Seleção de progênies de maracujazeiro-amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa)
quanto à qualidade de frutos
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
Seleção de progênies de maracujazeiro-amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa)
quanto à qualidade de frutos1
Selection of progenies of yellow passion fruit (Passiflora edulis f.
flavicarpa) to fruit quality
Walnice Maria Oliveira do NascimentoI; Andreza Tavares ToméII; Maria do Socorro
Padilha de OliveiraI; Carlos Hans MüllerI; José Edmar Urano de CarvalhoI
IEngº Agrº MSc., Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Caixa Postal 48. CEP
66017-970- Belém-PA, walnicena@cpatu.embrapa.br; spadilha@cpatu.embrapa.br;
urano@cpatu.embrapa.br
IIBolsista do Convênio PIBIC-Embrapa Amazônia Oriental ' nessa@amazon.com.br
O Estado do Pará, no início da década de 90, destacou-se na produção brasileira
de maracujá, respondendo, em alguns anos, por mais de 40% da produção nacional.
Esse crescimento deveu-se ao impulso gerado pela agroindústria e,
principalmente, por uma crescente demanda no mercado de fruta in natura.
Contudo, a partir do ano de 1993, com o fechamento de algumas indústrias de
suco concentrado, a produção paraense despencou de 200 mil toneladas em 1992,
para cerca de 23 mil toneladas em 1999 (Agrianual, 2002). Apesar da importância
da cultura para o Estado do Pará, pouco se tem feito para elevar o nível
tecnológico dos pomares e produtividade da cultura. A utilização da
variabilidade genética, existente em pomares locais, associada ao
desenvolvimento e aplicação de técnicas agrícolas mais adequadas para a região,
poderá aumentar a produção de frutos, tanto para o consumo in natura como para
a agroindústria.
O melhoramento genético dessa Passifloraceae deve ser feito visando à
possibilidade de colocá-la em mercados distintos, que variam desde o consumo da
fruta fresca até o processamento industrial do suco concentrado a 50ºBrix. Pelo
fato de esses mercados apresentarem exigências bem definidas, a escolha da
variedade e/ou híbrido a ser plantado precisa ser levada em consideração. Os
frutos destinados ao consumo in natura devem apresentar algumas características
bem definidas, como: tamanho grande, que garanta a classificação comercial
adequada aos padrões do mercado, coloração uniforme, boa aparência, resistência
ao transporte e boa conservação pós-colheita; enquanto para a agroindústria, os
frutos precisam apresentar elevado rendimento de suco, acidez total titulável e
teor de sólidos solúveis totais elevados (Oliveira et al., 1994).
O melhoramento do maracujazeiro constitui-se em campo de pesquisa aberto e
promissor. A grande variabilidade genética existente, o ciclo relativamente
curto e o interesse crescente pela cultura são apenas alguns dos fatores que
justificam a exploração, através da seleção massal. Esse tipo de seleção é
eficiente para caracteres de fácil mensuração e que possuam considerável
herdabilidade, e, no caso dessa fruteira, tem-se o formato do fruto, teor de
suco, teor de sólidos solúveis totais e vigor vegetativo (Oliveira, 1980).
A seleção massal estratificada é um método de fácil aplicação na cultura do
maracujazeiro, por ser uma planta que proporciona diversas colheitas anuais.
Nesse método, utiliza-se a primeira colheita para a seleção das plantas que
serão doadoras e receptoras de pólen, na segunda e terceira colheitas, com
polinização controlada (Cunha, 1997).
Assim, o presente trabalho teve por objetivo avaliar frutos de progênies de
polinização livre de uma população melhorada de maracujazeiro CPATU-casca-fina,
através de características físicas e físico-químicas, para consumo in natura e
agroindústria.
O estudo foi conduzido em 20 maracujazeiros de polinização livre, pertencentes
à população melhorada que sofreu dois ciclos de seleção massal para a redução
na espessura de casca, denominada provisoriamente de CPATU-casca-fina (CCF),
instalada no Campo Experimental, localizado na Sede da Embrapa Amazônia
Oriental, em Belém-PA. Nessa população formada por 525 plantas, selecionaram-se
as 20 plantas mais precoces para a caracterização de frutos. De cada planta,
colheram-se dez frutos, os quais foram identificados e transportados ao
Laboratório de Propagação de Plantas dessa instituição para serem mensuradas as
seguintes características:peso médio dos frutos; comprimento do fruto;
espessura da casca; porcentagem de polpa; número de sementes por fruto; teor de
sólidos solúveis totais (SST); acidez total titulável (ATT), pH e relação SST/
ATT.
Nas determinações métricas, utilizou-se paquímetro digital, e os pesos foram
obtidos com auxílio de balança eletrônica de 0,01g de precisão. Os sólidos
solúveis totais foram determinados, através de leitura em refratômetro digital
Atago PR-101 modelo "Palette", com compensação de temperatura . O pH
do suco foi medido através de potenciômetro com eletrodo de vidro, e a acidez
total titulável (ATT) foi determinada a partir de 5 ml de suco, usando-se
indicador fenolftaleína, seguido de titulação com NaOH a 0,1 N, expressa em
porcentagem de ácido cítrico, segundo técnica preconizada pela A.O.A.C. (1990).
Os dados obtidos foram analisados através de estatística simples, envolvendo
médias, desvio-padrão e coeficiente de variação. As médias e os desvios-padrões
obtidos para as características físicas estão presentes na Tabela_1. Verifica-
se que as características mais variáveis entre as progênies foram: o número de
sementes, peso do fruto, espessura da casca e porcentagem de polpa, com 24,3%;
21,8%; 20,0% e 14,7%, respectivamente.
A maioria das progênies apresentou frutos com peso superior à média de 161,6g,
variarando de 118,8 a 226,7g. Meletti et al. (1994), estudando as variedades
"Marília/SP", Monte Alegre e "Bogotá/Colômbia", observaram
as respectivas médias 138,6g, 140,8g e 130,8g. Como frutos grandes são
desejáveis para o consumo in natura, por serem mais valorizados, acredita-se
que as progênies CCF-001, CCF-430, CCF-395, CCF-074 e CCF-212 possam ser
indicadas para compor programas de melhoramento para esse tipo de mercado por
apresentarem frutos com pesos bem acima das médias encontradas na literatura,
com pesos de 226,7g, 205,8g, 199,5g, 187,4g e 181,5g, respectivamente.
No caso da espessura de casca, 45% das progênies avaliadas exibiram frutos com
médias inferiores a 0,49 cm, com variação de 0,31 cm a 0,59 cm. Esses valores
estão bem próximos aos encontrados por Meletti et al. (1994) para as variedades
"Marília/SP", com 0,4cm; "Monte Alegre", com 0,3 cm; e
"Bogotá/Colômbia", com 0,4 cm. Oliveira et al. (1988) obtiveram
espessura de casca para o maracujá-amarelo, variando de 0,40 cm a 0,67cm.
Nascimento (1996) cita que, tanto a indústria de suco concentrado como o
mercado da fruta in natura, consideram a espessura de casca um fator relevante
para a classificação do fruto, por ser inversamente proporcional ao rendimento
de suco, podendo ser comprovado nas características da progênie CCF-505, que
apresentou a menor espessura de casca (0,31 cm) e o maior rendimento de suco
(57,7%).
Quando foi avaliado o rendimento de suco, 85% das progênies atingiram valores
superiores a 40%, com mínimo de 36,8% e máximo de 57,7%. O rendimento de suco
está relacionado com a época de produção de frutos, evidenciando-se no trabalho
de Nascimento (1996), onde, na época de menor precipitação, este autor
encontrou menor espessura de casca e maior rendimento de suco. Vasconcellos et
al. (1993) também relacionaram a influência da época de colheita com o
rendimento de suco de maracujá. Mais recentemente, estudos desenvolvidos por
Aular et al. (2000) encontraram frutos com 44% de rendimento de suco, aos 63
dias após a antese.
Quando se observa o número de sementes por fruto, a média obtida é de 281
sementes por fruto, variando de 162 a 430 sementes por fruto entre progênies,
superior aos resultados encontrados por Meletti et al. (1992) e Senter et al.
(1993), com 180 e 118 sementes por fruto, respectivamente. Dentre as
características físicas avaliadas, pode-se dizer que o elevado rendimento de
suco foi a mais marcante nas progênies CCF-001, CCF-170, CCF-298, CCF-320 e
CCF-505, que apresentaram os seguintes rendimentos: 53,9%, 53,9%, 55,0%, 54,4%
e 57,7%, respectivamente.
Os resultados encontrados para as características físico-químicas, avaliadas
nos frutos de maracujá amarelo, estão apresentados na Tabela_2. Em virtude de
as progênies CCF pertencerem à população que já sofreu dois processos de
seleção massal, houve pouca variação para o teor de sólidos solúveis totais
(SST). A progênie CCF-391 foi a que apresentou o maior valor para SST, com 19%,
enquanto as progênies CCF-275 e CCF-430 exibiram os menores valores, com 14,9%
e 14,6%, respectivamente (Tabela_2). A média do SST ficou em 16,2%, estando
dentro do padrão adotado pelas indústrias processadoras de suco concentrado. A
média de ºBrix encontrada esteve próxima aos valores citados por Gamarra Rojas
& Medina (1996) e Chen et al. (1991), com 16,8% e 15,5%, respectivamente.
As diferenças nos teores de SST reportadas nos diferentes trabalhos com
maracujá-amarelo podem ser conseqüência da variabilidade inerente à forma
flavicarpa.
Para a indústria e, principalmente, para o mercado de frutos in natura, o teor
elevado de SST é uma característica desejável. De acordo com a indústria, são
necessários 11kg de frutos com SST, entre 11% a 12%, para obtenção de 1kg de
suco concentrado a 50ºBrix. Assim sendo, quanto mais alto o valor de SST, menor
será a quantidade de frutos necessárias para a concentração do suco. Com
relação ao ºSST, as progênies CCF-192, CCF-281 e CCF-391 apresentaram frutos
com valores acima da média, com 17,3%, 17,9% e 19,0%, respectivamente.
Portanto, essas progênies podem ser indicadas para compor futuros programas de
melhoramento genético.
A média da ATT ficou em 3,4%, com valor máximo de 4,49% e mínimo de 2,29%.
Verificou-se pequena variação no valor do pH, entre as progênies avaliadas,
apresentando mínimo de 2,85 e máximo de 3,15. Tendo em vista as modalidades de
mercado a que se destinam, os frutos das progênies CPATU-casca-fina
apresentaram características de pH e ATT dentro do padrão para fruta in natura
e para agroindústria. Brasil (1999) estabelece, como padrão para a polpa do
maracujá, o valor mínimo de 2,5 para ATT, e para o pH uma variação de 2,7 a
3,8. A relação SST/ATT é considerada um das formas mais práticas de avaliar-se
o sabor dos frutos, sendo a acidez decisiva nesse ponto, pois, uma vez alta,
acarreta redução na relação. A média da relação SST/ATT encontrada foi de 4,9,
indicando que os frutos avaliados mostraram altos teores de açúcares. O teor de
açúcar e a acidez dos frutos podem sofrer variação em decorrência de fatores
ambientais e práticas de cultivo, qualidade de luz solar e temperatura, como
também do tipo e dosagens de fertilizantes, portanto, com reflexos diretos na
relação SST/ATT.
De todas as características avaliadas, as que menos variaram entre progênies
CCF foram o rendimento de suco (14,4%) e o teor de sólidos solúveis totais
(6,4%). Essas características são desejáveis para o mercado de fruta in natura
e para a agroindústria e podem representar ganho de produtividade em programas
de melhoramento genético da cultura do maracujazeiro.
Os frutos das progênies CCF-001, CCF-074, CCF-212, CCF-395 e CCF-430 apresentam
características desejáveis para o mercado in natura, enquanto os das progênies
CCF-192, CCF-281, CCF-391 e CCF-505 têm características importantes para a
agroindústria.