CONTROLE DE Cerconota anonella (SEPP.) (LEP.: OECOPHORIDAE) E DE
Bephratelloides pomorum (FAB.) (HYM.: EURYTOMIDAE) EM FRUTOS DE GRAVIOLA
(Annona muricata L.)
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
INTRODUÇÃO
A crescente demanda e o interesse pela polpa por parte do consumidor e das
indústrias de suco, sorvetes e doces, justificam a inclusão da graviola no rol
das frutas tropicais brasileiras de maior aceitação comercial, sendo amplamente
cultivada nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste (Junqueira et
al., 1996). Vários problemas fitossanitários, entretanto, limitam o cultivo
dessa planta. A broca-do-fruto, Cerconota anonella (Sepp.) (Lepidoptera.:
Oecophoridae) e a broca-da-semente,Bephratelloides pomorum
(Fab.) (Hymenoptera: Eurytomidae) são consideradas as pragas mais importantes,
pelos danos expressivos que causam direta e indiretamente à cultura.
Algumas medidas de controle culturais para combater C. anonella, como catação e
queima ou enterrio dos frutos atacados, poda de formação e rejuvenescimento e
também as medidas físicas, com a utilização de armadilhas luminosas, têm sido
indicadas (Melo et al., 1983; Calzavara & Muller, 1987; EMATER/AL, 1989). A
utilização de invólucros que não prejudiquem o desenvolvimento normal dos
frutos e garantam proteção contra a praga tem sido incentivada. Esta prática é
considerada profilática e assegura bom controle, se for iniciada assim que os
frutos tiverem aproximadamente 2,5 cm de comprimento (Doesburg, 1964; Melo et
al., 1983; McComie, 1987; Carneiro & Bezerril, 1993; Manica, 1994). Embora
Pinto & Genu (1984) tenham usado inseticidas carbamatos e Bustillo &
Peña (1992) coberto os frutos com saco plástico aberto em uma das extremidades
e tratado com clorpirifós, o êxito do controle foi pouco expressivo.
Para B. pomorum, foram recomendadas as seguintes medidas de controle: inspeção
semanal do pomar, a partir do período de frutificação, coletando, queimando ou
enterrando os frutos atacados a uma profundidade de 50 cm; ensacamento dos
frutos ainda pequenos, com invólucros de diversos materiais. Indica-se, também,
a cada 15-20 dias, a pulverização dirigida aos frutos ainda pequenos, com
inseticidas à base de trichlorfon, monocrotophos ou endossulfan, nas
concentrações de 0,10%, 0,05% e 0,08%, respectivamente, ou com uma calda à base
de melaço (10 ml), sementes de graviola trituradas (10 g), monocrotophos (5ml)
e água (10 ml) (Junqueira et al., 1996; Braga Sobrinho et al., 1998).
Após a entrada dessas brocas nos frutos, entretanto, o controle químico torna-
se ineficaz e, quando os piretróides são usados, continuadamente, ocorre
aumento de danos causados por ácaros. Os inseticidas, quando usados
preventivamente, além de contaminar o meio ambiente, eliminam os inimigos
naturais e os vários polinizadores, que são importantes, pois a cultura
apresenta os problemas fisiológicos da dicogamia protogínica. Isto significa
que, mesmo sendo planta hermafrodita, a autopolinização é rara, pois os
estigmas amadurecem antes dos estames.
O tamanho do fruto para início do controle é um aspecto que merece ser
ressaltado, pois Broglio- Micheletti (1999) utilizou comprimentos entre 1 a 3
cm e 6 a 10 cm. Sugeriu, no entanto, que um tamanho intermediário seria
razoável, já que, com esses tamanhos, ocorreram alguns inconvenientes, como
excesso de abortamentos para 1 a 3 cm e infestação pré-controle para os
comprimentos maiores.
Considerando que a gravioleira tem grande destaque na fruticultura da região
nordestina brasileira, e a importância dessas pragas, são necessários estudos
visando a estabelecer formas mais viáveis de seus controles.
MATERIAL E MÉTODOS
Os efeitos de diferentes formas de controle da boca-do-fruto e da broca-da-
semente foram testados em plantação de graviola localizada no Sítio Aldeia
Verde, em Maceió-AL, no período compreendido entre outubro/1999 a fevereiro/
2000.
Os tratamentos utilizados foram: 1- frutos sem proteção (testemunha); 2- saco
de papel kraft (43cm de comprimento x 24cm de largura); 3- saco plástico comum
fechado na extremidade inferior, apenas com alguns orifícios feitos para
permitir o escoamento da água (49cm de comprimento x 28cm de largura); 4- saco
plástico comum aberto na extremidade inferior (49cm de comprimento x 28cm de
largura; 5- saco plástico perfurado (49cm de comprimento x 28cm de largura); 6-
saco de papel impermeável nas duas faces (45cm de comprimento x 32cm de
largura); 7- pulverização dos frutos semanal e localizada, com triflumuron
250g/kg, sendo a dosagem 100g/há; 8- pulverizações com triflumuron 250g/kg, na
dosagem 100g/ha, sendo posteriormente os frutos ensacados com saco plástico
perfurado; 9- pulverização dos frutos semanal e localizada, com imidacloprid
700g/kg, sendo a dosagem 100g/ha. Os tratamentos foram aplicados em frutos de 4
a 6 cm de comprimento, repetidos 20 vezes, em plantas diferentes.
Antes de realizar quaisquer tratamentos, certificava-se de que não houvesse
insetos na superfície dos frutos. Se isso ocorresse, eles eram retirados com
pincel. Os sacos foram presos aos ramos acima dos frutos, por meio de arame
plastificado. Semanalmente, até a colheita, foram realizadas inspeções para a
verificação de queda de frutos e/ou danificação do invólucro. No caso do
tratamento com os inseticidas, considerou-se o intervalo de segurança de 10
dias que antecedem a colheita, para suspender a aplicação dos produtos em
campo.
Na ocasião da colheita, foram avaliadas as características: número de orifícios
causados por C. anonellae por B. pomorum, peso, comprimento e diâmetro dos
frutos. Realizou-se a análise estatística dos dados, aplicando-se o teste da
DMS para comparar as médias dos tratamentos das variáveis peso, comprimento e
diâmetro dos frutos e o teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis para comparar
as médias dos tratamentos da variável número de orifícios ocasionados por C.
anonellae por B. pomorum. Avaliou-se também a percentagem de frutos colhidos
para cada tratamento. Fez-se, ainda, a análise econômica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela_1, estão apresentados os resultados médios do número de orifícios
ocasionados por C. anonella e por B. pomorum, peso, comprimento, diâmetro,
percentagem de frutos colhidos e custos unitários para proteger os frutos de
graviola. Nota-se que os tratamentos que tiveram percentagem de frutos colhidos
acima de 80% foram: saco plástico perfurado (85,00) e saco plástico fechado
(90,00).
Considerando-se a variável número de orifícios ocasionados por C. anonella,
verifica-se que os tratamentos saco de papel kraft, saco plástico aberto e saco
plástico perfurado não diferiram estatisticamente da testemunha, sendo
semelhantes entre si. Já os tratamentos saco de papel impermeável, saco
plástico fechado, triflumuron, triflumuron + saco plástico perfurado e
imidacloprid apresentaram expressiva redução do número de orifícios e não
diferiram entre si.
Em relação ao número de orifícios causados por B. pomorum, nenhum tratamento
diferiu estatisticamente da testemunha e do imidacloprid, porém havendo
significativa redução no número entre o saco de papel kraft, saco de papel
impermeável, saco plástico fechado, saco plástico aberto, saco plástico
perfurado e triflumuron + saco plástico perfurado, em relação ao triflumuron.
A característica peso dos frutos apresentou a média geral no ensaio de 1,217
kg. Os tratamentos triflumuron e o imidacloprid diferiram estatisticamente dos
demais. Em seguida, os tratamentos saco plástico perfurado, saco plástico
fechado, o triflumuron + saco plástico perfurado, saco plástico aberto, saco de
papel impermeável e de papel kraft, com pesos acima da média, não diferiram
entre si. A testemunha apresentou peso abaixo da média (0,99 kg) e diferiu dos
tratamentos saco de papel kraft, saco de papel impermeável e triflumuron.
Os frutos protegidos com o saco de papel kraft, saco de papel impermeável,
triflumuron + saco plástico perfurado, saco plástico aberto e saco plástico
fechado foram os que tiveram os seus comprimentos acima da média, não diferindo
estatisticamente entre si. Já os tratamentos testemunha, saco plástico
perfurado, triflumuron e imidacloprid apresentaram seus comprimentos abaixo da
média. Em relação aos diâmetros, não foi observada diferença estatística entre
os tratamentos.
A embalagem de papel kraft apresentou a desvantagem de dificultar a colheita,
pois externamente aos invólucros havia gafanhotos e internamente, formigas
Camponotussp. (Hymenoptera: Formicidae), além do que ficava difícil de se
determinar o ponto de colheita. Os frutos que se desenvolveram nestas
embalagens tenderam a ser amarelados. A embalagem de papel impermeável teve a
desvantagem de ter de ser montada, a partir de folhas individuais, pois, em
Alagoas, elas não são comercializadas já prontas para o uso.
Quanto à análise econômica, os inseticidas testados possibilitaram custos
superiores em relação aos demais tratamentos. Além da baixa eficiência no
controle de B. pomorum, apresentaram o inconveniente de não serem registrados
para a cultura em questão, podendo ocasionar, além disso, a contaminação
ambiental, eliminação de inimigos naturais das pragas e de insetos
polinizadores.
No Estado de Alagoas, em relação ao controle de pragas na cultura de graviola,
o que prevalece é a utilização indiscriminada de agrotóxicos. Os produtores
alegam que a técnica do ensacamento encarece o produto final, devido à mão-de-
obra que deve ser disponibilizada para tal fim. Mas, o que se observa no geral,
é que quem realiza esta prática, tem os frutos apresentando qualidade superior,
o que possibilita um efetivo retorno financeiro.
Como se observou pelos resultados obtidos, os sacos plásticos (comuns ou
perfurados) foram as formas mais viáveis de controle de C. anonella e de B.
pomorum, mas a limpeza do campo deve ser o primeiro passo para se ter sucesso
com o controle de pragas em anonáceas, pois os adultos continuam a emergir de
frutos infestados mesmo após eles terem caído ao solo, servindo como fonte de
reinfestação. Estes frutos devem ser removidos das plantas e do solo que fica
sob elas e serem completamente destruídos.
CONCLUSÃO
O ensacamento dos frutos com saco plástico comum ou com saco plástico perfurado
(ambos com 49cm de comprimento x 28cm de largura) é a forma mais efetiva e
econômica para controle de C. anonella e B. pomorum.