Diagnóstico do estado nutricional de N em porta-enxertos de citros, utilizando-
se de teores foliares de clorofila
DIAGNÓSTICO DO ESTADO NUTRICIONAL DE N EM PORTA-ENXERTOS DE CITROS, UTILIZANDO-
SE DE TEORES FOLIARES DE CLOROFILA1
INTRODUÇÃO
A semeadura de porta-enxertos de citros em tubetes exige adubações de cobertura
com N para a complementação da fertilidade natural do substrato, favorecendo,
assim, o rápido crescimento dos porta-enxertos na fase de sementeira (Carvalho
& Souza, 1996; Decarlos Neto et al., 1994).
Pesquisas realizadas com porta-enxertos de citros na fase de viveiro (Carvalho
& Souza, 1996; Carvalho, 1994; Maust & Williamson, 1994) têm mostrado
exigência de N diferenciada entre os porta-enxertos. Entretanto, há carência de
informações sobre métodos não destrutivos, que auxiliem no diagnóstico do
estado nutricional de N em porta-enxertos de citros cultivados em tubetes.
A fotossíntese consiste no processo pelo qual as plantas verdes transformam a
energia radiante do sol em energia química. A molécula de clorofila presente
nos cloroplastos absorve a energia radiante, ativando o sistema fotossintético.
O nitrogênio participa na composição estrutural da molécula de clorofila na
porção porfirina, nos anéis tetrapirrólicos (Taiz & Zeiger, 1991;
Marschner, 1995). Experimentos realizados com diversas culturas indicam que
existe correlação positiva entre os teores foliares de clorofila, determinados
em laboratório por espectrofotômetro ou utilizando medidores indiretos de
clorofila, e as características de crescimento de plantas (Shadchina &
Dmitrieva, 1995; Neilsen et al., 1995; Lopez-Canareno et al., 1994; Minotti et
al., 1994. Shadchina & Dmitrieva (1995) determinaram os teores foliares de
clorofila em plantas de trigo pelo método de Arnon (1949), concluindo que os
teores foliares de clorofila podem ser utilizados como característica
apropriada para a determinação do N absorvido pelas plantas.
Como vantagens de se medir os teores foliares de clorofila no diagnóstico do
estado nutricional de N, Malavolta et al. (1998) descreveram que o teor foliar
de clorofila indica o nível adequado de N, e não é afetado pelo consumo de luxo
do elemento em questão, visto que a planta não produz clorofila além do que
necessita. O monitoramento do verde da folha pode sinalizar uma deficiência de
N com antecedência, podendo essa deficiência ser corrigida com adubações
nitrogenadas.
Em plantas cítricas, a determinação dos teores foliares de clorofila para
auxiliar no diagnóstico do estado nutricional de N, vem sendo pouco utilizada.
Assim, foi objetivo deste experimento determinar os teores foliares de
clorofila total (a+b) dos porta-enxertos de citros para fins de diagnose do
estado nutricional de N, correlacionando esses teores com as características de
crescimento e teores de N dos porta-enxertos.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em casa de vegetação no Setor de Fruticultura da
Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Viçosa ¾ MG, iniciado em setembro de
1995. As sementes foram extraídas de frutos maduros de plantas-matrizes dos
porta-enxerto Citrus limonia Osbeck, cv Cravo (Cr); Citrus reshniHort. ex Tan.,
cv Cleópatra (Cl); Citrus sunki Hort. ex. Tan., cv Sunki (Sk); Citrus
volkameriana Hort. ex Tan., cv Volkameriano (Vk); e Citrus paradisiMacf. x
Citrus reticulata Blanco, cv Tangelo-Orlando (To). Os porta-enxertos foram
semeados e cultivados num substrato composto de esterco de bovino + vermiculita
expandida + terriço (1:1:1), enriquecido com 1,28 kg/m3 de P2O5 no substrato,
sendo utilizados como recipientes tubetes plásticos com diâmetro interno de 26
mm e comprimento de 126 mm.
Foi utilizado o delineamento experimental em blocos casualizados, em esquema de
parcelas subdivididas, com cinco repetições e unidade experimental com 32
plantas, sendo 12 úteis. As parcelas foram compostas dos cinco diferentes
porta-enxertos. As subparcelas foram compostas de seis doses de N (0; 400; 800;
1.600; 3.200 e 4.800 mg/dm3 de N no substrato). As doses de N foram parceladas
em oito aplicações de cobertura com uréia, em intervalos de sete dias, via água
de irrigação. Em cada adubação, foram aplicados 5 ml de solução por tubete (com
40 cm3 de substrato). As adubações foram iniciadas após o desbaste das plantas
nos tubetes, aos 63 dias após a semeadura.
Avaliaram-se: altura, diâmetro do caule, área foliar, massa da matéria seca da
parte aérea e da raiz, teor de N-total, N-orgânico e N-NO3 da matéria seca da
parte aérea e teor de clorofila total (a+b) da folha dos porta-enxertos, aos
120 dias após a semeadura.
O teor foliar de clorofila total foi determinado pelo método de laboratório
desenvolvido por Arnon (1949), sendo amostrados 25 discos (637,9 mm2) de limbo
de folhas completamente desenvolvidas e maduras (3a ou 4a folha a partir do
ápice da planta). O N-orgânico foi dosado pelo método de Nessler após a
digestão sulfúrica. O N-NO3foi dosado pelo método do ácido salicílico, sendo
que o teor de N-total foi obtido a partir da soma do teor do N-orgânico com o
teor de N-NO3.
Os dados coletados foram submetidos à análise de variância, e os fatores de
variação foram testados pelo teste F (significância de 5% e 1 %). Foram
estabelecidos contrastes ortogonais que analisaram as diferenças do híbrido
'Tangelo-Orlando' com os demais porta-enxertos [(To) vs.(Cr+Vk+Cl+Sk)],
diferenças dos limoeiros com as tangerineiras [(Cr+Vk) vs. (Cl+Sk)], diferenças
entre os limoeiros [(Cr) vs. (Vk)] e diferenças entre as tangerineiras [(Cl)
vs. (Sk)]. Os efeitos da variável quantitativa (doses de N) foram submetidos ao
ajuste de equações de regressão, sendo que a significância dos coeficientes das
equações de regressão ajustadas foi testada pelo teste F, calculado e corrigido
conforme Alvarez V. (1985).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Teores foliares de clorofila total (a+b) dos porta-enxertos
A Tabela_1 mostra que o híbrido 'Tangelo-Orlando' apresentou 2,01 mg de
clorofila total/g de folha, sendo esse teor significativamente superior
(P<0,05) aos teores foliares de clorofila total dos demais porta-enxertos,
conforme o resultado do contraste que comparou este híbrido com os demais
porta-enxertos.
Os teores foliares de clorofila total dos limoeiros-'Cravo' e 'Volkameriano'
foram semelhantes aos teores das tangerineiras-'Cleópatra' e 'Sunki' (Tabela
1), onde este contraste não mostrou diferenças significativas. Não foi
observada diferença significativa entre os teores foliares de clorofila total
do limoeiro-'Cravo' com o limoeiro-'Volkameriano'. Foi observado que os teores
foliares de clorofila total da tangerineira-'Cleópatra' (Tabela_1) foram
significativamente superiores (P<0,01) aos da tangerineira-'Sunki', conforme o
resultado do contraste estabelecido.
Houve, de maneira geral, pouca variação nos teores foliares de clorofila total
entre os porta-enxertos, aos 120 dias após a semeadura. Estes resultados estão
de acordo com os encontrados por Esposti (2000), onde este autor constatou
pouca variação nos teores foliares de clorofila total nos diferentes porta-
enxertos testados.
Correlações do teor de clorofila com o crescimento e teores de N dos porta-
enxertos
Os teores foliares de clorofila total dos porta-enxertos apresentaram
correlações positivas e significativas com a altura, diâmetro do caule, área
foliar, massa da matéria seca da parte aérea e das raízes e teores de N-NO3da
parte aérea, dos porta-enxertos, conforme apresentado na Tabela_2; não sendo
observadas correlações significativas com os teores foliares de N-total e N-
orgânico. As correlações entre os teores foliares de clorofila total com as
características de crescimento dos porta-enxertos ocorreram, certamente, devido
ao fato de a molécula de clorofila estar contida nos cloroplastos, absorvendo a
energia radiante e ativando o sistema fotossintético (Taiz e Zeiger, 1991;
Marschner, 1995).
As correlações observadas indicam que os teores foliares de clorofila total dos
porta-enxertos avaliados têm potencial de utilização no diagnóstico de N. Com o
monitoramento do verde da folha dos porta-enxertos, utilizando-se dos teores
foliares de clorofila, pode-se detectar, com antecedência, uma possível
deficiência de N. Portanto, essa deficiência poderá ser corrigida
antecipadamente com adubações nitrogenadas.
Efeitos das doses de N sobre os teores foliares de clorofila total (a+b) dos
porta-enxertos
Pelas equações de regressão (Figura_1), observa-se que, com o aumento das doses
de N aplicadas, houve aumento significativo (P<0,01) nos teores foliares de
clorofila total dos porta-enxertos, aos 120 dias após a semeadura. O teor
foliar máximo de clorofila total dos porta-enxertos 'Cravo', 'Cleópatra',
'Sunki', 'Volkameriano' e 'Tangelo-Orlando' ocorreu quando foram aplicadas as
doses de 2.386; 1.444; 2.284; 2.494 e 1.461 mg/dm3 de N no substrato,
respectivamente.
Na Tabela_3, estão apresentadas as faixas do teor adequado de clorofila total
de folha dos porta-enxertos testados. Para o porta-enxerto 'Tangelo-Orlando',
este teor deve estar compreendido na faixa de 1,80 a 3,00 mg de clorofila
total/dm2 de folha. Para o limoeiro-'Cravo', esta faixa deve ser de 2,46 a 3,94
mg de clorofila total/dm2 de folha, sendo que, para o limoeiro-'Volkameriano',
esta faixa deve ser de 2,27 a 4,23 mg de clorofila total/dm2 de folha. Para a
tangerineira-'Cleópatra', a faixa adequada do teor de clorofila total deve ser
de 3,29 a 4,00 mg de clorofila total/dm2 de folha, sendo que, para a
tangerineira-'Sunki', esta faixa deve ser de 1,80 a 3,16 mg de clorofila total/
dm2 de folha.
O teor adequado de clorofila total de folha exibido pelos porta-enxertos
apresentou diferenças, confirmando a necessidade de isolar a variedade a ser
amostrada no diagnóstico de N, conforme relataram Malavolta et al. (1998).
O teor adequado de clorofila total de folha dos porta-enxertos, observados
neste estudo, está próximo aos encontrados por Esposti (2000). Em termos
práticos, esta faixa representa uma condição ótima de crescimento dos porta-
enxertos, podendo ser utilizada como critério da necessidade de N em porta-
enxertos cultivados em tubetes.
Tendo conhecimento do teor adequado de clorofila na folha do porta-enxerto,
existe a possibilidade de realizar o monitoramento seqüencial da cor verde das
folhas dos porta-enxertos. Este monitoramento pode detectar, antecipadamente,
uma deficiência de N nos porta-enxertos, sendo que esta deficiência poderá ser
corrigida com antecedência.
CONCLUSÕES
1. Os teores foliares de clorofila total (a+b) se correlacionaram positivamente
com as características de crescimento dos porta-enxertos 'Cravo', 'Cleópatra',
'Sunki', 'Volkameriano' e 'Tangelo-Orlando', evidenciando que a determinação
dos teores de clorofila total tem potencial no diagnóstico do estado
nutricional de N desses porta-enxertos. O monitoramento seqüencial do verde da
folha dos porta-enxertos, pelos teores de clorofila, pode sinalizar uma
deficiência de N com antecedência.
2. O teor adequado de clorofila total (a+b) do porta-enxerto 'Tangelo Orlando',
quando cultivado em tubetes, deve estar compreendido na faixa de 1,8 a 3,0 mg
de clorofila/dm2 de folha. Para o limoeiro-'Cravo', esta faixa deve ser de 2,46
a 3,94 mg de clorofila/dm2 de folha, sendo que para o limoeiro-'Volkameriano',
esta faixa deve ser de 2,27 a 4,23 mg de clorofila/dm2 de folha. Para a
tangerineira-'Cleópatra', a faixa adequada do teor de clorofila total deve ser
de 3,29 a 4,0 mg de clorofila/dm2 de folha, sendo que, para a tangerineira-
'Sunki', esta faixa deve ser de 1,8 a 3,16 mg de clorofila/dm2 de folha.