Home   |   Structure   |   Research   |   Resources   |   Members   |   Training   |   Activities   |   Contact

EN | PT

BrBRCVAg0100-29452003000200036

BrBRCVAg0100-29452003000200036

National varietyBr
Country of publicationBR
SchoolLife Sciences
Great areaAgricultural Sciences
ISSN0100-2945
Year2003
Issue0002
Article number00036

Javascript seems to be turned off, or there was a communication error. Turn on Javascript for more display options.

Características físicas e físico-químicas de um tipo de bacuri (Platonia insignis Mart.) com rendimento industrial superior COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

Características físicas e físico-químicas de um tipo de bacuri (Platonia insignis Mart.) com rendimento industrial superior1

Physical and physicochemical characteristics of a bacuri (Platonia insignisMart.) type with better industrial yield

José Edmar Urano de CarvalhoI; Raimunda Fátima Ribeiro de NazaréII; Walnice Maria Oliveira do NascimentoIII IMestre em Agronomia, Área de Produção Vegetal, Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental. Caixa Postal 48. CEP 66095-110, Belém, PA. E-mail: urano@cpatu.embrapa.br IIMestre em Tecnologia de Alimentos, Pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental.

Caixa Postal 48. CEP 66095-110, Belém, PA. E-mail: fatima@cpatu.embrapa.br IIIMestre em Tecnologia de Sementes, Pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental.

Caixa Postal 48. CEP 66095-110, Belém, PA. E-mail: walnice@cpatu.embrapa.br

O fruto do bacurizeiro é uma baga uniloculada, com formato arredondado, ovalado ou achatado (Cavalcante, 1996, Guimarães et al., 1992), contendo em seu interior de uma a cinco sementes envolvidas pelo endocarpo, que se constitui na parte comestível do fruto (Carvalho et al. 1998, Mourão & Beltrati, 1995a/ 1995b). Alguns tipos, de ocorrência rara, apresentam frutos desprovidos de sementes (Calzavara, 1970; Souza et al., 2000), os quais têm despertado pouco interesse, pois apresentam tamanho diminuto e baixo teor de sólidos solúveis totais na polpa (Carvalho et al., 2002).

O bacuri é oriundo de ovário pentaloculado, com número de óvulos por lóculo variando entre oito e quatorze (Guimarães et al., 1990; Maués & Venturieri, 1996). Quando nenhum dos óvulos, em um ou mais lóculos, é convertido em semente, ocorre a formação de segmentos partenocárpicos, popularmente denominados de filhos ou línguas, que se constituem na porção preferida da polpa, por não estar aderida às sementes e ser de fácil remoção (Cavalcante, 1996).

Em termos porcentuais, a maior parte do bacuri é constituída pelo epicarpo e mesocarpo, os quais, em conjunto, constituem a casca do fruto, que é de consistência rígido-coriácea e com espessura variando entre 0,7 cm e 2,0 cm (Santos, 1982; Guimarães et al., 1992; Cavalcante, 1996). Em média, a casca representa 64% a 70% do peso do fruto, vindo a seguir as sementes, cuja participação varia de 13% a 26%. A polpa é o componente que se apresenta em menor proporção, representando somente cerca de 10% a 18% do peso do fruto (Calzavara, 1970; Barbosa et al., 1979; Santos, 1982; Cruz, 1988; Guimarães et al., 1992; Teixeira, 2000).

O objetivo deste trabalho foi caracterizar um tipo de bacuri que apresenta rendimento porcentual de polpa bem superior ao da maioria dos tipos ocorrentes em populações nativas e em áreas de cultivo.

Os frutos foram provenientes da matriz CPATU 207-3, do Banco de Germoplasma de Bacurizeiro da Embrapa Amazônia Oriental, localizado no município de Tomé-Açu, PA. Essa matriz constitui-se em um dos indivíduos do acesso CPATU 10007, estabelecido na forma de progênies de meios-irmãos. A planta-matriz que deu origem ao acesso apresentava frutos com formato arredondado, peso médio de 267,56 g, espessura da casca de 1,15 cm e rendimento porcentual de polpa de 6,88% (Guimarães et al., 1992).

Para a caracterização física utilizou-se uma amostra de 50 frutos, os quais foram individualmente analisados quanto às seguintes características: coloração, formato, peso, comprimento, diâmetro, espessura da casca, volume da cavidade interna, número de sementes por fruto, número de segmentos partenocárpicos, rendimentos porcentuais de casca, polpa total, sementes e do conjunto representado pela coluna placentária e óvulos abortados. A polpa total foi fracionada em duas porções: polpa aderida às sementes e segmentos partenocárpicos.

As características físico-químicas da polpa foram determinadas com base em três amostras de polpa, oriundas, cada uma delas, de 25 frutos coletados nos meses de janeiro, fevereiro e março. As seguintes características foram avaliadas: teores de umidade e de sólidos totais, determinados pela secagem da amostra em estufa a 105ºC até peso constante; pH, valor obtido pela leitura da solução de amostra em aparelho pH-meter digital marca HORIBA F-21; acidez total titulável, quantificada pelo método titulométrico com solução de NaOH 0,1N fatorada, usando como indicador solução de fenolftaleína a 1%; sólidos solúveis totais, determinado pela leitura direta da solução de amostra diluída com fator conhecido, em aparelho refratômetro digital, marca ATAGO modelo PR-101 e a relação ºBrix / acidez total titulável.

Observou-se que o bacuri CPATU 207-3 apresenta epicarpo de cor amarela, quando completamente maduro, formato ovalado, com a extremidade apical ligeiramente pontiaguda (Figura_1a) e grande freqüência de frutos com no máximo duas sementes (Figura_1b). Com relação ao tamanho, peso e volume da cavidade interna, os frutos são semelhantes ao da maioria dos tipos ocorrentes em populações naturais e em áreas de cultivo, podendo ser enquadrados no grupo de bacuris de tamanho médio, os quais são bem aceitos no mercado e apresentam peso variando entre 250 g e 350 g. As principais características diferenciais do bacuri CPATU 207-3, em relação à maioria dos tipos ocorrentes em populações naturais e em áreas de cultivo, são: casca fina, elevado número de segmentos partenocárpicos e rendimento porcentual de polpa superior. A espessura da casca, apenas 0,75 cm, é bem inferior à da maioria dos tipos de bacuri que, predominantemente, apresentam casca com espessura superior a 1,0 cm, em alguns genótipos chegando mesmo a atingir 2,0 cm (Santos, 1982; Cavalcante, 1996; Guimarães et al., 1992). Essa característica é a principal responsável pelo elevado rendimento porcentual de polpa (27,7%), pois condiciona menor participação relativa da casca na composição do fruto. Esse fato fica bem evidenciado quando se considera o rendimento porcentual de sementes, 18,7% (Tabela_1), que está dentro dos limites assinalados na literatura (Calzavara, 1970; Barbosa et al., 1979; Cruz, 1988; Santos, 1982; Guimarães, 1992; Teixeira, 2000).

No que concerne à partição da polpa, constatou-se que os rendimentos porcentuais das frações polpa aderida às sementes e segmentos partenocárpicos se equivaleram (Figura_2). Isoladamente, o rendimento porcentual de segmentos partenocárpicos, em torno de 13,0%, foi igual e, em alguns casos, mesmo superior ao rendimento porcentual total de polpa de muitos tipos de bacuri (Calzavara, 1970, Cruz, 1979; Barbosa et al., 1979; Guimarães et al., 1992). O elevado rendimento porcentual da fração da polpa representada pelos segmentos partenocárpicos está associada à grande freqüência de frutos contendo no máximo duas sementes, pois foi constatada correlação negativa entre o número de sementes e o número desses segmentos (r = - 0,9012). A elevada proporção de segmentos partenocárpicos é uma característica desejável, pois essa porção da polpa é a que tem maior valor comercial. Além disso, sua presença, em proporções elevadas, é altamente desejável quando os frutos se destinam ao consumo como fruta fresca ou para a elaboração de compotas.

As variações entre as características físicas dos frutos da planta-mãe (Guimarães et al., 1992) e de sua descendente, a matriz CPATU 207-3, principalmente em relação à espessura da casca, formato do fruto e rendimento porcentual de polpa foram bem pronunciadas. Tal fato é decorrente de que a espécie é essencialmente alógama, por ser geneticamente auto-incompatível (Maués & Venturieri, 1996).

Os resultados concernentes às características físico-químicas da polpa, oriunda de frutos produzidos em janeiro, fevereiro e março, demonstraram que praticamente não houve variação na qualidade dos frutos do bacuri CPATU 207-3, em função da época de produção (Tabela_2).

Os valores para teor de umidade, nas três amostras consideradas, foram superiores aos valores encontrados por Santos (1982) e Teixeira (2000) em polpa oriunda de frutos produzidos no Estado do Piauí, mas compatíveis com as determinações efetuadas por Guimarães et al. (1992) e por Barbosa et al. (1979) em polpa de frutos produzidos no Estado do Pará. No que concerne às demais características, com exceção da acidez e da relação sólidos solúveis totais/ acidez total titulável, onde Teixeira (2000) verificou valores entre 0,32% e 0,43% e entre 43,87 e 56,84, respectivamente, os resultados estão dentro dos limites comumente registrados na literatura. Convém ressaltar, no entanto, que em relação à acidez total existem grandes variações, em função do genótipo (Guimarães, 1992).

O bacuri CPATU 207-3 apresenta características físicas e físico- químicas que permitem sua utilização tanto como fruta fresca quanto como fruta industrial.

Nesse último caso, é particularmente indicado para a elaboração de compotas pois apresenta elevado rendimento de segmentos partenocárpicos.


Download text