Fertirrigação com diferentes doses de NPK e seus efeitos sobre a produção e
qualidade de frutos de laranja (Citrus sinensis O.) 'Valência'
FERTIRRIGAÇÃO COM DIFERENTES DOSES DE NPK E SEUS EFEITOS SOBRE A PRODUÇÃO E
QUALIDADE DE FRUTOS DE LARANJA (Citrus sinensisO.) 'VALÊNCIA'1
INTRODUÇÃO
A utilização da irrigação em pomares de citros vem experimentando grande
incremento, em virtude dos bons resultados que propicia, particularmente:
elevação da produtividade dos pomares, melhoria da qualidade das frutas e a
possibilidade de produção fora de época.
A fertirrigação consiste na aplicação dos adubos juntamente com a água de
irrigação. Tal operação, além de ser de grande utilidade para as plantas, pois
o nutriente é fornecido juntamente com a água (essencial para sua absorção),
apresenta ainda muitas outras vantagens, entre as quais a de melhor
distribuição do fertilizante no campo e a possibilidade de maior parcelamento
das adubações, aumentando a eficiência na utilização dos adubos pelas plantas.
Apesar de existirem publicações sobre a aplicação de fertilizantes via água de
irrigação, constata-se que ainda há necessidade de pesquisa sobre doses,
concentração e parcelamento de fertilizantes para as culturas, uma vez que
existem muitas variáveis envolvidas no emprego dessa técnica.
O presente trabalho tem o objetivo de estudar os efeitos da fertirrigação com
diferentes doses de NPK sobre a produção e a qualidade dos frutos de laranja-
Valência quando comparados à aplicação convencional de fertilizantes.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado no município de Pratânia, Estado de São Paulo, em
uma área de produção comercial de laranja-Valência, utilizando como porta-
enxerto a tangerina-Cleópatra. O pomar apresentava espaçamento de 7 metros
entre linhas e 4 metros entre plantas, e idade de 6 anos.
A irrigação, assim como a fertirrigação, foi iniciada quando o pomar
apresentava 5 anos de idade. Este trabalho refere-se ao segundo ano de
aplicação dos tratamentos.
O solo apresenta textura arenosa, classificando-se em Neossolo quartzarênico,
segundo a EMBRAPA (1999).
A partir dos resultados das análises de folhas e solo, foram estabelecidas as
doses de fertilizantes segundo Quaggio et al. (1997), que foram de 200 kg.ha-
1de N; 60 kg.ha-1de P2O5; 100 kg.ha-1 K2O e 2 kg.ha-1 de B. Os fertilizantes
utilizados foram: uréia (45% N); cloreto de potássio branco (60% K2O); fosfato
monoamônico purificado (60% P2O5 e 10% N) e ácido bórico (17% B). Via foliar,
foram utilizados Nutrimins Zn (7% Zn e 3% S) e Nutrimins Mn (7% Mn e 3% S).
Para a realização da irrigação, foi instalado um sistema de irrigação por
microaspersão, utilizando emissores autocompensantes. Utilizou-se um emissor
por planta, localizado na posição média entre duas plantas. O manejo da
irrigação baseou-se na utilização do Tanque Classe A.
O delineamento utilizado foi em blocos casualizados, com cinco tratamentos e
oito repetições. Os tratamentos foram os seguintes: (SI) adubação convencional
sem irrigação; (CI) adubação convencional irrigada; (FI) fertirrigação com dose
completa; (F1/2) fertirrigação com metade da dose; (F1/3) fertirrigação com um
terço da dose.
Os tratamentos referentes à adubação convencional tiveram a dose anual de NPK+B
na forma sólida parcelada em três vezes: 40% em outubro, 30% em dezembro e 30%
em fevereiro de 1999, sendo o fertilizante aplicado na projeção da copa. Os
tratamentos utilizando a fertirrigação tiveram suas doses divididas em dez
vezes iguais, com uma aplicação mensal a partir de setembro de 1998 e com a
última aplicação em junho de 1999. A colheita foi realizada em agosto de 1999,
sendo a produção analisada considerando peso e número de frutos e produção por
hectare.
Dos frutos colhidos foram tomadas amostras aleatórias de 20 frutos por parcela,
avaliando-se: espessura de casca, acidez total titulável (Pregnolatto &
Pregnolatto, 1985), teor de sólidos solúveis totais (Tressler & Joslyn,
1961), relação entre sólidos solúveis totais e acidez total titulável ou
"ratio" (Tressler & Joslyn, 1961), altura e diâmetro de frutos,
peso médio de frutos e rendimento de suco.
Foi realizada coleta de amostras de solo na camada de 0 ¾ 20 cm, em agosto de
1999. A coleta de folhas foi realizada em março de 1999, sendo que a amostragem
das folhas seguiu as recomendações do Grupo Paulista de Adubação e Calagem em
Cítrus (1994).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Parâmetros de produção
Para as condições em que foi realizado este experimento, não foram encontradas
diferenças significativas para os parâmetros: peso de fruto, número de frutos
por planta e produtividade. No entanto, é possível notar determinadas
tendências quanto aos três parâmetros, apresentados na Tabela_1.
Considerando que os tratamentos SI, CI e FI receberam a mesma quantidade de
fertilizantes durante o ciclo, observa-se que o tratamento FI apresentou maior
produtividade que os tratamentos CI e SI, respectivamente. Quanto aos
tratamentos que utilizaram fertirrigação, nota-se que a produtividade esteve
positivamente correlacionada à quantidade de fertilizante aplicado.
A diferença entre os tratamentos, para o parâmetro produtividade, não foi
significativa. Isto pode ser explicado pelo pouco tempo de aplicação dos
tratamentos, que pode ter sido insuficiente para produzir diferenças
significativas. Outro fator a ser considerado, é o parcelamento adotado. Um
maior parcelamento poderia resultar em um efeito mais significativo sobre a
produção, principalmente devido a uma maior eficiência de aproveitamento do
nitrogênio.
Da mesma forma, Tomlinson & Coetzee (1997) não obtiveram diferenças de
produtividade quando compararam aplicação convencional de fertilizantes e
várias freqüências de fertirrigação em laranja Midnight Valência.
Os resultados divergem dos obtidos por Alva et al. (1998), que obtiveram
diferenças significativas de produtividade em laranja-Valência quando
compararam aplicação convencional de N e fertirrigação por um período de dois
anos. A produtividade obtida com a fertirrigação foi superior.
Para as condições em que foi realizado este experimento, a produtividade foi
influenciada em maior parte pelo número de frutos por planta do que pelo peso
médio de frutos. A correlação entre os parâmetros produtividade e número de
frutos por ha apresentou r2= 0,828. Guardiola (2000) afirma que o número de
frutos por planta está relacionado de modo direto com a produtividade final em
citros.
O peso individual dos frutos superou a média da variedade, que, segundo
Figueiredo (1991), é de 150 g, sendo a produção destinada ao mercado externo de
consumo 'in natura'.
Parâmetros de qualidade de fruto
Foram analisados os seguintes parâmetros de qualidade dos frutos: acidez total
titulável (expressa em %), sólidos solúveis totais (brix), 'ratio', espessura
de casca (mm), rendimento de suco (%), diâmetro e altura do fruto (mm). Os
parâmetros não apresentaram diferença significativa para os tratamentos
estudados (Tabela_2). Os resultados estão de acordo com Alva & Paramasivam
(1998), que afirmaram que a variação entre níveis de nitrogênio não afeta os
parâmetros de qualidade do suco obtido dos frutos cítricos nem o tamanho
destes.
Intrigliolo et al. (1999) não obtiveram diferença entre os parâmetros de
qualidade de suco quando compararam aplicação convencional de fertilizantes e
fertirrigação em pomar de laranja-Valência Late, apesar de terem observado
menor peso de frutos na aplicação convencional de fertilizantes. Dasberg et al.
(1988) não encontraram diferenças na qualidade e tamanho de frutos quando
compararam aplicação convencional de fertilizantes e fertirrigação, utilizando
diferentes doses de nitrogênio.
Para o parâmetro espessura de casca, foi calculado o contraste para comparar os
tratamentos SI e CI, sendo significativo a 2,5%, apontando para efeito da
irrigação. Este resultado confirma o obtido por Castel (1994), que observou
redução da espessura de casca com aumento nos níveis de irrigação.
Algumas diferenças, quando os parâmetros de qualidade são comparados aos
padrões da variedade, se devem à antecipação da colheita. Os valores de acidez
obtidos para os tratamentos são considerados altos para laranja-Valência, que,
segundo Figueiredo (1991), são de 1,05%. O valor médio de sólidos solúveis
totais (SST) da variedade é de 11,8 °Brix. Desta forma, os valores obtidos para
'ratio', que é a relação entre SST e acidez, estão abaixo da média, que é de
11,2. O rendimento de suco obtido para todos os tratamentos está abaixo do
padrão, que, segundo Figueiredo (1991), é de 50%, em média.
Análise química de solo
A média dos tratamentos quanto à análise química do solo está representada na
Tabela_3.
Os tratamentos diferiram quanto ao pH, segundo a análise de variância. O
contraste entre os tratamentos de fertirrigação e os tratamentos de adubação
convencional, para o pH, foi significativo, sendo que também foi significativo
o contraste entre o tratamento convencional sem irrigação e o convencional
irrigado. Desta forma, pode-se reafirmar que o modo de aplicação de
fertilizantes e a irrigação interferem no comportamento do pH do solo.
Uma das hipóteses para explicar a diferença entre os tratamentos irrigado e não
irrigado é que, neste último, houve menor lixiviação de bases e,
conseqüentemente, o abaixamento de pH foi menor.
Considerando os tratamentos de fertirrigação, pode-se notar que aqueles com
maior dose de NPK (FI e F1/2) apresentaram maior acidificação do solo que o
tratamento com menor dose de NPK (F1/3), lembrando que duas das fontes
utilizadas reagem de forma ácida no solo: a uréia e o MAP.
Observando-se os valores obtidos no solo para Ca trocável, nota-se que os
tratamentos que obtiveram maiores valores também foram aqueles que alcançaram
os maiores valores de pH. O mesmo comportamento pode ser observado para os
valores de Mg. Segundo Haynes & Swift (1987), a acidificação do solo na
região atingida pela irrigação resulta em significativa redução nos teores de
Ca, Mg e K extraídos na análise do solo amostrado nestes locais. O
comportamento do íon K observado no presente experimento não segue o padrão
estabelecido por estes autores.
Os tratamentos de fertirrigação (FI, F1/2, e F1/3) apresentaram maiores teores
de K no solo. O parcelamento pode ter reduzido a lixiviação deste nutriente, de
forma que, ao final do ciclo, ocorreram diferenças. O contraste entre
fertirrigação e aplicação convencional foi significativo a 1%.
O contraste dos tratamentos de fertirrigação e aplicação convencional de
fertilizantes, significativo a 4%, aponta uma superioridade nos teores de P no
solo obtidos nos tratamentos de fertirrigação, indicando efeito de parcelamento
de doses. No entanto, o momento da última parcela da aplicação de P foi
diferente, sendo que, na aplicação convencional, a última aplicação de MAP
ocorreu em fevereiro e na fertirrigação, em junho, aumentando a possibilidade
de fixação em função do tempo.
Segundo Papadopoulos (1999), a alta freqüência de fertirrigação fosfatada pode
aumentar substancialmente a concentração de fósforo a médio prazo, na solução
do solo, acima do esperado pelas considerações sobre a solubilidade do P.
Diferenças significativas entre os valores de matéria orgânica foram observadas
para os tratamentos, apontando para um possível efeito da irrigação sobre a
velocidade de decomposição da matéria vegetal depositada sobre o solo, uma vez
que os restos vegetais roçados nas linhas eram deixados sobre o mesmo.
Provavelmente, a matéria orgânica do solo apresentou teores mais elevados no
tratamento sem irrigação devido ao solo apresentar baixa retenção de água,
gerando menor atividade microbiana e mantendo a concentração da matéria
orgânica em relação aos solos irrigados. Os resultados obtidos para matéria
orgânica explicam as variações nos valores de CTC encontradas neste
experimento.
As variações encontradas para V% refletem os teores das bases, principalmente
Ca e Mg.
O contraste entre fertirrigação e aplicação convencional de fertilizantes foi
significativo para boro, observando-se valores superiores deste elemento nos
tratamentos de fertirrigação. Isto aponta para um efeito do parcelamento, uma
vez que o boro é um elemento altamente influenciado pela lixiviação.
Análise foliar
A análise foliar obtida a partir de folhas coletadas em março de 1999, quando
os tratamentos SI e CI, referentes à adubação convencional, já haviam sido
concluídos, e, para a fertirrigação, faltavam ainda três aplicações, é
apresentada na Tabela_4.
Diferenças significativas foram observadas apenas para os teores foliares de K,
Ca, Mg e Cu.
Os teores de N, P, Ca, S e Fe nas folhas encontram-se dentro da faixa adequada
estabelecida por Quaggio et al. (1997). Para K, pode-se observar que apenas o
tratamento F1/3, que utiliza a menor dosagem de K, se encontrou abaixo do
limite inferior. Para B, todos os tratamentos extrapolaram o limite superior de
teor foliar estabelecido como padrão (36 a 100 mg/kg).
Com relação ao Mg, observa-se que todos os tratamentos apresentaram teores
altos, superiores ao padrão. Deve-se lembrar que os teores de Mg no solo não
obedeceram à proporção entre Ca e Mg, podendo ter ocorrido absorção em excesso
de Mg com relação ao Ca, uma vez que a redistribuição do Mg é mais eficiente
que a redistribuição do Ca (Malavolta et al., 2000). Tanto para Ca como para
Mg, o tratamento F1/3 foi o que apresentou os teores foliares mais elevados.
Este mesmo tratamento apresentou o menor teor de K observado, sendo que os
valores obtidos para estes três elementos, K, Ca e Mg, seguem uma tendência:
para a maioria dos tratamentos, quando se observam maiores valores de K nas
folhas, os valores de Ca e Mg são mais baixos.
Estes resultados estão de acordo com o obtido por Koo et al. (1974), que
observaram uma relação inversa nos teores de K com relação a Ca e Mg nas
folhas, quando estudaram diferentes doses de K e N em limão.
Os teores foliares de Cu observados em todos os tratamentos são muito elevados,
sugerindo um efeito residual de pulverização. Para Mn e Zn, foram observados
teores foliares abaixo do padrão, o que aponta para uma possível falha no
suprimento destes elementos pelas fontes utilizadas.
CONCLUSÕES
1. Os tratamentos não afetaram significativamente a produção de frutos.
2. As doses de NPK não produziram diferenças significativas na produtividade da
laranja, embora se tenha observado uma tendência de maior produtividade para
maiores doses.
3. Os parâmetros de qualidade dos frutos não foram influenciados pelos
tratamentos.
4. Os seguintes parâmetros de análise do solo foram influenciados pela
irrigação e/ou pelo modo de aplicação dos fertilizantes: pH, matéria orgânica,
boro e ferro.
5. Os parâmetros de análise foliar apontaram diferenças entre os tratamentos
para teores de K, Ca e Mg.