Caracterização morfológica da semente e da plântula de bacurizinho (Rheedia
acuminata (Ruiz et Pav.) Plachon et Triana - Clusiaceae)
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
A Rheedia acuminata (Ruiz et Pav.) Plachon et Triana - Clusiaceae, conhecida
como bacurizinho (Pará), bacuri-de-espinhos (Amazonas), limãozinho (Mato
Grosso), pakoeli e swampoe-pakoeli (Suriname) é uma espécie frutífera de
pequeno porte, nativa da Amazônia e raramente cultivada, pois seus frutos,
embora comestíveis, apresentam escasso rendimento da parte comestível (Van den
Berg, 1979; Cavalcante, 1991).
Os estudos com essa espécie visam a sua utilização como porta-enxerto
ananicante para outras espécies frutíferas dos gêneros Rheedia e Garcinia, que
apresentam porte elevado, como o bacuriparizeiro (Rheedia macrophylla Planchon
et Triana) e o mangostãozeiro (Garcinia mangostanaL.).
Dentro do táxon genérico Rheedia, existe certa dificuldade na distinção das
espécies, sendo R. acuminata freqüentemente confundida com R. brasiliensis
(Martius) Plachon et Triana, R. benthamiana Planchon et Triana e R.
madrunoPlachon et Triana, embora seja facilmente caracterizada por seus frutos
rostrados, verrucosos e semi-equinados. No entanto, quando em início de
formação, os frutos dessa espécie são muito semelhantes aos de R. benthamiana
e, quando bem desenvolvidos, mostram semelhança com os de R. madruno(Van den
Berg ,1979).
Estudos de morfologia de sementes e de frutos de Rheediaspp, desenvolvidos por
Villagómez Rojas (1990), mostraram que as sementes dessas espécies possuem
geralmente, forma elipsoidal, com coloração externa castanha e com linhas
claras, longitudinalmente, bem visíveis, semelhantes a nervuras. Internamente,
são de coloração branco-amarelada e todas as espécies exsudam látex amarelo.
Este trabalho teve como objetivo caracterizar morfologicamente a semente e a
plântula de Rheedia acuminata, visando a subsidiar estudos futuros de
taxonomia.
O estudo foi conduzido no Laboratório de Ecofisiologia e Propagação de Plantas
da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém-PA, no período de janeiro a março de
1999. Foram utilizadas sementes extraídas de frutos completamente maduros,
caracterizados pela coloração amarela do epicarpo e pela consistência mole do
endocarpo (Figura_1_A), coletados de plantas estabelecidas no Campo
Experimental da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém-PA.
Biometria das sementes - para a mensuração das sementes, foram utilizadas 50
unidades de material fresco, determinando-se o comprimento e o diâmetro, com o
auxílio de um paquímetro digital.
Morfologia da semente ' consideraram-se, na caracterização morfológica externa,
os seguintes aspectos, conforme a recomendação descrita por Damião Filho
(1993): coloração e formato, localização do hilo, da micrópila e do embrião.
Para o estudo das estruturas internas, foram efetuados cortes longitudinais e
transversais nas sementes, verificando-se a presença e o tipo de tecido de
reserva, o tipo de embrião e sua posição, forma, coloração e diferenciação do
eixo embrionário. Anotaram-se, também, a forma e a posição relativa dos
cotilédones e do eixo hipocótilo-radícula. As observações e as ilustrações das
estruturas foram feitas em estereomicroscópio e microscópio ótico, ambos
providos de câmara clara, acompanhada de escala milimétrica. A terminologia
adotada para a descrição das sementes foi baseada no proposto por Corner (1976)
e de Barroso et al. (1999).
Morfologia da plântula ' para a caracterização morfológica da germinação e da
plântula, as sementes foram semeadas em bandejas de plástico, com dimensões de
42cm x 22cm x 5cm, contendo, como substrato, a mistura de areia e serragem, na
proporção volumétrica de 1:1. Esse substrato foi previamente esterilizado em
água fervente, durante duas horas,eumedecido com 70% de sua capacidade de
retenção de umidade. A quantidade de água adicionada ao substrato, para
obtenção daquele grau de umidade, foi calculada de acordo com a metodologia
descrita pelas Regras de Análise de Sementes Brasil (1992). No total, foram
semeadas 200 sementes, distribuídas proporcionalmente em quatro bandejas, as
quais foram mantidas em condições de ambiente natural de Belém (temperatura
média de 26,6°C e umidade relativa do ar de 87,5%).
Após o início da germinação, que ocorreu aos dez dias após a semeadura,
aproximadamente, foram retiradas, em intervalos regulares de cinco dias até aos
45 dias, plântulas representativas de cada fase da germinação e desenhadas com
o auxílio de câmara clara, acoplada a um estereomicroscópio. A descrição da
plântula foi efetuada segundo Duke (1965) e Oliveira (1993).
Biometria das sementes- as sementes de Rheedia acuminata apresentam formato
elipsóide, com comprimento de 3,05 (±0,30)cm e diâmetro de 2,75 (±0,29)cm,
consoantes com os resultados encontrados por Villagómez Rojas (1990).
Morfologia da semente- as sementes de R. acuminata são anátropas, a exemplo de
outras espécies do mesmo táxon genérico (Corner, 1976), exalbuminosas,
bitegumentadas. A micrópila está localizada na base do hilo sobre uma pequena
protuberância com formato triangular (Figura_1_A). A testa é de cor marrom,
apresentando várias cicatrizes bem visíveis, de coloração um pouco mais clara,
como descrito por Villagómez Rojas (1990).
O embrião é hipocotilar, caracterizado pelo desenvolvimento acentuado do eixo
hipocótilo-radícula, apresentando cotilédones rudimentares sob a forma de duas
pequenas asas membranáceas, visualizadas apenas na extremidade superior do lado
oposto à micrópila. A semente madura é desprovida de endosperma, estando todo o
material de reserva armazenado no volumoso eixo hipocótilo-radícula, a exemplo
do que ocorre nas sementes de outras espécies do mesmo gênero e também no
gênero Platonia como foi observado por Mourão & Beltrati (1995) em sementes
maduras Platonia insignis. Esse tipo de tecido de reserva também é comum nas
sementes de outras espécies da família Clusiaceae, dos táxons Clusia, Platonia,
Symphonia, Tovomita e Tomitopsis (Barroso et al., 1999).
Morfologia da plântula - o processo germinativo das sementes dessa espécie
inicia-se, sob condições ambientais referidas, aos dez dias após a semeadura,
aproximadamente, com a emissão de uma delgada raiz primária no pólo oposto onde
se originará o epicótilo (Figura_1_B). Essa raiz cresce cerca de 5-10cm e, por
ocasião da emergência do epicótilo, diminui acentuadamente sua taxa de
crescimento (Figura_1_C). Quando ocorre a emergência do epicótilo, 10 a 15 dias
após a semeadura, paralelamente, há a formação de uma raiz adventícia em sua
base, bem mais vigorosa que a anterior, que se constituirá no sistema radicular
definitivo da planta (Figura_1_D). À medida que a raiz adventícia se
desenvolve, a outra fenece e, quando a plântula está em fase de nutrição
exclusivamente autotrófica, já não faz mais parte de sua estrutura. Esse tipo
de morfologia da germinação foi observado por Enoch (1980) em sementes de
mangostão (Garcinia mangostana L.). Antes do aparecimento do primeiro par de
metáfilos, que se verifica cerca de 45 dias após a semeadura, desenvolvem-se de
dois a quatro pares de catáfilos opostos, de aspecto esverdeado (Figura_1_E),
semelhante ao observado por Mourão & Beltrati (1995) em plântulas de
bacurizeiro (Platonia insignis Mart.).
A raiz é axial, podendo-se observar, quarenta e cinco dias após a semeadura, a
presença de raízes laterais que se tornam bastante ramificadas (Figura_1_F).
As características morfológicas das sementes de Rheedia acuminata são
semelhantes às de outras sementes dos gêneros Rheedia, Platonia e Garcinia,
enquanto a morfologia da germinação e a plântula assemelha-se bastante com as
das espécies Garcinia mangostana e Platonia insignis.