PROPAGAÇÃO DO UMEZEIRO (Prunus mume Sieb & Zucc.) POR ESTAQUIA HERBÁCEA
PROPAGAÇÃO DO UMEZEIRO (Prunus mume Sieb & Zucc.) POR ESTAQUIA HERBÁCEA1
INTRODUÇÃO
O damasqueiro-japonês, mais conhecido como umezeiro (Prunus mume Sieb &
Zucc.), é uma rosácea de folhas caducas, arbórea, originária da China
Continental e típica de clima temperado. Seu cultivo é amplo nos países
asiáticos, destacando-se o Japão e Taiwan, que o cultivam desde o século XIV
(Campo Dall'Orto et al., 1998).
Seus frutos, de elevado amargor, acidez e aroma característico, são comumente
utilizados pelos povos orientais no preparo de conservas - o
"umeboshi" e de um licor especial ¾ o "umeshu", além de
geléias e doces em massa, podendo inclusive ser misturados às geléias de
pêssego ou ameixa, conferindo-lhes mais aroma, sabor, acidez e consistência. As
flores são utilizadas na ornamentação, com sentido místico e festivo (Campo
Dall'Orto et al., 1995/1998).
Em função dos seus costumes, a colônia japonesa do Estado de São Paulo sempre
procurou produzir o umê, resultando em repetidos fracassos por utilizarem
materiais muito exigentes em frio, oriundos do Japão.
O maior interesse por esta frutífera deu-se por volta de 1970, em Botucatu, SP,
quando obtiveram algumas colheitas de um material originário, provavelmente, da
cultivar Koume (umê pequeno) de Taiwan, caracterizado pela baixa exigência em
frio e, possivelmente, pertencente à variedade botânica Mycrocarpa. A partir
daí, sua difusão no Estado de São Paulo vem sendo crescente (Campo Dall'Orto et
al., 1998).
O umezeiro apresenta características agronômicas importantes, como rusticidade,
sanidade de plantas, adaptação ao inverno brando e produtividade, sendo que
algumas seleções do IAC atingem 100kg/planta (Campo Dall'Orto et al., 1995/
1998). Mais recentemente, o umezeiro vem despertando grande interesse na
fruticultura intensiva devido à possibilidade de ser utilizado como porta-
enxerto para pessegueiro e nectarineira, sendo compatível com esta espécie e
conferindo-lhe uma diminuição no vigor das plantas, o que possibilitaria a
formação de pomares em alta densidade (Campo Dall'Orto et al., 1992 e 1994;
Nakamura et al., 1999).
Além destas vantagens, a utilização do umezeiro como porta-enxerto de
pessegueiro pode possibilitar a produção de frutos com maior massa e teor de
sólidos solúveis, realçando a pigmentação vermelha da película, quando
comparados aos frutos produzidos pelas mesmas copas enxertadas sobre a cv.
'Okinawa', tradicionalmente utilizada como porta-enxerto no Estado de São Paulo
(Campo Dall'Orto et al., 1994).
A propagação vegetativa de frutíferas é uma prática extremamente importante na
manutenção dos caracteres da planta-matriz. Segundo Fachinello et al. (1995), o
processo de formação de raízes é afetado por fatores internos (condição
fisiológica e idade da planta-matriz, tipo de estaca, época do ano, balanço
hormonal, entre outros) e externos (como a temperatura, luz, umidade, substrato
e condicionamento).
A capacidade de enraizamento de estacas lenhosas diretamente no campo foi
estudada por Reighard et al. (1990), onde avaliaram 406 diferentes acessos de
Prunus em 4 anos consecutivos, incluindo diferentes espécies, cultivares e
híbridos. Os autores concluíram que o umezeiro, juntamente com amendoeiras,
ameixeiras americanas, damasqueiros e Prunus fenzliana apresentaram as menores
sobrevivências, entre 2 e 9%. Miranda et al. (2000) obtiveram 67,5% de
enraizamento com estacas lenhosas, utilizando o solo como substrato. Com a
técnica da micropropagação, Harada & Murai (1996) observaram que o umezeiro
apresentou taxas de sobrevivência relativamente baixas na aclimatação sob
nebulização intermitente, variando de 20 a 30%. No caso da propagação por
estaquia herbácea do umezeiro no Brasil, Nachtigal et al. (1999) obtiveram
37,95% de enraizamento, quando as estacas foram tratadas com AIB a 2000mg.L-1.
O presente trabalho teve como objetivo estudar a viabilidade da propagação
vegetativa do umezeiro por estacas herbáceas em câmara de nebulização,
verificando o enraizamento de clones promissores para posterior utilização como
porta-enxerto de Prunus sp.
MATERIAIS E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em câmara de nebulização intermitente, pertencente
ao Departamento de Produção Vegetal da Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias-UNESP, Câmpus de Jaboticabal-SP.
Plantas-matrizes dos Clones 02; 05; 10 e 15, provenientes do Programa de
Melhoramento Genético do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), foram mantidas
em vasos plásticos sob ripado, com 50% de sombreamento. Estes clones apresentam
boas características para serem utilizados como porta-enxerto, especialmente
por induzirem redução no porte das plantas.
As estacas foram preparadas com 12cm de comprimento, diâmetro variando de 27 a
35mm, com 3 a 5 folhas, sendo eliminadas as folhas da parte basal. Após o
preparo, as estacas foram tratadas com solução fungicida (Benomil a 0,5% p.c.)
por 10 segundos. Metade do lote das estacas foi tratada com solução líquida de
ácido indolbutírico (AIB) a 2000mg.L-1, por 5 segundos, sendo que a outra
metade não foi tratada. As estacas foram acondicionadas em caixas plásticas
perfuradas (37,5x27x9,5cm), contendo vermiculita de grânulos médios como
substrato. As caixas plásticas foram mantidas em câmara de nebulização
intermitente, por um período de 60 dias (17 de setembro a 16 de novembro de
1999). O sistema de nebulização foi controlado por um "timer"
programado para ligar o sistema por 5 segundos, deixando-o desligado por 40
segundos, de forma a manter uma fina película de água sobre a superfície das
folhas.
O experimento foi conduzido em delineamento experimental inteiramente
casualizado, esquema fatorial 4 x 2, sendo os níveis constituídos de quatro
clones (Clones 02; 05; 10 e 15) e duas concentrações de AIB (0 e 2000mg.L-1),
com quatro repetições e 20 estacas por parcela. As variáveis analisadas foram
porcentagem de estacas enraizadas, porcentagem de estacas com calo, número de
raízes por estaca, comprimento das cinco maiores raízes e porcentagem de
estacas brotadas. Os dados originais das variáveis expressas em porcentagem
foram transformados para Arco-Seno . Os dados
foram submetidos à análise de variância, pelo teste F, e as médias comparadas
pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pelos resultados obtidos (Tabela_1), observa-se que existe diferença
significativa entre o Clone 15 e o Clone 02 na porcentagem de estacas
enraizadas (93,75 e 78,13%, respectivamente). Os Clones 05 e 10 comportaram-se
como intermediários, apresentando 85,0 e 83,13% de enraizamento,
respectivamente, não diferindo estatisticamente dos anteriores. Estes dados
comprovam a viabilidade da propagação vegetativa do umezeiro por meio de
estacas herbáceas e estão de acordo com Nachtigal et al. (1999), que também
verificaram melhores resultados no Clone 15 ao enraizamento, embora não
diferindo significativamente dos demais. Vale ressaltar que os percentuais de
enraizamento (78,13 a 93,75%) obtidos neste trabalho, que foi conduzido entre
meados de setembro a meados de novembro, são bem superiores aos obtidos por
Nachtigal et al. (1999), que obtiveram 36,8% como melhor resultado, no início
de março a meados de maio. Este fato indica que a época do ano pode influenciar
no enraizamento e que, no caso da estaquia herbácea, os melhores resultados são
obtidos na época de maior crescimento vegetativo (primavera-verão), segundo
Hartmann et al. (1997). Na Tailândia, Suriyapananont (1990) verificou que para
o umezeiro, os melhores resultados foram obtidos nos meses de junho e outubro,
enquanto os meses de abril e agosto foram os piores. Segundo Zhang & Masaki
(1994), a porcentagem de enraizamento no umezeiro está negativamente
correlacionada com o teor de açúcares totais e positivamente com o conteúdo de
amido das estacas.
Para as variáveis porcentagem de calo, raízes por estaca, comprimento de raízes
e porcentagem de estacas brotadas, não foi observada diferença significativa
entre os clones testados. Ao observarmos o número de raízes por estaca (que
variou de 6,71 a 7,82) e o comprimento das raízes (7,22 a 8,37cm), verifica-se
uma capacidade de emissão de raízes e vigor satisfatórios para esta espécie,
com a utilização de estacas herbáceas coletadas na primavera. A elevada
porcentagem de estacas brotadas, com valores próximos a 85,0%, também contribui
para o sucesso deste método, pois, desta forma, o processo fotossintético não é
interrompido, e a estaca enraizada passará a sintetizar seu próprio alimento
(Reuveni & Raviv, 1981). A maior porcentagem de estacas mortas foi
verificada no Clone 02, ainda assim menor que 10% e considerada muito baixa.
A utilização do AIB a 2000mg.L-1 foi altamente benéfica para aumentar a
porcentagem de enraizamento das estacas (Tabela_2). Estes resultados também
estão de acordo com Nachtigal et al. (1999), que testaram seu efeito para
estacas herbáceas, e com Miranda et al. (2000), que o utilizaram em estacas
lenhosas de umezeiro. Suriyapananont (1990), estudando diferentes reguladores
de crescimento na propagação do umezeiro, comprovou que o AIB aumentou o
enraizamento nas concentrações entre 1500 e 3000mg.L-1; entretanto, a
concentração de 2000mg.L-1 foi significativamente superior aos demais
reguladores e concentrações testadas, obtendo 56,8% de enraizamento. O efeito
benéfico do AIB no enraizamento de estacas foi também observado para estacas
lenhosas e semilenhosas de cultivares-copa de pessegueiro (Fachinello et al.,
1981, 1982 e 1984).
Em função da elevada porcentagem de enraizamento observada nos tratamentos com
o AIB, a porcentagem de calo foi muito baixa, como se pode observar na Tabela
2. Das 320 estacas tratadas com o regulador de crescimento, apenas 2 formaram
exclusivamente calo (0,63%). A formação de calo e de raízes são processos
independentes para a maioria das plantas. A ocorrência simultânea é devido a
condições internas e ambientais semelhantes. Entretanto, para algumas plantas,
a formação de calo pode ser precursora da formação de raízes (Hartmann et al.,
1997).
O AIB ainda favoreceu a emissão de um maior número de raízes adventícias por
estaca (11,28) e com maior comprimento (8,27cm). Estes resultados estão em
concordância com Nachtigal et al. (1999) apenas para a variável número de
raízes. Em estacas lenhosas de umezeiro, a concentração de 2000mg.L-1de AIB
também proporcionou um aumento do número e comprimento de raízes (Miranda et
al., 2000). As porcentagens de estacas brotadas obtidas com as concentrações de
0 e 2000mg.L-1de AIB foram de 85,63% e 84,38%, respectivamente, demonstrando
que o regulador não exerceu influência sobre esta variável. Não houve efeito
significativo da interação Clone x AIB nas variáveis analisadas (Tabela_2),
demonstrando que os fatores estudados agem de forma independente.
CONCLUSÕES
1. A propagação vegetativa do umezeiro por estacas herbáceas obtidas na
primavera é viável em câmara de nebulização.
2. A maior porcentagem de enraizamento foi observada nas estacas provenientes
do Clone 15, que foi significativamente superior ao Clone 02, sendo que os
Clones 05 e 10 se comportaram como intermediários.
3. O ácido indolbutírico, na concentração de 2000mg.L-1, beneficiou o
enraizamento das estacas, favoreceu a emissão de um maior número de raízes
adventícias por estaca e aumentou o comprimento de raízes. O AIB não
influenciou na brotação das estacas.