Efeito da omissão de macronutrientes no crescimento, nos sintomas de
deficiências nutricionais e na composição mineral em gravioleiras (Annona
muricata)
Efeito da omissão de macronutrientes no crescimento, nos sintomas de
deficiências nutricionais e na composição mineral em gravioleiras (Annona
muricata)1
Effect of macronutrient omission in growth, symptoms of nutricional deficiency
and mineral composition in soursop plants (Annona muricata)
Magnalda Maria Fernandes BatistaI; Ismael de Jesus Matos ViégasII; Dilson
Augusto Capucho FrazãoIII; Maria Alice Alves ThomazIV, Rita de Cássia Lemos da
SilvaV
IEng. Agrôn., M.Sc., Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, Caixa Postal 917,
CEP 66077-530, Belém, Pará
IIEng. Agrôn., D.Sc., Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental e Professor
Visitante da FCAP. Caixa Postal 48, CEP 66.017-970, Belém, Pará, e-mail:
ismael@cpatu.embrapa.br
IIIEng. Agrôn., D.Sc., Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental Caixa Postal
48, CEP 66.017-970, Belém, Pará, e-mail: dilson@cpatu.embrapa.br
IVEng. Agrôn., M.Sc., da Fundação de Parques e Áreas Verdes de Belém, Funverde
VEng. Agrôn., M.Sc., Faculdade de Ciências Agrárias do Pará , Caixa Postal 917,
CEP 66077-530, Belém, Pará
INTRODUÇÃO
A gravioleira (Annona muricataL) apresenta-se como uma das espécies de grande
importância econômica para a fruticultura regional. Existe demanda crescente
dos frutos, cujas qualidades organolépticas importantes possibilitam a
utilização, tanto para consumo "in natura" quanto para o
aproveitamento pela agroindústria. A gravioleira também possui propriedades
utilizadas na medicina homeopática e na culinária caseira, sendo aproveitada
sob as mais diversas formas. Neste contexto, a produção de fruteiras regionais,
por ser oriunda, na sua grande maioria, do extrativismo ou do semi-
extrativismo, ainda reflete o pouco conhecimento dos diferentes componentes que
constituem o sistema de produção das culturas. A produção de fruteiras na
Amazônia ainda é limitada pela carência de conhecimentos sobre os diversos
segmentos dos sistemas de produção, sobretudo no que concerne a estudos sobre a
nutrição mineral de plantas.
As técnicas de diagnose da fertilidade de solo costumam ser divididas em quatro
grupos, tais como: análise química do solo, análise de plantas, métodos
biológicos e diagnose visual. Esta pesquisa baseou-se na técnica da diagnose
visual, a qual se fundamenta no fato de que as plantas, com deficiência de um
determinado nutriente, apresentam sintomas característicos. O objetivo deste
trabalho foi avaliar o crescimento, caracterizar a sintomatologia de
deficiências de macronutrientes e a composição mineral de plantas de
gravioleira.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em condições de casa de vegetação da Embrapa
Amazônia Oriental, Belém, Pará, no delineamento inteiramente casualizado, com
quatro repetições e sete tratamentos: completo (N, P, K, Ca, Mg, S e
micronutrientes) e com omissão de: N, P; K; Ca; Mg e S. Utilizaram-se sementes
da cultivar Morada, considerada tolerante ao ataque das brocas dos frutos
(Cerconota anonella Spp) e do tronco (Cratosomus dulisF). A solução nutritiva
utilizada foi a de Bolle-Jones (1954) modificada. Utilizaram-se vasos de
plástico com capacidade para 5 L, contendo sílica lavada (tipo zero grossa). As
plantas foram aclimatadas por um período de aproximadamente 75 dias, em solução
nutritiva a diferentes diluições seqüenciadas. Após esse período, as plantas
atingiram altura média de aproximadamente 30 cm, quando foram submetidas aos
tratamentos completo e com omissão dos macronutrientes, com solução nutritiva
diluída a 1:1, até a manifestação dos sintomas de deficiência dos nutrientes
omitidos. As soluções nutritivas foram fornecidas por percolação nos vasos,
renovadas a intervalos de 15 dias. Diariamente, as soluções dos tratamentos
eram fornecidas no período da manhã e drenadas no período da tarde, perfazendo
oito horas. Teve-se, ainda, o cuidado de verificar diariamente o nível da
solução nos frascos coletores, completando-se o volume para um litro, quando
necessário, com adição de água destilada. Quando todos os sintomas de
deficiência, referentes aos nutrientes estudados, se apresentaram bem
definidos, as plantas foram coletadas e divididas em folha, caule e raiz. Em
seguida, as amostras foram secas em estufa com circulação forçada de ar a 70
ºC, para a determinação do peso do material seco, procedendo-se,
posteriormente, a moagem e análise química de macronutrientes, para a
determinação dos teores de macronutrientes com base na metodologia descrita por
Möller et al. (1997). Os dados de medições biométricas, produção de matéria
seca e teores de macrontrientes foram analisados estatisticamente através da
análise de variância e aplicado o teste Tukey, a 5% de probabilidade, para a
comparação das médias, de acordo com a metodologia descrita por Pimentel Gomes
(1990). O efeito dos tratamentos foi avaliado pelo método de Percentagem de
Suficiência ou Produção Relativa, segundo Raij (1991).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Sintomas visuais de deficiências de macronutrientes
Nitrogênio
As plantas de graviola em solução nutritiva com omissão de nitrogênio
manifestaram sintomas de deficiência do nutriente logo após o início dos
tratamentos. Verificou-se, primeiramente, que as folhas mais velhas, a partir
da região basal, perdiam gradualmente a coloração verde para uma tonalidade
verde-pálida, distribuindo-se uniformemente no limbo, pecíolo e nervuras. O
nitrogênio absorvido é facilmente distribuído na planta via floema, na forma de
aminoácidos. Quando o suprimento é insuficiente, o nitrogênio das folhas velhas
é mobilizado para os órgãos e folhas mais novas. Conseqüentemente, verificam-se
sintomas de clorose nas plantas deficientes em nitrogênio, principalmente nas
folhas velhas. A coloração amarelada está associada à menor produção de
clorofila e com modificações na forma dos cloroplastos (Malavolta et al. 1997).
Com a intensidade da deficiência, todas as folhas ficaram amareladas e sem
brilho, ocorrendo queda prematura das folhas mais velhas. Observou-se, também,
redução generalizada na altura e diâmetro do caule. Avilán (1975) e Silva et
al. (1986), trabalhando com a gravioleira, e Piza Júnior (1988), com fruta-do-
conde, observaram características semelhantes de deficiência de nitrogênio.
Fósforo
Os sintomas de deficiência de fósforo foram inicialmente observados nas folhas
superiores, as quais se apresentaram em relação ao tratamento completo, mais
estreitas, tamanho reduzido, bordos curvados e ápices para baixo. As folhas
inferiores, paralelas ao caule, apresentaram coloração verde-clara. Plantas com
deficiência em fósforo têm o seu crescimento retardado, devido afetar vários
processos, como a síntese protéica e de ácidos nucléicos (Mengel &
Kirkby,1987). Na gravioleira, Avilán (1975) e Silva et al. (1986) observaram,
com a omissão de fósforo, redução no porte da planta, em relação ao tratamento
completo, com sintomas de deficiência inicialmente nas folhas inferiores,
atingindo, em seguida, as folhas medianas e superiores, sendo, portanto, esses
sintomas de deficiência de fósforo semelhantes aos obtidos nesta pesquisa.
Potássio
A deficiência de potássio caracterizou-se, inicialmente, com um esverdeamento
intenso da folhagem, com pequena redução no tamanho das folhas novas. Nas
folhas mais velhas, a partir do ápice, observou-se clorose marginal, avançando
em direção à parte central por entre as nervuras, inicialmente de coloração
verde-amarela, para posteriormente marrom, como conseqüência da necrose. Com a
severidade da deficiência, ocorreram a queda das folhas basais e estabilidade
no crescimento. Silva et al. (1986) constataram, também, em gravioleira,
redução no tamanho das folhas jovens e, quando adultas, apresentaram bordos
cloróticos e queda precoce das folhas. Avilán (1975) verificou, também,
amarelecimento nos bordos, progredindo até a nervura central, de coloração
alaranjada. Por ser o potássio ativador de numerosas enzimas, sua deficiência
acarreta distúrbios em reações metabólicas de acumulação de compostos
nitrogenados livres ou solúveis (Epstein, 1975).
Cálcio
A omissão de cálcio acarretou anormalidades visíveis nas folhas mais novas,
percebendo-se, inicialmente, necrose ao longo da margem superior do ápice da
folha, com o restante da folhagem apresentando verde normal. Esta necrose na
folha apresentou-se "queimada" de coloração pardo-escura e enrolada
sobre si mesma, com bordos recurvados para cima. A falta de cálcio é
caracterizada pela redução do crescimento de tecidos meristemáticos, sendo
observada, inicialmente, nas extremidades em crescimento e nas folhas mais
jovens (Mengel & Kirkby, 1987). Com a evolução dos sintomas, houve queda
prematura das folhas, e as plantas sofreram redução no crescimento pela
paralisação do desenvolvimento apical. No processo metabólico, o cálcio afeta a
atividade de hormônios e de enzimas, como os que regulam a senescência e a
abscisão das folhas e frutos (Malavolta, 1980; Mengel & Kirkby, 1987;
Marschner, 1986). Os sintomas observados por Avilán (1975), em gravioleira,
também mostraram clorose em torno das margens e entre as nervuras principais e,
posteriormente, as áreas afetadas necrosaram.
Magnésio
Os primeiros sintomas de deficiência de magnésio foram observados inicialmente
nas folhas mais velhas da parte mediana da planta, com o aparecimento de leve
amarelecimento ao longo da nervura principal. A nervura principal e as margens
laterais das folhas mantiveram-se verdes. À medida que aumentava a intensidade
de deficiência de magnésio, a faixa amarelada tornava-se totalmente alaranjada,
ocasionando a abscisão precoce das folhas de gravioleira. Percebeu-se, também,
que a altura da planta foi reduzida com a omissão de magnésio. Sintomas
semelhantes, também, foram observados por Avilán (1975) e Silva et al. (1986)
em gravioleira, em que a deficiência provocou o aparecimento de uma clorose
internerval que começou ao lado da nervura central e avançou, progressivamente,
até os bordos das folhas. O magnésio é muito móvel no floema e, portanto,
redistribui-se facilmente nas folhas e tecidos mais velhos para regiões de
maiores exigências, como os meristemas e órgãos de reserva (Epstein, 1975);
logo, os sintomas de deficiência aparecem inicialmente nas folhas mais velhas,
fato constatado nesta pesquisa.
Enxofre
As plantas com carência de enxofre apresentaram coloração verde nas folhas
novas, em um tom menos claro em relação às folhas do tratamento completo, com
nervuras mais pálidas em relação ao limbo, de tamanho menor, caule mais
delgado, crescimento reduzido em relação ao completo. Os sintomas observados
por Avilán (1975), em plantas de gravioleira, são similares aos observados
nesta pesquisa, pois os mesmos caracterizaram-se por apresentar folhas
superiores com deformações de tamanho e de coloração inicialmente verde-pálida,
tornando-se posteriormente cloróticas, tendo as folhas inferiores apresentado
aparência normal. Entretanto, Silva et al. (1986) não observaram sintomas
característicos da deficiência de enxofre em gravioleiras, porém as mudas
cultivadas em solução com omissão de enxofre pelos citados pesquisadores foram
visivelmente menores do que as cultivadas em solução completa.
Efeito da omissão dos macronutrientes sobre a altura das plantas, diâmetro do
caule, produção de matéria seca e crescimento relativo.
Os resultados referentes à altura das plantas, diâmetro do caule, produção de
matéria seca e crescimento relativo, em função dos tratamentos, como
indicadores de desenvolvimento, encontram-se na Tabela_1. Verifica-se, pelos
resultados, que as omissões de todos os macronutrientes afetaram o crescimento
em altura das plantas, sendo a omissão individual de nitrogênio com 37 cm,
omissão de cálcio com 51 cm e de fósforo com 58 cm as mais afetadas, quando
comparadas com o tratamento completo, cuja altura foi de 174 cm. Avilán (1975)
verificou, em gravioleira, que os tratamentos com omissão de nitrogênio e
fósforo foram os que mais limitaram o crescimento em solução nutritiva,
concordando em parte com os resultados da presente pesquisa. Com relação ao
diâmetro do caule, a exemplo do ocorrido com a altura de planta, constatou-se
que todos os tratamentos com as omissões individuais limitaram o crescimento,
quando comparados ao completo (Tabela_1). Os tratamentos que mais afetaram este
parâmetro, foram os que apresentaram omissão de nitrogênio com 5,90 mm, cálcio
com 7,07 mm e fósforo com 8,20 mm, em relação ao tratamento completo, de 20,85
mm.
A produção de matéria seca das raízes, caule, folhas, total e do índice de
"crescimento relativo", de plantas submetidas aos diferentes
tratamentos, é apresentada na Tabela_2. Nas raízes, todos os tratamentos com
omissão de nutrientes limitaram a produção de matéria seca. Na omissão de
enxofre, embora tenha apresentado maior produção que os demais, ainda assim,
foi significativamente menor que o tratamento completo. Quanto à produção de
matéria seca do caule, verifica-se que os tratamentos com omissão de potássio e
enxofre apresentaram maior produção em relação aos demais tratamentos, mas
significativamente menor que o completo (Tabela_2). Com relação à produção de
matéria seca das folhas, todos os tratamentos com omissão foram limitantes, com
exceção da omissão de enxofre, que proporcionou maior produção que o tratamento
completo, embora sem diferirem estatisticamente entre si (Tabela_2). As menores
produções de matéria seca das folhas foram registradas nos tratamentos com
omissão de nitrogênio, com 1,63 g/planta; de cálcio, com 2,68 g/planta; e de
fósforo, com 2,86 g/planta. Verificou-se que o tratamento completo apresentou
produção de matéria seca total de 127,94 g/planta, significativamente superior
aos demais tratamentos. Os tratamentos que mais afetaram a produção da matéria
seca total, a exemplo dos resultados obtidos com as variáveis altura das
plantas e diâmetro do caule, foram as omissões de nitrogênio com 7,49 g/planta,
de cálcio com 10,42 g/planta e de fósforo com 14,42 g/planta, quando comparados
com o padrão de 127,94 g/planta. Finalmente, a ordem decrescente, em que a
ausência de um determinado elemento influenciou na diminuição da produção total
de matéria seca das plantas de graviola, foi a seguinte: nitrogênio > cálcio >
fósforo > magnésio > potássio > enxofre. O crescimento relativo (CR) obedeceu à
seguinte ordem decrescente, em relação aos tratamentos: completo > enxofre >
potássio > magnésio > fósforo > cálcio > nitrogênio, deduzindo-se, dessa
maneira, que o desenvolvimento da planta, durante o período experimental, foi
menos prejudicado pela carência de enxofre, com redução de 34% da matéria seca,
porém mais afetado pelo nitrogênio, com redução de 94% da matéria seca.
Os resultados dos teores de macronutrientes correspondentes a cada tratamento
são apresentados na Tabela_3. Verificou-se que os teores (g/kg) dos
macronutrientes nas folhas do tratamento completo e com omissão dos nutrientes
foram, respectivamente: N = 14,70 ' 8,82; P = 0,92 - 0,47; K = 12,35 - 2,62; Ca
= 14,11 ' 3,44; Mg = 3,59 ' 1,09; S = 5,32 ' 2,30. Os teores de macronutrientes
das plantas do tratamento completo obedeceram à seguinte ordem, nas raízes: N >
S > K > Ca > Mg > P, no caule: K > N > Ca > S > Mg > P e nas folhas: N > Ca > K
> S > Mg > P. Com base nos teores dos macronutrientes nas folhas do tratamento
completo e dos com omissão (deficiente), pode-se obter a variação de teores
destes nutrientes na gravioleira (Tabela_3). Os teores foliares de cálcio e
enxofre do tratamento completo são superiores aos considerados como adequados
por Silva et al. (1986), também obtidos em condições de casa de vegetação, e os
de nitrogênio, fósforo e potássio inferiores, enquanto os de magnésio são
praticamente iguais. Gazel Filho (1994), em condições de cerrado do Amapá,
obteve no genótipo Morada, de um ano de idade, teor de nitrogênio de 20,2 g kg-
1, fósforo de 1,4 g kg, potássio de 14,9 gkg-1, os quais são 27%, 34% e 21%,
respectivamente, superiores aos considerados nesta pesquisa. Por outro lado, os
teores de cálcio e magnésio sugeridos como adequados neste trabalho são
superiores aos obtidos por Gazel Filho (1994), em 13,5% e 88,9 %,
respectivamente. Esses resultados conflitantes entre os teores de
macronutrientes adequados para a gravioleira podem ser explicados em função da
cultivar , da solução nutritiva, com maior ou menor concentração de sais, tempo
de duração do trabalho e de renovação da solução nutritiva, no caso de
experimentos conduzidos em casa de vegetação, e nos conduzidos em condições de
campo como conseqüência dos fatores que atuam e interagem até o momento da
coleta da parte da planta para análise, podendo-se citar clima, solo, práticas
culturais, etc.
CONCLUSÕES
1) A omissão de N, P, K, Ca, Mg e S, na solução nutritiva, resulta em
alterações morfológicas, traduzidas como sintomas característicos de
deficiência nutricional de cada nutriente em gravioleira.
2) As omissões de macronutrientes promovem diminuição no crescimento e produção
de matéria seca em gravioleira, quando comparadas ao tratamento completo.