Correlações fenotípicas, genotípicas e ambientais em aceroleira
CORRELAÇÕES FENOTÍPICAS, GENOTÍPICAS E AMBIENTAIS EM ACEROLEIRA1
INTRODUÇÃO
Uma das formas de aumentar a eficiência da seleção de um caráter é o uso de
caracteres correlacionados. De acordo com Hallauer & Miranda Filho (1981),
a correlação medida através do coeficiente de correlação tem importância no
melhoramento de plantas, porque mede o grau de associação genética ou não
genética entre dois ou mais caracteres. Igualmente, Cruz e Regazzi (1997)
ressaltaram a importância das correlações, afirmando que elas quantificam a
possibilidade de ganhos indiretos por seleção em caracteres correlacionados e
que caracteres de baixa herdabilidade têm a seleção mais eficiente quando
realizada sobre caracteres que lhe são correlacionados.
Para identificação de genótipos superiores de aceroleira, devem ser
consideradas características bromatológicas de interesse agronômico como alto
teor de vitamina C, acidez, Brix e rendimento de polpa. Bezerra et al. (1992)
avaliaram 14 clones de aceroleira quanto às características físicas e químicas
dos frutos, observaram que o peso dos frutos apresentou uma média geral de 4,0
gramas. O teor de sólidos solúveis totais variou de 6,4º a 13,2º. A média de
acidez foi em torno de 1,0%. Os teores de ácido ascórbico variaram de 1149,3 a
2399,3 mg/100g.
Bosco et al. (1994) selecionaram 9 clones de aceroleira com base em
características fenológicas da planta e morfologia dos frutos. O rendimento de
polpa foi superior a 90%. O peso dos frutos variou de 7,02 a 9,68 g; o diâmetro
médio dos frutos foi 2,51 cm e, de forma geral, os clones selecionados
apresentaram consistência, cor e sabor que atendem plenamente às exigências do
mercado.
Gomes et al. (1998), com o objetivo de subsidiar o processo seletivo de clones
superiores, analisaram as correlações e os efeitos diretos e indiretos entre os
principais caracteres de aceroleiras cultivadas em Itápolis - SP. Observaram
que o tamanho da folha se correlacionava-se ao teor de vitamina C. As medidas
de folhas têm efeito direto sobre a altura, o diâmetro e o peso dos frutos, e o
Brix e diâmetro da copa apresentam efeito direto sobre a vitamina C.
Tendo em vista que o conhecimento das associações entre os caracteres de
interesse no melhoramento da aceroleira é de fundamental importância na
obtenção de cultivares melhoradas, este trabalho tem por objetivo observar as
correlações fenotípicas, genéticas e ambientais entre doze caracteres de
acerola.
MATERIAL E MÉTODOS
Na safra 98/99, foram avaliados, na Fazenda Experimental da Universidade
Estadual de Londrina, onze genótipos de acerola selecionados em pomares
comerciais do Norte do Paraná.
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente ao acaso, com três
repetições por genótipo, sendo cada repetição constituída por uma planta do
mesmo genótipo obtida por estaquia (clone). A avaliação foi realizada na
colheita de dezembro/janeiro de 1998/99. Os caracteres avaliados foram os
seguintes: ALT, altura do fruto (mm); DF, diâmetro do fruto (mm); MF, massa do
fruto (g); MP, massa da polpa (g), avaliados em frutos maduros a partir de 3
amostras (cada amostra foi proveniente de uma repetição), com 15 frutos cada,
nos quais, após a extração das sementes, avaliou-se a massa; MS, massa da
semente (g), determinada a partir do peso médio de 3 amostras (cada amostra
proveniente de uma repetição) com 45 sementes cada; RP, rendimento de polpa
(%), obtido por meio da relação massa da polpa e massa do fruto; VITC, teor de
ácido ascórbico em mg/100g, pelo método 2,6 diclorofenol-indofenol; ACIDEZ,
teor de acidez em ml NaOH 1N/100g, determinado a partir da neutralização da
acidez da polpa da fruta por titulação; oBRIX, (º) teor de solidos solúveis
totais, determinado com refratômetro em amostras de frutos maduros (AOAC,
1970); SEN, semente com embrião normal (%); e SEA, semente com embrião
atrofiado (%) e SSE, semente sem embrião (%).
Foram calculadas as análises de variância para cada caráter e determinadas as
estimativas dos parâmetros genético-estatísticos, segundo a expressão:
sendo: s2F = variância fenotípica; s2G= variância genética; e s2A= variância
ambiental (Vencovsky e Barriga, 1992 ).
Os coeficientes de correlação (rf) fenotípica, correlação genotípica (rg) e
correlação ambiental (ra) foram calculados pela seguinte expressão (Cruz &
Regazzi, 1997):
r = COV (XY)
[(V (X). V (Y)]1/2,
em que:
r = coeficiente de correlação entre os caracteres X e Y;
COV (XY) = covariância entre os caracteres X e Y;
V (X) = variância de X;
V (Y) = variância de Y.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não foram detectadas diferenças significativas entre os genótipos para os
caracteres peso da semente, semente com embrião normal, semente com embrião
atrofiado e semente sem embrião. Para os demais caracteres avaliados, foram
encontradas diferenças significativas nos genótipos, ao nível de 5% de
probabilidade, pelo teste F (Tabela_1).O Coeficiente de Variação (CV%) foi
inferior a 30% para todos os caracteres, exceto para massa da polpa, semente
com embrião normal, semente com embrião atrofiado e semente sem embrião, sendo
o alto CV apresentado pelos três últimos caracteres atribuído ao fato de se ter
distribuído os resultados em apenas 3 classes (SEN, SEA e SSE).
Para a variância fenotípica, os caracteres acidez e massa da semente
apresentaram valores inferiores a 0,4, sendo que a vitamina C apresentou um
valor alto (113805,73), superando os demais caracteres (Tabela_2). A grande
variabilidade do conteúdo de vitamina C entre os genótipos resultou em alta
variâcia genética e consequente em elevados valores da variância fenotípica
para esta característica. Resultados semelhantes foram relatados por Gonzaga
Neto et al. (1999) quando avaliaram clones de aceroleira por quatro anos e
observaram que, dentre os descritores quantitativos avaliados, o tamanho do
fruto e o peso médio dos frutos foram os que apresentaram menores variâncias, e
as maiores variâncias foram observadas no teor de ácido ascórbico.
Verifica-se que, na maioria dos casos, os pares de caracteres avaliados
apresentaram coeficientes de correlação fenotípica e genotípica com os mesmos
sinais e com correlações genotípicas ligeiramente superiores às fenotípicas
sugerindo que para a maior parte dos caracteres a influência ambiental foi
baixa e a precisão experimental foi efetiva. As correlações fenotípicas e
genotípicas positivas encontradas para massa e altura do fruto de 0,9000 e
0,9373, respectivamente, indicaram que a seleção de um desses dois caracteres
pode ser feita por meio apenas da seleção daquele de mais facil seleção (Tabela
3). A massa da polpa e o rendimento de polpa resultaram em correlações
fenotípicas e genotípicas positivas, com o caráter rendimento de polpa
apresentando o maior valor desta correlação (0,7385 e 0,7907, respectivamente).
As correlações fenotípicas e genotípicas do caráter massa da polpa com o
tamanho do fruto (altura e diâmetro) apresentaram altos valores positivos,
indicando que a seleção de frutos grandes resulta em maiores pesos de polpa
(Tabela_3). Gomes et al. (2000) avaliaram componentes principais no processo
seletivo de acerola e encontraram as maiores correlações no primeiro eixo
principal com as variáveis altura média do fruto, diâmetro médio do fruto e
massa média de polpa e, na distribuição do segundo eixo principal, foi mais
relacionada à qualidade dos frutos, uma vez que as maiores correlações estão
nas variáveis quantidade de vitamina C e sólidos solúveis totais (ºBrix).
O genótipo 7 Astorga destacou-se dos demais, apresentando vitamina C igual a
1295,36 mg/100g polpa, rendimento de polpa de 87,87%, frutos com 20 mm de
altura e 77,67% das sementes com embrião normal (Tabela_4). Embora o genótipo
10 Manoel tenha RP de 88,48% e o genótipo 5 Gloria altura do fruto com 24,33
cm, eles não foram selecionados em razão de apresentarem teores de ácido
ascórbico abaixo das exigências do mercado consumidor. O mercado japonês e o
alemão, principais compradores de acerola, e as indústrias nacionais de
transformação recebem acerola com 7 a 7,5o Brix, 1200 mg de ácido ascórbico/
100g de polpa, coloração alaranjada ou avermelhada e massa mínima de 4,0g
(Bosco et al., 1994; Gonzaga Neto e Soares, 1994; IBRAF, 1995).
Dos onze genótipos avaliados neste experimento, cinco apresentaram mais de 30%
das sementes sem embrião. Todos os clones apresentaram acima de 10% das
sementes com embrião atrofiado. Somente os clones número 7, número 5 e número 1
apresentaram mais de 50% das sementes com embrião normal (Tabela_4). Esses
valores explicam a afirmação de Batista et al. (1989) sobre o baixo índice de
germinação das sementes de acerola, fator limitante na propagação sexual dessa
fruteira. Simplicio et al. (1994) e Carvalho e Possamai (1993) avaliaram clones
de acerola quanto à presença ou não de embriões na semente. Esses autores
relataram que 28% dos caroços examinados apresentaram embrião normal, 13 %
apresentaram embrião atrofiado e 59% dos caroços não apresentaram embrião.
Souza Júnior et al. (1994) relataram que as sementes de acerola apresentam
baixo poder germinativo, devido à ausência de embrião, conseqüência de
problemas ligados à polinização e à incompatibilidade na espécie.
CONCLUSÕES
1. Os pares dos caracteres massa e altura do fruto, massa e rendimento da
polpa, massa da polpa e tamanho do fruto apresentaram-se estreitamente
associados.Os caracteres acidez e massa da semente apresentaram as menores
variâncias, sendo que os maiores valores de variância, foram observados para a
vitamina C.
2. O genótipo 7 Astorga destacou-se por apresentar frutos grandes, alta
porcentagem de sementes com embrião normal e qualidades bromatológicas
sastisfatórias, podendo atender tanto ao mercado "in natura" como ao
processamento de polpa.