Resposta de eixos embrionários de cupuaçu (Theobroma grandiflorum Schum.) à
concentração de sais, doses de sacarose e renovação do meio de cultivo
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
O cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorum Schum.) é uma árvore frutífera,
tipicamente amazônica, pertencente à família das Sterculiaceas, que se encontra
disseminada por toda a bacia Amazônica, sendo esporadicamente encontrada em
outros países, como a Colômbia, Venezuela, Equador e Costa Rica (Venturieri,
1993). Seus frutos fornecem uma polpa de cor amarelada, ácida, de sabor
agradável, utilizada na fabricação de doces, sorvetes, licores, compotas,
geléias, tortas, néctar enlatado, sucos, bombons e biscoitos (Calzavara, 1982;
Venturieri, 1993). A gordura extraída das sementes é apropriada para a
fabricação de cremes para a pele (Berbert, 1981), os quais são comercializados
no Reino Unido (Venturieri, 1993).
Devido às sementes desta espécie serem recalcitrantes, mudas são formadas
apenas na época de sua dispersão (Müller et al., 1995). Uma alternativa seria o
emprego da cultura de tecidos, como técnica de propagação vegetativa, o que
possibilitaria a produção de um maior número de mudas a partir de cada semente.
Tentativas com a embriogênese somática possibilitaram apenas a obtenção de
calos embriogênicos, que falharam na produção de "seedlings" viáveis
(Velho et al., 1990). Contudo, as plantas cultivadas in vitro requerem uma
fonte de energia exógena, pois não dispõem de condições adequadas para a
realização da fotossíntese (Pierik, 1987; Grattapaglia & Machado, 1990;
Smith, 1992). A sacarose tem sido a fonte de carbono mais utilizada, devido à
rapidez de sua absorção, estando presente em meios de cultura em concentrações
que variam de 20 a 40 g/L.
Meios com potencial osmótico baixo são geralmente empregados para indução e
crescimento de raízes em brotos micropropagados, enquanto altos níveis de sal
geralmente retardam a iniciação radicular. Harris & Stevenson (1982)
testaram 4 concentrações de sais MS (¼, ½, ¾ e concentração completa) contra 4
níveis de sacarose (1; 2; 3 e 4%) e descobriram que a concentração de sal (¼ ou
½ MS) foi mais importante do que a concentração de sacarose para a indução
radicular em estacas de videira in vitro.
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Para manter a cultura, todo material ou parte deste deve ser transferido para
meio fresco periodicamente, especialmente quando a densidade de células, tecido
ou órgãos fica excessiva. O subcultivo aumenta o volume de uma cultura e/ou
número de órgãos para micropropagação (George, 1993).
O objetivo deste trabalho foi estudar os efeitos da concentração de sais e
sacarose e a freqüência de renovação do meio de cultura para o desenvolvimento
de eixos embrionários de cupuaçu.
Foram utilizados como explantes, eixos embrionários obtidos de sementes de
frutos de cupuaçu, adquiridos junto à Embrapa Amazônia Oriental, Belém-PA. As
sementes foram esterilizadas pela imersão em álcool 70% durante três minutos,
sob agitação. Foram feitas três lavagens com água destilada e, em seguida, as
sementes foram imersas em solução de hipoclorito de sódio a 20% durante 20
minutos, sob agitação. Em câmara asséptica, foram lavadas 5 vezes com água
bidestilada estéril e, com o auxílio de um bisturi, foram retirados os eixos
embrionários dos cotilédones. Antes de serem transferidos para os meios de
cultura, os eixos embrionários foram imersos em hipoclorito de sódio a 20%
durante 10 minutos e, a seguir, foram feitas três lavagens com água bidestilada
estéril.
O experimento foi conduzido no Laboratório de Cultura de Tecidos de Plantas, do
Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária, pertencente à Faculdade de
Ciências Agrárias e Veterinárias ¾ UNESP/ Jaboticabal - SP. Utilizou-se um
delineamento inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 2 x 2 x 3, sendo 2
concentrações de sais MS (Murashige & Skoog, 1962) (M1=100 e M2=50%), 2
níveis de sacarose (S1=1,5 e S2=3%) e 3 períodos de renovação dos meios (R1=
sem renovação; R2 = renovação aos 30; e R3 = aos 60 dias), com seis repetições.
Os meios foram acrescidos de ANA (0,5 mg/L) e BAP (0,3 mg/L.), semi-
solidificados com ágar 0,7% e pH ajustado para 5,7 antes da autoclavagem. Os
explantes foram colocados em tubos de ensaio e cultivados em sala de
crescimento, com fotoperíodo de 8/16 horas (escuro/claro) a 28° C.
O experimento foi conduzido até os 150 diasapós o explantio, ao final do qual
foram feitas avaliações do crescimento das plântulas: massa fresca (g), massa
seca (g), área foliar (cm2) e número de folhas/explante. Para a determinação da
área foliar, utilizou-se um digitalizador de imagem de resolução 9600 DPI
acoplado a um microcomputador, no qual a imagem foi analisada com o programa
PCXAREA.
O meio apresentou diferenças significativas entre seus níveis apenas para as
variáveis área foliar (AF) e matéria seca (MS) (Tabela_1), o mesmo ocorrendo
com a sacarose. A freqüência de renovação do meio apresentou diferenças
significativas entre seus níveis para todas as variáveis analisadas.
O meio MS completo (M1 = 100%) contribuiu para o desenvolvimento das plântulas.
O número de folhas por explante (NFE), a área foliar (AF) e a matéria seca (MS)
foram favorecidos quando se utilizaram 3% de sacarose e renovações do meio de
cultura a cada 30 dias. Resultados semelhantes foram relatados por Dunwell
(1981), que observou aumento do peso seco quando a concentração de sacarose foi
elevada.
O meio MS completo (M1) apresentou as maiores médias, indicando que a espécie
necessita de uma maior concentração de sais na fase de indução da parte aérea.
Cheong et al. (1987) verificaram que a utilização do meio MS completo,
suplementado com reguladores de crescimento, contribuiu para o desenvolvimento
em altura e peso de plântulas de Ziziphus jujuba (Z. sativa).
Com exceção da massa fresca, a utilização de 3% de sacarose (S2) apresentou os
melhores resultados, concordando com Searles et al. (1976), Pence et al.
(1981), Wang & Janick (1984), Kononowicz & Janick (1984), Janick &
Whipkey (1985), Duhem & Le Mercier (1989) e Söndhal et al. (1993) em
trabalhos realizados com Theobroma cacao.
A renovação do meio foi fator fundamental no sucesso da propagação de plântulas
de cupuaçu. Wang & Janick (1984) também evidenciaram o efeito benéfico da
renovação do meio na germinação precoce de embriões assexuais de cacau. George
(1993) afirmou que a renovação do meio conduz à remoção de metabólitos tóxicos,
fornecimento de nutrientes e hidratação, fatores que são prejudicados quando do
crescimento do material vegetal em recipientes fechados.
Nas condições em que foram feitas este experimento, conclui-se que a
concentração de sais, o nível de sacarose e a freqüência de renovação do meio
de cultura, assim como suas interações, são fatores importantes no sucesso do
desenvolvimento dos eixos embrionários de cupuaçu; a utilização da concentração
de sais MS completa, 3% de sacarose e a renovação do meio aos 30 dias destacou-
se como sendo a melhor condição para o desenvolvimento de eixos embrionários de
cupuaçu, e pode ser recomendada para futuros estudos visando ao desenvolvimento
de um protocolo comercial.