Ensacamento de frutos de pereira cv. Housui
FITOTECNIA
Ensacamento de frutos de pereira cv. Housui1
Bagging of nashi pear cv. Housui
Ivan Dagoberto FaoroI; Marcia MondardoII
IEng.Agr.M.Sc., EPAGRI, Estação Experimental de Caçador/Universidade do
Contestado, Caçador-SC, 89500-000, E-mail: faoro@epagri.rct-_sc.br_
IIEng. Agr. M.Sc., EPAGRI, Estação Experimental de Caçador, Caçador-SC, 89500-
000, E-mail: mmondardo@epagri.rct-sc.br
INTRODUÇÃO
A pêra japonesa é ainda pouco conhecida pela maioria dos consumidores e
produtores brasileiros, por ser recente o seu cultivo em escala comercial.
Aliado a isto, outro fator que reduz o seu consumo é o alto preço dos frutos,
razão pela qual são direcionados para nichos de mercado de consumidores com
maior poder aquisitivo.
Esta cultura surge com possibilidade de ser produzida sem o uso de agrotóxicos,
desde que suas frutas sejam protegidas e não ocorra excesso de chuva no período
produtivo (Faoro, 2003). Pesquisa conduzida em Caçador-SC mostrou que a
'Housui' é moderadamente resistente à entomosporiose (Diplocarpon mespilli)
(Faoro et al., 2001). Observações a campo indicam que a 'Housui' também é
resistente à seca dos ramos (Botryosphaeria sp.). No entanto, todas as peras
são facilmente atacadas pela mosca-das-frutas (Anastrepha fraterculus) e pela
mariposa oriental (Grapholita molesta) (Nora & Sugiura, 2001). Mas os danos
de doenças e pragas têm a incidência reduzida para 1,1 % a 3,8 % quando os
frutos são ensacados (Faoro & Yasunobu, 2001). Isso motivou o
desenvolvimento desta pesquisa, aliado à inexistência de informações no Brasil
sobre o efeito do ensacamento em pêra japonesa. Desta forma, o objetivo deste
trabalho foi testar o efeito de diferentes tipos de sacos de papel na qualidade
de frutos de pereira cv. Housui.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado na Epagri, Estação Experimental de Caçador, em
Caçador-SC, entre 30-10-2000 e 1º-02-2001, utilizando a cultivar de pereira
japonesa Housui (Pyrus pyrifolia var. culta). Os tratamentos estão relacionados
na Tabela_1.
Os sacos pequenos, utilizados no ensacamento aos 34 dias após a plena floração,
eram de papel manteiga parafinado e transparente (6,3 x 7,0 cm). Os sacos
vermelhos (papel manteiga com 16,5 x 19,5 cm), marrons (papel manteiga com 14,2
x 17,8 cm) e duplos (saco interno de papel manteiga de cor amarela e saco
externo de papel manteiga de cor marrom com 15,0 x 17,0 cm) foram fabricados no
Japão, onde são usualmente utilizados no ensacamento de pêra. Os sacos de papel
pipoca brancos (13,0 x 20,0) e o saco de papel marrom Kraft comercial (13,5 x
20,7 cm) foram obtidos no Brasil, em lojas comerciais.
O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com os tratamentos
arranjados no esquema fatorial 2 x 6, em três repetições. Os fatores testados
foram o efeito da colocação de sacos pequenos de papel aos 34 dias (30-10-00)
após a plena floração (ensacamento Tipo 1) e o efeito da colocação de
diferentes tipos de sacos grandes de papel aos 83 dias (18-12-00) após a plena
floração (Ensacamento tipo 2). Os sacos grandes foram colocados sobre os
pequenos. Adicionalmente, foram realizados mais cinco tratamentos com
diferentes tipos de sacos grandes de papel apenas aos 34 dias após a plena
floração (ensacamento Tipo 3), adotando o mesmo tipo de delineamento
experimental. O raleio foi realizado em 24 e 25-10-00, antes do ensacamento,
deixando um fruto por rácimo e espaçados em, no mínimo, 20 cm.
Foram realizadas análises da aparência externa, peso médio, maturação e
qualidade dos frutos. Para o pH do suco, açúcar e resistência da polpa, foram
utilizados cinco frutos por repetição. O açúcar foi medido pelo teor de Sólidos
Solúveis Totais (º Brix); a firmeza (lbs) com penetrômetro manual, com ponta de
8 mm de diâmetro; e o pH diretamente no suco dos frutos, com pHmetro.
A aparência externa dos frutos foi avaliada conforme a seguinte escala: 1=
aparência excelente e película lisa sem manchas; 2= película lisa e sem
manchas, com lenticelas pouco salientes; 3= película com menos de 5% de manchas
de russeting e lenticelas pouco salientes; 4= película moderadamente áspera e
lenticelas moderadamente salientes, e/ou 5 a 15% de manchas de russeting; 5=
película áspera, com lenticelas salientes, e/ou com mais de 15% de manchas. Os
dados foram avaliados por estatística não-paramétrica, utilizando o teste do
Friedman (qui-quadrado), considerando a inexistência de variância em muitos
tratamentos.
A cor de maturação do fruto foi medida pela cor de fundo, conforme a Tabela
Geral de Cor (Faoro & Shiba, 2001), a qual é composta pelas seguintes
notas: 1= fruto imaturo, com cor de fundo verde-escura; 2= fruto menos imaturo,
com cor de fundo verde menos escura, podendo ser destinado para armazenagem; 3=
fruto maduro, com cor de fundo verde, apto para consumo imediato ou para
armazenagem; 4a= fruto maduro, com cor de fundo verde-clara, apto para consumo
ou para armazenagem; 4b= fruto maduro, com cor de fundo verde-clara amarelada,
apto somente para consumo imediato; 5a= fruto sobre-maduro, com cor de fundo
amarelo-esverdeada clara, apto somente para consumo imediato; 5b= fruto sobre-
maduro, com cor de fundo amarelada, inapto para consumo; 6= fruto sobre-maduro,
com cor de fundo amarelo-bronzeada, inapto para o consumo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em setembro e outubro de 2000, ocorreu grande quantidade de dias com chuvas ou
nublados, proporcionando alta umidade, que é o principal fator para o
desenvolvimento de russeting nos frutos (Gil, 1989; Basso & Suzuki, 2001).
No início do inverno, a temperatura teve pequena elevação, num curto período,
voltando a declinar. O número de unidades de frio, pelo método Carolina do
Norte Modificado, foi de 1.113, acima da média dos últimos 25 anos (1.074
unidades), por isso considerada satisfatória. Como resultado, a floração da
'Housui' foi uma das melhores dos últimos cinco anos. Em conseqüência, foi
possível realizar um bom raleio, ficando os frutos bem distribuídos na planta.
O ensacamento não influenciou na firmeza dos frutos, no teor de sólidos
solúveis totais e no peso médios dos frutos, o qual foi de 162,9g.
A análise de variância para a cor de maturação dos frutos mostrou efeito
significativo da interação entre o ensacamento aos 34 dias e o ensacamento aos
83 dias.
Foi verificado que a maturação pouco foi afetada pela colocação de diferentes
tipos de sacos grandes, aos 83 dias, quando previamente foram colocados sacos
pequenos (Tabela_2). Somente os sacos vermelhos colocados sobre os sacos
pequenos resultaram em menor índice de maturação, o qual não diferenciou do
tratamento utilizando somente o ensacamento com sacos pequenos e com saco de
pipoca branco. Este último, após as primeiras chuvas e a queda de granizo,
desintegraram quase que totalmente, expondo os sacos pequenos. Pela
ineficiência, portanto, não é indicado o uso de saco tipo pipoca branco e saco
vermelho, pois o produtor somente estará despendendo recursos financeiros, sem
vantagem alguma quanto à colheita mais precoce. Os demais tratamentos, embora
tenham apresentado maior índice de maturação do fruto, não diferiram da
utilização apenas de sacos pequenos aos 34 dias, concluindo não ser indicado o
uso adicional de sacos grandes aos 84 dias quando se quer maior precocidade de
colheita.
Já o ensacamento aos 83 dias após a plena floração, somente utilizando sacos
grandes, quando os frutos estavam desenvolvidos, influenciaram na precocidade
da maturação. Comparativamente, o uso de sacos duplos foi o mais eficiente,
seguido pelo marrom, ambos de origem japonesa. Os frutos não ensacados tiveram
o mesmo resultado que os frutos ensacados com sacos vermelhos, marrons kraft e
pipoca brancos. Logo, um ensacamento tardio induz uma colheita mais precoce,
sendo indicados sacos duplos ou marrons.
O ensacamento aos 34 dias, com sacos pequenos, elevou o pH de 4,04 para 4,29. O
tipo de saco também influenciou no pH dos frutos (Tabela_3), sendo mais elevado
utilizando o kraft marrom, seguido do duplo, do marrom e do pipoca branco. Esse
aumento altera o balanço entre os sólidos solúveis totais e o pH, podendo
alterar, em conseqüência, o sabor do fruto (Antunes et al., 1998; Argenta,
2002). No entanto, o fator sabor não foi avaliado nesta pesquisa.
Na avaliação da aparência dos frutos (Tabela_4), foi verificado que, quanto
antes ocorre o ensacamento, desde que utilizando sacos grandes, de coloração
mais escura (marrom), simples ou duplos, melhor é a aparência externa do fruto.
Quando realizado o ensacamento aos 34 dias após a plena floração, melhor
resultado foi obtido também com a utilização de sacos escuros (marrons) aos 83
dias. A utilização de sacos de pipoca brancos, com ou sem ensacamento prévio de
sacos pequenos, não melhorou a aparência dos frutos.
O ensacamento 34 dias após a plena floração, utilizando sacos grandes de papel
duplos de cor marrom e sacos de papel kraft marrons, ou o uso de sacos pequenos
aos 34 dias seguido pela colocação, aos 83 dias, dos dois tipos de sacos
grandes citados anteriormente, resultaram em frutos de melhor qualidade externa
(película de coloração homogênea e mais clara, lisa e com lenticelas pouco
salientes). O uso de sacos vermelhos e de pipoca brancos, com ou sem
ensacamento prévio, não resultaram em melhoria substancial da qualidade externa
do fruto.
O período mais crítico para o russeting ocorre nas primeiras fases do
crescimento do fruto, ou seja, cerca de 15 a 20 dias após a plena floração (Gil
S., 1989; Yuri & Casteli, 1998). Logo, a realização do ensacamento no menor
tempo possível, após a plena floração, induz melhor qualidade externa nos
frutos. Assim, o uso de sacos de papel manteiga, preferencialmente parafinados
e de cor escura, para melhor proteger os frutos da umidade e reduzir a
incidência de luz, melhora a sua aparência.
CONCLUSÕES
1) Não há necessidade de realizar dois ensacamentos para melhorar a aparência
dos frutos da cv. Housui.
2) O uso de sacos de pipoca brancos não melhora a aparência dos frutos.
3) O uso de saco de pipoca deve ser evitado devido a sua desintegração com a
chuva.
4) O ensacamento dos frutos não influencia na firmeza, no teor de sólidos
solúveis totais e no peso médio dos frutos.
5) O pH da polpa aumenta com o uso de sacos duplos de papel parafinado, sacos
marrons de papel manteiga parafinado, sacos de papel kraft marrons e sacos de
pipoca brancos. Também sacos pequenos de papel manteiga parafinado, aos 34
dias, induzem maior pH.
6) Ensacamento utilizando sacos duplos de papel parafinado e sacos marrons de
papel manteiga parafinado tendem a proporcionar precocidade na colheita.