Crescimento de três clones de umezeiro (Prunus mume Sieb. et Zucc.) e
pessegueiro cv. Okinawa (Prunus persica (L.) Batsch.) propagados por estacas
herbáceas
PROPAGAÇÃO
INTRODUÇÃO
O umezeiro (Prunus mume Sieb. et Zucc.) é uma Rosaceaearbórea, de folhas
caducas e nativa da China. No Japão, as primeiras cultivares foram introduzidas
há 2.000 anos e adquiriram significativa expressão na alimentação e nos
costumes orientais. No ano de 1991, eram cultivadas no Japão cerca de 300
cultivares de umezeiro, que ocupavam uma área de 18.900 hectares e produção de
94.500 toneladas. Os japoneses também cultivam o umezeiro em jardins, em forma
de bonsai, e utilizam as flores no preparo de arranjos. Os frutos, geralmente
ácidos, podem ser consumidos na forma de picles, licores especiais (ume-shu),
conservas (ume-boshi), compotas, geléias, sucos, extratos, na confecção de
bolos e como uso medicinal, sendo associados a uma vida saudável (Yoshida,
1994).
A introdução desta espécie no Brasil deu-se, provavelmente, através dos
imigrantes japoneses, que obtiveram produções satisfatórias somente a partir de
1970, em Botucatu-SP, após inúmeros fracassos em função da utilização de
materiais muito exigentes em frio (Campo Dall'Orto et al., 1995-1998).
Nos últimos anos, a pesquisa brasileira despertou interesse em estudar o
umezeiro como porta-enxerto para pessegueiros e nectarineiras, dada a
proximidade parental das duas espécies e a compatibilidade da enxertia (Campo
Dall'Orto et al., 1992 e 1994; Nakamura et al., 1999), sendo que também foi
comprovada sua resistência aos nematóides causadores de galhas (Sherman &
Lyrene, 1983; Rossi et al., 2002; Mayer et al., 2003). Além destas vantagens,
foram observadas reduções no vigor das copas em até 50%, em relação às plantas
enxertadas no pessegueiro cv. Okinawa (Prunus persica (L.) Batsch.), o que
poderia possibilitar o adensamento dos pomares, facilitar os tratos culturais e
influenciar na produtividade. O umezeiro como porta-enxerto também pode
promover aumentos na massa dos frutos, teor de sólidos solúveis e porcentagem
de vermelho na película (Campo Dall'Orto et al., 1992 e 1994). Entretanto,
nestes estudos, foram verificadas expressivas diferenças de vigor entre as
plantas de uma mesma cultivar-copa, tanto no viveiro como no campo, em
decorrência da propagação por sementes do umezeiro e da variabilidade genética
destes.
Como tentativa de solucionar este inconveniente, diversos trabalhos com
propagação por estacas herbáceas foram realizados na FCAV/UNESP, Câmpus de
Jaboticabal-SP, onde foram observados resultados bastante promissores em todas
as estações do ano (Nachtigal et al., 1999; Mayer et al., 2001; Mayer &
Pereira, 2002; Mayer et al., 2002; Mayer & Pereira, 2003) e que resultaram
na seleção dos Clones 05; 10 e 15 de umezeiro. Entretanto, necessita-se de
informações sobre os hábitos de crescimento destes clones e as possíveis
diferenças entre si e em relação à cv. Okinawa, tradicional porta-enxerto
utilizado na região Sudeste brasileira.
Desta forma, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o crescimento de três
clones de umezeiro (Clones 05; 10 e 15) e do pessegueiro cv. Okinawa propagados
por estacas herbáceas.
MATERIAL E MÉTODOS
Para o fornecimento de material propagativo (ramos herbáceos), plantas-matrizes
dos Clones 05; 10 e 15 de umezeiro (Prunus mume Sieb. et Zucc.) e do
pessegueiro cv. Okinawa (Prunus persica (L.) Batsch.) foram mantidas,
respectivamente, em vasos plásticos sob ripado (50% de sombreamento) e em
condições de campo, ambas as áreas pertencentes ao Departamento de Produção
Vegetal da FCAV/UNESP, Câmpus de Jaboticabal-SP. Das plantas-matrizes de
umezeiro, os ramos herbáceos foram coletados aos 90 dias após a poda de
renovação e da cv. Okinawa, aos 60 dias. Os ramos foram acondicionados em sacos
plásticos, umedecidos e transportados ao "Viveiro Paluma" (Taquaritinga-SP),
local onde foram realizados o enraizamento das estacas e a condução do
experimento. A estaquia dos clones de umezeiro foi realizada no dia 22 de
agosto de 2001 e a cv. Okinawa, 19 dias após, em função das diferenças de
desenvolvimento dos ramos.
Para a propagação dos porta-enxertos, utilizaram-se estacas de 12cm de
comprimento com 3 a 5 folhas, tratadas com AIB a 2.000mg.L-1 por cinco segundos
(Mayer et al., 2001). As estacas foram acondicionadas em caixas de madeira (48
x 33 x 9cm) contendo vermiculita fina como substrato e mantidas sob câmara de
nebulização intermitente coberta com sombrite (25% de sombreamento).
Transcorrido o período de enraizamento, as estacas foram retiradas no dia 29 de
outubro de 2001 para classificação e transplantio. As estacas enraizadas foram
classificadas em uma escala de notas (que variou de 1 a 3), objetivando
eliminar estacas mal enraizadas do experimento e evitar a formação de plantas
com sistema radicular não satisfatório. O critério adotado para a classificação
das estacas enraizadas foi visual, sendo: Nota 1= enraizamento deficiente
(pequeno volume de raízes, raízes curtas e/ou inadequadamente distribuídas ao
redor da base da estaca), sem condições de transplante; Nota 2= enraizamento
satisfatório, em condições de transplantio; Nota 3= enraizamento excelente, em
condições de transplantio.
Para o transplantio das estacas, foram utilizadas sacolas plásticas perfuradas
para produção de mudas (28 x 18cm), as quais foram preenchidas até 2/3 da sua
capacidade com substrato (Rendmax Citrus®), mantidas em piso cimentado e
cobertas com sombrite (50% de sombreamento). As estacas enraizadas e
selecionadas foram imediatamente transplantadas após a classificação,
completando-se o volume do recipiente com substrato. Foi realizada uma adubação
específica para a produção de mudas (Osmocote®), aos 19 dias após o
transplantio, na dosagem de 6g/sacola plástica, de formulação 15-10-10 +
micronutrientes. Foi feita também uma aplicação de calcário dolomítico (137% de
PRNT, 45% de Cálcio e 25% de Magnésio), na dosagem de 4 a 5g/sacola plástica,
aos 90 dias após o transplante. As plantas foram conduzidas em haste única,
sendo tutoradas com lascas de bambu com 70cm de comprimento, as quais foram
fixadas no substrato próximo do porta-enxerto e amarradas com barbante de
algodão, quando necessário.
Para a composição do experimento, foram separadas, aleatoriamente, trinta
plantas de cada clone, devidamente etiquetadas e numeradas, para a realização
das avaliações de diâmetro da haste (a 5cm da estaca original) e comprimento
(mensurado desde sua inserção junto à estaca original até o meristema apical).
As avaliações foram realizadas aos 40; 70; 100; 115; 130 e 145 dias após o
transplantio das estacas para as sacolas plásticas, utilizando-se até
paquímetro digital e fita métrica. O experimento foi conduzido em delineamento
inteiramente casualizado, com 4 tratamentos (Clones 05; 10 e 15 de umezeiro e
cv. Okinawa) e 30 repetições, sendo cada parcela constituída por uma planta. Os
dados foram submetidos à análise de variância, pelo teste F, e as médias foram
comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. Para a análise
do comprimento e diâmetro da haste principal, em função do número de dias após
o transplantio, utilizou-se a regressão polinomial até 3° grau, de acordo com
Gomes (1966).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores referentes ao comprimento da haste são apresentados na Tabela_1.
Verifica-se que, aos 40 e 70 dias após o transplante, a cv. Okinawa apresentou
maior crescimento em relação aos Clones 05 e 15, sendo que não diferiu
estatisticamente do Clone 10. Já aos 100 dias, o Clone 15 igualou-se
estatisticamente ao Clone 10 e ao 'Okinawa'. A partir desta avaliação, a cv.
Okinawa estabilizou o crescimento. Entretanto, para os três clones de umezeiro,
o crescimento continuou constante (Figura_1), resultando em plantas mais altas,
com maiores comprimentos de haste e que não diferiram entre si, até o final das
avaliações. Para os três clones de umezeiro estudados, a regressão linear foi a
que melhor se ajustou às médias obtidas, sendo que para a cv. Okinawa foi a
regressão quadrática (Figura_1).
Os valores observados para a variável diâmetro da haste são apresentados na
Tabela_2. Verifica-se que, aos 40 dias após o transplante das estacas para as
sacolas plásticas, o diâmetro (a 5cm da estaca original) da cv. Okinawa foi
estatisticamente semelhante ao observado no Clone 10; entretanto, ambos foram
superiores aos Clones 05 e 15. Nas avaliações seguintes, até os 130 dias, a cv.
Okinawa apresentou maior diâmetro em relação aos três clones de umezeiro
estudados. Dentre os clones de umezeiro, as diferenças estatísticas só foram
observadas aos 40 e 70 dias após o transplantio. Nesta variável, todos os
porta-enxertos ajustaram-se à regressão linear, conforme ilustra a Figura_2.
Aos 130 dias, aproximadamente 33% dos porta-enxertos de umezeiro encontraram-se
aptos à realização da enxertia, segundo observações visuais.
Estes dados, juntamente com os de comprimento da haste, demonstram claramente
os diferentes hábitos de crescimento das duas espécies. O umezeiro apresenta
intenso crescimento da haste em comprimento, com diâmetro relativamente
homogêneo ao longo da sua extensão, caracterizando um crescimento contínuo. Já
o 'Okinawa' apresenta maior diâmetro na base da haste (a 5cm da estaca
original) em relação aos clones de umezeiro, rápido crescimento inicial da
haste até os 100 dias e posterior estabilização, refletindo-se em plantas mais
baixas (Figura_1), porém com maior porcentagem de plantas aptas à realização da
enxertia (em torno de 55%), em função do maior diâmetro. Desta forma, em termos
práticos, pode-se destacar que, no caso do umezeiro, o comprimento da haste,
que define a altura do porta-enxerto, não é uma característica importante para
a definição da porcentagem de plantas aptas à enxertia, em função da
característica de crescimento contínuo.
Verifica-se, com estas observações, que a propagação de porta-enxertos de
umezeiro e 'Okinawa' por estacas herbáceas pode apresentar resultados
satisfatórios e viáveis tecnicamente. Salienta-se, entretanto, que não foram
encontrados na literatura trabalhos que comparassem os hábitos de crescimento
de umezeiro com a cv. Okinawa propagados por estacas herbáceas, para fins de
posterior utilização como porta-enxertos para pessegueiro. Campo Dall'Orto et
al. (1992) apenas relatam que porta-enxertos da seleção de umezeiro 'Iacume'
(IAC-3), obtidos por germinação de amêndoas em sacolas plásticas, foram levados
para o campo com doze meses de idade e enxertados oito dias após o
transplantio. Nesta ocasião, os porta-enxertos selecionados apresentavam,
aproximadamente, 1m de altura e 1cm de diâmetro basal.
CONCLUSÕES
Nas condições em que o experimento foi conduzido, pode-se concluir que:
1) Os Clones 05; 10 e 15 de umezeiro apresentam crescimento contínuo com
relação ao comprimento da haste, enquanto a cv. Okinawa estabiliza o
crescimento após 100 dias do transplantio, refletindo-se em plantas mais
baixas.
2) Não existem diferenças entre os clones de umezeiro estudados no diâmetro da
haste após 100 dias e no comprimento da haste após 115 dias do transplantio das
estacas enraizadas.
3) A cv. Okinawa apresenta maior diâmetro da haste em relação aos Clones 05; 10
e 15 de umezeiro, o que define maior porcentagem de porta-enxertos aptos à
realização da enxertia.