Efeitos de reguladores vegetais na qualidade de uvas 'Niagara Rosada' na região
Noroeste do Estado de São Paulo
INTRODUÇÃO
A videira da cultivar Niagara Rosada tem se apresentado como uma alternativa
interessante para a produção de uvas na região Noroeste do Estado de São Paulo.
Pouco suscetível às doenças fúngicas, e conseqüentemente com baixo custo de
produção, a uva 'Niagara Rosada' atinge preços elevados no período de junho a
novembro, entressafra das regiões vitícolas tradicionais do Estado. Entretanto,
devido às condições edafoclimáticas, os cachos e bagas são relativamente
pequenos, o que é desfavorável à comercialização.
Castro et al. (1974) constataram que aplicações de ácido giberélico (AG3) a 100
mg.L-1, 11 dias após florescimento, aumentaram a massa dos cachos, o número e a
massa das bagas e a massa da ráquis de uvas da cultivar Niagara Rosada, na
região de Jundiaí-SP. Por outro lado, Maraschin et al. (1986) não observaram
efeitos de aplicações de AG3 nas doses entre 0 e 120 mg.L-1, nas
características físicas dos cachos da cultivar Niagara Branca. Entretanto,
doses superiores a 30 mg.L-1 reduziram o teor de sólidos solúveis totais do
mosto. Pereira et al. (1979) verificaram para a cultivar Niagara Rosada aumento
do comprimento e da largura dos cachos e da massa dos engaços mediante duas
aplicações de AG3 a 100mg.L-1, antes e após o florescimento, porém não houve
diferenças significativas para as variáveis massa e número de bagas.
O thidiazuron (N-fenil-N-1,2,3-tidiazol-5-tiuréia) (TDZ) é uma citocinina
sintética utilizada na cultura do algodoeiro para provocar desfolhamento, e em
cultura de tecidos para induzir brotação in vitro(Petri et al., 1992). Em
fruticultura, há trabalhos que comprovaram a eficiência do thidiazuron no
aumento do tamanho e pegamento dos frutos de maçãs, kiwis e caquis (Petri et
al., 1992; Schuck & Petri, 1992; Itai et al., 1995).
Nas variedades de videiras sem sementes Sovereign Coronation, Simone, Selection
495 e Selection 535, Reynolds et al. (1992) estudaram os efeitos de aplicações
de thidiazuron nas doses de 0; 4 e 8 mg.L-1, quando as bagas atingiram 5 mm de
diâmetro. Pelos resultados obtidos, verificaram que o thidiazuron aumentou
linearmente a massa dos cachos e das bagas e reduziu o teor de sólidos solúveis
totais e o pH do mosto.
Por outro lado, Byun & Kim (1995) trataram cachos de videiras da cultivar
Kyoho, com AG3 a 20 mg.L-1 e thidiazuron a 5 ou 10 mg.L-1, 5 dias após o pleno
florescimento, e verificaram que AG3, aumentou o tamanho das bagas, enquanto o
thidiazuron aumentou o número de bagas. Entretanto, o thidiazuron reduziu a
coloração das bagas e o teor de sólidos solúveis totais.
Tendo em vista as possibilidades de utilização de reguladores vegetais para a
melhoria da qualidade de uvas, este trabalho teve como objetivo estudar os
efeitos de aplicações de thidiazuron e ácido giberélico nas características dos
cachos e bagas de uvas da cultivar Niagara Rosada na região da Nova Alta
Paulista.
MATERIAL E MÉTODOS
Este experimento foi conduzido em vinhedo da cultivar Niagara Rosada localizado
no município de Junqueirópolis-SP. As videiras, em 3º ano de produção e
enxertadas sobre porta-enxerto IAC-572 'Jales', encontravam-se no espaçamento 3
x 2m, e conduzidas no sistema de pérgola.
Para os tratamentos, utilizou-se de thidiazuron (TDZ) a 5 ou 10mg.L-1 e ácido
giberélico a 35mg.L-1, combinados ou não; aplicados 1; 2 ou 3 vezes, em
intervalos semanais, a partir dos 14 dias após o pleno florescimento. Desta
forma, os tratamentos foram os seguintes:
T1 ' Testemunha
T2 ' TDZ a 5mg.L-1 ' 1 aplicação
T3 ' TDZ a 5mg.L-1 ' 2 aplicações
T4 ' TDZ a 5mg.L-1 ' 3 aplicações
T5 ' TDZ a 10mg.L-1 ' 1 aplicação
T6 ' TDZ a 10mg.L-1 ' 2 aplicações
T7 ' TDZ a 10mg.L-1 ' 3 aplicações
T8 ' TDZ a 5mg.L-1 + AG3 a 35mg.L-1 ' 1 aplicação
T9 ' TDZ a 5mg.L-1 + AG3 a 35mg.L-1 ' 2 aplicações
T10 ' TDZ a 5mg.L-1 + AG3 a 35mg.L-1 ' 3 aplicações
T11 ' TDZ a 10mg.L-1 + AG3 a 35mg.L-1 ' 1 aplicação
T12 ' TDZ a 10mg.L-1 + AG3 a 35mg.L-1 ' 2 aplicações
T13 ' TDZ a 10mg.L-1 + AG3 a 35mg.L-1 ' 3 aplicações
T14 ' AG3 a 35mg.L-1 ' 1 aplicação
T15' AG3 a 35mg.L-1 ' 2 aplicações
T16 ' AG3 a 35mg.L-1 ' 3 aplicações
Todas as práticas culturais no vinhedo, exceto a utilização de ácido
giberélico, foram idênticas ao sistema convencional da propriedade para toda a
área experimental.
Os tratamentos com reguladores vegetais foram efetuados através de única
imersão dos cachos na solução contida em recipiente plástico, adicionada de
espalhante adesivo Iharaguen-S® a 1%, formulação comercial com 20% de
polioxietileno alquilfenol éter. Para o preparo das soluções com reguladores
vegetais, foram utilizados os produtos comerciais Dropp®, com 50% de
thidiazuron, e Pro-Gibb®, com 10% de ácido giberélico.
O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com 7 repetições, e 2
cachos por parcela. Videiras semelhantes em vigor foram selecionadas para cada
bloco, numa mesma linha de plantio, e os cachos foram sorteados dentro de cada
um dos 7 blocos, para a realização dos tratamentos.
A coleta dos cachos foi realizada aos 118 dias após a poda, em 24 de julho de
2000, quando o tratamento-testemunha atingiu o ponto de colheita comercial, ou
seja, com teor de sólidos solúveis totais mínimo de 14ºBrix.
Foram determinadas as seguintes variáveis:
1. Massa dos cachos, bagas e engaços, em balança de precisão. Após a medição da
massa dos cachos, as bagas foram separadas dos pedicelos, cortando-os com
tesoura, para posterior pesagem das bagas e engaços, separadamente;
2. Comprimento e largura dos cachos e bagas (amostra de 20 bagas), com
paquímetro digital;
3. Número de bagas por cacho;
4. Número de sementes por baga (amostra de 20 bagos);
5. Relação comprimento/largura das bagas.
Para cada parcela, foram realizadas as seguintes análises do mosto de 100
bagas:
1. Teor de sólidos solúveis totais: com auxílio de refratômetro de mesa com
auto-compensação de temperatura (Carvalho et al., 1990);
2. Acidez total titulável: por titulação em uma alíquota de 5ml do mosto com
NaOH 0,1N, e expressa em g de ácido tartárico por 100ml de mosto (Carvalho et
al., 1990);
3. Potencial Hidrogeônico: com auxílio de pHmetro digital (Carvalho et al.,
1990);
4. Relação teor de sólidos solúveis totais/acidez total titulável (SST/ATT).
Os resultados foram submetidos à análise de variância e comparação de médias,
pelo teste de Duncan, ao nível de 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A maioria dos tratamentos com reguladores vegetais aumentou significativamente
a massa dos cachos (Tabela_1). O maior aumento da massa dos cachos foi
verificado para o tratamento com TDZ a 5 mg.L-1, em 2 aplicações, o qual não
diferiu significativamente dos seguintes tratamentos: TDZ 5 mg.L-1 + AG3, em 1
aplicação; TDZ 5 mg.L-1 + AG3, em 3 aplicações, e TDZ 10 mg.L-1 +AG3, em 3
aplicações. Aumento da massa dos cachos de uvas tratadas com ácido giberélico
ou thidiazuron foi também verificado por outros autores (Castro et al., 1974;
Pereira et al., 1979; Reynolds et al., 1992 e Byun & Kim, 1995).
Não houve diferenças significativas para as variáveis comprimento e largura dos
cachos, embora a maioria dos tratamentos com reguladores vegetais tenha
apresentado valores superiores ao da testemunha (Tabela_1). Medições de volume
ou circunferência dos cachos talvez poderiam demonstrar de forma mais evidente
o aumento do tamanho dos cachos.
A massa dos engaços foi aumentada para a maioria dos tratamentos com
reguladores vegetais (Tabela_1). O maior aumento para esta variável foi para o
tratamento com TDZ a 5mg.L-1, em 2 aplicações, que incrementou a massa dos
engaços em 46,6% em relação à testemunha, sem, contudo, prejudicar a aparência
dos cachos. Estes resultados são condizentes com aqueles apresentados por
Castro et al. (1974), Pereira et al. (1979) e Byun & Kim (1995).
Poucos tratamentos aumentaram significativamente a massa e a largura das bagas,
e não houve diferenças significativas para a variável comprimento das bagas
(Tabela_2). No entanto, todos os tratamentos com reguladores vegetais
apresentaram valores absolutos superiores ao da testemunha para estas
variáveis. Os tratamentos com reguladores vegetais também não influenciaram
significativamente no número de bagas por cacho (Tabela_2).
Para o aumento da massa e das dimensões das bagas, destacaram-se os tratamentos
com TDZ a 5 mg.L-1, em 2 aplicações, e com TDZ a 10mg.L-1 + AG3, em 3
aplicações. Os tratamentos com thidiazuron a 5mg.L-1, em duas aplicações, e o
tratamento com TDZ a 10 mg.L-1 + AG3, em três aplicações, apresentaram massa
média das bagas de 4,37 e 4,38g, respectivamente, representando um aumento de
cerca de 22,4% em relação à testemunha. Não se constatou influência dos
reguladores vegetais na relação comprimento/largura das bagas (Tabela_2).
Aumento do tamanho das bagas de uvas tratadas com thidiazuron foi também
constatado por Reynolds et al. (1992), em 4 cultivares de uvas sem sementes. O
maior desenvolvimento das bagas e engaços promovido por aplicações de
thidiazuron pode ser explicado pela sua ação de citocinina em tecidos vegetais,
induzindo a divisão celular, em geral, por uma interação com auxinas (Mcgraw,
1988). Além disso, segundo Davies (1988), citocininas podem também estimular o
crescimento celular e retardar a senescência de órgãos vegetais.
Aplicações isoladas de ácido giberélico foram pouco efetivas no aumento do
tamanho das bagas de uvas da cultivar Niagara Rosada, estando de acordo com os
relatos de Pereira et al. (1979) e Maraschin et al. (1986).
O teor de sólidos solúveis totais apresentou diferenças significativas entre 1
e 3 aplicações, para os tratamentos com TDZ a 5mg.L-1, e com TDZ a 10mg.L-1 +
AG3. Redução do teor de sólidos solúveis totais do mosto de uvas tratadas com
thidiazuron ou ácido giberélico foi também constatada por Maraschin et al.
(1986), Reynolds et al. (1992) e por Byun e Kim (1995).
Pelos resultados aqui apresentados, ficou evidente a possibilidade de
utilização de reguladores vegetais para incrementar o tamanho e massa dos
cachos e bagas de uvas 'Niagara Rosada' na região da Nova Alta Paulista. O
tratamento com thidiazuron a 5mg.L-1, em 2 aplicações, foi suficiente para a
obtenção de cachos e bagas com maior desenvolvimento e, portanto, com qualidade
superior para a comercialização (Figura_1). Para as condições deste
experimento, este tratamento possibilitou aumento de 31,7% da massa dos cachos
e de 22,4% da massa das bagas, sem alterar o teor de sólidos solúveis totais, a
acidez total titulável, o pH e a relação SST/ATT do mosto.
O thidiazuron ainda não está registrado para a cultura da videira no Brasil,
não podendo ser recomendado para o uso comercial. Novas pesquisas deverão ser
conduzidas, incluíndo estudos toxicológicos, objetivando a futura utilização
desta substância para a melhoria da qualidade de uvas 'Niagara Rosada', uma vez
que o ácido giberélico usado isoladamente não apresentou resultados
satisfatórios.
CONCLUSÕES
1) Aplicações de thidiazuron associado ou não ao ácido giberélico após
florescimento foram efetivas no aumento da massa e dimensões das bagas de uvas
'Niagara Rosada', sem alterar o teor de sólidos solúveis totais, a acidez total
titulável e o pH do mosto.
2) Duas aplicações de thidiazuron a 5 mg.L-1 foram efetivas no aumento do
tamanho das bagas de uvas 'Niagara Rosada', embora não tenham apresentado
aumentos significativos nas dimensões dos cachos.