Efeito do calcário dolomítico e nitrato de potássio no desenvolvimento inicial
de mudas da bananeira 'Prata-Anã' (AAB), provenientes de cultura in vitro
SOLOS E NUTRIÇÃO DE PLANTAS
Efeito do calcário dolomítico e nitrato de potássio no desenvolvimento inicial
de mudas da bananeira 'Prata-Anã' (AAB), provenientes de cultura in vitro 1
Efect of dolomiotic limestone and potassium nitrate in the initial development
of seedlings of 'Prata-Anã' (AAB) banana tree from in vitro culture
Jackson de Araújo dos SantosI; Carlos Ramirez de Rezende e SilvaII; Janice
Guedes de CarvalhoIII; Tânia Brito do NascimentoIV
IEng. Agr. M.Sc. Embrapa Amazônia Ocidental - CPAA/AM, Rodovia AM - 010, Km 29,
Cx. Postal 319, CEP 69011-970, Manaus-AM, jksantos@cpaa.embrapa.br, (96)241-
4230
IIProf. Dr., UFLA-MG, Depart. de Agricultura, Cx. Postal 37, CEP 37.200-000,
ramirez@ufla.br, (35)3829-1122
IIIProfa. Dra., UFLA-MG, Departamento de Solos, Cx. Postal 37, CEP 37.200-000,
janicegc@ufla.br, (35)3829-1122
IVEstudante doutorado, INPA-AM, Cx. Postal 478, CEP 69011-970,
jksantos@osite.com.br, (96)241-4230
INTRODUÇÃO
O Brasil, considerado o segundo maior produtor mundial de bananas (FAO, 2002),
vem apresentando significativo incremento desta cultura, tanto em regiões
tradicionalmente produtoras como na formação de novos pólos de cultivo
(Godinho, 1994). Ruggiero et al. (1994) relatam que os bananicultores têm
encontrado uma série de dificuldades, a exemplo da falta de mudas em quantidade
e qualidade para atender à demanda.
Na maioria dos casos, a implantação e as reformas de bananais são realizadas
através de mudas procedentes de pomares velhos ou em decadência (Godinho,
1994). Essa é uma prática tecnicamente ultrapassada e desaconselhável, por
contribuir para a manutenção e disseminação de plantas daninhas de difícil
erradicação, além de pragas e doenças. Dessa forma, as mudas provenientes de
cultivo in vitro são uma alternativa para minimizar tais problemas, já que
podem ser produzidas em quantidade, qualidade e com garantia fitossanitária.
Silva Neto (2001) relata a utilização de mudas de banana provenientes de
micropropagação como uma prática corrente nos países que exploram a
bananicultura visando à exportação. Entretanto, a utilização desse tipo de muda
no Brasil é ainda restrita, mesmo com as vantagens em relação às mudas
convencionais.
Segundo informações da Secretaria de Agricultura de Minas Gerais, as mudas
provenientes de cultura de tecidos podem ser comercializadas com uma altura
mínima de 15 cm (Borges, 1994). São mudas pequenas, com sistema radicular pouco
desenvolvido, sensíveis às condições adversas do ambiente, tais como a falta ou
excesso de água, ataque de pragas e doenças, e ocorrência de plantas daninhas
na fase inicial. Por isso, há necessidade do estabelecimento de uma fase
intermediária entre a saída do laboratório e o plantio definitivo no campo. O
enviveiramento das mudas proporciona maior vigor vegetativo e desenvolvimento
das raízes e rizomas, o qual influenciará decisivamente no índice de pegamento
no plantio definitivo. Poucos trabalhos de pesquisa procuram estudar os
detalhes desta fase intermediária entre o laboratório e o campo, havendo
carência de informações quanto ao tipo de estrutura física do viveiro, tamanho
e formas de recipientes a serem utilizados, substratos e seus componentes,
práticas de manejo e, em especial, com relação ao desenvolvimento das mudas
nessa etapa. A associação de conhecimentos sobre esses fatores poderá servir de
subsídio para a obtenção de mudas que atendam a padrões desejáveis, em menor
tempo.
O presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da aplicação de
diferentes doses de calcário dolomítico e KNO3 no desenvolvimento de mudas da
bananeira (Musa sp) 'Prata-Anã', na fase de enviveiramento.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado e conduzido no viveiro do pomar da Universidade
Federal de Lavras (UFLA), Minas Gerais, no período de novembro a fevereiro de
1995/96, sob estrutura coberta com tela plástica, proporcionando 50% de
insolação. Foram utilizadas mudas da bananeira 'Prata-Anã', pertencentes ao
grupo AAB. As mudas foram obtidas por meio da propagação in vitro, aclimatadas
em bandeja de isopor, contendo como substrato vermiculita e casca de pínus
compostada.
O delineamento experimental adotado foi o de blocos casualizados, com quatro
repetições, esquema fatorial 42, com quatro doses de calcário dolomítico (0; 3;
6 e 9 kg.m3 de substrato) e quatro doses de KNO3 (0; 5,1; 10,2 e 20,4
g.planta.aplicação), num total de 16 tratamentos e 64 parcelas. Cada parcela
experimental foi constituída por 5 sacos contendo uma muda.
Como recipiente, utilizou-se saco plástico preto, perfurado, com capacidade
para 5L de substrato e medindo 14 cm de diâmetro por 32 cm de altura. O
substrato de cultivo constituiu-se de uma mistura de 60% de Latossolo Vermelho
Distroférrico, 20% de areia grossa, 20% de casca de arroz , 800 g de P2O5.m3sob
forma de superfosfato triplo, 50 g de S.m3 sob a forma de enxofre em pó e
calcário dolomítico, segundo os tratamentos, adicionando-se em cobertura a
solução de 200 mL KNO3.planta.aplicação. Após um mês, realizou-se o
transplante, quando as mudas apresentavam altura média de 2,70 cm e diâmetro de
0,55 cm.
Decorridos 15 dias do transplante, efetuou-se uma aplicação de solução dos
micronutrientes (mg.dm3): B 0,5; Cu 1,5; Mo 0,1; Zn 5,0 utilizando-se como
fonte de bórax, sulfato de cobre, molibidato de amônio e sulfato de zinco,
respectivamente. As aplicações do KNO3 foram feitas na forma de solução, em
cobertura, após 20 dias do transplante, com intervalos regulares de 12 dias.
As variáveis de crescimento avaliadas aos 20 dias, em intervalos quinzenais até
os 90 dias, foram: altura da muda, diâmetro do pseudocaule, número de folhas e
área foliar. A área foliar foi estimada de acordo com Moreira (1987), e o
diâmetro do rizoma foi medido no final do experimento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O calcário dolomítico não apresentou efeito significativo (Tabela_1) para as
variáveis de desenvolvimento avaliadas. Os resultados encontrados estão de
acordo com os de Rodrigues (1995) para bananeira 'Mysore' na fase de
enviveiramento. Saes (1995) também não encontrou correlação do calcário com as
características de crescimento observadas, quando avaliou a resposta da
bananeira 'Nanição' à calagem durante cinco ciclos. Pela Tabela_2, verifica-se
que o calcário proporcionou alterações relevantes após 30 dias de incubação nas
características químicas do substrato, como pH, S, t, v%, H+, Ca2+, Mg2+ e K2+.
A calagem é recomendável pra aumentar a disponibilidade de nutrientes, como N,
P, K, S e Mo, fornecer Ca2+ e Mg2+, melhorar a atividade microbiana, além de
ser um meio para a neutralização da acidez do solo (Martim-Prével, 1984;
Carvalho et al., 1986; Borges & Oliveira,1995).
As aplicações de KNO3influenciaram positivamente na altura das mudas, que se
apresentaram significativamente superiores nas doses de 5,1 e 10,2 g de KNO3
.planta.aplicação (Tabela_2).
As mudas apresentaram ganho em altura com a elevação do KNO3 até a dose de 5,1
g.planta.aplicação (Figura_1). O mesmo não ocorreu nas doses superiores,
possivelmente em decorrência da maior concentração de KNO3 no substrato,
ocasionando queima nos tecidos das raízes e murcha na parte aérea, pelo aumento
da pressão osmótica da solução ou, então, pelo efeito salino, como relata
Malavolta (1980). O efeito depressivo do KNO3 também foi observado por Carvalho
(1994), quando utilizado com maior freqüência em porta-enxertos cítricos.
Analisando-se o efeito da fertilização nas diferentes épocas de avaliação
(Figura_2), constatou-se que houve resposta na altura das mudas ao KNO3somente
a partir do 35º dia. Possivelmente, tenha ocorrido, na fase inicial, um
estresse salino ou toxidez causada pelo fertilizante, bem como a possibilidade
de as mudas não estarem perfeitamente adaptadas, impedindo uma absorção mais
eficiente.
As mudas apresentaram ganho linear em altura, em função das doses e da época de
avaliação, à exceção da dose 20,4 g de KNO3.planta.aplicação (Figura_2), que
ocasionou uma ligeira queda na fase inicial do desenvolvimento, devido à murcha
das plantas e perda de folhas, possivelmente em decorrência da toxidez ou
efeito salino no substrato.
Com 95 dias, a altura das mudas de 18,80 cm apresentou-se inferior àquela
relatada por Vicentini (1994), de 38,98 cm aos 85 dias, com a utilização de MAP
na cultivar Grand Naine, em estufa climatizada, também inferior à citada por
Daniells & Smith (1991), de 25 a 30 cm. A variação no ganho em altura pode
ser atribuída às diferentes condições de enviveiramento e ao material genético,
além do aumento da pressão osmótica da solução ou efeito salino, provocado pelo
fertilizante, conforme relatado por Malavolta (1980). Estudos anteriores
demonstraram que a altura de plantas de bananeira foi afetada pela
condutividade elétrica com nível crítico de 0,87 dS.m-1 (Israeli et al., 1986)
e 1,0 dS.m-1 (Doorenbos & Kassan, 1994).
Houve efeito significativo do KNO3 sobre o diâmetro das mudas, atingindo valor
médio de 3,44 cm na dose de 5,1 de KNO3.planta.aplicação, significativamente
superior aos demais (Tabela_2). Observa-se, através da Figura_3, que ocorreu
aumento com a elevação do KNO3até a dose de 5,1 g.planta.aplicação, a partir do
qual houve redução. Kohli et al. (1984), Hernandez (1985), Hegde & Srinivas
(1989) e Vicentini (1994) correlacionaram o aumento do diâmetro do pseudocaule
com adubações nitrogenadas.
Avaliando-se o efeito das doses de KNO3 nas diferentes épocas de avaliação
(Figura_4), observa-se que houve resposta somente a partir dos 35 dias,
conforme considerações feitas anteriormente para a variável altura. As mudas
apresentaram ganho crescente em diâmetro em função das doses e épocas de
avaliação.
Beugmon & Champion (1966) verificaram que o diâmetro do pseudocaule está
relacionado com o número de raízes. Simmonds (1973) afirma que o pseudocaule
oferece apoio à planta e tem capacidade de armazenar reservas amiláceas e
hídricas. Dessa forma, espera-se que mudas com diâmetros superiores possam
originar plantas com sistema radicular mais vigoroso, favorecendo o pegamento,
o crescimento e o desenvolvimento inicial, a tolerância a veranico e a ventos.
A área foliar também foi significativamente influenciada pelo KNO3 (Tabela_2),
e estatisticamente superior nas doses de 5,1 e 10,2 g.planta.aplicação. A dose
de 5,1 g de KNO3.planta.aplicação apresentou área foliar de 246,03 cm2, sendo
35,07% superior à área obtida na dose de 10,2 g de KNO3.planta.aplicação. A
exemplo da altura e do diâmetro das mudas a área foliar também diminuiu nas
doses acima de 5,1 g de KNO3.planta.aplicação (Figura_5).
Araújo Filho et al. (1995) observaram que condutividades elétricas de até 3,72
dS.m-1 não afetaram a área foliar das cultivares do grupo AAA (Nanicão e
Nanica), porém afetaram as do grupo AAB (Pacovan e Mysore), havendo, inclusive,
morte das folhas, semelhante ao ocorrido neste trabalho. Menguel & Kirkby
(1982) citam que a salinidade contribui para a redução do tamanho das folhas, e
Vicentini (1994) relata que o aumento na salinidade, através de doses
crescentes de MAP, contribuiu para a redução da área foliar.
Houve efeito significativo do KNO3 sobre o número de folhas, sendo as médias
registradas nas doses de 5,1 g e 10,2 g.planta.aplicação significativamente
superiores às demais (Tabela_2). No entanto, o número de folhas diminuiu nas
doses acima de 5,1 g de KNO3.planta.aplicação (Figura_6).
Segundo Azeredo et al. (1986), Moreira (1987) e Medina (1993), o número de
folhas é influenciado principalmente por N e K, e Moreira (1987) ressalta que a
deficiência de N reduz a longevidade das folhas. Soto Ballestero (1992) relata
que o K e o Mg são nutrientes de maior efeito na duração funcional da folha. Da
mesma forma, observou-se, neste experimento, que as mudas que receberam
aplicações de KNO3apresentaram condições mais favoráveis de emissão foliar,
aliadas à manutenção das mesmas por um período de tempo mais prolongado, quando
comparadas com aquelas onde não houve aplicação.
Partindo-se deste princípio, mudas com maior área foliar e maior número de
folhas poderão proporcionar maior índice de pegamento, acelerar o crescimento
inicial e o desenvolvimento, através de maior produção de fotoassimilados,
resultando, possivelmente, em maior produção.
As aplicações de KNO3afetaram positivamente o diâmetro do rizoma, atingindo
diâmetro superior na dose de 5,1 g.planta.aplicação, estatisticamente superior
aos diâmetros encontrados nas outras doses testadas (Tabela_1). Pela Figura_7,
verifica-se que a aplicação de KNO3,em doses acima de 5,1 g, apresentou efeito
depressivo sobre esta característica.
Devido à importância do rizoma como órgão de reserva (Champion, 1975; Moreira,
1987 e Soto Ballestero, 1992), mudas com diâmetro superiores, quando levadas a
campo, possivelmente, terão maiores índices de pegamento, crescimento e
desenvolvimento.
CONCLUSÕES
1) Doses acima de 5,1 g de KNO3.planta.aplicação, em intervalos de 12 dias,
promoveram efeito depressivo nas mudas da bananeira 'Prata-Anã' para todas as
características de crescimento avaliadas.
2) A dose de 5,1 g de KNO3.planta.aplicação proporcionou mudas da bananeira com
características de crescimento significativamente superiores àquelas em que
essa fonte não esteve presente.
3) Não houve efeito do calcário dolomítico, nas doses avaliadas, para as
características de crescimento de plantas.