Caracterização e identificação das cultivares de pessegueiro Tropical e
Douradão através de marcadores RAPD
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
Caracterização e identificação das cultivares de pessegueiro Tropical e
Douradão através de marcadores RAPD1
Caracterization and identification of Tropical and Douradão peach varieties by
RAPD markers
Léo ZimbackI; Wilson BarbosaII,V; Edson Seizo MoriIII; Renato Ferraz de Arruda
VeigaIV
IEng. Agr. Dr., Pesquisador Científico (PqC), Centro Experimental de Campinas
(CEC) do Instituto Agronômico (IAC), telefone (19)32415188, Caixa Postal 28,
CEP 13001-970, Campinas, SP. E-mail: lzimback@iac.br
IIBiólogo, M. Sc., PqC, CEC, IAC, telefone (19)32415188, E-mail:
wbarbosa@iac.br_
III Eng. Florestal, Prof., Dr. da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Botucatu, telefone (14)68027161, SP,
Caixa Postal 237, CEP 18603-970, E-mail: esmori@fca.unesp.br
IV Eng. Agr. Dr., PqC, CEC, IAC, telefone (19)32415188, E-mail:
veiga@barao.iac.br
V Bolsista do CNPq
A cultura do pêssego (Prunus persica (L.) Batsch var. persica) obteve grande
impulso no Estado de São Paulo a partir da década de 60, com cultivares para
inverno ameno do Planalto, tais como: 'Talismã', 'Maravilha', 'Joia', 'Ouromel'
e 'Dourado', seguidas recentemente por outros tipos mais precoces e atraentes.
As principais seleções de pêssego e nectarina adaptados a climas mais quentes
foram obtidas no Instituto Agronômico (IAC), em seu programa de melhoramento
genético iniciado em 1947 (Barbosa et al. 1997). Nos Estados Unidos, as
cultivares de pêssego divergem geneticamente das cultivares Européias, em
função de cruzamentos e seleção realizados (Arulsekar et al., 1986). Como a
maioria dos paternais de pêssego do programa de melhoramento do Instituto
Agronômico são de origem norte-americana, pode-se dizer que os genótipos
brasileiros possuem base genética ampla. De acordo com Warburton e Bliss
(1996), três dos 12 clusters obtidos com RAPD em pêssego, concentrou cultivares
norte e latino americanas, alguns europeus e de ilhas do Pacífico, os demais
nove apresentaram materiais da China, Paquistão, Rússia e Japão, sendo os
chineses os materiais de maior diversidade genética. A cultivar brasileira
Baronesa está no cluster II, onde se encontra o material norte americano com
maior diversidade genética, se comparado com o cluster I.
O uso do RAPD tem sido utilizado com eficiência para identificação de
cultivares de macieiras (Malus domestica Borkh.) (Koller et al., 1993), amoras
vermelhas (Rubus idaeus L.) (Graham et al., 1994), ameixeiras (Prunus spp)
(Ortiz et al., 1997) e roseiras (Rosa' hibrida) (Torres et al., 1993), sendo
também um método rápido em relação ao RFLP e com maior número de marcadores em
relação às isoenzimas. Pode ser muito útil na identificação de porta-enxertos,
que são difíceis de identificar morfologicamente após a enxertia (Lu et al.,
1996).
Este trabalho teve por objetivo a caracterização molecular através de RAPD e
determinar a distância genética e o perfil dos marcadores de 'Tropical' e
'Douradão', juntamente com seus parentais e cultivares testemunhas, utilizadas
como material para determinar distâncias genéticas.
Para extração de DNA, coletaram-se no Banco Ativo de Germoplasma de frutas de
caroço do IAC, mantido no Núcleo de Agronomia de Capão Bonito, folhas jovens
dos pessegueiros Douradão, Tropical, Dourado-1, Tutu, Aurora-1, Talismã e
Flordaprince e da nectarineira Rubro-sol. Foram utilizadas 100 mg de folhas
frescas maceradas em 350 ml de tampão de extração DNAzol da GIBCO, adicionando-
se 300 ml de clorofórmio, centrifugando-se após cinco minutos e precipitando-se
o sobrenadante com etanol por cinco minutos. Após a centrifugação, o
"pellet" foi tratado com RNAse a 10mg/ml por 60 minutos para eliminar
o RNA dos ácidos nucléicos e novamente centrifugado. O DNA do sobrenadante foi
precipitado com 60 ml de NaCl de concentração 5M e 600 ml de etanol 95% e, após
30 minutos, centrifugado e o "pellet" dissolvido em 100 ml de 0.1 TE.
Na amplificação utilizou-se 8 ng de DNA e 23 ml do coquetel de amplificação com
uma unidade de Taq DNA polimerase, denaturando o DNA a 94º C por dois minutos,
seguido de 35 ciclos de 94ºC por 1 minuto, 35º C por 1 minuto, 72ºC por 1
minuto e 30 segundos, incubando a seguir com 72º C por 6 minutos. O produto
amplificado foi colocado em gel de agarose a 1,5 %, submetido a eletroforese a
80 V por 3 horas, sendo revelado com brometo de etídio 0,25 % por uma hora e
fotografado sob luz UV com filme Polaroid e filtro laranja. Foram testados 48
primers e selecionados os 7 altamente polimórficos para o estudo, com 31 bandas
polimórficas.
Os resultados foram analisados pelo programa NTSYS versão 1.70 (Rohlf e Slice,
1992), utilizando as distâncias genéticas de Jaccard e aplicando o dendrograma
de similaridade genética pelo método do UPGMA.
Na Tabela_1 estão os marcadores RAPD utilizados para caracterizar as cultivares
pesquisadas. No pêssego 'Tropical' houve confirmação da maioria das marcas das
suas avós 'Tutu' e 'Rubro-sol', mas algumas delas podem ter sido adquiridas
durante a polinização aberta da seleção IAC 371-2, seu parental feminino
(Figura_1), ou numa recombinação genética naquela geração. O mesmo se observou
em 'Douradão' com relação a 'Dourado-1' em freqüência mais alta. Os avós destas
seleções, 'Maravilha' e 'Tutu', confirmaram os marcadores em 'Dourado-1',
exceto em OPAE11-450.
Excetuando 'Talismã', que é irmã de 'Tutu', as demais: 'Flordaprince', 'Rubro-
sol' e 'Aurora-1', possuem um perfil de marcadores claramente distintos,
evidenciados na Figura_2, onde estão mais destacadas no dendrograma de
similaridade, mostrando uma maior distância das demais. O mesmo ocorreu com
'Douradão', com grande probabilidade de 'Dourado-1' ter sido polinizado por um
material geneticamente distante. Evidencia-se na Figura_2 a similaridade de
'Tropical', 'Maravilha', 'Dourado-1', 'Tutu' e 'Talismã', cuja análise de
genealogia confirma alto grau de parentesco, citado por Lu et al. (1996), que
também encontraram relação entre marcadores RAPD e genealogia de 18 cultivares
de pêssego porta enxerto, sendo que, os desvios observados no presente
trabalho, se devem às polinizações abertas, tal como detectado por Warburton e
Bliss (1996). A cultivar Aurora-1, também tem parentesco com 'Tutu' e a seleção
Fla 28-48, que faz parte da genealogia do 'Douradão', é o cultivar com as
maiores distâncias do grupo, talvez em função de polinizações abertas com
material geneticamente distanciado.
As menores distâncias observadas (Tabela_2) foram entre 'Maravilha' e
'Tropical' (0,26), 'Maravilha' e 'Dourado-1' (0,27), e também entre 'Tutu' e
'Talismã', que são irmãos (0,29). Curiosamente, 'Tropical' não tem descendência
de 'Maravilha', e sim de 'Rubro-sol', que por sua vez é parental de
'Maravilha'. Assim sendo, existe a possibilidade de 'Maravilha' ter participado
da polinização aberta da seleção IAC371-2, mãe de 'Tropical', uma vez que
'Rubrosol' é geneticamente um pouco distante deste clone.
A análise de agrupamento não foi possível em função de um alto estresse e baixa
correlação entre as distâncias reais e as calculadas. Neste trabalho se
confirmou as observações de Ortiz et al. (1997), pela quais encontrou-se alto
grau de polimorfismo no RAPD em 31 cultivares de ameixa e espécies
relacionadas, a ponto de três primers serem suficientes para a identificação.
As conclusões deste trabalho são as seguintes:
- Os marcadores RAPD utilizados possibilitaram a indicação do grau de
parentesco entre cultivares de pessegueiro;
- Mesmo entre as cultivares irmãs como 'Tutu' e 'Talismã' houve certa distância
genética (0,29), mostrando que o método do RAPD pode ser usado para germoplasma
aparentado;
- Os pêssegos 'Tropical' e 'Douradão' foram bem caracterizados em relação aos
parentais e demais cultivares, o que permite utilizar a técnica para o registro
das novas cultivares.
REFERÂNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Horticultural Science, Alexandria, USA, v. 121, n. 6, p. 1012-1019, 1996.
1 (Trabalho 098/2002). Pesquisa integrante do subprojeto IAC: Conservação,
caracterização e comportamento regional do germoplasma de frutíferas de clima
temperado e subtropical.