 74% U.R.), durante 9 dias.
As sementes dos diferentes tratamentos foram submetidas à testes visando a
avaliar as qualidades física e fisiológica. A determinação do grau de
umidadefoi realizada utilizando-se o método da estufa a 105 ± 3 °C, durante 24
horas (Brasil, 1992), empregando-se duas subamostras de 40 sementes por
tratamento; o peso de 100 sementesfoi obtido pela pesagem de 5 subamostras de
100 sementes, sendo o resultado expresso pela média aritmética das subamostras.
Para o teste de emergência, em condições de casa de vegetação, foram utilizadas
quatro subamostras de 25 sementes, sendo essas semeadas em bandejas com
dimensões de 45cm x 30cm x 7cm, contendo areia lavada e autoclavada, e a
umidade do substrato foi mantida através de irrigações diárias por meio de um
regador manual; as avaliações foram realizadas 60 dias após a instalação do
teste e o resultado expresso em porcentagem. O índice de velocidade de
emergência (IVE), calculado de acordo com a fórmula proposta por Maguire,
citado por Nakagawa (1999), foi baseado na leitura diária do número de
plântulas emergidas, a partir do início da emergência (28o dia) até a sua
estabilização.
Para análise estatística, o delineamento experimental foi o inteiramente
casualizado, em esquema fatorial 5x2 (cinco períodos de fermentação por duas
condições ¾ com e sem secagem), com quatro repetições para cada tratamento; os
resultados de emergência e IVE foram submetidos à análise de variância e
regressão.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As sementes de romã não submetidas à secagem (SS) apresentaram os maiores
valores de umidade e, conseqüentemente, do peso de 100 sementes (Figura_1). À
medida que se aumentou o tempo de fermentação, houve um pequeno acréscimo no
grau de umidade das sementes; verificando-se, também, com o período de
fermentação, uma redução acentuada do peso com 24 horas de fermentação,
mantendo-se aproximadamente igual a partir deste período. Este comportamento
evidencia a degradação da sarcotesta, quando as sementes foram submetidas à
fermentação por um maior período, expondo o tegumento a uma maior hidratação.
Constatou-se que a porcentagem de emergência e o IVE (Figura_2) das sementes
(SS) apresentaram variações com o período de fermentação. Os maiores valores
foram encontrados às 72 horas, concomitantemente ao maior conteúdo de água nas
sementes (86%), permitindo deduzir que este aumento está associado à não-
paralisação das atividades metabólicas e de absorção de água, resultando na
maior quantidade de sementes germinadas. Pelo contrário, a menor porcentagem de
emergência ocorreu nas sementes submetidas à secagem. O fenômeno da germinação,
como afirmam Carvalho & Nakagawa (2000), deve-se ao aumento da atividade
respiratória e demais reações metabólicas, a um nível capaz de sustentar o
crescimento do embrião, com fornecimento suficiente de energia e de substâncias
orgânicas, por conseqüência, do aumento do grau de hidratação dos tecidos.
Quanto às sementes submetidas à secagem (CS), houve pequena variação no grau de
umidade e peso de 100 sementes (Figura_1) ao longo da fermentação (24; 48; 72 e
96 horas), apresentando-se em torno de 12% e 3g, respectivamente. A perda de
umidade verificada naquelas sementes, durante o processo de secagem foi
facilitada pelo fato de as mesmas se encontrarem livres da sarcotesta, expondo
o tegumento a uma maior desidratação. Acompanhando o comportamento da umidade,
estas sementes (CS) apresentaram os menores porcentuais de emergência e valores
de IVE (Figura_2), em relação àquelas não submetidas à secagem (SS). De acordo
com Bewley & Black (1982), o grau de umidade é um dos fatores determinantes
da dormência em sementes, pois o tegumento das mesmas torna-se progressivamente
duro e impermeável à medida que o grau de umidade diminui. No entanto, ao se
compararem os resultados de emergência e IVE (Figura_2) com os de umidade
(Figura_1), verifica-se que sementes submetidas a um maior período de
fermentação e, posteriormente, secas, apesar de mais desidratadas, tenderam a
apresentar aumento no vigor. Popinigis (1985) afirmou que, em algumas espécies,
a restrição a embebição de água é resultante de modificações causadas pela
desidratação das paredes celulares do tegumento da semente. Este autor afirmou,
ainda, que estas modificações ocorrem na estrutura micelar das membranas,
manifestando-se no potencial de dilatação do gel. Portanto, acredita-se que a
permanência das sementes de romã, por um maior período de fermentação, pode ter
comprometido a integridade do tegumento, facilitando, com isto, uma melhor
reidratação e, por conseqüência, uma mais rápida ativação do processo de
germinação.
Sementes submetidas a 24 horas de fermentação, à semelhança daquelas não
submetidas (0 hora), apresentaram os menores porcentuais de emergência e
valores de IVE, em ambas as condições de secagem. Estas sementes (0 hora) foram
aquelas que apresentaram as maiores quantidades de sarcotesta, demonstrado pelo
grau de umidade e pelo peso de 100 sementes (Figura_1) após secagem. Estes
resultados reforçam as afirmações de Marin et al. (1987) quando comentaram que
a presença da sarcotesta em sementes pode comprometer a germinação, por
apresentarem, possivelmente, substâncias inibidoras.
O comportamento apresentado pelas sementes de romã, no presente trabalho pode
também estar associado à sensibilidade à dessecação que algumas espécies
apresentam, refletindo nos eventos iniciais do processo de germinação. Segundo
Roberts (1973), sementes que não toleram dessecação até níveis abaixo de 12% a
31%, conforme a espécie, e que não sobrevivem em temperaturas subzero, recebem
a denominação de recalcitrantes. Esta tolerância ou não à dessecação é de
extrema importância, uma vez que desta depende a conservação de sementes a
longo ou a curto prazos. Assim, há necessidade da realização de trabalhos que
esclareçam a tolerância ou não, das sementes de romã, à dessecação bem como o
comportamento das mesmas frente a outras formas de extração da sarcotesta, com
ênfase na eliminação da possível dormência causada pelo tegumento.
CONCLUSÕES
1. A prática da fermentação foi eficiente na eliminação da sarcotesta em
sementes de romã, ocorrendo maior viabilidade e vigor com 72 horas de
fermentação.
2. A permanência das sementes em fermentação por um maior tempo promoveu uma
maior absorção de água pelas sementes.
3. A secagem das sementes, após os períodos de fermentação promoveu redução da
viabilidade e do vigor das sementes.