Influência da cobertura morta na umidade, incidência de plantas daninhas e de
broca-do-rizoma (Cosmopolites sordidus) em um pomar de bananeiras (Musa spp.)
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
Influência da cobertura morta na umidade, incidência de plantas daninhas e de
broca-do-rizoma (Cosmopolites sordidus) em um pomar de bananeiras (Musa spp.)1
Effect of mulching on humidity, weeds and Cosmopolites sordiduson bananas (Musa
spp.) orchard
Camilo Augusto Pinto de OliveiraI; Caetano Marciano de SouzaII
IEng. Agr., Estudante de Pós-Graduação da Universidade Federal de Viçosa. R.
Clodoaldo costa, 16, Cx 101, Cruz das Almas-BA, CEP 44380-000. Tel. (75) 621-
2468/1768. e-mail camiloaugusto@hotmail.com
IIEng. Agr., D.S., Professor do Dep. de Fitotecnia da Universidade Federal de
Viçosa, CEP 36571-000, Viçosa-MG
O Brasil possui a maior área plantada do mundo com banana (518 mil hectares),
entretanto, ocupa apenas a segunda colocação no ranking mundial dos maiores
produtores, com uma produção de 5,6 milhões de toneladas ao ano (FAO, 2000). Um
dos motivos para a ocorrência de tal fato é o avançado estágio de degradação
dos solos, sendo necessária a adoção de práticas conservacionistas para
minimizar seu desgaste e manter sua produtividade.
Segundo Jalota & Prihar (2000), a prática da cobertura morta consiste em
cobrir o solo com capim, palha, casca, papel, plástico e outros. É recomendada
para praticamente todos os solos, todos os climas e todas as culturas perenes,
sendo inúmeros os benefícios por ela trazidos (Borges et al., 1995). Dentre
eles pode-se citar a proteção do solo contra o impacto das gotas de chuva, que
obstruem os poros implicando em perda de aeração, aumento de adensamento e
escorrimento superficial ' carreando as partículas do solo ', resultando em
redução de sua fertilidade (Bertoni & Lombardi Neto, 1990).
A utilização da bananeira para formação da cobertura morta representa uma fonte
substancial de matéria orgânica, através dos resíduos constituídos por toda a
planta após a colheita do cacho, pelas folhas secas provenientes das desfolhas
e pelo rizoma e raízes que se decompõem no solo (Borges & Souza, 1998b),
estimulando a proliferação de microrganismos, melhorando a aeração e a
estrutura do mesmo (Borges et al., 1997). Contudo, devido à sua decomposição
acelerada, este volume de resíduos é insuficiente para a formação de uma
cobertura contínua e efetiva (International..., 1990). Uma solução testada na
Embrapa Mandioca e Fruticultura consiste na implantação de um pequeno bananal,
contíguo à área de produção definitiva, para suprir os resíduos vegetais
necessários. Para tal, deve-se adensar ao máximo o plantio e usar variedades
regionais de crescimento rápido, de elevada produção de massa verde e
resistentes às principais pragas e doenças (Alves, 1997).
Segundo Borges & Souza (1998a), a bananeira é uma planta que restitui ao
solo grande parte dos nutrientes extraídos pela cultura por meio de sua massa
vegetativa, uma vez que 66% dessa biomassa retornam ao solo na forma de
pseudocaules e folhas. Resultados obtidos por Borges (1991), em amostras de
solo coletadas 18 meses após a instalação do ensaio, mostraram que o uso da
cobertura morta melhorou a fertilidade do mesmo, especialmente os teores de
potássio e cálcio, soma de bases, CTC, saturação por bases e matéria orgânica,
com aumentos percentuais da ordem de 139%, 183%, 140%, 21%, 100% e 12%,
respectivamente, em relação ao manejo com capina. Além disso, foram observados
teores mais altos de nutrientes nas folhas das bananeiras sob cobertura morta,
com exceção de N, Cu, Fe e Mn, com destaque para o teor de K, maior em cerca de
94% em relação à capina.
A bananeira é uma planta muito exigente em água, que requer uma grande e
permanente disponibilidade da mesma no solo. Ao sofrer deficiência hídrica,
mesmo que pequena, a cultura não se desenvolve satisfatoriamente, afetando a
produtividade e a qualidade do fruto. Cintra (1988), estudando o balanço de
água no solo em Cruz das Almas, BA, nos meses de baixa precipitação (setembro a
dezembro), observou que a cobertura morta proporciona maior conservação da
umidade, superando em 180% à da cobertura do solo com vegetação natural e em
92% à do solo capinado manualmente.
O uso da cobertura morta apresenta o inconveniente da mesma ser um atrativo à
broca-do-rizoma (Cosmopolites sordidus). Mesquita et al., (1983) observaram que
o número de insetos capturados durante três ciclos de produção foi maior em
parcelas mantidas com cobertura morta constituída de partes da própria
bananeira, em comparação com parcelas mantidas com Canavalia ensiformis,
Crotalaria retusa, Leucena leucocephala, Glycine javanica, cobertura natural,
capina e herbicida. A broca-do-rizoma é a principal praga da bananeira, sendo
encontrada praticamente em todas as regiões onde é cultivada, provocando perdas
que podem chegar a 80%. Além dos danos diretos, o ataque da broca facilita a
penetração de outros insetos, de nematóides e de agentes patogênicos (Alves,
1997).
O objetivo do trabalho foi avaliar a influência da cobertura morta no
percentual de água, plantas daninhas e broca-do-rizoma na cultura da bananeira,
comparando uma área conduzida com cobertura morta, com uma conduzida sem
cobertura morta.
O experimento foi conduzido no município de Visconde do Rio Branco, MG, a 349 m
de altitude, com temperatura média anual de 21,7ºC (29,1ºC de máxima e 16,3ºC
de mínima), umidade relativa do ar média de 79,5% e precipitação média anual de
1.272 mm. O solo é um Podzólico Vermelho-Amarelo Câmbico, Fase Terraço, de
topografia plana.
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com dois
tratamentos e 10 repetições (Banzatto & Kronka, 1989). Um tratamento
constituiu-se pela condução do pomar com cobertura morta (restos vegetais da
própria cultura) e o outro pela condução sem cobertura morta (por meio da
capina manual). Cada unidade experimental foi composta por 10 plantas úteis,
com espaçamento de 2 m entre plantas e 3 m entre fileiras. O total de plantas
no experimento foi 288, sendo 200 úteis e o restante (88) bordadura.
A umidade foi avaliada conforme metodologia descrita pela EMBRAPA (1997); a
coleta de dados iniciou-se quinze dias após a capina, seguindo este mesmo
intervalo de tempo para as coletas posteriores, num total de quatro, para
avaliar-se o comportamento da umidade no solo nas camadas de 0-5, 5-10, 10-20 e
20-40 cm de profundidade. A infestação de plantas daninhas foi avaliada pelo
método do quadrado, que consiste em lançar aleatoriamente um quadrado de 1m de
lado, realizando a contagem das mesmas ali contidas, com avaliações em
intervalos de 15 dias. Para a avaliação da infestação da broca-do-rizoma foram
elaboradas iscas tipo "telha" (fragmentos com 40-60 cm de
pseudocaule, seccionados ao meio longitudinalmente), colocando-se duas por
unidade experimental. Efetuou-se a contagem dos insetos 15 dias após a
colocação das iscas, conforme indicado por Salomão et al., (1998).
As Figuras_1 e 2 retratam a dinâmica da umidade no perfil do solo durante 60
dias de avaliação. Pode-se observar que em ambos os tratamentos houve
decréscimo da umidade ao longo do tempo, com exceção da avaliação aos 30 dias,
fato explicado pela ocorrência de uma precipitação de 70 mm entre o 15º e o 30º
dia de avaliação. A perda de umidade mostrou-se mais acentuada no tratamento
sem cobertura morta (Figura_2), principalmente nas camadas superficiais, ao
longo do tempo de avaliação.
Na avaliação feita aos 30 dias, observou-se que, na camada de 0-5 cm de
profundidade, o teor de umidade no tratamento com cobertura morta mostrou-se
superior. Isto se explica pelo fato de que os restos vegetais promovem uma
retenção da água na sua estrutura, liberando-a gradativamente ao solo e
deixando-o mais úmido na camada superficial ' por se encontrar em contato
direto com os mesmos. Observou-se também que com o passar do tempo a camada de
20-40 cm apresentou um teor de umidade superior às demais nos dois tratamentos;
as forças de gravidade e a falta de chuva dos 30 aos 60 dias de avaliação
parecem ser as principais causas dessas observações. Comparando-se as Figuras_3
e 4, pode-se observar uma maior uniformidade na distribuição de água ao longo
do perfil do solo manejado com cobertura morta, em contraposição ao outro
manejo, onde as camadas superiores perdem água facilmente por evaporação. A
Figura_4 evidencia a perda de água no manejo do solo desnudo, principalmente na
camada superficial, contrapondo com a Figura_3, onde pode-se observar a
manutenção da água na mesma camada.
Constatou-se também que a camada de 20-40 cm de profundidade, no tratamento sem
cobertura morta, apresentou teor de umidade mais elevado que a do outro
tratamento. A ausência de barreiras (restos vegetais) evita a retenção da água
na superfície, que se infiltra (quando não há escorrimento superficial)
acumulando-se nas camadas inferiores.
O efeito benéfico da cobertura morta sobre o controle de plantas daninhas
confirmou-se neste experimento, revelando valores discrepantes quando
comparados os dois tratamentos (Figura_5). Este resultado é conseqüência do
efeito do "mulch" sobre o solo, que impede, ou reduz, o contato
dessas plantas com os raios solares, conseqüentemente evitando a germinação das
sementes e o desenvolvimento das ervas.
Quanto à incidência da broca-do-rizoma, houve um decréscimo progressivo no
número de insetos em ambos os tratamentos, já que os insetos coletados na
contagem foram retirados da área, evidenciando a eficiência da isca. Na Figura
6 pode-se observar que no final das avaliações, a área que antes era mais
povoada apresentou menor número de insetos, revelando que a cobertura morta é
um atrativo para o mesmo; entretanto essa diferença não foi significativa,
podendo-se concluir que a cobertura morta não interferiu significativamente na
incidência de broca, no período em estudo.