Avaliação do estado nutricional da videira 'Itália' na região de Jales, SP,
usando o sistema integrado de diagnose e recomendação
Avaliação do estado nutricional da videira 'Itália' na região de Jales, SP,
usando o sistema integrado de diagnose e recomendação1
Evaluation of the nutritional condition of Italia grapevine in the region of
Jales, SP, using the diagnosis and recommendation integrated system
Maurilo Monteiro TerraI,II; Marsia Antonieta Souza GuilhermeIII; Wagner
Rodrigues dos SantosIII; Erasmo José Paioli-PiresI,II; Celso Valdevino
PommerI,II; Renato Vasconcelos BotelhoIII
IInstituto Agronômico, Caixa Postal 28, 13001-970, Campinas,SP
IIBolsista do CNPq
IIIBolsista da FAPESP
INTRODUÇÃO
A videira 'Itália' é um cultivar exigente do ponto de vista nutricional, tanto
em qualidade como em quantidade de nutrientes. Por outro lado, a adubação deste
cultivar, principalmente em regiões recém exploradas, como é o caso da região
de Jales, tem sido feita de forma desequilibrada, gerando desordens
nutricionais e auferindo prejuízos ao viticultor devido à queda na produção e
na qualidade dos frutos, bem como onerando em demasia a cultura.
O DRIS foi originalmente proposto por Beaufils (1973) baseado nas relações de
macro e micronutrientes como modelo para identificação de fatores limitantes de
produtividade.Entretanto, com o tempo, tem-se mostrado muito mais eficiente
como uma forma de interpretação de análise de planta do que como modelo de
produtividade agrícola (Bataglia, 1989). Este método utiliza dados de
concentração de nutrientes obtidos através da análise de folhas e avalia o
estado nutricional da cultura pelas relações de nutrientes, consideradas um
parâmetro importante para a cultura da videira, principalmente as relações K/
Mg, Ca/Mg e Ca/K.
Diversos trabalhos identificaram o método DRIS como uma alternativa para
avaliar a nutrição das plantas.
Este trabalho teve por objetivo avaliar o estado nutricional da videira
'Itália' em três estágios de desenvolvimento, na região de Jales, SP,
utilizando o DRIS, através da realização de um levantamento nutricional em
vinhedos em produção.
MATERIAL E MÉTODOS
Realizou-se o levantamento nutricional em 20 propriedades da região de Jales,
Estado de São Paulo, situadas a 20º16' S, 50º33' W e 483 m de altitude.
A escolha das propriedades foi ao acaso, e de cada propriedade foi selecionado
um talhão de vinhedo em produção, com práticas culturais semelhantes. Nos
talhões amostrados haviam 230 plantas espaçadas de 5 mx3 m, com idade média de
5 anos e enxertadas sobre o porta-enxerto 420-A.
De cada talhão foram selecionadas 20 plantas ao acaso, das quais foram
coletadas cinco folhas por planta, totalizando 100 folhas por amostra. As
folhas colhidas foram as recém-maduras de cada ramo produtivo, correspondendo a
primeira folha oposta ao 1º cacho, contando-se a partir do ápice dos ramos. Das
folhas coletadas, separaram-se imediatamente seus pecíolos e limbos, formando
assim amostras distintas.
A coleta de folhas foi feita em três épocas distintas: a primeira no
florescimento, quando ocorre um pico de concentração da maioria dos nutrientes
nas folhas; a segunda quando as bagas estavam no estádio entre ervilha e meia-
baga, fase intermediária; e no início do amolecimento das bagas realizou-se a
terceira coleta, quando há maior estabilidade nos teores de nutrientes das
folhas, permitindo assim maior amplitude na época de coleta.
As amostras de pecíolos e limbos foram processadas e analisadas separadamente
quanto aos teores de N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cu, Fe, Mn e Zn, de acordo com
Bataglia et al. (1983).
A interpretação dos resultados de análise foliar, considerando-se a relação de
nutrientes no limbo e no pecíolo e a produção da videira, foi feita aplicando-
se o método DRIS.
Para o cálculo dos índices do DRIS, separou-se os vinhedos em duas classes: 1)
População A - alta produtividade (27,3 t/ha ou mais) e 2) População B - baixa
produtividade (menor que 27,3 t/ha ), em que o valor de 27,3 t/ha foi a média
de produção encontrada entre os vinhedos amostrados e considerada alta para a
cultura da videira na região.
Com as normas assim estabelecidas, calculou-se os índices DRIS e os índices de
balanço nutricional (IBN) de acordo com a metodologia desenvolvida por Beaufils
(1973) e também relatada por Bataglia & Dechen (1986), utilizando-se a
seguinte fórmula:
IBN = S[índice X] em valores absolutos
onde
A,B,...Z e a,b,... z representam qualquer concentração de nutrientes possíveis
de diagnose.
CV é o coeficiente de variação da relação na população não anormal
K é o coeficiente de sensibilidade, de valor arbitrário =10
X/A, X/B,...X/Z são as relações dos nutrientes na amostra
n - S X/A + X/B + ...+ X/Z
m - S a/X + b/X + ...+ z/X
Foram selecionados para os cálculos dos índices DRIS seis vinhedos com
produtividades superiores a 27,3 t/ha.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Beaufils (1973) referindo-se ao DRIS, observou que a escolha da população
padrão, ou população de referência, é primordial para o sucesso do método e
deve constituir-se de plantas não anormais, isto é, plantas que não tenham sido
afetadas por condições anormais de cultivo.
A partir dos resultados das análises químicas das amostras de limbo e pecíolo
dos vinhedos selecionados, correspondentes às três épocas de coletas, calculou-
se as médias e os coeficientes de variação dos nutrientes no limbo e no
pecíolo, conforme mostra a Tabela_1.
Levando-se em consideração que quanto maior o coeficiente de variação maiores
são os desequilíbrios nutricionais, e que quando os valores de coeficiente de
variação estão em torno ou acima de 50%, esses desequilíbrios tornam-se
preocupantes, pois podem limitar a produção; Admite-se que os vinhedos
amostrados apresentam desordens nutricionais com relação ao fósforo, potássio,
magnésio, enxofre e cobre.
O estudo do estado nutricional usando o DRIS permite também determinar a ordem
pela qual os nutrientes estão limitando a produção (Tabelas_2 a 7), através dos
índices DRIS obtidos para cada nutriente. Os valores negativos indicam
deficiências que diminuem à medida que os mesmos tendem a zero.
Segundo Sumner (1977), quando se tem deficiência de vários nutrientes, a ordem
de grandeza dos índices é que determinará o tratamento a ser aplicado para
melhorar a produtividade dos vinhedos.
De acordo com esse sistema, também pode-se realizar estudos pelo Índice de
Balanço Nutricional (IBN), que corresponde à soma dos valores absolutos dos
índices DRIS de cada nutriente dividido pelo número de nutrientes estudados,
que neste trabalho corresponde a 11, sendo que, quanto menor o IBN ou mais
próximo de zero, melhor o estado nutricional do vinhedo, de forma semelhante às
observações de Sumner (1977a).
Cabe ressaltar o fato de ser comum um vinhedo com IBN adequado e até mesmo
inferior aos dos vinhedos com produtividade alta apresentarem baixa
produtividade, sugerindo melhor equilíbrio nutricional que os mesmos. Este fato
sugere que a principal limitação na produtividade desse vinhedo é de ordem não
nutricional, o que está de acordo com o afirmado por Snoeck (1984). A afirmação
deste autor é que nem sempre uma planta em equilíbrio nutricional terá alta
produtividade, sendo apenas o inverso verdadeiro, ou seja, alta produtividade
só é alcançada quando as plantas estiverem em equilíbrio nutricional.
Outro dado que se pode obter através da calibração dos IBN são os seus valores
que poderão ser usados como referência de equilíbrio nutricional para vinhedos
da região em estudo (Tabela_8).
De acordo com os valores de referência obtidos, o limbo foi o órgão que
apresentou enquadramento mais coerente, pois os valores de referência foram
semelhantes para as três épocas estudadas, enquanto que os valores para pecíolo
variaram muito de época para época. Baseado nesse fato, o valor do índice de
balanço nutricional 11 pode ser considerado uma referência para vinhedos de
alta produtividade.
Certas plantas, pela sua constituição morfológica, permitem facilmente a
separação das folhas em pecíolo e limbo para fins de análise química. O pecíolo
de algodoeiro, batatinha, tomateiro e videira tem apresentado concentração mais
elevada de potássio do que o limbo (Silva et al., 1971; Gallo et al., 1965;
Hiroce et al., 1972; Hiroce e Terra, 1984; Terra et al., 1998) e, portanto,
constitui a parte da folha mais indicada para o estudo específico da nutrição
potássica. Beattie e Forshey (1954) utilizaram pecíolo da folha madura mais
nova para estudo da situação nutricional de 56 vinhedos da cultivar Concord.
Gallo e Oliveira (1960) utilizaram pecíolo mais limbo da folha madura mais nova
da videira cultivar Angélica em diferentes estágios de desenvolvimento da
planta. Hiroce e Terra (1984) determinaram os teores de macronutrientes em
pecíolo e limbo, analisados separadamente, da folha recém-madura da videira
cultivar Niagara Rosada, no estágio de chumbinho. Concluíram que no pecíolo
houve concentrações mais elevadas de K e Mg e, no limbo, teores mais elevados
de N, Ca e S. Em conseqüência, concluíram que deve-se levar em conta ambas as
partes da folha da videira para estudo da nutrição mineral.
Gergoletti (1995) e Costa (1998), avaliando o estado nutricional da videira
'Itália', respectivamente, nas regiões de São Miguel Arcanjo e Jundiaí, SP,
usando o DRIS, concluíram que o limbo foi o órgão ideal de coleta.
As épocas mais adequadas para a amostragem de folhas foram no florescimento e
no início do amolecimento das bagas, pelo fato da maior coerência dos índices
de balanço nutricional adotados como referência.
Estes resultados são concordantes com os de Christensen et al. (1982),
Gergoletti (1995) e Costa (1998) que afirmaram que a coleta do órgão para
amostragem deve ser realizada no florescimento, e com os de Dal Bó (1992) que
afirmou ser no início do amolecimento das bagas.
A partir da definição do melhor órgão e das melhores épocas de amostragem de
folhas, procedeu-se ao estudo de cada vinhedo em particular, considerando-se
apenas os dados de limbo coletados no florescimento e no início de amolecimento
das bagas.
Observou-se que quando há nutrientes deficientes no balanço nutricional, a
ordem de grandeza dos índices é que orientará a escolha dos melhores
tratamentos, visando o aumento da produção, o que concorda com as observações
feitas por Sumner (1977b).
Através da interpretação desses dados, verificou-se desordens nutricionais
ligadas à deficiência dos macronutrientes potássio, fósforo, magnésio e
enxofre. Quanto aos micronutrientes, as deficiências nutricionais foram pouco
significativas. Desordens nutricionais ligadas à excesso, nos vinhedos
selecionados, se deram para o nitrogênio quando se coletou folhas no estádio de
florescimento e para o cobre nos estágios de florescimento e de início de
amolecimento das bagas.
Diversos trabalhos mostraram vantagens do DRIS em relação ao nível crítico
foliar para se fazer diagnose com o propósito de recomendação de complementação
de adubação (Escano et al., 1981; Jones, 1981; Jones e Bowen, 1981; Hanson,
1981; Jones et al., 1986; Walworth e Sumner, 1987; Schaller, 1988), com as
seguintes observações: (a) para se fazer diagnose considera-se o equilíbrio
nutricional com base em padrões nutricionais de referência ou normas. Isto é
particularmente importante em altos níveis de produção, em que o equilíbrio
nutricional é muitas vezes o fator crítico na determinação da produtividade
vegetal; (b) as normas, ou composição de referência para o equilíbrio
nutricional de uma determinada cultura, podem ser extrapoladas para diversas
regiões dos países; (c) pode-se fazer diagnoses em diferentes fases de
desenvolvimento vegetal independentemente da cultivar; (d) os nutrientes
limitantes da produção podem ser prontamente identificados e ordenados em
função de sua importância na limitação da produtividade.
A importância do DRIS para a cultura da videira 'Itália' se dá, principalmente,
pelo fato de ser uma cultura perene para a qual as desordens nutricionais
afetam as plantas cumulativamente ao longo dos anos, além do fato destas
correções de deficiência ou excesso, muitas vezes, não poderem ser feitas
durante o ciclo da cultura, tornando a diagnose um fator fundamental no início
do mesmo.
CONCLUSÕES
1) O limbo foi considerado o melhor órgão para amostragem de folhas.
2) Os estágios de florescimento e início de amolecimento das bagas foram
consideradas as épocas mais adequadas para amostragem de folhas de videira.
3) De vinte vinhedos avaliados, seis foram considerados em equilíbrio
nutricional, com produção superior à média de 27,3 t/ha e IBN igual a 11.
4) O DRIS permitiu determinar os vinhedos que, em geral, apresentavam
deficiência de potássio, fósforo, magnésio e enxofre, e excesso de cobre,
principalmente.