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BrBRCVAg0100-29452003000300010

BrBRCVAg0100-29452003000300010

National varietyBr
Country of publicationBR
SchoolLife Sciences
Great areaAgricultural Sciences
ISSN0100-2945
Year2003
Issue0003
Article number00010

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Conservação de goiabas tratadas com emulsões de cera de carnaúba

INTRODUÇÃO A goiaba (Psidium guajava L.) é um fruto muito perecível, com curto período de conservação em temperatura ambiente, o que obriga a uma comercialização rápida para evitar perdas. Os principais aspectos de deterioração são o rápido amolecimento, a perda de coloração verde e do brilho e a incidência de podridões (Jacomino, 1999).

Vários métodos podem ser empregados para ampliar a vida de prateleira das frutas em geral. Estes métodos incluem o uso de atmosfera modificada, que pode ser pelo acondicionamento das frutas em filmes plástico ou pelo recobrimento com ceras especiais. Estes tratamentos modificam o ar circundante e interno da fruta, reduzindo os níveis de O2 e aumentando os níveis de CO2.

Conseqüentemente, reduzem o metabolismo do vegetal, retardando a senescência (Chitarra & Chitarra, 1990; Gorris & Peppelenbos, 1992). Em goiabas têm sido utilizadas embalagens plásticas individuais associadas ao vácuo parcial, especialmente nos frutos destinados à exportação. Porém, uma série de problemas relativos à alteração de sabor e custos da embalagem e da operação.

As ceras não são usadas comercialmente, mas podem se constituir numa alternativa viável.

A cera à base de carnaúba vem sendo testada em frutas e hortaliças. Obtida a partir de uma palmeira brasileira, tem sido comercializada sob inúmeras marcas, em diferentes concentrações e misturas. Pode ser aplicada em produtos dos quais também se consome a casca, devido ao fato de não ser tóxica. Confere brilho e reduz a perda de matéria fresca dos produtos, além de ser facilmente removível com água, se necessário (Hagenmaier & Baker, 1994).

Singh & Chauhan (1982), aplicando ceras de carnaúba em goiabas Sardar, verificaram eficiência na redução da perda de massa dos frutos. Brown & Wills (1983), além de encontrarem redução na perda de massa, também determinaram um aumento no brilho da casca e nenhuma alteração na coloração da casca, na taxa de respiração e na produção de etileno. Singh et al. (1984) verificaram que o uso de ceras de carnaúba em goiabas Allahabad Safeda aumentou em 3 dias a vida útil das mesmas, com manutenção da firmeza. Pivetta et al.

(1992) e Tavares (1993) obtiveram aumento na conservação de goiabas Rica e Paluma, pela aplicação de cera Sta Fresh, também à base de carnaúba. McGuire & Hallman (1995) verificaram significativa redução na perda da firmeza em goiabas tratadas com cera à base de carnaúba e McGuire (1997) observou retardo de dois dias no amadurecimento de goiabas pelo tratamento térmico associado à cera de carnaúba.

A película de cera aplicada na superfície do produto vegetal apresenta diferentes taxas de permeabilidade ao O2, CO2 e ao vapor d'água em função das propriedades da matéria prima, de sua concentração e da espessura da película.

A combinação adequada destes fatores é variável para cada fruta, conforme suas características fisiológicas (Amarante et al., 2001).

Considerando o curto período de conservação pós-colheita de goiabas em condição ambiente, objetivou-se no presente trabalho avaliar o efeito de ceras à base de carnaúba na conservação de goiabas Pedro Sato visando o aumento de sua vida útil após a colheita.

MATERIAL E MÉTODOS Goiabas Pedro Sato cultivadas em pomar comercial no município de Vista Alegre do Alto SP, situado a 48o21' (W) e 21o10' (S), foram colhidas no início da manhã, selecionadas e imediatamente transportadas ao Laboratório de Pós- Colheita do Departamento de Produção Vegetal da USP/ESALQ, em Piracicaba SP.

Foram utilizadas frutas sem defeitos, no estádio de maturidade fisiológica e com massa de 168 ± 15g.

As goiabas foram padronizadas por parcelas e submetidas à imersão em solução de hipoclorito de sódio (150ppm), colocadas para secar em ambiente ventilado e submetidas à aplicação de emulsões comerciais de cera de carnaúba nas seguintes concentrações: Citrosol AK = 18%; Citrosol M = 10%; Fruit wax = 18 a 21%; Meghwax ECF100 = 30% e Cleantex wax = 18,5 a 20,5%. Frutas sem aplicação de cera foram utilizadas como controle.

A aplicação das emulsões de cera foi manual, de forma a cobrir toda a superfície das frutas com uma fina camada. Com o auxílio de uma pipeta graduada de 1mL foi colocado 0,15 a 0,20mL de cera em cada fruta e com a mão espalhou-se a cera uniformemente sobre a fruta. Esta quantidade aplicada corresponde a aproximadamente um litro de cera por tonelada de fruta. Posteriormente as frutas foram armazenadas sobre bancadas, em condição ambiente (25 ± 2ºC e 75 ± 5% UR).

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com 6 tratamentos e 4 repetições de 5 frutas por parcela, com 4 épocas de avaliação.

As frutas foram caracterizadas imediatamente após a colheita e avaliadas após 2, 4 e 6 dias de conservação.

As variáveis analisadas foram: a) Perda de massa: determinada pela diferença entre a massa inicial e a massa final com balança digital e expressa em porcentagem da massa inicial; b) Teor de sólidos solúveis totais (SST): utilizando-se uma amostra centrifugada da polpa da fruta e determinado através de leitura direta em refratômetro digital, expressando-se os resultados em ºBrix; c) Teor de ácido ascórbico: determinado por titulação com 2,6 diclorofenilindofenol (DCFI), de acordo com a metodologia de Carvalho et al.

(1990); d) Coloração da casca e da polpa: determinada com colorímetro Minolta CR-300 e expressa em L* (Luminosidade), C* (Chroma), (Ângulo de cor).

Realizaram-se duas leituras por fruta, em lados opostos da região equatorial para a cor da casca e uma leitura na região central da fruta (placenta), cortada em duas metades para a cor da polpa; e) Firmeza da polpa: determinada com penetrômetro manual com ponteira de 8mm de diâmetro, tomando-se duas leituras por fruta, em lados opostos da região equatorial; f) Acidez total titulável (ATT): determinada por titulometria, de acordo com a metodologia descrita por Carvalho et al. (1990); g) Análise sensorial: as goiabas foram cortadas em fatias e oferecidas a 4 provadores treinados que atribuíram notas para sabor e odor estranhos com base em uma escala de 5 pontos, onde: 1=ausente, 2=leve, 3=moderado, 4=intenso e 5=muito intenso; h) Incidência de podridão: determinada pela contagem do número de frutos com pelo menos uma lesão de diâmetro maior ou igual a 3mm, sendo os resultados expressos em porcentagem de frutos com podridão.

Os dados coletados foram submetidos à análise de variância (teste F) e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO De maneira geral, houve decréscimo da firmeza ao longo do armazenamento (Tabela 1). As frutas foram colhidas com firmeza da polpa de 47,74N e após 6 dias de armazenamento os valores encontravam-se entre 11,21 e 22,13N, dependendo do tratamento. Apenas no 6o dia houve influência da cera, sendo que as frutas tratadas com a cera Meghwax ECF100 estavam mais firmes que aquelas tratadas com as demais ceras ou não tratadas. Verificou-se também, que as frutas tratadas com a cera Meghwax ECF100 perderam cerca de 53% da sua firmeza inicial, enquanto aquelas tratadas com Fruit wax perderam cerca de 64% e nos demais tratamentos a perda da firmeza variou de 70 a 75%.

O ângulo de cor () é uma medida utilizada para expressar a variação da coloração em produtos vegetais (McGuire, 1992). O assume valor zero para a cor vermelha e 90º para a cor amarela. Na Tabela_2 observa-se que a cor da casca evoluiu de verde-claro para verde-amarelado, ou seja, o era de 117,38º no momento da colheita e diminuiu para valores entre 105,54º e 110,24º, após 6 dias. De maneira geral, as ceras com maior concentração de soluto (Meghwax ECF- 100, Citrossol AK, Fruitwax e Cleantex wax) proporcionaram leve retenção da cor verde da casca em relação às frutas não tratadas ou tratadas com Citrossol M, que possui apenas 10 % de cera de carnaúba. Porém, a cera Meghwax foi a única que diferiu significativamente do controle no dia de armazenamento, retardando em 2 dias, aproximadamente, a evolução da cor da casca. Esses resultados são semelhantes aos obtidos por Nascimento et al. (1991a, b), Pivetta et al. (1992) e McGuire (1997).

As mudanças na coloração da casca durante o amadurecimento são devido tanto a processos degradativos quanto a processos sintéticos que ocorrem ao mesmo tempo (Chitarra & Chitarra, 1990). Durante a conservação das goiabas não foi observado anormalidade no desenvolvimento da coloração.

Quanto à cor da polpa, observou-se que esta mudou de rosa para vermelho com o decorrer do armazenamento (Tabela_3). A cromaticidade indica a saturação ou intensidade da cor. Observou-se que a saturação da cor vermelha aumentou com o armazenamento, passando de rosa (32,62), no início do experimento, para vermelho intenso (43,73), no dia de armazenamento. As frutas tratadas com Meghwax ECF100 não desenvolveram a coloração característica desta variedade, diferindo dos demais tratamentos no dia de armazenamento. Esta cera, por apresentar elevada concentração de soluto (30%), por ter causado elevação do teor de CO2 e redução do teor de O2 muito intensas no interior da fruta, resultou em efeitos indesejáveis, conforme preconizado por McGuire (1997), Baldwin et al. (1999) e Amarante et al. (2001).

A aplicação de ceras reduziu a perda de massa ao longo do armazenamento (Tabela 4). As frutas não tratadas apresentaram a maior perda de massa (8,41%) após 6 dias, diferindo estatisticamente dos demais tratamentos, enquanto que as tratadas com Cleantex wax e Citrosol M mostraram as menores perdas. Em todos os tratamentos as perdas foram inferiores ao limite de 15% para goiabas em condições de consumo, segundo relatado por Manica et al. (2000). McGuire (1997) observou perdas de 9,2 e 13,3% quando tratou goiabas Ruby com ceras e armazenou por sete dias a 12ºC.

Os valores da acidez total titulável (ATT) apresentaram variações durante o armazenamento, reduzindo-se de 0,62% de ácido cítrico no momento da colheita para valores entre 0,54 e 0,55% ao final do dia de conservação (Tabela_5).

Estes resultados são semelhantes aos observados por Mercado-Silva et al. (1998) que também verificaram diminuição no teor de acidez durante armazenamento de goiabas a 25ºC.

Houve redução no conteúdo de ácido ascórbico com o tempo de armazenamento (Tabela_6), de 64,32 mg.100g-1 de polpa, para valores entre 47,98 e 52,77 mg.100g-1 de polpa ao final de 6 dias de armazenamento. Yamashita & Benassi (2000), trabalhando com goiabas Pedro Sato, observaram valores médios de ácido ascórbico maiores que os encontrados neste experimento em torno de 135,58 mg.100g-1 de polpa. Segundo Pereira (1996) e Mattheis & Fellman (1999), vários fatores podem influenciar o teor de vitamina C para uma mesma variedade, tais como a época da colheita, o estádio de maturação e as condições climáticas durante o desenvolvimento das frutas.

O teor SST apresentou pequeno aumento após a colheita, passando de 8,56ºBrix no momento da colheita para valores entre 9,00 e 10,31ºBrix ao final do experimento (Tabela_7). Estes resultados são diferentes dos observados por Yamashita & Benassi (2000), que verificaram redução no teor de SST após a colheita de goiabas Pedro Sato. É possível que a degradação de polissacarídeos tenha contribuído para o aumento no teor de SST durante o armazenamento, pela liberação de hexoses (Awad, 1993), superando o consumo de açúcares na respiração. Além disso, a perda de massa, que foi de 6,6%, em média, pode ter contribuído para concentrar os açúcares (Chitarra & Chitarra, 1990; Tucker, 1993).

A porcentagem de frutas com podridões no dia de armazenamento apresentou variação de 5 a 30% (Figura_1). As frutas do Controle apresentaram a maior percentagem de podridões (30%), enquanto que as tratadas com Meghwax ECF100 apresentaram a menor incidência (5%). Nos demais tratamentos, a porcentagem de frutas com podridões variou de 10 a 20%. Este fato, provavelmente, foi devido à atmosfera modificada promovida pela cera, que retardou o amadurecimento e a senescência das frutas, reduzindo a susceptibilidade dos tecidos à infecção por patógenos (Petracek et al., 1998; Durigan, 1999; Benato, 1999; Lana & Finger, 2000).

De maneira geral, a cera Meghwax ECF100 foi a que mais contribuiu para retardar o amadurecimento das goiabas. As frutas tratadas com este produto mantiveram a coloração verde por mais tempo em relação às não tratadas. Esta cera proporcionou brilho e menor incidência de podridão. Por outro lado, estas goiabas apresentaram menor evolução da cor da polpa, além de discretos sabor e odor alcoólicos, possivelmente devido ao início do processo fermentativo (Figura_2). Essas alterações podem ser atribuídas à alta concentração de cera de carnaúba (30%) contida no produto, uma vez que, a concentração de soluto é um dos fatores que interfere na taxa de permeabilidade da emulsão. Isso, provavelmente, ocasionou um aumento na concentração de CO2 e diminuição do nível de O2 no interior da fruta para níveis indesejáveis (Salunke & Desai, 1984; McGuire, 1997; Baldwin et al., 1999).

CONCLUSÕES 1) A utilização de ceras à base de carnaúba é uma alternativa para ampliar o tempo de conservação de goiabas Pedro Sato em condição ambiente.

2) A aplicação de ceras de carnaúba em goiabas Pedro Sato retarda o amadurecimento, reduz a incidência de podridões e a perda de massa, além de conferir maior brilho às mesmas.

3) A cera Meghwax ECF100 apresenta potencial para utilização em goiabas, porém necessidade de ser avaliada em maior diluição.

AGRADECIMENTO À empresa VAL FRUTAS pela doação das goiabas utilizadas no experimento.


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