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BrBRCVAg0100-29452001000300015

BrBRCVAg0100-29452001000300015

National varietyBr
Country of publicationBR
SchoolLife Sciences
Great areaAgricultural Sciences
ISSN0100-2945
Year2001
Issue0003
Article number00015

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ARMAZENAMENTO DE MAÇÃ 'FUJI' COM INCIDÊNCIA DE PINGO-DE-MEL ARMAZENAMENTO DE MAÇÃ 'FUJI' COM INCIDÊNCIA DE PINGO-DE-MEL1

INTRODUÇÃO Os maiores problemas que ocorrem durante o armazenamento de maçãs 'Fuji' são a ocorrência de degenerescências da polpa e de podridões, principalmente em maçãs colhidas tardiamente, que apresentam pingo-de-mel. De acordo com EBERT (1986), pingo-de-mel é um distúrbio fisiológico pré-colheita muito freqüente em maçãs 'Fuji' e caracteriza-se pela presença de suco com alto teor de sorbitol nos espaços intercelulares, dando uma aparência de tecido encharcado. O pingo-de- mel está relacionado com baixas concentrações de cálcio no tecido e é estimulado por fatores climáticos e de manejo do pomar (FAN, 1992). Esta desordem tende a desaparecer durante o armazenamento dos frutos, desde que a área da polpa afetada não seja grande. Regiões com temperaturas mais amenas durante a fase de crescimento e maturação da maçã apresentam maior incidência de pingo-de-mel, como é o caso de São Joaquim, SC.

O armazenamento em atmosfera controlada (AC) é uma alternativa eficiente para a conservação da maçã 'Fuji' por um longo período, pois reduz a perda de firmeza da polpa (LAU, 1985), acidez e sólidos solúveis totais (BRACKMANN, 1991), permitindo uma conservação da qualidade por períodos muito superiores aos obtidos em armazenamento refrigerado (AR). Porém, no armazenamento em AC, é mais freqüente a ocorrência de degenerescência da polpa, principalmente em maçã afetada por pingo-de-mel.

A degenerescência é influenciada pelo local de produção, em função do clima, solo, nutrição e idade da planta e manejo (FAN,1992), mas também por uma série de fatores inerentes ao armazenamento, como o tempo de resfriamento dos frutos, temperatura de armazenamento, pressão parcial de O2 e CO2 em AC e umidade relativa da câmara (LAU et al., 1987). Baixas temperaturas durante o armazenamento podem atenuar ou agravar certos distúrbios fisiológicos (GRAN & BEAUDRY, 1993), uma vez que não suprimem todos os processos metabólicos na mesma extensão, podendo ocorrer colapso nas células (WILLS et al., 1981).

O uso de uma baixa pressão parcial de O2 diminui o metabolismo dos frutos e inibe a respiração, degradação das pectinas e ácidos orgânicos (BRACKMANN, 1991; SCHOUTEN, 1988). Contudo, LAU et al. (1987) consideram que pressão parcial muito baixa de O2 pode causar degenerescência da polpa. MEHERIUK (1990) afirma que, em pressão parcial de O2 próxima a 1kPa, pode ocorrer respiração anaeróbica, e que altos níveis de etanol no fruto podem predispor à degenerescência. Porém, FAN (1992) não observou aumento no teor de etanol quando maçãs 'Fuji' foram armazenadas em pressão parcial ultrabaixa de O2 (1,0 a 1,5kPa). BRACKMANN et al. (1995) verificaram que pressões parciais de O2 de 1,0kPa, 1,5kPa e 2,0kPa, combinadas com 0kPa de CO2, não apresentaram relação com a manifestação de degenerescência.

O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da temperatura e das pressões parciais de O2,durante o armazenamento em AC, sobre a conservação de maçãs 'Fuji' afetadas por pingo-de-mel.

MATERIAL E MÉTODOS Os experimentos foram conduzidos no ano de 1999, segundo os tratamentos apresentado na Tabela_1. As maçãs 'Fuji' colhidas em um pomar comercial de São Joaquim ¾ SC,localizado nas coordenadas geográficas 28º18' de latitude, 50º24' de longitude e altitude média de 1400m. O município está localizado na região preferencial para o cultivo da macieira do Estado de SC, apresentando de 600 a 750 horas de frio, temperatura média abaixo de 18ºC e grande amplitude térmica dia e noite que confere boa coloração vermelha às maças.

As maçãs foram armazenadas durante sete meses em minicâmaras de AC do Núcleo de Pesquisa em Pós-Colheita da Universidade Federal de Santa Maria (NPP/UFSM), quando então uma amostra de frutos foi analisada no dia da saída da câmara e outra amostra foi mantida durante sete dias em uma câmara de climatização a 20ºC e, posteriormente, analisada. As amostras experimentais foram compostas de 50 frutos, com três repetições para cada tratamento. Os frutos foram colhidos com a maturação um pouco avançada, pois são estes frutos que apresentam maior índice de pingo-de-mel e que, por isso, apresentam maiores dificuldades na conservação. Os frutos, no momento da colheita, apresentavam índice de iodo amido de 9,5; acidez titulável de 3,82cmol.L-1 e sólidos solúveis totais de 13,8ºBrix.

O índice de pingo-de-mel (IPM) foi obtido pela somatória dos produtos da multiplicação do número de frutos (nf) e respectivo nível de incidência do distúrbio (1 ¾ sem incidência de pingo-de-mel; 2 ¾ incidência média, com menos que 10% da polpa afetada; e 3 ¾ incidência grave com mais de 10% da polpa afetada) e dividido pelo número total de frutos (ntf), conforme a fórmula IPM= ( nf x 1 + nf x 2 + nf x 3)/ntf. O índice de pingo-de-mel calculado foi de 1,82, comprovando que as amostras apresentavam incidência média desse distúrbio fisiológico.

Os frutos foram armazenados durante sete meses em minicâmaras de AC, com capacidade de 230 litros. A atmosfera foi instalada nas câmaras de AC após a estabilização da temperatura de armazenamento. A instalação da atmosfera foi feita através da injeção de N2, produzido por um gerador de nitrogênio, que funciona pelo princípio "Pressure Swing Adsorption ¾ PSA". A pressão parcial dos gases (O2 e CO2) das câmaras de AC foi monitorada com um equipamento totalmente automatizado da marca Kronenberger, o qual permitiu uma oscilação máxima de ±0,1kPa da pressão parcial desejada.

Os parâmetros de qualidade avaliados foram: firmeza da polpa, SST, acidez titulável, degenerescência senescente, degenerescência com cortiça e ocorrência de podridões, obtidas de acordo com a metodologia descrita em MEDEIROS (1999).

A cor da epiderme foi determinada com um colorímetro, marca MINOLTA, modelo CR- 310, com a leitura de cores pelo sistema tridimensional CIE L* a* b*. O eixo "a" avalia a cor do fruto do verde ao vermelho e o eixo "b" da cor azul ao amarelo. Foram feitas as leituras da cor da epiderme para avaliar a evolução da degradação da clorofila e os resultados expressos em a* + b*.

Os resultados de cada parâmetro, avaliado na saída dos frutos das câmaras e após sete dias de exposição à temperatura de 20°C, foram submetidos à análise de regressão no experimento 1 e, no experimento 2, foram submetidos à análise de variância, sendo as médias comparadas estatisticamente pelo teste de Duncan, ao nível de 5% de probabilidade de erro. Dados expressos em percentagem foram transformados pela fórmula arcsen  antes da análise da variância.

RESULTADOS E DISCUSSÃO EXPERIMENTO 1 A firmeza de polpa não apresentou diferença estatística entre os tratamentos conforme análise de regressão, mantendo a firmeza da polpa dos frutos (Tabela 2). Provavelmente, as pressões maiores parciais de O2 usadas não foram suficientemente elevadas para que acelerassem a perda da firmeza de polpa.

Na saída das câmaras, não houve regressão estatística significativa para acidez titulável (Tabela_2). aos sete dias, ocorreu uma relação entre a redução de O2 e a manutenção da acidez, sendo que quanto mais baixa a pressão parcial de O2, menor a degradação dos ácidos (Figura_1A), provavelmente devido à inibição da degradação dos mesmos pelo processo respiratório. Este resultado também foi obtido por BENDER (1989).

Os SST não apresentaram regressão significativa (Tabela_2). Normalmente não se percebem grandes alterações nos SST, durante o armazenamento em AC, pois os açúcares são substratos, cujo início de utilização na respiração ocorre após acentuado consumo dos ácidos orgânicos (BRACKMANN & SAQUET, 1995) A cor da epiderme na saída das câmaras não apresentou regressão significativa (Tabela_2). Após sete dias, observou-se uma relação positiva entre a redução da pressão parcial de O2 e a manutenção da coloração verde da epiderme dos frutos (Figura_1B).

A degenerescência senescente não apresentou regressão significativa na saída das câmaras (Tabela_3). Após sete dias, a redução da pressão parcial de O2 proporcionou menor incidência deste distúrbio (Figura_1C). Maçãs que possuem pingo-de-mel, apresentam no seu conteúdo celular alta concentração de sorbitol, dificultando as trocas gasosas (O2 e CO2), ocorrendo o acúmulo de CO2 no interior do fruto, podendo chegar a um nível crítico, causando a degenerescência senescente. Provavelmente, a redução da pressão parcial de O2 inibiu a respiração, proporcionando menor acúmulo de CO2. Este resultado concorda com os encontrados por BRACKMANN & SAQUET (1995), que observaram um aumento da degenerescência da polpa em maçã 'Fuji' com o aumento da pressão parcial de O2. Também FAN (1992) não observou a ocorrência de degenerescência senescente quando reduziu a pressão parcial de O2 até 0,5kPa. Porém, LAU (1985) afirma que a ocorrência de degenerescência senescente está relacionada com baixos níveis de O2 durante o armazenamento.

A degenerescência com cortiça não apresentou nenhuma regressão significativa, nem na saída das câmaras, nem após sete dias (Tabela_3). BRACKMANN & SAQUET (1995) também obtiveram resultados semelhantes. Portanto, verifica-se que a baixa concentração de O2 não afeta a degenerescência com cortiça e diminui a incidência de degenerescência senescente da maçã 'Fuji' afetada por pingo-de- mel.

A incidência de podridão (Tabela_3) foi mais elevada com a redução da pressão parcial de O2 na saída da câmara (Figura_1D). Aos sete dias, verificou-se o mesmo comportamento, porém sem regressão significativa. Possivelmente, a pressão parcial de 0,8kPa de O2 causou estresse aos frutos bastante maduros que se tornaram mais sensíveis ao ataque de patógenos.

EXPERIMENTO 2 A firmeza de polpa e a acidez titulável apresentaram-se mais elevadas nos frutos armazenados em AC (Tabela_4). LAU (1985) justifica este resultado afirmando que o armazenamento em AC inibe a respiração e a produção de etileno pelos frutos, contribuindo para uma maior retenção da firmeza de polpa.

BRACKMANN & SAQUET (1995) também observaram que maçãs armazenadas próximo a 1kPa de O2 mantêm acidez mais elevada.

Os níveis de SST foram mais elevados nos frutos armazenados na temperatura de 0,5ºC (Tabela_4). Provavelmente, devido à maturação mais avançada destes frutos em virtude de a temperatura de armazenamento ser mais elevada. Segundo WILLS et al. (1981), a degradação da protopectina de baixo peso molecular pode contribuir para a elevação dos sólidos solúveis totais.

A coloração da epiderme apresentou-se mais verde nos frutos armazenados em AC (Tabela_4), provavelmente, devido ao baixo O2 inibir a degradação da clorofila.

Este resultado também foi encontrado por (MEDEIROS, 1999). aos sete dias de climatização a 20ºC, o tratamento com temperatura de 0,5ºC apresentou a menor degradação de clorofila ( Tabela_4).

Os frutos armazenados na menor temperatura (-0,5ºC) apresentaram menor incidência de degenerescência senescente, na saída da câmara (Tabela_5).

Provavelmente, estes frutos com pingo-de-mel, armazenados a ¾0,5ºC, tiveram menor taxa respiratória que aqueles que estavam a 0,5ºC, ocorrendo um menor acúmulo de CO2 e, conseqüentemente, diminuindo a incidência de degenerescência senescente. A baixa ocorrência de degenerescência senescente (<10%) contraria os resultados obtidos por BENDER (1991), que observou que esta cultivar é suscetível a danos em temperatura de armazenamento inferior a 1,5ºC. MEDEIROS (1999), por sua vez, não verificou diferença entre as temperaturas de 0,5°C e ¾0,5ºC na incidência deste distúrbio. Após sete dias a 20ºC, este distúrbio também foi menor com o uso de AC. Possivelmente, a menor incidência deste distúrbio esteja relacionada a AC proporcionar uma menor taxa respiratória e, conseqüentemente, menor acúmulo de CO2 no interior do fruto. a degenerescência com cortiça foi mais elevada em AC após sete dias a 20ºC. No entanto, a temperatura de armazenamento não influenciou na manifestação desse distúrbio (Tabela_5). Este resultado concorda com o obtido por KE & KADER (1989), que observaram que tratamentos com baixo O2 podem aumentar a incidência deste distúrbio fisiológico em maçã armazenada por longos períodos.

A menor incidência de podridão foi na combinação da temperatura de -0,5ºC com AC, na saída da câmara (Tabela_5). A baixa temperatura e a baixa pressão parcial de O2 afetam diretamente no crescimento de fungos e indiretamente retardam o amadurecimento de frutos (KADER, 1989). Após sete dias a 20ºC, não houve diferença estatística na ocorrência de podridões entre as temperaturas, e o uso de AC proporcionou menor incidência de podridões.

CONCLUSÕES O armazenamento em AC de maçãs 'Fuji' afetadas com pingo-de-mel manteve os frutos com melhor qualidade, quando comparado ao AR, sendo 0,8 a 1,1kPa de O2 as condições de armazenamento que reduziram a transformação de pingo-de-mel em degenerescência, embora o uso de 0,8kPa de O2 possa aumentar a suscetibilidade a podridões. As duas temperaturas de armazenamento (-0,5 e 0,5ºC) tiveram resultados semelhantes na manifestação de degenerescências e podridões, bem como na qualidade físico-química da maçã 'Fuji'.


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