SELEÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE LARANJEIRAS-DOCES (Citrus sinensis (L.) OSBECK) NO
ESTADO DO ACRE
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
As laranjeiras-doces compreendem o grupo mais importante de frutas cítricas
cultivadas e correspondem acerca de dois terços de toda a produção mundial de
citros do mundo (Roberto et al., 1999).
O Brasil é o maior produtor mundial de citros (FNP Consultoria e Comércio,
1999, citado por Simões Júnior et al., 1999). No Estado do Acre, os citros
representam a segunda fruteira em área colhida, com aproximadamente 582 ha de
laranja, 36 ha de limão e 179 ha de tangerina (IBGE, 2000).Apresentando boas
condições edafoclimáticas para a exploração citrícola, a produção de laranjas
do Acre não atende à demanda do mercado local, dependendo da importação, em
larga escala, de frutas de outros Estados brasileiros, principalmente de São
Paulo. A baixa qualidade das mudas, muitas vezes oriundas de outras regiões do
País, e a inexistência de informações sobre o comportamento de cultivares nas
condições de clima e solo do Estado e o manejo inadequado constituem os
principais fatores limitantes à expansão do agronegócio citrícola no Acre (Ledo
et al., 1997; Ledo et al., 1999).
O melhoramento genético dos citros é dirigido basicamente para a obtenção de
cultivares-copa e porta-enxertos superiores, sendo que o método mais rápido e
eficaz de alcançar tal objetivo refere-se à introdução e seleção de germoplasma
de várias partes do Brasil e de outros países, com posterior seleção das
plantas com características desejáveis e que se adaptem aos sistemas de
produção utilizados pelos citricultores (Rocha et al., 1992).
Ledo et al. (1999), buscando alternativas para diminuir o período de
entressafra e reduzir a importação de frutas de outras regiões do País e os
riscos com o surgimento de doenças, como forma de viabilizar a citricultura no
Acre, avaliaram sete cultivares de laranjeira, enxertadas sobre quatro porta-
enxertos de citros, nas condições edafoclimáticas de Rio Branco. Os autores
recomendaram para plantio as cultivares 'Aquiri' (seleção local), 'Natal 112' e
'Valência 27', que apresentaram boa produtividade e qualidade dos frutos. Por
outro lado, devido à sua não-adaptação às condições de Rio Branco-Acre, os
autores não recomendam aquelas do grupo Baía ('Baía 101', 'Baianinha IAC 79' e
'Monte Parnaso').
O presente trabalho teve como objetivo selecionar plantas superiores de
laranjeiras originadas de sementes, visando a ampliar o número de variedades
recomendadas para o Acre e, também, aumentar o período de oferta de frutos
através da identificação de plantas de maturação precoce e tardia de frutos.
Na definição das áreas de amostragem para seleção e caracterização das plantas,
foram consideradas as informações de técnicos da Secretaria Executiva de
Assistência Técnica e Garantia da Produção do Estado do Acre (Seater-GP), por
município, procurando-se identificar plantios de laranjeiras originárias de pé-
franco (conforme seus aspectos morfológicos - troncos lisos, de coloração
uniforme e sem percepção de linha de soldadura de enxertia, arquitetura da
copa, etc.)e em fase de produção, nas sedes das colônias (antigos seringais).
Como pré-requisito, buscaram-se, preferencialmente, plantas com mais de 20 anos
de idade, uma vez que são necessários de 10 a 15 anos para que possam ser bem
avaliadas as características de produção e qualidade dos frutos (Koller, 1994).
Foram definidos laranjais nos municípios de Plácido de Castro, Senador
Guiomard, Capixaba, Xapuri, Sena Madureira, Brasiléia, Epitaciolândia, Porto
Acre e Rio Branco, dos quais foram selecionadas 54 plantas.
Durante a seleção das plantas superiores, foram solicitadas informações dos
produtores rurais e de técnicos da extensão rural, nos respectivos municípios.
A identificação e a caracterização foram concentradas na época principal de
colheita (meia-estação), em 1999, considerando-se a idade e a época de produção
das plantas, pelas informações dos agricultores, e os aspectos fenológicos e
fitossanitários das plantas selecionadas através de observações pessoais. Nas
visitas aos laranjais, comentários sobre os caracteres qualitativos e algumas
informações adicionais ("planta que resistiu à doença das outras e os
frutos têm muito suco; pouca acidez, produtiva, semelhança com laranja-
lima", etc.) efetuadas pelos produtores, foram decisivos na escolha do
material.
Na caracterização das plantas, foram determinados a altura, o diâmetro médio da
copa e a circunferência do caule a 20 cm do colo da planta. Foram também
amostrados frutos para a determinação do peso, do número de sementes por fruto
e dos sólidos solúveis totais (SST) do suco expresso em graus brix. O teor de
SST foi determinado com auxílio de um refratômetro de mão, em amostras de suco
dos frutos coletados dos quatro quadrantes da árvore (norte, sul, leste e
oeste) da porção mediana da copa.
As 54 plantas selecionadas e a 'Aquiri' [cultivar local (Ritzinger, 2000)],
totalizando 55 clones (Tabela_1), foram multiplicadas sobre porta-enxertos de
limão-'Cravo' (Citrus limonia Osbeck) para, posteriormente, serem avaliadas em
ensaio de competição de clones.
A idade das plantas selecionadas nos municípios do Estado do Acre variou de 12
acerca de 100 anos, com média de 22 anos (Tabela_1), superando a longevidade de
plantas cítricas em outras regiões produtoras de laranja (nesse caso propagadas
por enxertia). Segundo Neves, citado por Soares Filho et al. (1997), a
longevidade dos pomares brasileiros de citros é relativamente baixa, cuja vida
útil está em torno de 15 a 18 anos nas principais regiões produtoras do Estado
de São Paulo, onde se concentra cerca de 80% da citricultura nacional. Para
Soares Filho et al. (1997), esta situação é ainda mais grave nas regiões Norte
e Nordeste do País, nas quais os pomares têm vida média de aproximadamente 12 a
15 anos.
Quanto ao desenvolvimento, as plantas apresentaram altura de 5,20 a 12,30 m,
diâmetro da copa de 3,31 a 7,85 m e circunferência do tronco, a 20 cm do colo
da planta, de 0,54 a 1,45 m, com médias de 7,42; 6,00 e 0,99 m, respectivamente
(Tabela_1).
Na seleção de plantas, procura-se, em princípio, aquelas possuidoras de
comprovado valor agronômico e/ou adaptativo às condições ambientais e
resistência/tolerância a doenças (Soares Filho, 1997). Neste sentido, os
genótipos de laranjeiras selecionados apresentam características desejáveis,
existindo materiais promissores para serem avaliados como porta-enxerto e, como
variedade-copa (vigor e sanidade e qualidade dos frutos), para mesa ou
processamento, adaptados às condições edafoclimáticas do Acre. Para porta-
enxerto, as características de longevidade de alguns genótipos, como as plantas
15; 25; 44; 48 e 49 (Tabela_1), podem indicar, em grande parte, boa adaptação
às condições edáficas e climáticas do Estado, bem como sua resistência/
tolerância a doenças, principalmente à gomose de Phytophthora, doença que tem
causado sérios prejuízos aos produtores. Destaca-se, também, a possibilidade de
distribuição da colheita por um período mais prolongado no decorrer do ano, com
uso de plantas com maturação de frutos precoce (plantas 8; 10; 35; 36 e 37) ,
meia-estação (plantas 11; 15; 23; 33; 39 e 49) e tardia (plantas 28; 30; 32;
34; 38; 50; 53 e 54), ou ainda contínua (plantas 9; 44 e 52). Foram
identificadas plantas cuja época de maior produção é verificada no período de
abril, maio, maio a junho, ou julho (70,91%). Outras, 5,45%, apresentam
produção contínua ao longo do ano, enquanto 23,64% têm maturação dos frutos nos
meses de fevereiro/março e agosto/outubro (Tabela_1). As cultivares 'Valência',
'Natal' e 'Murilosa' [seleção local, atualmente conhecida por 'Aquiri'
(Ritzinger, 2000)], avaliadas por Ledo et al. (1996), apresentaram distribuição
de produção de abril a agosto.
Os genótipos de laranjeira selecionados apresentaram grande variabilidade em
relação à idade, altura, circunferência do caule e diâmetro da copa.
A época de colheita da maioria das laranjeiras selecionadas no Acre distribui-
se de fevereiro a outubro, com concentração nos meses de abril a julho.
Dentre os genótipos de laranjeiras selecionados, existem materiais promissores
para utilização como porta-enxerto (plantas 15; 25; 44; 48 e 49) e como
variedade-copa (plantasprecoces8; 10; 35; 36 e 37; plantas de meia-estação 11;
15; 23; 33; 39 e 49, e tardia 28; 30; 32; 34; 38; 50; 53 e 54; ou ainda
contínua 9; 44 e 52), para consumo local ou processamento.