Avaliação de variedades e híbridos de bananeiras sob irrigação
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
Avaliação de variedades e híbridos de bananeiras sob irrigação1
Evaluation of banana varieties and hybrids under irrigation
Sérgio Luiz Rodrigues DonatoI; Sebastião de Oliveira e SilvaII; Adriana
Rodrigues PassosIII; Francisco Pinheiro Lima NetoIV; Marcelo Bezerra LimaV
IEngenheiro Agrônomo, Professor da EAFAJT, C. P. 9, 46.430-000, Guanambi, BA
IIEngenheiro Agrônomo, Dr., Embrapa Mandioca e Fruticultura, C. P. 7, 44.380-
000, Cruz das Almas, BA, ssilva@cnpmf.embrapa.br
IIIEstudante da Escola de Agronomia da UFBA, Bolsista do PIBIC - CNPq
IVEngenheiro Agrônomo, Dr., Bolsista de Desenvolvimento Científico Regional -
CNPq
VEngenheiro Agrônomo, M. Sc., Embrapa Mandioca e Fruticultura, C. P. 7, 44.380-
000, Cruz das Almas, BA
A bananeira (Musaspp.) é uma típica planta tropical, exigindo temperaturas
entre 20 e 35ºC, elevada umidade relativa e precipitações bem distribuídas para
a produção e o desenvolvimento. Embora tais fatores climáticos limitem a área
de produção, o Brasil apresenta condições favoráveis ao cultivo da bananeira em
quase toda a sua área territorial, com algumas restrições (Alves et al., 1999).
A bananicultura possui grande importância econômica e social, sendo
desenvolvida numa extensa região tropical, geralmente por pequenos
agricultores. O Brasil é o terceiro produtor mundial de banana, com produção
aproximada de 5,92 milhões de toneladas, numa área cultivada de 528 mil
hectares, cujo rendimento é de 10,6 toneladas/ha (FAO, 2000).
Embora exista um grande número de variedades de bananeira no Brasil, quando se
consideram aspectos como preferência dos consumidores, produtividade,
tolerância às doenças, porte adequado e resistência à seca e ao frio, restam
poucas com potencial agronômico para serem usadas comercialmente. As cultivares
mais difundidas no Brasil são: Nanica, Nanicão e Grande Naine, do grupo AAA,
utilizadas principalmente na exportação, e Prata, Pacovan, Prata Anã, Maçã,
Mysore, Terra e D'Angola, do grupo AAB (Silva et al., 1999a). Todas as
cultivares mencionadas apresentam pelo menos uma característica indesejável,
como porte inadequado ou susceptibilidade a alguma doença.
Uma das estratégias para a solução do problema da falta de variedades adequadas
é a criação de novos genótipos resistentes a doenças, nematóides e pragas,
produtivos, que apresentem porte apropriado e que sejam aceitos pelo consumidor
mediante técnicas de melhoramento genético que possibilitem a obtenção de
híbridos tetraplóides superiores a partir das cultivares triplóides
tradicionais. A etapa final do melhoramento constitui-se na avaliação dos novos
genótipos em áreas de produção (Silva et al., 1998; Silva, 2000).
O objetivo deste trabalho foi avaliar variedades e híbridos de bananeira
selecionados na Embrapa Mandioca e Fruticultura, no município de Guanambi (BA),
visando identificar os genótipos com melhor produtividade, porte adequado,
frutos de qualidade e resistência a pragas e doenças, para posteriormente
incorporá-los ao sistema de produção dos agricultores.
O trabalho foi conduzido no período de 1997 a 2000, no município de Guanambi
(BA), a 14º 13' de latitude sul e 42º 46' de longitude oeste. Utilizaram-se
mudas micropropagadas fornecidas pela empresa Campo e empregou-se o espaçamento
3 m x 2 m para avaliar, em dois ciclos de produção, as variedades triplóides
Nam (AAA), Caipira (AAA), Grande Naine (AAA) e Prata Anã (AAB) e os híbridos
tetraplóides (AAAB) PA12-03, SH3640, FHIA-01 e FHIA-18 (Tabela_1). Na condução
do experimento, os tratos culturais recomendados para a cultura foram efetuados
e o sistema de irrigação, sub copa, por aspersão foi utilizado.
Os caracteres altura da planta (cm), número de folhas no florescimento, número
de folhas na colheita, número de pencas, número de frutos por cacho, peso do
cacho (kg) e ciclo foram analisados. O delineamento experimental empregado foi
o inteiramente casualizado, com 25 repetições. As médias foram comparadas pelo
teste de Scott & Knott a 5 % de significância.
O caráter altura da planta apresentou cinco agrupamentos nos dois ciclos. No
primeiro ciclo, o híbrido SH3640 apresentou o maior porte (261 cm), enquanto o
menor foi expresso pelo PA12-03 (205 cm). Os demais híbridos (FHIA-18 e FHIA-
01) apresentaram médias relativamente baixas (241 cm e 238 cm, respectivamente)
se comparadas com as médias das cultivares Prata Anã e Caipira. No segundo
ciclo, o híbrido SH3640 novamente apresentou a maior altura (338 cm), enquanto
o PA12-03 (267 cm), ao lado da variedade Nam (277 cm), integrou o penúltimo
grupo, com altura superior apenas à altura da cultivar Grande Naine. As médias
dos híbridos FHIA-18 e FHIA-01 (287 cm e 285 cm, respectivamente) foram
inferiores, tal como no primeiro ciclo, às médias das variedades Caipira e
Prata Anã. Constata-se, nos dois ciclos avaliados, que, dos quatro híbridos da
cultivar Prata Anã (SH3640, FHIA-18, FHIA-01 e PA12-03), somente o SH3640 foi
superior, no porte, à cultivar genitora (Tabela_2).
Os genótipos apresentaram uma elevação na média da altura da planta entre os
ciclos. O primeiro ciclo não é o momento apropriado para a análise do porte,
pois o referido caráter só se estabiliza nos ciclos posteriores (Soto
Ballestero, 1992).
Analisando a altura da planta no primeiro ciclo, Silva et al. (2000) não
encontraram diferenças muito acentuadas entre os genótipos Caipira, FHIA-01,
FHIA-18, Grande Naine, Nam, Pioneira e Prata Anã, que apresentaram valores do
referido caráter em torno de 200 cm, ao passo que, no segundo ciclo, a
variedade Caipira apresentou a maior altura (310 cm), enquanto os demais
genótipos apresentaram valores do caráter inferiores a 300 cm.
A altura da planta reflete o potencial vegetativo da cultura. No entanto, em um
cultivo comercial, é indesejável que a bananeira expresse valores muito
elevados do referido caráter, o que dificulta a prática da colheita (Ledo et
al., 1997) e provoca o tombamento da planta em decorrência de ventos fortes e
de ataques de nematóides. No melhoramento genético da cultura, deve-se
priorizar a seleção de genótipos de porte não muito elevado, desde que
apresentem um bom potencial de produção e outras características agronômicas
favoráveis.
O número de folhas no florescimento apresentou quatro agrupamentos tanto no
primeiro como no segundo ciclo. Analogamente, o número de folhas na colheita
também apresentou, no primeiro ciclo, quatro agrupamentos, contudo somente três
grupos se constituíram no segundo ciclo. A variedade Prata Anã destacou-se nos
dois ciclos quanto ao número de folhas no florescimento, superando seus quatro
híbridos (SH3640, PA12-03, FHIA-01 e FHIA-18), fato que provavelmente ocorreu
devido à baixa incidência de Sigatoka-amarela, uma vez que a cultivar, dentre
os materiais avaliados, é o genótipo mais susceptível à doença (Cordeiro et
al., 1999). Em relação ao número de folhas na colheita, o híbrido SH3640
apresentou o melhor desempenho entre todos os genótipos, no primeiro ciclo,
enquanto, no segundo ciclo, a cultivar Prata Anã, sua genitora, mostrou o
melhor rendimento (Tabela_2).
O número de folhas no florescimento e o número de folhas na colheita
praticamente não apresentaram modificações entre os ciclos, à exceção apenas da
cultivar Prata Anã, cujo número de folhas na colheita apresentou um acréscimo,
na média, passando de 10,2 para 13,2.
As médias do número de folhas no florescimento e do número de folhas na
colheita superaram, no geral, as médias apresentadas, nos mesmos genótipos, por
Silva et al. (2000), em dois ciclos, excetuando o híbrido SH3640, que não foi
avaliado no trabalho citado.
O número de folhas no florescimento e o número de folhas na colheita são
importantes pois refletem o potencial produtivo da variedade, que depende da
taxa de fotossíntese, e a tolerância a doenças, como a Sigatoka-amarela (Alves,
1990).
O número de pencas apresentou quatro agrupamentos nos dois ciclos, enquanto o
número de frutos apresentou quatro grupos no primeiro ciclo e cinco grupos no
segundo. A variedade Grande Naine produziu o maior número de pencas nos dois
ciclos (respectivamente 9,4 e 11,1). Em relação ao número de frutos, o melhor
rendimento no primeiro ciclo foi apresentado pela referida cultivar (162) e
pela variedade Caipira (158), a qual, no segundo, se constituiu o genótipo de
melhor desempenho no caráter (214). Tanto no número de pencas como no número de
frutos dos quatro híbridos da cultivar Prata Anã, três (SH3640, FHIA-18 e FHIA-
01) superaram significativamente a genitora no primeiro ciclo, ao passo que, no
segundo, somente o SH3640 apresentou um rendimento significativamente melhor
(Tabela_2).
Em todos os genótipos, as médias do número de pencas cresceram do primeiro para
o segundo ciclo. Entretanto, nos híbridos FHIA-01 e FHIA-18, apesar do aumento
observado, a variação entre os ciclos foi menor do que a variação apresentada
pelos demais genótipos. Em relação ao número de frutos, somente a média do
híbrido FHIA-18 diminuiu do primeiro para o segundo ciclo. No entanto, o
decréscimo verificado foi insignificante, tal qual o acréscimo na média do
híbrido FHIA-01 entre os dois ciclos. Nos demais genótipos, as médias do número
de frutos apresentaram um significativo acréscimo entre os ciclos. Os
caracteres número de pencas e número de frutos não devem ser analisados de modo
conclusivo no primeiro ciclo, já que podem se elevar nos ciclos posteriores.
Entre todos os genótipos avaliados, apenas nos híbridos FHIA-01 e FHIA-18 os
referidos caracteres apresentaram estabilidade de um ciclo para o outro.
As médias do número de pencas e do número de frutos nos genótipos avaliados
foram superiores, em geral, às apresentadas por Silva et al. (2000). Nenhuma
comparação pôde ser feita, contudo, com o híbrido SH3640, que não foi avaliado
no trabalho mencionado.
O número de pencas e o número de frutos revestem-se de importância no
melhoramento genético da bananeira pois influenciam diretamente no tamanho e no
peso do cacho, principais variáveis que expressam a produtividade de um
genótipo (Silva et al., 1999b).
O peso do cacho apresentou três agrupamentos no primeiro ciclo e quatro
agrupamentos no segundo. A cultivar Grande Naine apresentou o maior peso do
cacho tanto no primeiro como no segundo ciclo (30,3 kg e 29,5 kg,
respectivamente). No primeiro ciclo, foi seguida pelos híbridos SH3640 e FHIA-
18 e pela variedade Caipira (17,5 kg, 14,7 kg e 14,6 kg, respectivamente),
enquanto que, no segundo ciclo, foi seguida pelo híbrido SH3640 (23,6 kg). Dos
quatro híbridos da variedade Prata Anã, apenas dois (SH3640 e FHIA-18) a
superaram no primeiro ciclo, ao passo que os outros dois (FHIA-01 e PA12-03)
foram equivalentes e, no segundo ciclo, apenas o SH3640 a superou, enquanto que
o FHIA-18 foi estatisticamente equivalente e os outros dois (FHIA-01 e PA12-03)
foram inferiores (Tabela_2). Contudo, os híbridos PA12-03 e FHIA-01, que
tiveram um desempenho inferior ao desempenho da cultivar genitora Prata Anã,
são mais resistentes a alguns isolados do agente causador da Sigatoka-amarela
que a referida variedade, o que lhes possibilita apresentar uma produtividade
superior em locais demasiadamente infestados pelo patógeno (Cordeiro &
Kimati, 1999; Cordeiro et al., 1999). O híbrido FHIA-01 é ainda resistente à
Sigatoka-negra (Daniells, 2000). Portanto, os híbridos FHIA-01 e FHIA-18
apresentam basicamente o mesmo padrão de resistência à Sigatoka-amarela
(Cordeiro & Kimati, 1999; Cordeiro et al., 1999) e à Sigatoka-negra
(Daniells, 2000).
O híbrido SH3640, embora tenha apresentado a maior produtividade dentre os
quatro híbridos da cultivar Prata Anã e resistência à Sigatoka-negra, é
bastante susceptível à Sigatoka-amarela, o que poderia comprometer o seu
desempenho (Daniells, 2000). Os híbridos FHIA-01, FHIA-18 e SH3640 demonstraram
maior resistência ao mal-do-Panamá do que a variedade Prata Anã (Daniells,
2000), mas o híbrido PA12-03 não superou significativamente a cultivar genitora
no nível de resistência à referida doença (Cordeiro et al., 1993).
Excetuando-se a média da cultivar Grande Naine, todas as demais médias do peso
do cacho apresentaram um acréscimo do primeiro para o segundo ciclo. A média da
variedade Grande Naine sofreu um leve decréscimo, passando de 30,3 kg para 29,5
kg, o que caracteriza uma relativa estabilidade no caráter abordado,
confirmando a tendência observada por Silva et al. (2000).
Em comparação com as médias obtidas por Silva et al. (2000), apenas o híbrido
FHIA-01, no primeiro ciclo, apresentou um desempenho inferior, enquanto os
demais genótipos exibiram rendimentos superiores. No segundo ciclo, as médias
da variedade Caipira e dos híbridos FHIA-01, FHIA-18 e Pioneira observadas
pelos referidos autores superaram as médias encontradas no presente trabalho. O
híbrido SH3640, entretanto, não foi estudado por Silva et al. (2000).
O peso do cacho é o principal caráter que expressa a produtividade, todavia não
pode ser considerado isoladamente, pois outros atributos exercem influência na
preferência do mercado consumidor, especialmente o sabor do fruto. Os frutos do
híbrido FHIA-18, por exemplo, embora saborosos, diferem dos frutos típicos das
cultivares tipo Prata (Silva & Alves, 1999).
O caráter número de dias do plantio à colheita apresentou seis agrupamentos no
primeiro ciclo e cinco no segundo. O híbrido PA12-03 foi o genótipo mais
precoce, tanto no primeiro como, ao lado do híbrido FHIA-18, no segundo ciclo.
O referido genótipo destacou-se ao emitir o cacho em aproximadamente 307 dias
no primeiro ciclo e 435 dias no segundo, ao lado do híbrido FHIA-18 que também
se diferenciou significativamente dos demais genótipos, emitindo o cacho em
cerca de 450 dias. No primeiro ciclo, dos quatro híbridos avaliados da
variedade Prata Anã (PA12-03, FHIA-01, FHIA-18 e SH3640), apenas o FHIA-01 foi
inferior à genitora em relação à precocidade, enquanto que, no segundo ciclo,
dois deles (FHIA-01 e SH3640) foram mais tardios. Em relação à precocidade, os
híbridos PA12-03 e FHIA-18 apresentaram portanto uma ampla superioridade em
relação à variedade Prata Anã (Tabela_2).
Comparando-se as médias obtidas do ciclo com as apresentadas por Silva et al.
(2000), verifica-se que os genótipos avaliados foram quase sempre mais precoces
no presente trabalho. Tal conclusão não se estende ao híbrido SH3640, que não
foi avaliado pelos referidos autores.
O ciclo apresenta uma fundamental importância no melhoramento genético da
bananeira, pois é um caráter que expressa a precocidade. A redução do número de
dias necessários para a emissão do cacho representa a antecipação do retorno do
investimento aplicado (Pereira, 1997).
A variedade Grande Naine foi o genótipo que apresentou a maior produtividade.
O híbrido PA12-03, resistente à Sigatoka amarela, foi o genótipo mais precoce.
As variedades Nam (resistente às sigatokas amarela e negra e ao mal-do-Panamá)
e Grande Naine e o híbrido PA12-03 (resistente à Sigatoka-amarela) apresentaram
o menor porte.
Os híbridos SH3640, resistente ao mal-do-Panamá, e FHIA-18, resistente à
Sigatoka-negra superaram a variedade genitora Prata Anã em produtividade,
enquanto o híbrido FHIA-01 (resistente à Sigatoka-negra e mal-do-Panamá) foi
apenas equivalente.
Os híbridos avaliados possuem potencial para serem lançados como cultivares.