Efeitos do ethephon sobre a produção da uva 'Niagara Rosada' (Vitis labrusca
L.), produzida na entressafra na região de Jales-SP
FITOTECNIA
Efeitos do ethephon sobre a produção da uva 'Niagara Rosada' (Vitis
labruscaL.), produzida na entressafra na região de Jales-SP1
Effect of ethephon on production of 'Niagara Rosada' (Vitis labruscaL.),
produced off season in the region of Jales-SP
Antonio Augusto FracaroI; Fernando Mendes PereiraII; Jair Costa NachtigalIII;
José Carlos BarbosaIV
IDoutorando em Agronomia, Departamento de Produção Vegetal, Universidade
Estadual Paulista-UNESP, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias- FCAV,
Câmpus de Jaboticabal, Rodovia de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n,
CEP14884-900, Jaboticabal-SP. Bolsista CNPq. Fone 17 3621 6884. E-mail:
fracaro@melfinet.com.br_
IIDr., Prof. Titular Aposentado, Departamento de Produção Vegetal, FCAV/UNESP,
Câmpus de Jaboticabal, Jaboticabal-SP
IIIDr., Pesquisador Embrapa Uva e Vinho, Estação Experimental de Jales-SP
IVDr., Prof. Titular, Departamento de Ciências Exatas, FCAV/UNESP, Câmpus de
Jaboticabal, Jaboticabal-SP
INTRODUÇÃO
Atualmente, a videira é cultivada em diversas regiões do mundo, sendo a Europa
responsável por 51% da produção mundial de uvas, seguida pela Ásia (21%),
América (19%) e África (5%) (Corrêa et al., 2000).
A viticultura brasileira abrange uma área de 63.816ha, sendo o Estado do Rio
Grande do Sul a maior região vitícola do país com 30.373ha de uvas, as quais
80% são de uvas americanas (Vitis labrusca L.). Nos Estados de Pernambuco e
Bahia, a uva ocupa 8.000ha. No Estado do Paraná ocupa 3.953,1ha, sendo 499ha de
'Niagara Rosada', em Santa Catarina 1.706,9ha, Minas Gerais 755,3ha, sendo 20ha
de 'Niagara Rosada'. O Estado de São Paulo utiliza 9.082ha na produção de uvas,
sendo 5.270,2ha de 'Niagara Rosada', sendo que a região Noroeste deste Estado
possui 1.212ha, dos quais 108,5ha são da mesma cultivar. (Protas et al., 2002).
A 'Niagara Rosada', que é produzida na região de Jales-SP, no período de
entressafra, durante os meses de setembro-outubro, alcança preços acima de R$
1,80kg-1.
Esta produção encontra problemas, principalmente relacionados à dificuldade de
emissão e desenvolvimento das brotações após as podas de produção realizadas
quando da ocorrência de temperaturas inferiores a 10ºC, normalmente entre maio
e julho. Tal fato provoca redução na produção e, conseqüentemente, desestímulo
dos viticultores por esta cultivar.
Na tentativa de solucionar esses problemas, podem-se utilizar reguladores de
crescimento, em especial o ethephon. Porém, o modo de ação é dependente do
local da síntese ou tecido aplicado, do tempo de síntese ou da aplicação, do
nível de ação do composto, bem como a da sua interação e a inter-relação
funcional de diferentes hormônios e reguladores de crescimento (Korban, 1998).
Lavee (1987), Lavee et al. (1984), Seyijewicz et al. (1984), Mannini (1982),
citados por Bautista et al. (1987), relataram que o ethephon é uma substância
que libera lentamente etileno.
A síntese de etileno é influenciada por fatores como temperatura, teor
carbônico, oxigênio e está correlacionada à presença de outros hormônios e
reguladores vegetais (Schiaparelli et al., 1995).
A biossíntese inicia com o aminioácido metionina, que reage com ATP para formar
um composto conhecido por S-adenosilmetionina (SAM), sendo quebrado em dois
compostos diferentes, um dos quais é o chamado ACC (ácido 1-aminociclopropano-
1-carboxílico), onde enzimas no tonoplasto convertem o ACC em etileno (Raven et
al., 2001).
A utilização de ethephon em videira 'Rubi' realizada por Fracaro (2000), na
região Noroeste do Estado de São Paulo, resultou em significativo aumento na
intensidade de brotação e na produtividade quando as plantas foram pulverizadas
com 5L.ha-1, cerca de 20 dias antes da poda de produção.
Embasado nesse resultado, iniciaram-se pesquisas com ethephon na cultivar
'Niagara Rosada', visando a dizimar esse problema, de grande importância para a
expansão da cultura, não somente na região, mas em quaisquer regiões tropicais
e subtropicais produtoras dessa espécie.
O objetivo deste trabalho foi de verificar o efeito de diferentes concentrações
de ethephon, aplicado via foliar antes da poda de produção, no número de
cachos, na produção e na qualidade da uva 'Niagara Rosada', na região Noroeste
do Estado de São Paulo.
MATERIAL E MÉTODOS
A área experimental foi implantada em cinco propriedades na região de Jales,
Noroeste do Estado de São Paulo, latitude 20°16'S, longitude 50°33'O e altitude
média de 483m, em vinhedos comerciais da cultivar Niagara Rosada, espaçados de
2,5 x 2,0m no sistema latada, tendo como porta-enxertos IAC 572-Jales. Foram
realizados três experimentos no ano de 2001 e repetidos no ano de 2002.
O clima da região é classificado como CWa. A precipitação pluvial média anual é
de 1.280mm distribuídos principalmente durante os meses de agosto a abril. A
estação seca ocorre entre os meses de maio e setembro. Apresenta
evapotranspiração média anual de 2.205mm e evapotranspiração de 234,10mm. A
temperatura média anual é de 22,3°C, com média das mínimas de 19,9°C e média
das máximas de 29,0°C. A umidade relativa média é de 69%, com máxima em março
(76%) e mínima em setembro (61%) (Boliani, 1994).
O solo predominante da região está classificado como Podzólico Vermelho-
Amarelo. O relevo na região é suave-ondulado e ondulado (Terra et al., 1998).
O delineamento experimental utilizado foi em blocos ao acaso, com quatro doses
de ethephon e cinco repetições, de uma planta por parcela. Os tratamentos
utilizados foram: 1)Testemunha (sem aplicação de ethephon); 2) 3L.ha-1;
3)6L.ha-1, e 4)9L.ha-1 do produto comercial contendo 240g.L-1 de ethephon.
No ano de 2001, os tratamentos foram aplicados em plantas com 30% de
enfolhamento, via foliar, com pulverizador costal até o ponto de escorrimento
(1.000 litros por hectare), nos dias 22-05, 30-05 e 06-06, podando-se as
plantas nos dias 11-06, 18-06 e 25-06, respectivamente, para os experimentos 1;
2 e 3. No ano de 2002, os tratamentos foram aplicados nas plantas com 80% de
enfolhamento, com pulverizador até o ponto de escorrimento, nos dias 25-05, 06-
06 e 17-06, podando-se as plantas nos dias 12-06, 22-06 e 03-07,
respectivamente, para os experimentos 1; 2 e 3.
A avaliação do experimento foi realizada através da contagem do número total de
cachos por parcela, e a produção foi obtida em quilograma por parcela e
transformado em quilograma por hectare. Os dados foram analisados através de
regressão polinomial, pelo programa SAS. Todos os tratos culturais utilizados
foram os convencionais adotados para a cultura na região.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Efeito sobre o número de cachos
Na Figura_01, são apresentados os resultados dos experimentos realizados no ano
de 2001, sobre plantas pouco enfolhadas (30%).
Durante o desenvolvimento destes experimentos, a baixa intensidade de frio
ocorrida não interferiu negativamente no desenvolvimento da brotação e,
conseqüentemente, no número de cachos por planta.
A análise de todos os dados disponíveis sobre nossas experimentações, relativa
ao tema, indica que temperatura abaixo de 10ºC, no momento da brotação, afeta
negativamente a emissão de brotos e seu desenvolvimento da uva 'Niagara
Rosada', conseqüentemente, o número de cachos e a produção.
Verifica-se que o ethephon não propiciou diferenças estatísticas significativas
em relação ao número de cachos, embora haja uma clara tendência de aumento
nesta variável com o aumento na dose de ethephon aplicado. A tendência de
formação de um número maior de cachos por planta no tratamento 9L.ha-1,
provavelmente, foi conseqüência de uma brotação mais efetiva ocorrida.
Fracaro (2000) verificou a mesma tendência observada neste trabalho, ou seja, o
aumento do número de cachos com o aumento da dose de ethephon aplicada, com
conseqüente aumento da produção.
Em todos os experimentos, o tratamento-testemunha apresentou um número razoável
de cachos, sendo um pouco menor no experimento 3, devido, provavelmente, à
ocorrência de menor número de gemas brotadas. Entretanto, todos os tratamentos
com ethephon apresentaram resultados superiores ao tratamento-testemunha.
Pelas regressões ajustadas, verifica-se que, em média, houve aumento de 3,31
cachos/planta, para cada litro de ethephon aplicado.
Verifica-se, na Figura_2, que ocorreu o aumento gradativo do número de cachos
por planta com o aumento das doses de ethephon, nos três experimentos
realizados no ano de 2002.
A análise conjunta dos dados relativos ao número de cachos, nos três
experimentos de 2002, evidenciou que o tratamento 9L.ha-1 foi superior aos
demais. Os tratamentos-testemunha sempre se mostraram inferiores, indicando a
necessidade da aplicação do ethephon antes da poda para uma satisfatória
produção de cachos durante o desenvolvimento das videiras, em período de alta
incidência de frio.
No ano de 2002, a aplicação de ethephon mostrou-se muito mais efetiva quando da
ocorrência de frio durante a brotação e desenvolvimento das videiras (exp. 1 e
2). Entretanto, em períodos quentes (normais), sua ação mostrou-se menos
efetiva, porém muito satisfatória, o que pode ser observado no experimento 3.
Fracaro (2000) observou forte tendência de aumento no número de cachos por
planta com o aumento da dose de ethephon aplicada em uva 'Rubi', na região de
Jales-SP, Noroeste do Estado de São Paulo.
Pelas regressões ajustadas, verifica-se que, em média, houve um aumento de 4,66
cachos/planta, para cada litro de ethephon aplicado.
Efeitos sobre a Produção
Observam-se, na Figura_03, os resultados da produção em quilos por hectare dos
três experimentos conduzidos no ano de 2001. Os experimentos 1 e 2 não
apresentaram diferenças estatísticas significativas entre os tratamentos,
apesar de apresentarem forte tendência de aumento da produção com a utilização
de ethephon. O experimento 3 apresentou diferença estatística significativa
entre os tratamentos, sendo a dose de 6L.ha-1a que apresentou o melhor
resultado, equivalente a 21.140kg.ha-1.
Apesar de os dois primeiros experimentos não apresentarem diferenças
estatísticas significativas entre os tratamentos, os resultados dos três
experimentos seguiram a mesma tendência (Figura_3), ou seja, os tratamentos com
as maiores doses (6 e 9L.ha-1) proporcionaram as melhores produções. Portanto,
observou-se que o uso do ethephon contribuiu para aumentar a produção, mesmo em
plantas com apenas 30% de enfolhamento e com ausência de temperaturas baixas,
prejudiciais ao desenvolvimento da videira. Pelas regressões ajustadas,
verifica-se que, em média, houve aumento de 963,48kg.ha-1, para cada litro de
ethephon aplicado.
Fracaro & Boliani (2001) observaram que houve aumento da produção, quando
da aplicação de ethephon em maiores doses, sobre a uva 'Rubi' em Jales-SP e
obtiveram acréscimo na ordem de 31,38% sobre a produção.
Os aumentos na produção ocorridos entre a testemunha e o tratamento 6L.ha-
1 foram de 11.740kg.ha-1, 4.580kg.ha-1 e 13.400kg.ha-1, respectivamente, nos
experimentos 1; 2 e 3. Esses aumentos correspondem a um incremento de R$
23.480,00, R$ 9.160,00 e R$ 26.800,00 por hectare, considerando-se o preço
médio de R$ 2,00 por quilo.
Verifica-se, pela Figura_4, que, nos três experimentos conduzidos no ano de
2002, ocorreu o aumento gradativo da produção com o aumento da dose de
ethephon.
Observa-se uma forte tendência de aumentar a produtividade com o aumento da
dose. Em média, para cada litro de ethephon aplicado, houve um aumento de
2.168kg.ha-1.
No experimento 1, os resultados evidenciaram uma produção crescente a partir do
tratamento-testemunha. O tratamento com 9L.ha-1, com produtividade de
50.080kg.ha-1, foi estatisticamente superior à testemunha (26.780kg.ha-1). O
uso de ethephon nas doses de 3L.ha-1 e 6L.ha-1 não diferiram estatisticamente
do tratamento-testemunha, apesar do aumento na produção verificada. Os
tratamentos com 6L.ha-1 e 9L.ha-1 de ethephon não diferiram estatisticamente.
No experimento 2, o mais atingindo pelas baixas temperaturas, o tratamento-
testemunha apresentou a mais baixa produção, com 9.390,6kg.ha-1, em relação aos
demais experimentos, conseqüência da má brotação e do pouco desenvolvimento dos
ramos. O tratamento com 3L.ha-1 diferiu significativamente dos tratamentos com
6L.ha-1 e 9L.ha-1, sendo que estes últimos não apresentaram diferença
estatística entre si. O tratamento com 9L.ha-1 apresentou diferença altamente
significativa em relação à testemunha, com produção de 36.279,40kg.ha-1.
A deficiente brotação devido à ocorrência de baixas temperaturas proporcionava
baixa rentabilidade à cultura da uva 'Niagara Rosada' na região.
Fazendo-se uma análise conjunta dos experimentos conduzidos nos anos de 2001 e
2002, foi possível verificar que a utilização do ethephon, na dose de 9L.ha-1,
é uma prática que pode auxiliar o viticultor a reduzir perdas com aumento e
regularidade na produção de 'Niagara Rosada'.
É importante ressaltar que o uso de ethephon deve estar associado ao uso
adequado de outras práticas no pomar, principalmente de manejo, adubação e
controle fitossanitário, para que a produção de 'Niagara Rosada' seja otimizada
em regiões tropicais e subtropicais do Brasil.
Como a aplicação de ethephon é realizada em torno de 20 dias antes da poda de
produção e não se pode saber com certeza sobre a ocorrência ou não de frio, a
utilização deverá ser necessária para a garantia de boa emissão de brotos e a
formação de um número satisfatório de cachos mesmo não ocorrendo temperaturas
prejudiciais à brotação e ao desenvolvimento dos ramos e, conseqüentemente, à
produtividade.
Em todos os experimentos conduzidos, não foram verificados sintomas de danos às
plantas devido às aplicações com ethephon, mesmo nas doses mais elevadas.
CONCLUSÕES
Nas condições em que foram desenvolvidos os experimentos, foi possível concluir
que:
1. O uso de ethephon proporcionou aumento do número de cachos e da
produtividade da uva 'Niagara Rosada', especialmente quando da ocorrência de
temperaturas inferiores a 10ºC e com satisfatório grau de enfolhamento.
2. A utilização de ethephon, na dose de 9L.ha-1, proporcionou o mais
significativo aumento na produtividade da uva 'Niagara Rosada' na entressafra.