Análise de custo de produção e lucratividade de bananeira 'Nanicão Jangada' sob
duas densidades de cultivo em Ilha Solteira-SP
ANÁLISE DE CUSTO DE PRODUÇÃO E LUCRATIVIDADE DE BANANEIRA 'NANICÃO JANGADA' SOB
DUAS DENSIDADES DE CULTIVO EM ILHA SOLTEIRA-SP1
INTRODUÇÃO
A banana, hoje, é a fruta mais produzida e a mais consumida no mundo. A
produção mundial de bananas é de aproximadamente 58,69 milhões de toneladas
(FAO, 2001). O Brasil encontra-se como o segundo maior produtor, perdendo
somente para a Índia, cuja produção é aproximadamente duas vezes maior. A
produção brasileira chegou a 6,3 milhões de toneladas em 2000 (FAO, 2001).
No Brasil, a região Sudeste tem-se mostrado a região com maior produção de
banana, em torno de 2,2 milhões de toneladas, o que representa 33,25% da
produção brasileira, e o Estado de São Paulo vem contribuindo com 1,1 milhão de
toneladas, em média 49,5% da produção desta região (Nehmi et al., 2000). A
bananicultura paulista concentra-se nas regiões do Vale do Ribeira e Litoral
Sul, onde se situam 13 municípios com maiores áreas plantadas, representando
77% do total de produção do Estado (Pino et al., 2000).
O espaçamento utilizado no bananal influi diretamente no ciclo vegetativo e,
conseqüentemente, no ciclo de produção. No geral, maiores densidades implicam
maiores ciclos (Moreira, 1987; Licthemberg et al., 1988; Lichtemberg et al.,
1997; Rangel et al., 1998; Kluge et al., 1999).
A escolha do espaçamento é um aspecto que vem sendo muito discutido na cultura
da bananeira. Vários fatores podem influenciar na escolha da densidade de
plantio, como: fatores climáticos, disponibilidade de mão-de-obra, tipo de
cultivar, topografia, fertilidade de solo, entre outros (Soto Ballestero &
Sancho, 1992; Lichtemberg et al., 1997). Segundo Lichtemberg (1984), o
espaçamento ideal deve ser aquele em que as plantas conseguem maior produção
por área, sem que haja redução do peso do cacho.
Souto et al.(1997) alertam que o espaçamento não pode ser pequeno demais, a
ponto de promover o estiolamento da planta e dificultar a circulação de ar, e
não pode ser muito grande, a ponto de tornar favorável o aparecimento de muitas
espécies daninhas.
A variedade Nanicão Jangada é um mutante originado de um Nanicão coletado em
Eldorado Paulista (Moreira, 1999). É uma planta de porte médio, com 2,29 a 3,30
metros de altura, apresentando um pseudocaule bem rigoroso (Manica, 1998).
Segundo Moreira (1999), o rabo do cacho é quase 100% limpo de restos florais e
bem reto, sendo a distribuição das pencas bem uniforme e regular, e o cacho
pode apresentar peso de até 40Kg. A Coordenadoria de Assistência Técnica
Integral (Cati, 2001), orienta que, no Estado de São Paulo, bananais da
cultivar Nanicão produza entre 30 e 50t/há, dependendo das condições de manejo
da cultura durante seu desenvolvimento. Segundo Alves (2001), a produtividade
destes pomares no Estado de São Paulo, sob condições de irrigação, pode atingir
60t/ha/ciclo.
Face ao crescimento de plantios na região de Ilha Solteira, torna-se importante
um estudo do comportamento produtivo da variedade Nanicão Jangada em diferentes
densidades de cultivo, para que possa ser indicado um espaçamento onde ocorra
maior produtividade, sem prejudicar a qualidade do fruto e que seja viável
economicamente para o produtor.
Desta forma, dada a importância de se estudar economicamente diferentes
densidades de cultivo, pretende-se, neste trabalho, analisar comparativamente
os custos e a lucratividade da bananeira-'Nanicão Jangada', sob duas densidades
de cultivo em Ilha Solteira, região Noroeste do Estado de São Paulo.
MATERIAL E MÉTODOS
1 - Fonte de dados e caracterização do local
Os dados foram obtidos no setor "Pomar" da Fazenda de Ensino e
Pesquisa da Faculdade de Engenharia - UNESP, Câmpus de Ilha Solteira, situada
na latitude 20o22'W, longitude 51o22'W e altitude de 330 metros, no município
de Ilha Solteira, região Noroeste do Estado de São Paulo.
O solo predominante do local foi classificado como Argiloso Vermelho-Escuro,
Tb, Eutrófico, Abrúptico, A Chernozêmico, Textura Média/Argilosa (EMBRAPA,
1999). O clima apresenta-se como subúmido, com pouca deficiência hídrica,
megatérmico e com calor bem distribuído durante o ano, com estiagem no inverno,
média anual de temperatura em torno de 24,1oC e precipitação anual de1400 mm.
2 - Caracterização do sistema de produção
2.1._Aquisição_de_mudas
As mudas da área em estudo foram obtidas pela técnica de micropropagação
"in vitro".
2.2._Preparo_do_solo
Como para a maior parte dos diferentes sistemas de produção, o solo foi
preparado por uma aração, seguida de uma gradagem.
2.3.Plantio
O plantio foi realizado no dia 22 de dezembro de 1988. Inicialmente, foi
realizada uma sulcagem, as mudas foram selecionadas e distribuídas ao longo da
sulcagem, foi realizado revolvimento do solo com cloreto de potássio, e
procedeu-se o plantio manualmente, no espaçamento 3mx2m e 2mx2m.
2.4._Tratos_culturais
A adubação de formação constou de 60g de sulfato de amônia, 30g de cloreto de
potássio, 135g de micronutrientes e 8,3 litros de esterco de galinha por
planta.
Foram realizadas duas pulverizações no primeiro ano de produção, e três no
segundo ano, conforme a necessidade no decorrer do desenvolvimento da cultura.
Foi aplicado herbicida duas vezes ao ano, nos dois anos de produção, e o
escoramento foi realizado conforme a necessidade no campo.
Os desbastes foram realizados de 4 em 4 meses, deixando perfilhos no esquema de
planta mãe-filha-neta. Após o corte do pseudocaule, utilizou-se uma ferramenta
denominada lurdinha para a morte do ápice meristemático.
A adubação de produção foi realizada duas vezes no primeiro ano de produção e
três vezes no segundo ano (de 4 em 4meses), sendo 350g de sulfato de amônia,
50g de supersimples e 200g de cloreto de potássio por planta.
A irrigação foi realizada por gotejamento, com fitas gotejadoras em cada linha
de plantio.
2.5._Colheita
Os cachos foram colhidos manualmente, de acordo com o método subjetivo citado
por Chitarra & Chitarra (1994), de desaparecimento da angulosidade dos
frutos.
3 - Estrutura e cálculo do custo de produção
Foi utilizada para o cálculo do custo de produção a estrutura do custo total de
produção (CTP), composto pelo custo operacional efetivo (COE), custo
operacional total (COT), remuneração da terra e remuneração do capital.
O custo operacional efetivo (COE) foi obtido pela soma das despesas com
operações mecanizadas, operações manuais e insumos. Somando os valores com os
juros de custeio, outras despesas e as depreciações, obtém-se o Custo
Operacional Total (COT) e, finalmente, acrescentando-se ao COT as remunerações
do capital e da terra, tem-se o Custo Total de Produção (CTP).
- Operações mecanizadas: no custo horário de máquinas, foram considerados os
gastos com combustíveis, reparos e manutenção, óleo lubrificante, garagem e
tratorista. Para as despesas com reparos e manutenção dos implementos, foi
considerada uma taxa que variou de 5 a 10% sobre o valor do equipamento novo.
- Operações manuais: foi levantada a quantidade de mão-de-obra nas diversas
atividades da cultura, assim, obtido o número de homens/dia (HD) para executá-
la. Para mão-de-obra comum, foi estabelecida a diária de R$12,00, valor
referente ao mês de dezembro de 2000.
- Insumos: os preços médios foram coletados na região, em dezembro de 2000, e
multiplicados pelas quantidades dos insumos utilizado.
- Juros de custeio: foi considerada a taxa de 5,75%a.a. (Juros de custeio
PRONAF) sobre a metade das despesas com operações e insumos.
- A depreciação dos bens fixos (irrigação, pomar, e máquinas e equipamentos),
ou seja, os que prestam serviços por mais de um ciclo produtivo, foi calculada
utilizando-se o método linear.
- Para a remuneração do capital investido, foi considerada uma taxa de 6%a.a.
sobre o capital médio empatado na atividade, e para a remuneração da terra, foi
considerado o valor do arrendamento da terra na região (valor de R$80,00/ano/
ha, referente ao mês de dezembro de 2000).
4. Indicadores de rentabilidade
Para calcular a lucratividade da cultura da bananeira em Ilha Solteira, foi
considerado o preço médio recebido pelo produtor de R$ 0,30/kg (referente ao
ano de 2000). Foram estimados os seguintes indicadores: receita bruta, como
produto da produção pelo preço recebido pelo produtor; a receita líquida, pela
diferença entre receita bruta e custos de produção; e os índices de
lucratividade dados, pela receita líquida divididos pela receita bruta (em
porcentagem).
Os preços médios foram coletados na região, em dezembro de 2000, e apresentados
em reais (R$) e também convertidos para dólar (US$), utilizando-se da taxa de
câmbio do dólar comercial de R$1,95.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O custo de implantação e produção estimado para a cultura da bananeira, em duas
densidades de plantio, pode ser verificado nas Tabelas_01 e 02. O custo
operacional total (COT) na implantação do pomar foi maior para o cultivo
adensado, com R$4.495,19, possivelmente, devido ao maior número de mudas por
área, maior quantidade de insumos gastos e maior quantidade de mão-de-obra no
pomar.
Nos dois anos de produção, o custo total (CTP) foi de R$6.190,67 e R$6.687,22,
respectivamente, para o cultivo mais denso e R$4.597,85 e R$5.122,58,
respectivamente, para o cultivo menos denso.
A produtividade dos cachos despencados estimada por área, no primeiro e segundo
ciclos produtivos foram, respectivamente, de64,98t/ha e 54,30t/ha no cultivo
mais denso e de 41,08t/ha e 35,50t/ha no cultivo menos denso. Sandrini et al.
(1991), trabalhando com a cultivar Nanicão sem irrigação, no Mato Grosso do
Sul, obtiveram uma produtividade estimada de 33,54t/ha no espaçamento 3,0mx2,0m
e 50,23t/ha no espaçamento 2,0mx2,0m. Scarpare Filho & Kluge (2001), com a
mesma cultivar, no espaçamento de 2,0mx3,0m, estimaram uma produtividade de
45,38t/ha em bananal localizado em Piracicaba-SP, sem irrigação.
Os valores de produtividade relativamente altos, encontrados neste trabalho,
comparados com a literatura, podem estar associados às condições
edafoclimáticas do local do experimento e principalmente à irrigação. Moreira
(1999) afirma que a irrigação feita de modo a suprir efetivamente as
necessidades hidricas de plantas sadias pode levar a um aumento na
produtividade por ano em até 100%.
O valor de mercado considerado para a comercialização foi de R$0,30, resultando
em uma receita bruta (RB) de R$19.494,00 e R$16.290,00, no primeiro e segundo
anos de produção para o cultivo mais adensado e de R$12.324,00 e R$10.650,00 no
primeiro e segundo anos de produção para o cultivo menos adensado. Os valores
de receita líquida foram maiores para o cultivo adensado, com R$13.303,33 e
9.602,78, nos dois anos de produção, resultando num total de R$22.906,11, e
para o cultivo menos adensado, o total de receita líquida foi de R$12.802,03;
isto significa, para o cultivo mais adensado, uma receita 68,46% maior que o
obtido pelo cultivo menos adensado (Tabela_03). Os índices de lucratividade
mostraram-se altos, tanto para o cultivo mais adensado com para o menos
adensado, com uma média de 64,00% para o mais adensado e 55,70 % para o menos
adensado (Tabela_03).
CONCLUSÕES
1. A cultivar Nanicão Jangada é uma alternativa de cultivo viável para a região
de Ilha Solteira-SP. Considerando os dois ciclos produtivos do bananal, o
espaçamento de plantio mais adensado (com maior número de plantas por área)
apresentou resultados econômicos mais satisfatórios que os obtidos para o
cultivo menos adensado.
2. Como limitação, os dados utilizados para análise econômica da banana foram
obtidos de um experimento conduzido na FEP da UNESP e, por ser nova na região,
principalmente a 'Nanicão', necessita de mais estudos técnicos e econômicos,
principalmente voltados para espaçamento, irrigação, pós-colheita
(climatização) e na comercialização da fruta.
3. Há potencial para o crescimento da produção e comercialização da banana-
'Nanica' ou 'Nanicão' nesta região, especialmente para os produtores que
procurarem adequar-se às exigências de qualidade.