ENRAIZAMENTO DE MINIESTACAS DE AMEIXEIRA
ENRAIZAMENTO DE MINIESTACAS DE AMEIXEIRA
INTRODUÇÃO
A técnica de multiplicação vegetativa mais comumente utilizada na clonagem de
plantas lenhosas, em larga escala, tem sido a estaquia que, embora seja
utilizada com sucesso para algumas espécies, ou mesmo para alguns cultivares
dentro de uma mesma espécie, não tem obtido sucesso para outras (Assis e
Teixeira, 1999). Estes autores citaram que a cultura de tecidos tem se
apresentado como uma alternativa viável de clonagem de espécies lenhosas para a
produção comercial de mudas e formação de pomares. Denardi e Leite (1996)
citaram ainda que, com a cultura de meristemas, existe a possibilidade de
multiplicar, em escala geométrica e em ciclos relativamente curtos, grande
número de espécies vegetais a partir de um único meristema. Porém, isto requer
alguns quesitos que podem não estar ao alcance do produtor.
A estaquia é uma técnica que possibilita a obtenção de mudas de ameixeira, em
um ciclo vegetativo, sem a necessidade de enxertia e, portanto, com menor custo
comparado à muda tradicional enxertada. Aliados a isto, Finardi e Camelatto
(1995) atribuíram, às mudas com sistema radicular de ameixeira, tolerância às
condições de asfixia por encharcamento do solo, enquanto mudas de ameixeiras
enxertadas sobre pessegueiro não sobrevivem em tais condições.
A propagação por estacas baseia-se na faculdade de regeneração dos tecidos e
emissão de raízes, devendo a estaca, ou fragmento dela, conter no mínimo uma
gema (Simão, 1998). Com relação ao tamanho das estacas, Fachinello et al.
(1994) relataram que o comprimento e o diâmetro variam conforme a espécie e o
tipo de estaca. Estacas lenhosas podem ter comprimento variável de 20 a 30 cm e
diâmetro entre 0,6 e 2,5 cm. Estacas semilenhosas apresentam um comprimento, em
geral, de 7,5 a 15 cm, e estacas herbáceas podem ser ainda menores. Vários
autores (Kersten et al., 1994; Tonietto et al., 1997; Dutra et al., 1998),
metodologicamente, limitaram o tamanho das estacas de ameixeira sem uma base
lógica para tal limite.
Assis e Teixeira (1999) afirmaram que o controle do desenvolvimento de raízes
adventícias é influenciado por substâncias reguladoras de crescimento,
apresentando uma concentração ótima que pode variar entre espécies, populações
ou clones, algumas promovendo e outras inibindo. Bose e Mandal (1972) citaram
que o ácido indolbutírico (AIB) é um dos reguladores de crescimento mais
aplicados, sendo efetivo para um grande número de espécies.
A diferença de enraizamento entre cultivares de ameixeira tem sido relatada em
vários trabalhos, sendo que Dutra et al. (1998) verificaram que as cultivares
Frontier e Ace apresentaram maior facilidade de emitir raízes do que as
cultivares Roxa de Itaquera, Sungold, Beauty e Reubennel. Observaram também que
a utilização de AIB na concentração de 3000 mg.L-1 resultou em enraizamento
igual ou superior ao controle, para todas as cultivares. Rathore (1983)
conseguiu 100% de enraizamento em estacas semilenhosas de ameixeira Santa Rosa
ao mergulhar a base destas em solução de AIB 6000 mg.L-1 por cerca de um
minuto. Finardi e Camelatto (1995) recomendaram a utilização de solução de AIB
na concentração de 2000 mg.L-1 para o enraizamento de estacas lenhosas de
ameixeira.
O aquecimento do substrato de enraizamento também é citado como um tratamento
que favorece o enraizamento. Fiorino e Loreti (1963) citaram que a temperatura
possui eficiência diferente conforme o substrato, cultivar ou porta-enxerto,
considerando boas as temperaturas entre 10°C e 20°C. Erez (1984) obteve
enraizamento maior em estacas colocadas em substrato coberto com filmes de
polietileno (0,05 mm) do que em substrato descoberto.
Este trabalho objetivou estudar a obtenção de mudas de ameixeira através de
estacas contendo uma gema, de forma a otimizar o número de estacas obtidas por
ramo.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em casa de vegetação equipada com sistema de
nebulização, localizado nas dependências do Departamento de Fitotecnia da
Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel/UFPel, Câmpus Universitário, Pelotas-RS.
Foram coletados, em 9-11-1999, ramos do ano de plantas de ameixeira (Prunus
salicina Lindl) cultivares Reubennel e Pluma 7, pertencente a um pomar com
quatro anos de idade, localizada no município de Capão do Leão. A porção apical
de cada ramo, quando inferior a 2 mm foi eliminada. De cada ramo, foram
retiradas quinze estacas, fazendo-se um corte em bisel no mínimo 0,5 cm acima
da gema e outro junto à gema subseqüente, ficando a estaca constituída de uma
gema e sendo denominada de miniestaca. As miniestacas foram mergulhadas em uma
solução de AIB 2000 mg.L-1, dissolvido em álcool etílico, por cinco segundos.
Utilizou-se, como testemunha, uma solução composta de água destilada misturada
a idêntico volume de álcool utilizado para dissolver o AIB. Em seguida, as
mini-estacas foram colocadas para enraizar em bandejas de isopor contendo como
substrato uma mistura de cinza de casca de arroz e vermiculita (2:1 v/v). A
seqüência de colocação das miniestacas nas células das bandejas obedeceu àquela
em que foram retiradas dos ramos. Parte das miniestacas permaneceram em
substrato coberto com plástico transparente de 20 micras de espessura e parte
em substrato descoberto.
Para a leitura das temperaturas dos substratos, foram instalados dois
geotermômetros na profundidade de 2 cm, um no substrato coberto e outro no
substrato descoberto, sendo sua posição sorteada. Foram escolhidos, ao acaso,
quatro dias nas duas primeiras semanas em que o experimento foi instalado.
Nestes dias, foram feitas leituras das 8 às 16 horas, em intervalos de duas
horas, e uma leitura às 17 horas. Também foi instalado um termoigrógrafo de
onde foram obtidas as temperaturas do ambiente.
O delineamento experimental foi completamente casualizado, em esquema fatorial
2x2x2 (cultivares, soluções e plástico), e quatro repetições com 15 estacas por
parcela. O material permaneceu nesta condição onde, após 39 dias, foram
avaliados a percentagem de estacas enraizadas, número e comprimento de raízes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As miniestacas foram eficientes na formação de raízes (Figura_1) apresentando
cerca de 99% de enraizamento na cultivar Pluma 7, demonstrando também que todas
as porções do ramo desta cultivar apresentaram potencial para a formação de
mudas. No entanto, a eficiência foi dependente da cultivar e da utilização do
ácido indolbutírico (AIB), como se pode observar na Figura_2.
A diferença de enraizamento entre cultivares é uma característica já conhecida.
Dutra et al. (1998), estudando seis cultivares de ameixeira, observaram que a
cultivar Reubennel apresentou os menores resultados, 4,54% de enraizamento,
mesmo com a utilização de ácido indolbutírico a 3000 mg.L-1. Os autores
utilizaram estacas medianas com 15 cm de comprimento, e o maior percentual de
enraizamento foi obtido com a cultivar Frontier (50,21%). Comparando apenas a
cultivar Reubennel, nota-se que a utilização de miniestacas apresentou
resultado maior que os obtidos pelos autores acima. No entanto, não se pode
atribuir o maior resultado ao tamanho da estaca, pois houve diferença, entre os
experimentos, na época de coleta e na concentração do ácido indolbutírico.
Observa-se, na Figura_3, que a cobertura plástica manteve a temperatura do
substrato acima do substrato não coberto, nos períodos em que foram feitas as
leituras.
Em alguns períodos, o substrato coberto alcançou temperaturas médias de até 2ºC
acima do substrato sem cobertura plástica. Mas este efeito foi
significativamente negativo para o enraizamento, obtendo-se, em média, 27,25% e
34,47% para o material com e sem plástico, respectivamente. Geralmente, o
aquecimento de substrato é utilizado no enraizamento de estacas lenhosas.
Alguns trabalhos citam a utilização de temperaturas entre 15ºC e 25ºC e até
30ºC (Loach, 1988). Nota-se, na Figura_3, que o substrato descoberto apresentou
temperatura superior a 30ºC e o coberto, temperaturas ainda mais elevadas, o
que pode ter prejudicado a indução de raízes.
A impossibilidade de acompanhamento das temperaturas noturnas não permite fazer
qualquer inferência com relação às mesmas.
A utilização do AIB aumentou significativamente o número de raízes por estaca,
passando de 1,6 (testemunha) para 4,2 (2000 mg.L-1). Também houve diferença
significativa no número de raízes entre cultivares, obtendo-se 0,63 para
Reubennel e 5,22 para Pluma 7. O AIB é um dos biorreguladores mais utilizados
para a indução de raízes e, segundo Assis e Teixeira (1999), o genótipo é um
dos fatores que influenciam o enraizamento, existindo uma grande variação entre
espécies, cultivares e clones em relação à maior ou menor habilidade natural em
formar raízes. Portanto, pode-se atribuir ao biorregulador e à maior
sensibilidade da cultivar Pluma 7 a este, os melhores resultados obtidos pela
cultivar, em percentagem de enraizamento e número de raízes.
O AIB e a cultivar interagiram na variável comprimento de raiz, obtendo-se o
maior comprimento com a cultivar Pluma 7 tratada com AIB a 2000 mg.L-1 (Figura
4).
Possivelmente, com a indução e provável antecipação da formação de raízes com a
utilização do AIB, houve um período maior para o crescimento das raízes dentro
do substrato, tendo assim o AIB um efeito indireto sobre o comprimento de raiz.
A cobertura plástica não influenciou o número nem o comprimento de raízes.
CONCLUSÕES
· A cultivar Pluma 7 apresenta maior potencial de enraizamento e maior
sensibilidade ao AIB do que a cultivar Reubennel.
· Miniestacas possuem capacidade de formar raízes.
· Toda extensão do ramo, de cultivares de ameixeiras que respondam ao ácido
indolbutírico, pode ser utilizada como estaca na formação de mudas.
· O plástico reduz o enraizamento, não afetando o número e o comprimento de
raízes por estaca.
· O AIB aumenta o enraizamento, o número e comprimento de raízes das duas
cultivares.