EFEITO DO ÁCIDO GIBERÉLICO (AG3) NA FLORAÇÃO E PRODUÇÃO DA LIMA ÁCIDA 'TAHITI'
(Citrus latifolia Tan.)
EFEITO DO ÁCIDO GIBERÉLICO (AG3) NA FLORAÇÃO E PRODUÇÃO DA LIMA ÁCIDA 'TAHITI'
(Citrus latifoliaTan.)1
INTRODUÇÃO
As culturas apresentam ciclos de produção e, em muitas situações, essa
estacionalidade de produção é marcada por baixos preços que inviabilizam ou
tornam pouco rentável seu cultivo. Isso ocorre com a lima ácida 'Tahiti´ que
apresenta, nos meses de maior oferta (janeiro-junho), preço médio pago ao
produtor de R$ 1,85 por caixa de 27 quilos (kg) e, no período de menor oferta
(julho-dezembro), preço médio de R$ 10,55/cx. Comparando os três meses de maior
oferta com os três de menor oferta, esta diferença de preço é ainda maior. Nos
meses de fevereiro a abril, o preço médio é de R$ 1,42/cx, enquanto, nos meses
de setembro a novembro, é de R$ 14,06 (CEPEA, 2001).
Neste contexto, a utilização de práticas culturais que venham a controlar a
época de florescimento é uma importante técnica para viabilizar o cultivo da
lima, com destaque à utilização de substâncias químicas devido a sua
praticidade.
Dentre as substâncias químicas, o ácido giberélico tem sido estudado em muitos
países com resultados efetivos sobre o controle da floração em algumas
culivares de citros. Desde o trabalho pioneiro de Monselise & Havely (1964)
em laranja 'Shamouti' e limoeiro, a inibição do florescimento em citros vem
sendo relatada. Estes relatos podem ser observados nos trabalhos publicados
durante as décadas de 60 e 80 e em publicações mais recentes (El-Hammady et
al., 1990; Espinoza & Almaguer, 1992; Harty & Sutton, 1992; Barros
& Rodrigues, 1992; Pereira, 1997). No trabalho de Barros & Rodrigues
(1992), este efeito não foi tão claro como nos anteriores devido possivelmente
ao momento em que foi realizada a aplicação ou a metodologia de avaliação
utilizada. Neste trabalho, os autores observaram redução na produção sem
diminuição no número de flores.
Há um período de máxima sensibilidade para as aplicações de ácido giberélico, o
qual coincide com o início do período de indução floral (Monselise &
Havely, 1964). Este período de indução está bem definido para o hemisfério
Norte, ocorrendo entre os meses de dezembro-janeiro e, para o hemisfério Sul,
estimado entre os meses de junho-julho. Para que ocorra a diferenciação floral,
fatores climáticos principalmente baixas temperaturas e/ou estresse hídrico,
são necessários. A bibliografia internacional relata que períodos de 40 a 60
dias de estresse hídrico já seriam suficientes para promoverem a indução e
diferenciação floral nos citros (Cassin et al., 1969; Nir et al., 1972;
Southwick & Davenport, 1986). Temperaturas de 20 ºC durante o dia e 10 ºC
durante a noite já são suficientes para promover indução floral, enquanto
temperaturas de 30 ºC à noite inibem a floração das gemas previamente induzidas
(Monselise, 1985; García-Luis et al., 1992).
Na Espanha, os trabalhos de Sanchez-Capuchino & Casanova (1973) e García-
Luis et al. (1986) relatam que este período, para a maioria das cultivares,
ocorre no começo de dezembro e, para as tangerinas, no início do mês de
janeiro. No Brasil (hemisfério Sul), o primeiro trabalho publicado foi o de
Pereira (1997) que determinou, através do estudo anatômico de meristemas
apicais, axilares e análise histoquímica enzimática, o momento da indução
floral para a laranja-'Pêra Rio' e a tangerina- 'Poncã' em Lavras (MG). Nesse
trabalho, foi observado que a indução floral ocorria do final do mês de junho a
início de julho. Uma revisão atualizada sobre aspectos fisiológicos e
aplicações de ácido giberélico na florada e outros biorreguladores vegetais em
citricultura pode ser encontrada em Sanches (2000).
Nas condições de clima, solo e variedades do Estado de São Paulo, muito pouco
se conhece sobre o efeito do AG3 no processo de florescimento. Recomendações
empíricas vêm sendo utilizadas sem sucesso pelos produtores, muitas vezes tendo
como referência apenas dados de outros países.
Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo geral observar o efeito
do ácido giberélico (AG3) na florada (número de flores formadas) na lima ácida
'Tahiti' nas condições do Estado de São Paulo.
MATERIAL E MÉTODOS
Caracterização da Área Experimental
O experimento foi conduzido na Fazenda Taiúva, no distrito de Quilombo,
município de Iacanga (SP), latitude 21º 59' sul, longitude 49º 06' oeste,
altitude 601m e com precipitação média anual de 1.300mm. A área apresenta um
sistema de irrigação por microaspersão que pode operar com um volume de 35 a
105 litros de água por planta por hora. A irrigação é realizada pelo produtor,
tendo como base uma estimativa da evapotranspiração determinada por meio de
tanque classe "A".
Segundo a classificação de Köppen, o clima local é do tipo Cwa (clima tropical
com estiagem no inverno com menos de 30 mm de chuva no mês mais seco,
temperatura média superior a 22 ºC no mês mais quente e inferior a 18 ºC no mês
mais frio). A temperatura média máxima é de 32 ºC, a média mínima de 14 ºC e a
média é 28 ºC.
O solo é do tipo Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico, textura média/arenosa e
o relevo é suave ondulado. Uma análise de solo e foliar foi realizada em abril
de 1999 e em maio de 2000 visando a observar o estado nutricional e as
condições do solo onde seria instalado o experimento. Foi observado um adequado
estado nutricional, e as aplicações de adubação e calagem foram baseadas no
boletim do Grupo Paulista de Adubação e Calagem para Citros (1994), manejo que
o produtor já adotava na área.
As plantas utilizadas no experimento foram da espécie lima ácida 'Tahiti'.
Segundo o proprietário, é a cultivar popularmente conhecida como "Tahiti
quebra-galho", possivelmente um clone de 'Tahiti' que apresenta
contaminação por viroses da tristeza e exocorte (Figueiredo, 1991). A cultivar
utilizada desperta grande interesse dos produtores por ser uma planta de menor
porte, o que facilita a colheita e outros tratos culturais e também por
apresentar, segundo os produtores, um maior número de floradas temporãs. Estas
comparações são feitas tendo como referência o clone IAC-5, cultivar saneada de
viroses pelo Instituto Agronômico de Campinas. As plantas apresentam 9 anos de
idade e estão enxertadas sobre limão-'Cravo'. O espaçamento de plantio é de
sete metros entre linhas e cinco metros entre plantas.
Tratamentos
O experimento foi conduzido em campo, constituído em cinco blocos e com quatro
tratamentos e cada tratamento formado por três plantas. O delineamento
experimental foi em blocos casualizados, tendo duas ruas como bordadura da
área, uma rua de separação entre os blocos e uma planta entre os tratamentos. A
condução do experimento seguiu o calendário descrito no Quadro_1.
As concentrações utilizadas foram de 0; 20; 40 e 80 mg/L de ácido giberélico
(produto comercial Progibb-10 mg/g de AG3) + 10 ml/L de espalhante adesivo
(produto comercial Silwett organosiliconado). Para a aplicação do produto, foi
utilizado um pulverizador de pistola com bico número cinco e uma pressão de 150
libras. A pulverização das plantas foi até o ponto de início de escorrimento
com um gasto de 11 litros de calda por planta para o primeiro ano e 8,5 litros
para o segundo ano. A pulverização do primeiro experimento foi realizada após
50 dias de estresse hídrico e, no segundo experimento, foi realizada após 60
dias.
Avaliações
As avaliações para a contagem de flores foram realizadas com quadros de 1,0 x
1,0m. Em cada planta, foram feitas duas avaliações (entre ruas e opostas) com
os quadros colocados a uma altura de 1,6 metro do solo (porção mediana da
planta) e procedendo a contagem de todas as flores dentro da área delimitada
pelo quadro. Nesta área, foram contadas todas as flores produzidas em até 20 cm
de profundidade a partir do ápice de cada ramo.
As avaliações da quantidade de frutos temporões produzidos (kg/pl) foram
realizadas em três colheitas (Quadro_1). Neste período, que corresponde à
entressafra, foram colhidos e pesados todos os frutos comercializáveis (> 5cm
diâmetro) para cada tratamento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Número de flores
Nos dois anos do experimento, ocorreu um claro efeito do ácido giberélico e da
concentração do produto sobre o número total de flores produzidas por metro
quadrado. Visualmente, esta mesma conclusão pode ser feita quando é comparada à
testemunha e à concentração de 80 mg/L (Figura_4). Resultados similares foram
encontrados para a lima 'Tahiti' (Davenport, 1983; Southwick & Davenport,
1987; Espinoza & Almaguer, 1992), assim como para outras cultivares de
citros (Monselise & Havely, 1964; Guardiola et al., 1977; Guardiola et al.,
1982; El-Hammady et al., 1990; Harty & Sutton, 1992; Almaguer et al., 1992;
Pereira, 1997) e foram em parte diferentes dos dados obtidos por Barros &
Rodrigues (1992). Neste trabalho, possivelmente, o momento de aplicação do
ácido giberélico (diferenciação floral) não tenha sido atingido ou a
metodologia para avaliação, ramos marcados, não seja a mais adequada. Este fato
pode ser observado porque não houve diferença entre os tratamentos com relação
ao número de flores produzidas, porém houve diferença na produção final
(redução da produção) com o aumento da concentração de AG3.
Pelos dados apresentados na Tabela_1, Figuras_1 e 2, observa-se que, com o
aumento da concentração de AG3, ocorreu uma diminuição no número de flores
formadas, sendo que a melhor concentração para os dois anos do experimento foi
80 mg/L. Este tratamento, quando comparado com a testemunha, apresentou uma
redução no número de flores produzidas por metro quadrado de 77,62 e 84,37 %
para os anos de 1999 e 2000, respectivamente.
Produção temporã
Pelos resultados apresentados na Tabela_1 e na Figura_3, pode-se observar
significativo efeito da concentração de 80 mg/L sobre a produção de frutos
temporões. Conclusão similar pode ser encontrada nos trabalhos de Espinoza
& Almaguer (1992) para esta mesma variedade, no México, e no trabalho de
Barros & Rodriguez (1992), no Brasil. Entretanto, para os demais
tratamentos (testemunha, 20 e 40 mg/L), não ocorreu diferença significativa.
Resultados mais efetivos com maior redução no número de flores produzidas e,
conseqüentemente, maior produção temporã, provavelmente poderiam ser obtidos
com as concentrações menores, realizando-se duas aplicações espaçadas de 20 a
30 dias. Esta sugestão é feita no trabalho anteriormente citado de Espinoza
& Almaguer, tendo como fundamento que o momento ideal para a aplicação do
AG3 é durante o processo de diferenciação das gemas vegetativas em floríferas.
Este processo, que ocorre durante períodos de estresse hídrico ou térmico, não
ocorre simultaneamente para todas as gemas e, desta forma, realizando-se duas
ou mais aplicações nesta fase, um maior número de gemas em seu momento ideal
para aplicação poderiam ser atingidas.
CONCLUSÕES
Pelos resultados obtidos com as concentrações utilizadas e para as condições em
que foram conduzidos os experimentos, pode-se concluir:
1) Com o aumento da concentração de AG3, ocorreu uma diminuição no número de
flores.
2) A concentração que promoveu maior redução do número de flores, foi de 80mg/
L.
3) Para a produção de frutos temporões, a melhor concentração também foi de 80
mg/L.