Interação P x Fe em mudas de macadâmia
Interação P x Fe em mudas de macadâmia1,2
Interaction P x Fe in seedlings of macadamia
Paulo Cesar Lima MarrocosI; Herminia Emilia Prieto MartinezII; Victor Hugo
Alvarez VenegasIII; Cláudio Horst BrucknerII; Reinaldo Bertola CantaruttiIII
ICentro de Pesquisa do Cacau (CEPEC), CEPLAC, C.P. 07, 45.600-000, Itabuna
(BA). E-mail: marrocos@cepec.gov.br
IIDepartamento de Fitotecnia, UFV, 36.571-000, Viçosa (MG)
IIIDepartamento de Solos, UFV, 36.571-000, Viçosa (MG)
INTRODUÇÃO
A macadâmia, uma das mais novas alternativas agrícolas do País, produz uma noz
de alto valor no mercado internacional, com grande aceitação entres os
consumidores. No Havaí, onde o cultivo desenvolveu-se em grande escala, são
vários os problemas enfrentados pelos agricultores, entre eles a clorose de Fe
induzida pelo excesso de P.
A clorose das folhas de plântulas de macadâmia está associada à baixa reserva
de Fe na semente (Guest, 1942). Fox & Warner (1971) relatam que o excesso
de P pode induzir o desenvolvimento de clorose em folhas de macadâmia,
principalmente as novas. Eles concluíram que o problema é complexo e envolve
interações entre a planta e o solo e entre o P e alguns micronutrientes,
especialmente Fe e Zn.
Jones et al. (1972) observaram que o alto teor de P na proximidade da raiz pode
imobilizar o Fe, limitando seu suprimento às raízes de macadâmia. Adams (1980)
concluiu que a interação P x Fe é regulada geneticamente, podendo se manifestar
em etapas separadas durante os processos de absorção, de translocação e de
assimilação. Essa interação pode ser explicada pela reação de precipitação do
Fe+3 com o fosfato, quer na zona externa à raiz, quer internamente, nos espaços
intercelulares.
Para Gilfillan & Jones (1968), quando o teor de P na folha excede 2,0 g kg-
1, com o teor de Fe em torno de 30 mg kg-1, manifesta-se a clorose. Hue et al.
(1988) concluíram que a macadâmia produz bem quando o teor de P na folha está
entre 1,0 e 1,4 g kg-1, correspondendo a 0,03 e 0,05 mg L-1 na solução dos
solos do Havaí. Teores acima dos mencionados resultavam em manifestação da
clorose e redução na colheita. Para Nagao & Hirae (1992), concentrações de
1,7 a 1,8 g kg-1 de P na folha já podem induzir os sintomas.
A deficiência de Fe pode ser resultado da insuficiência de Fe na planta ou
ineficiência da planta em utilizar o Fe, e a clorose, em macadâmia, é resultado
do uso ineficiente do Fe e não propriamente da deficiência (Fox & Warner,
1971).
Handreck (1992) verificou uma tendência de redução no teor de P na folha e no
caule de macadâmia com o incremento das doses de Fe, quando a fonte de Fe era o
FeSO4.7H2O. Em contraste, o FeEDDHA não reduziu sistematicamente o teor de P na
parte aérea. Concluiu que o sulfato ferroso e outras fontes de Fe capazes de
promover altas concentrações de Fe na solução do solo parecem reverter os
efeitos provocados por teores altos de P.
Este experimento teve como objetivo avaliar a interação P x Fe e seus efeitos
no crescimento de mudas de macadâmia, bem como de estabelecer os níveis
críticos de P e Fe nas folhas de plantas de macadâmia, em solução nutritiva.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado em casa-de-vegetação da Universidade Federal de
Viçosa, com o cultivar Keauhou (HAES 246), de Macadamia integrifolia. Sementes
foram colocadas para germinar em bandejas plásticas contendo areia lavada e as
plântulas recém-germinadas foram submetidas a um período de adaptação de 30
dias em vasos contendo 13 litros de solução nutritiva a ½ de força iônica da
concentração adequada para a macadâmia. As concentrações de P-H2PO4-, N-NO3-,
N-NH4+, K+, Ca2+ Mg2+ e S-SO42- na solução integral foram de 0,3; 14,0; 1,5;
4,0; 4,4; 1,0 e 1,0 mmol L-1, respectivamente. As concentrações de
micronutrientes foram estabelecidas de acordo com a solução de Clark (1975),
exceto o Fe, usado na concentração de 0,076 mmol L-1 na forma de Fe-EDTA. Após
período de adaptação, as plantas foram transferidas para vasos contendo 8
litros da solução nutritiva na concentração integral, com exceção para P e Fe.
Sete concentrações de P e sete de Fe foram combinadas de acordo com a matriz
experimental Box-Berard aumentada (3) e modificada, constituindo 14 tratamentos
(Tabela_1), dispostos em delineamento de blocos ao acaso, com cinco repetições.
As unidades experimentais foram constituídas por vasos contendo duas plantas.
Durante o período experimental realizaram-se trocas periódicas das soluções, em
intervalos determinados pela redução na condutividade elétrica das soluções a
30% do seu valor inicial. O volume de solução nutritiva nos vasos foi mantido
pela reposição diária de água desionizada e o pH monitorado diariamente e
mantido entre 5,0 e 5,5.
As plantas foram colhidas aos quarenta e quatro dias após a instalação do
experimento, sendo subdivididas em folhas superiores, folhas inferiores, caules
e raízes. Após lavagem em água desionizada, o material vegetal foi seco em
estufa com circulação forçada de ar a 70ºC, até peso constante. A matéria seca
foi pesada, sendo em seguida moída até passar em peneira de 20 mesh de abertura
de malha. Para análise de P e de Fe, a matéria seca foi mineralizada pela
mistura nítrico-perclórica (4:2 v/v). O P foi dosado colorimetricamente pelo
método de redução do fosfomolibdato pela vitamina C, descrito por Braga &
Defelipo (1974), e o Fe determinado por espectrofotometria de absorção atômica.
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e os efeitos de
tratamentos avaliados por equações de regressão, ajustadas entre as variáveis
avaliadas e as doses de P e de Fe. As equações foram selecionadas em função da
significância dos coeficientes de regressão, considerando o nível de
significância até 10% de probabilidade e do maior coeficiente de determinação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A produção de matéria seca de plantas de macadâmia (Tabela_2) não variou de
forma significativa em função das concentrações de P e de Fe (
= = média), não
sendo possível estabelecer os níveis críticos de P e de Fe nas folhas. No
entanto, as folhas das plantas de macadâmia crescidas nas soluções com
concentrações maiores de P e menores de Fe e na solução com menor concentração
de P e de Fe apresentaram sintomas típicos da deficiência de Fe, inicialmente
uma clorose internerval (nervuras verdes sobre fundo amarelado) nas folhas
novas, seguidas de intenso amarelecimento da lâmina foliar. Em um estágio mais
avançado, observou-se necrose na ponta e nos bordos de algumas folhas,
permanecendo verde apenas a nervura central.
Os teores de P nas folhas aumentaram linearmente com as concentrações de P, mas
decresceram com o incremento das concentrações de Fe (Tabelas_3 e 4). O maior
teor de P nas folhas superiores foi observado na concentração de Fe de 0,119
mmol L-1, a partir daí, aumentos nas concentrações de Fe na solução provocaram
redução nos teores de P nas folhas, de aproximadamente 24% na menor
concentração de P e de aproximadamente 16,7% na maior concentração de P. Com a
menor (0,03 mmol L-1) e a maior (0,570 mmol L-1) concentração de P, os teores
de P nas folhas superiores foram de 2,5 e 3,0 g kg-1, respectivamente. Tais
resultados sugerem que a influência do Fe na absorção do P pela planta é maior,
em menores concentrações de P na solução.
O maior teor de P nas folhas inferiores observou-se na concentração de Fe de
0,136 mmol L-1. Na concentração de P de 0,03 mmol L-1, o teor de P foi de 2,4 g
kg-1 e na concentração de P de 0,570 mmol L-1, o teor de P foi de 3,5 g kg-1. A
maior concentração de Fe provocou redução no teor de P na folha, sendo esta
redução maior na menor concentração de P, de aproximadamente 33%; já a redução
no teor de P observada na maior concentração de P foi de 23%. A redução nos
teores de P, como verificado, tanto nas folhas superiores como inferiores,
concorda com o observado por Hue & Nakamura (1988). Sendo as folhas
inferiores de referência para o diagnóstico foliar da planta, vale considerar
que o teor de 1,9 g kg-1 de P encontrado na menor concentração de P e de Fe é
considerado alto, se comparado com os valores citados por Nagao & Hirae
(1992). Ele seria alto o suficiente para desenvolver os sintomas da clorose de
Fe induzida por excesso de P, dependendo do teor de Fe observado. Isso sugere
que a dose de P pode ser ainda menor que a concentração de 0,03 mmol L-1 na
solução nutritiva.
Os teores de P no caule aumentaram linearmente com as concentrações de P e Fe,
havendo ainda efeito negativo da interação entre as doses de P e de Fe (Tabelas
3 e 4). Nas menores concentrações de P e de Fe, o teor de P foi de 3,7 g kg-
1 na MS, com o aumento da concentração de P; mantendo-se o Fe constante na
menor concentração, houve incremento de aproximadamente 108 % no teor de P.
Mantendo-se constante a menor concentração de P e variando a concentração de Fe
até a máxima, houve incremento no teor de P de aproximadamente 43 %.
Entretanto, ao se elevarem as concentrações de P e de Fe, há aumento no teor de
P de apenas 19%.
Os teores de P nas raízes (Tabelas_3 e 4) variaram em função das concentrações
de P e não foram afetados pelas concentrações de Fe. Na menor concentração de
P, o teor de fósforo foi de 3,6 g kg-1 e na maior concentração de P, o teor foi
de 5,8 g kg-1, correspondendo a um incremento de aproximadamente 61%.
Os teores de Fe nas folhas superiores e inferiores (Tabelas_3 e 4) aumentaram
com as doses de Fe, enquanto que não variaram com as doses de P. Na menor e
maior concentração de Fe, os teores nas folhas superiores foram de 15,45 e de
22,37 mg kg-1 de Fe, respectivamente.
Na menor e na maior concentração de Fe, os teores nas folhas inferiores foram
de 28,8 mg kg-1 e de 42,4 mg kg-1 de Fe, respectivamente. Considerando que
estas são as folhas indicadoras do estado nutricional da macadâmia, vale
observar que os teores de Fe encontrados, mesmo na maior concentração de Fe,
são considerados baixos, se comparados ao teor de 50 mg kg-1 de Fe, citado como
adequado por Bittenbender & Hirae (1990). As relações Fe:P obtidas foram
menores que 60, sugerindo que mesmo as folhas das plantas que permaneceram
verdes estariam deficientes em Fe. Essa falta de expressão visual da
deficiência pode caracterizar um estado de fome oculta ao elemento.
Bittenbender & Hirae (1990) citam ainda que a relação Fe mg kg-1 : P g kg1
deve ser superior a 60.
O teor de Fe no caule respondeu às concentrações de Fe e não foi afetado pelas
concentrações de P. A concentração de Fe que proporcionou o maior teor no
caule, 50,9 mg kg-1 de Fe, foi de 0,208 mmol L-1. Na menor concentração de Fe,
o teor foi de 22,4 mg kg-1 de Fe, e na maior concentração, o teor foi de 48,3
mg kg-1 de Fe. Nas raízes, as médias dos teores de Fe variaram de 429,3 a
1021,7 mg kg-1 de Fe.
CONCLUSÕES
Os teores de Fe nas folhas de macadâmia aumentaram com a elevação da
concentração de Fe na solução nutritiva e não foram afetados pela concentração
de P na solução nutritiva. O incremento das concentrações de Fe na solução
nutritiva reduziu os teores de P nas folhas inferiores de plantas de macadâmia.
As relações Fe mg kg-1 : P g kg -1 foram menores que 60, sugerindo que mesmo as
folhas das plantas que permaneceram verdes estavam deficientes em Fe. No
período estudado, o crescimento das plantas não foi influenciado pelos teores
de P e de Fe observados nas folhas.