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BrBRCVAg0100-29452003000200004

BrBRCVAg0100-29452003000200004

National varietyBr
Country of publicationBR
SchoolLife Sciences
Great areaAgricultural Sciences
ISSN0100-2945
Year2003
Issue0002
Article number00004

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Efeito de horários de polinização artificial no pegamento e qualidade de frutos de pinha (Annona squamosa L.)

INTRODUÇÃO O Brasil tem se destacado como grande produtor de frutas, especialmente tropicais e subtropicais. Entre as tropicais, encontra-se a pinha, uma planta famosa pela qualidade de seus frutos. A cultura é encontrada desde o norte do país até o Estado de São Paulo. Atualmente, o cultivo desta fruteira se espalhou, com a ocorrência de grandes áreas nos estados da Bahia, Pernambuco, São Paulo, Minas Gerais e Alagoas, nos quais plantios irrigados são conduzidos com bom nível tecnológico (Araujo et al., 1999).

Das diversas espécies da família Annonaceae conhecidas popularmente, podemos destacar a pinha (Annona squamosaL.), a cherimóia (Annona cherimolaMill), a graviola (Annona muricata) e mais recentemente a atemóia, originada do cruzamento entre a pinha e a cherimóia (Annona squamosaL. x Annona cherimolaMill.). Estas frutas têm apresentado um grande incremento na aceitação pelo consumidor e pelo mercado interno (Giacometti & Ferreira, 1979). Dados da CEASA de Belo Horizonte destacam que a comercialização de pinha no Estado de Minas Gerais cresceu em torno de 1.400 % nos últimos cinco anos.

Os benefícios da técnica de polinização artificial em cultivares de cherimóia, híbridos de atemóia e em genótipos de pinha vêm sendo destacados em diversos trabalhos (George et al.,1992; Welgemoed et al., 1992 e Duarte & Escobar, 1997). Cogez & Lyannaz (1996) verificaram incremento de até 100% no pegamento de frutos de pinha por meio da polinização artificial, contra 0% na polinização natural. Além deste benefício, os autores destacaram o aumento considerado no peso dos frutos e número de sementes, bem como maior uniformidade apresentada pelos frutos.

Estudos realizados com a cultura da pinha indicam a presença do fenômeno da dicogamia protogínica, isto é, maturação do gineceu antes do androceu, impedindo a ocorrência das autofecundações (Araujo et al., 1999). Observa-se a presença dos estigmas viáveis e receptivos nas flores no estádio feminino, enquanto que as anteras ainda mantêm presos os grãos de pólen. De acordo com observações efetuadas por Manica (1994) e Bonaventure (1999), o ciclo de abertura de uma flor da família Annonaceae pode ser distinguido pelas fases de botão floral, pré-feminino, feminino e masculino.

Os cultivos comerciais de pinha na região Norte Mineira e regiões adjacentes tem sido conduzidos de acordo com recomendações para a cultura da cherimóia. O que se observa são divergentes metodologias e horários de polinização utilizados pelos produtores. De acordo com Soria et al. (1990) e Guirado (1991), as técnicas de polinização artificial utilizadas na cultura da cherimóia são aplicadas por produtores de pinha, destacando-se a coleta de flores, armazenamento e o uso posterior do pólen na polinização artificial.

Duarte & Escobar (1997), estudando diferentes horários de polinização artificial em flores da cherimóia 'Cumbe', observaram tendência superior de pegamento e peso de frutos, bem como aumento do número de sementes para os horários efetuados pela manhã. Houve incremento significativo em tais características com a utilização da técnica da polinização artificial, em relação à polinização natural.

Os objetivos do presente trabalho foram avaliar o efeito da polinização artificial feita em diferentes horários, no pegamento e qualidade de frutos de pinha e efetuar um estudo de correlações entre os caracteres dos frutos de pinha.

MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado em um pomar comercial de pinha no município de Nova Porteirinha, região Norte de Minas Gerais.

Foram utilizadas 20 plantas de pinha provenientes de um pomar comercial de 8,5 hectares. O sistema de irrigação utilizado foi o de microaspersão. Os tratos fitossanitários e as adubações foram realizados conforme recomendações de Araujo et al. (1999). As plantas selecionadas foram devidamente identificadas e a polinização artificial foi efetuada duas semanas após o início da floração, nos dias 16 e 17 de novembro de 2001.

Foram identificadas flores no estádio feminino e masculino e com auxílio de pincel número 2, o pólen foi retirado cuidadosamente da flor no estádio masculino e depositado sobre o estigma da flor no estádio feminino, previamente identificado. Foram polinizadas no máximo duas flores por ramo. Os tratamentos foram compostos dos horários de polinização artificial de 5, 6, 7, 8, 9 e 10 horas da manhã. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com seis tratamentos e cinco repetições, utilizando-se 10 flores por parcela. Em cada planta foram polinizadas 15 flores.

Duas semanas após a polinização, avaliou-se o pegamento dos frutos, e a partir de três meses após a polinização artificial, os frutos de pinha foram colhidos quando apresentaram afastamento dos carpelos e a coloração verde-amarelada dos tecidos intercapelares. A colheita foi realizada manualmente e os frutos foram identificados e acondicionados em bandejas de plástico no Laboratório de Fisiologia Vegetal do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade Estadual de Montes Claros, Janaúba, MG.

Foram avaliados a porcentagem de frutos desuniformes (defeito devido à ineficiência de polinização), comprimento, diâmetro e peso dos frutos. Os frutos foram despolpados, separando-se e pesando-se casca, polpa e sementes.

Avaliou-se também o número de sementes por fruto e teor de sólidos solúveis totais, utilizando-se o refratômetro manual ATAGO N1a.

A análise estatística foi realizada por meio da análise de variância das características avaliadas, sendo os efeitos dos tratamentos comparados pelo teste de Tukey. Foi efetuado um estudo de correlação de Pearson entre as características dos frutos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Observou-se que a porcentagem de pegamento de frutos de pinha não apresentou diferenças significativas, a 5% de probabilidade, nos diferentes horários de polinização. Entretanto, a maior porcentagem de pegamento dos frutos obteve-se efetuando a polinização artificial às 7 horas da manhã, enquanto o menor valor foi obtido com polinização às 5 horas da manhã, com 95% e 83% de pegamento, respectivamente (Tabela_1). Isto talvez possa ser explicado pela grande quantidade de orvalho encontrado nas plantas de pinha, especialmente nas flores, neste primeiro horário da manhã, ocasionando maior umidade nos pêlos do pincel e diminuindo consequentemente a aderência de maior quantidade de pólen ao mesmo. Além da presença do orvalho, as temperaturas mais amenas nos primeiros horários da manhã podem ter influenciando negativamente no processo de polinização. De acordo com Zayas (1966), o momento preciso para a polinização artificial das flores são as primeiras horas da manhã, utilizando- se as flores que tenham atingido completamente a maturidade sexual feminina, ou seja, quando as pétalas não estejam separadas completamente.

O defeito de desuniformidade no formato dos frutos de pinha ocorreu apenas nos horários de polinização das 5, 6 e 7 horas, com valores de 6%, 11% e 7%, respectivamente. Tal irregularidade ocorreu, provavelmente, em função da ausência de sementes e polpa em algumas partes dos frutos e conseqüente atrofia dos carpelos, alterando a forma natural (semelhante a um cone) dos frutos e depreciando-os. Isto pode ser explicado pela presença do orvalho nas primeiras horas da manhã, ocasionando muita umidade nos pêlos do pincel e dificultando a distribuição dos grãos de pólen nos estigmas das flores, inviabilizando a fecundação e formação de sementes. No entanto, os horários de polinização das 8, 9 e 10 horas da manhã proporcionaram 100% de frutos uniformes, demonstrando a grande eficiência de polinização artificial nestes horários.

Verificou-se que houve diferenças significativas, a 5% de probabilidade, para as características de peso, comprimento e diâmetro dos frutos, peso e número de sementes (Tabela_1). O maior peso dos frutos e de sementes foram obtidos pela polinização às 10 horas, com valores médios de 365 g e 33 g, respectivamente, havendo tendência de ocorrência de frutos mais pesados com polinização entre 7 e 10 horas da manhã. A polinização de flores às 5 e 6 horas da manhã, além de não ter apresentado bom pegamento de frutos, resultou nos frutos e sementes menos pesados. Cogez & Lyannaz (1996), estudando a polinização artificial em cultivares de pinha, detectaram incremento no peso médio de frutos da cultivar 'Thai Lup' de 143 g (polinização natural) para 230 g (polinização artificial) e de 230 g para 269 g na cultivar 'New Caledonia'.

As dimensões dos frutos, medidas em comprimento e diâmetro apresentaram comportamento semelhante em relação aos diferentes horários de polinização. Os maiores comprimento e diâmetro foram obtidos por frutos originados da polinização às 10 horas, enquanto os menores valores ocorreram em frutos formados com polinização às 6 horas. De acordo com informações do proprietário da fazenda e de outros produtores de pinha da região Norte de Minas Gerais, frutos com maiores dimensões e uniformes obtêm os melhores preços de mercado.

Com relação ao número de sementes por fruto, os horários de polinização de 8 às 10 horas da manhã foram significativamente superiores aos três primeiros horários. Isto demonstra que, os três últimos horários de polinização testados pela manhã apresentaram maior eficiência na polinização. Quanto maior for a quantidade de grãos de pólen aderidos aos estigmas das flores polinizadas, maiores serão as chances de fecundação do óvulo e conseqüente formação de sementes. Deve-se ressaltar que os frutos mais pesados, os quais possuem maior valor de mercado, apresentaram maior quantidade de sementes, havendo associação de 46% entre estas características. Portanto, horários de polinização que proporcionem maior quantidade de pólen aderidos ao estigma das flores são os mais adequados. Na polinização de maracujazeiro, Sousa (1994) relatou que a alta pressão osmótica do conteúdo celular do grão de pólen, aliado à baixa resistência de sua parede, faz com que diminua sua viabilidade quando a abertura das anteras coincide com a presença de muita umidade.

Observou-se que não houve diferenças significativas, a 5% de probabilidade, nas características de peso da casca e da polpa e teor de sólidos solúveis totais, nos horários de polinização testados. Entretanto, observou-se maior peso de casca e polpa de frutos nos últimos horários de polinização pela manhã.

Ressaltamos a preferência por parte dos consumidores por frutos maiores, mais uniformes e que apresentam maior quantidade de polpa. O teor de sólidos solúveis totais também é fator decisivo na aceitação de frutos, a depender do mercado. A polpa dos frutos de pinha obteve, em média, 26,7º Brix, valor superior ao encontrado por Maia (1986), com média de 20º Brix.

Por meio da análise de correlação apresentada na Tabela_2, observou-se associações entre várias características. De acordo com Cruz & Regazzi (1997), o conhecimento da associação entre caracteres é de grande importância nos trabalhos de melhoramento, principalmente se a seleção em um deles apresenta dificuldades em razão dos procedimentos de avaliação, ou da baixa herdabilidade.

O peso dos frutos apresentou graus de associação de 87% e 82% com diâmetro dos frutos e peso da casca, respectivamente. Portanto, ao selecionar frutos mais pesados, estes frutos terão maior diâmetro e casca mais pesada.

Trabalhos reportados por Duarte & Escobar (1997), Cogez & Liannaz (1996), Bonaventure (1999), Araujo et al. (1999) e os resultados apresentados, demonstram a importância dos estudos sobre a polinização artificial em espécies de Annonaceae. Outras observações relatadas por Zayas (1966) reafirmam que os produtores devem efetuar a polinização artificial pela manhã e evitar a polinização das primeiras flores bem como das últimas flores da florada. Além desta recomendação, o autor descreve ainda a maior porcentagem de aborto das flores situadas nas extremidades dos ramos das plantas, devendo ser evitada a polinização das mesmas.

Os trabalhos envolvendo metodologias e horários de polinização artificial em pinha são de extrema necessidade e importância para a região. Com base nos resultados encontrados e, em futuros trabalhos, o uso da mão-de-obra poderá ser maximizada bem como a obtenção de frutos maiores e mais uniformes.

CONCLUSÕES 1) O horário em que é feita a polinização artificial influi na porcentagem de pegamento de frutos, peso de frutos, número de sementes, comprimento e diâmetro do fruto; 2) Os horários de polinização artificial não influenciaram o teor de sólidos solúveis totais, peso da casca e peso da polpa; 3) Frutos mais pesados apresentam maiores diâmetro e peso de casca.


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