Efeito da atmosfera modificada e da refrigeração na conservação pós-colheita de
manga espada vermelha
COLHEITA E PÓS-COLHEITA
Efeito da atmosfera modificada e da refrigeração na conservação pós-colheita de
manga espada vermelha1
The effect of modified atmosphere and refrigeration on post-harvest of mango
red espada
Luciana Bittencourt PfaffenbachI; Josalba Vidigal de CastroII; Cássia Regina
Limonta CarvalhoIII; Carlos Jorge RossettoIV
IEng. Agr., Ms., Instituto Agronômico (IAC/APTA). CP 28, 13001-970 Campinas/
SP. Fone 0XX19 3241-5188 R.339 - luciana.luciana@uol.com.br_
IIPqC VI, Dra., Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Ecofisiologia e
Biofísica, IAC/APTA - Campinas/SP. Fone 0XX19 3241-5188 R.339 -
josalba@iac.sp.gov.br_
IIIPqC IV, Ms., Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Recursos Genéticos
Vegetais, IAC/APTA - Campinas/SP. Fone 0XX19 3241-5188 R.310
climonta@iac.sp.gov.br_
IVPqC VI, Dr., Polo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do
Noroeste Paulista, APTA, CP 61, 15500-000 Votuporanga/SP. Fone 0XX17 3406-
9555 polonoroestepaulista@apta.sp.gov.br
INTRODUÇÃO
A produção de manga no Brasil apresenta grande potencial de crescimento para
exportação e mercado interno, sendo que no ano de 2000 a produção brasileira
foi de 969 mil toneladas (Agrianual 2002) e as exportações em 2002 atingiram
US$ 50 milhões e 103 mil toneladas (Instituto Brasileiro de Frutas, 2003),
conferindo à fruta o primeiro lugar entre as exportadas em valor e o segundo em
peso. A variedade IAC 103 Espada Vermelha pode ser usada para a produção
precoce de frutos, é produtiva, apresenta moderado teor de fibra e bom sabor
(Rossetto et al., 2000). A vida pós-colheita da manga é limitada pela
deterioração fisiológica causada pelo excessivo amadurecimento da fruta e pelo
desenvolvimento de patógenos que ocasionam podridões. Além disso, a perda de
água pelos frutos pode atingir níveis que causam enrugamento e murchamento das
mangas e que comprometem o aspecto visual e reduzem seu valor comercial.
Segundo Jerônimo & Kanesiro (2000), o emprego da refrigeração prolonga o
período de conservação dos frutos e o uso de atmosfera modificada durante o
armazenamento pode reduzir os danos ocasionados pela respiração e pela
transpiração, como perda de massa e mudança na aparência. A temperatura de
refrigeração recomendada para mangas é de 12°C (Alves et al., 1998). Atmosfera
modificada pode ser resumida como presença de uma barreira artificial - como
embalagem de filme plástico - à difusão de gases em torno do produto, que
resulta em redução do nível de O2, aumento do nível de CO2, alteração na
concentração de etileno e vapor d'água e alterações em outros compostos
voláteis (Lana & Finger, 2000). No acondicionamento de frutas devem ser
aplicadas embalagens ativas, principalmente com absorvedores de etileno, que é
um produto indesejável do próprio metabolismo da fruta, pois funciona como
acelerador da maturação (Sarantópoulos et al., 1996). Assim, o objetivo deste
trabalho foi avaliar as características de qualidade e conservação de mangas em
refrigeração e emprego de diferentes embalagens, visando permitir uma melhor
conservação pós-colheita da manga in natura, facilitando sua comercialização
nos mercados interno e externo.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado em novembro de 2001 no laboratório de pós-colheita
do Instituto Agronômico (IAC/APTA), em Campinas/SP, com mangas da variedade
precoce IAC 103 Espada Vermelha, produzidas em pomar experimental no Pólo
Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Noroeste Paulista,
da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) em Votuporanga, SP. O
plantio das mudas foi realizado em agosto de 1995, usando como porta-enxerto a
variedade Manila. O espaçamento utilizado foi de 9 m entre linhas e 8 m entre
plantas nas linhas e os tratos culturais seguiram as técnicas normalmente
recomendadas para a cultura na região. Os frutos de 3 plantas foram colhidos
manualmente, com a coloração da casca em quantidades iguais de verde e vermelho
e selecionados uniformemente quanto à massa, estádio de maturação, ausência de
defeitos e de doenças. As mangas estavam firmes e internamente com coloração
amarelo claro. O transporte foi feito no mesmo dia para Campinas/SP, em 4
caixas plásticas de colheita, contendo aproximadamente 60 frutos, cobertas com
sombrite, na carroceria de uma caminhonete. No dia seguinte, no laboratório, os
frutos foram pesados, embalados, acondicionados e refrigerados. As embalagens
utilizadas foram: filme de permeabilidade seletiva aditivado com absorvedor de
etileno Conservax, da marca PROBAG; PVC com espessura de 6µm; polietileno de
baixa densidade (PEBD) com espessura de 25µm de parede simples; polietileno de
baixa densidade (PEBD) com espessura de 25µm de parede simples com sachê de
permanganato de potássio (absorvedor de etileno) - 4,7g de sachê/kg de fruto e
controle (sem filme plástico). Depois de embaladas, em grupos de 4 frutos, as
mangas foram acondicionadas em caixa de papelão tipo exportação. As mangas
foram mantidas em câmara fria à temperatura de 12°C e 90% de UR. Um grupo de 4
frutos por tratamento era transferido semanalmente para a temperatura ambiente
(24°C, 75-80% UR), quando eram retiradas as embalagens e os frutos assim
permaneciam até o amadurecimento (4 dias), visando simular o período de
comercialização. As mangas foram avaliadas após a colheita, na retirada da
câmara de refrigeração (após 7, 14, 21 e 28 dias) e após a permanência em
temperatura ambiente por 4 dias. As características avaliadas foram: cor da
casca, atribuindo-se valores de 1 a 5, sendo 1-verde, 2-mais verde que
vermelho, 3-quantidades iguais de verde e vermelho, 4-quantidades maiores de
vermelho que verde e 5-vermelho (Medlicott et al., 1990); cor da polpa, através
de escala de notas de 1 a 5, correspondendo a 1-polpa creme claro, 2-creme, 3-
amarelo claro, 4-amarelo alaranjado e 5-alaranjado intenso (Medlicott et al.,
1990 e EMEX, 1998); firmeza, de acordo com Polderdijk et al. (2000),
significando 1-muito firme, 2-firme, 3-moderadamente mole, 4-mole e 5-muito
mole e presença de manchas deteriorativas, atribuindo-se valores de 1 a 5
(Sampaio & Barbin, 1981), sendo 1-fruto sadio, 2-fruto com pequenas manchas
(1 a 2 mm) e em pequena quantidade, 3-fruto com pequenas manchas, em maior
intensidade, ou poucas manchas maiores, 4-fruto com 1/3 ou mais da sua
superfície tomada por manchas e 5-fruto com 2/3 ou mais de sua superfície
tomado por manchas, apodrecido. Avaliou-se também a perda de massa individual
dos frutos. Na polpa determinou-se o pH, teores de sólidos solúveis (oBrix),
porcentagem de acidez e cálculo da relação oBrix/acidez, de acordo com Carvalho
et al. (1990). Foi feita análise de variância dos dados e as médias comparadas
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A maior perda de massa foi observada no tratamento controle, seguida pelo
tratamento onde os frutos foram embalados em PVC. No tratamento controle essa
perda foi aproximadamente o dobro da observada nos frutos embalados em PVC,
durante todo o período de armazenamento em refrigeração (Tabela_1). No 21° dia
de refrigeração, as perdas de massa foram 2,8% e 1,2%, para o controle e o PVC,
respectivamente. Jerônimo & Kanesiro (2000) encontraram este mesmo valor
para o tratamento com PVC e valor maior para o controle (6,5%), em mangas
Palmer armazenadas a 13°C por 20 dias. A partir do 14° dia, os tratamentos com
PEBD, o PEBD+sachê e o Conservax foram aqueles que apresentaram menor perda de
massa pelos frutos, tanto nos refrigerados como naqueles transferidos para a
temperatura ambiente.
No 28° dia os frutos retirados da refrigeração não foram mantidos em
temperatura ambiente, pois já se encontravam no ponto ótimo para consumo
(maduros).
Não houve efeito do fator embalagem na evolução da cor da casca durante o
armazenamento sob refrigeração (Tabela_2). Jerônimo (2000) também observou que
o uso de sachê ou filme plástico fabricado com permanganato de potássio não
mostrou diferenças na evolução da coloração da casca de mangas Palmer. Houve,
na realidade, evolução da cor em relação ao tempo de armazenamento, estando as
mangas, no 7° dia, com quantidades iguais de verde e vermelho e no 28° dia, com
quantidades maiores de vermelho que verde. Na permanência dos frutos em
temperatura ambiente, o Conservax foi a embalagem mais efetiva para o menor
desenvolvimento da coloração vermelha da casca dos frutos (Tabela_2), porém os
frutos não amadureceram normalmente e a casca ficou com coloração escurecida.
Em refrigeração não houve efeito de embalagem para cor da polpa, conforme se
constata na Tabela_2. Verificou-se diferença estatística em relação ao tempo de
armazenamento, sendo que os frutos atingiram coloração entre amarelo claro e
amarelo alaranjado no 7° dia e amarelo alaranjado no 28° dia. Quando
transferidos e mantidos em condições ambiente, os frutos do controle e do
tratamento com PVC desenvolveram mais rapidamente a cor da polpa (alaranjado
intenso) que os do PEBD+sachê (amarelo alaranjado) e principalmente quando
comparados aos frutos embalados com o Conservax (Tabela_2).
Na Tabela_3 constata-se que em refrigeração, houve tendência de aumento na
presença de manchas deteriorativas nos frutos de todos os tratamentos em
relação ao tempo de armazenamento. Entretanto, as diferenças estatísticas só
foram observadas a partir dos 21 dias, onde o controle se destacou por ter
desenvolvido maior quantidade de lesões que os outros tratamentos,
principalmente em relação ao PEBD+sachê e o Conservax, aos 28 dias (Tabela_3).
Após a permanência em temperatura ambiente, apenas os frutos armazenados por
até 14 dias em refrigeração, apresentaram-se em condições de comercialização e
consumo, exceto os do tratamento PVC, no qual as mangas estavam com restrições
para comércio. Após 21 dias em refrigeração, os frutos de todos os tratamentos,
exceto os embalados em Conservax, quando transferidos para temperatura
ambiente, apresentavam grande desenvolvimento de manchas deteriorativas (Tabela
3). O tratamento onde os frutos foram embalados em Conservax, embora tenha
propiciado menor desenvolvimento de manchas deteriorativas, conferiu aparência
escurecida aos frutos, interna e externamente. O escurecimento dos tecidos
ocorre pelo fato dos níveis de O2 e CO2 alcançados no interior da embalagem
terem sido tóxicos para os frutos, de acordo com Lana & Finger (2000).
Somente após 21 dias de refrigeração percebeu-se diferença estatística quanto à
firmeza, entre o controle e as outras embalagens, sendo que os frutos dos
outros tratamentos conseguiram manter melhor a firmeza do que os frutos do
controle (Tabela_3). Alves et al. (1998) observaram fato semelhante trabalhando
com mangas Tommy Atkins embaladas em PEBD, o qual propiciou melhor preservação
da firmeza quando comparado ao controle. Nesta característica, a diferença
numérica do PEBD+sachê para o controle é de 1,0 ponto aos 21 dias e 2,0 pontos
aos 28 dias (Tabela_3). Com 21 dias em refrigeração e após a permanência de 4
dias em temperatura ambiente, os frutos dos tratamentos PEBD+sachê e Conservax
estavam moderadamente moles, enquanto os dos tratamentos controle, PVC e PEBD,
apresentavam-se moles.
Não houve influência definida dos tratamentos sobre as características químicas
das mangas. Os teores de sólidos solúveis dos tratamentos não apresentaram
tendência de aumento durante o armazenamento em refrigeração ou após
transferência para temperatura ambiente. Os teores de sólidos solúveis se
situaram entre 15,4 e 16,0° Brix, valor este concordante ao alcançado em mangas
da variedade Espada, descrito no livro organizado por Donadio (1996). As mangas
apresentaram valores crescentes de pH de 4,2 na colheita a 4,9 referentes aos
períodos após 28 dias em refrigeração e após transferências e permanência dos
frutos por 4 dias em temperatura ambiente. A acidez total dos frutos decresceu
de 0,46% em média no ponto de colheita para 0,23% tanto nas mangas após 28 dias
de refrigeração como após permanência de 4 dias em temperatura ambiente. A
relação Brix/acidez, que é usada como indicador de palatabilidade de frutos,
aumentou de 37,6 na colheita para 57,6 e 67,8 no período final de avaliação,
para os frutos mantidos apenas em refrigeração e para os transferidos para
temperatura ambiente, respectivamente.
CONCLUSÕES
1) A embalagem PEBD+sachê teve influência positiva no controle do aparecimento
de manchas deteriorativas e na manutenção da qualidade das mangas refrigeradas
por 14 dias seguidos de 4 dias em temperatura ambiente ou refrigeradas por 28
dias e consumo imediato.
2) A embalagem Conservax prejudicou a maturação dos frutos, ficando estes com a
casca escurecida, o que provavelmente prejudicaria a sua comercialização.