Desempenho agronômico de bananeiras micropropagadas em Botucatu-SP
FITOTECNIA
Desempenho agronômico de bananeiras micropropagadas em Botucatu-SP1
Agronomic characteristics of micropropagated bananas from Botucatu
Sarita LeonelI; Everaldo Mariano GomesII; Carlos Jorge PedrosoIII
IProfª Drª. Departamento de Produção Vegetal. Faculdade de Ciências
Agronômicas. UNESP. Cx Postal 237, CEP 18603-970. Botucatu-SP.
sarinel@fca.unesp.br Tel: 014-38117172 e 38117203
IIEngº Agrº. Msc. Doutorando em Irrigação e Drenagem. FCA/UNESP/Botucatu. Prof.
Escola Agrotécnica Federal de Sousa-PB. Tel: (83) 5222727
IIITécnico Agrícola. Bolsista da FAPESP. Faculdade de Ciências Agronômicas.
UNESP. Cx Postal, 237, CEP 18603-970. Botucatu-SP. Tel: 014-38117172 e 38117203
INTRODUÇÃO
Originária da Índia, a banana é uma das frutas há mais tempo consumida no
mundo. O cultivo comercial teve início em sua própria terra de origem, as
úmidas selvas da Índia e a península da Indochina (Almeida et al., 2000).
O Brasil ocupa o segundo lugar na produção mundial de bananas, com 9,8% do
volume total produzido, numa área de 480.814 hectares, mas tem pequena
participação no mercado externo, porque a fruta é consumida quase que na sua
totalidade (98%) internamente. O Estado de São Paulo, com uma área colhida de
51.740 hectares, contribui com a maior parte da produção brasileira, por ter
sido pioneiro na implantação de culturas comerciais (Agrianual, 2001).
Nas regiões Sul e Sudeste, as variedades do subgrupo Cavendish ('Nanica' e
'Nanicão') são as mais expressivas, seguidas da cultivar 'Prata'. A cultivar
'Maçã', embora de grande aceitação pelos consumidores, vem enfrentando
problemas fitossanitários que praticamente inviabilizam o cultivo comercial por
muito tempo.
O sistema de propagação empregado convencionalmente, mediante mudas, vem
permitindo a disseminação de doenças e pragas para novas áreas (Souza et al.,
2000). Diante disso, o sistema de micropropagação vem sendo utilizado para
produção de mudas de bananeira a nível comercial. Contudo, ainda existem poucos
dados sobre o comportamento agronômico de mudas oriundas deste sistema no
campo. De acordo com o relato de Teixeira (2000), as mudas micropropagadas
destacam-se por serem mais produtivas no primeiro ciclo do que as
convencionais. O peso dos cachos um pouco mais altos associados à precocidade
fazem com que o rendimento de frutos/ha/ano seja quase sempre superior com o
uso de mudas micropropagadas. Contrariamente, Pereira et al. (1998), avaliando
o comportamento vegetativo e produtivo das cultivares 'Prata', 'Prata-anã' e
'Mysore', oriundas de dois métodos de propagação (mudas de cultura de tecidos e
mudas convencionais tipo "chifre" e pedaços de rizoma), não confirmaram a
precocidade da muda obtida por cultura de tecidos.
Nesse contexto, considerando-se a importância da cultura da bananeira para o
Estado de São Paulo e a expansão dos cultivos para regiões não tradicionais,
como o centro-oeste paulista e o emprego crescente pelos produtores de mudas
micropropagadas, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o desempenho
agronômico de cultivares de bananeira 'Prata-anã', 'Maçã' e 'Nanicão', no
município de Botucatu-SP.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado em área do pomar do Departamento de Produção
Vegetal da Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP, Câmpus de Botucatu-SP,
localizada nas coordenadas geográficas de 22º52'47" latitude S, 48º25'12"
longitude W e altitude de 810 m. O tipo climático predominante no local é o
temperado, sem inverno seco, sendo a média das temperaturas mínimas de 18ºC e a
das máximas de 22ºC, com precipitação média anual de 1.314 mm (Curi, 1972). O
solo da área foi caracterizado como Nitossolo vermelho, segundo critérios da
Embrapa (1999).
As mudas produzidas pelo processo de micropropagação em laboratório e
aclimatizadas em estufa possuíam certificação de sanidade vegetal, estando
livres de pragas e doenças (www.multiplanta.com.br). Na ocasião da aquisição,
as mudas apresentavam altura da parte aérea entre 10 e 15 cm e torrão de 6 cm.
A seguir, foram transplantadas para sacos de polietileno preto de 18,5 x 10,0
cm, preenchidas com mistura realizada com 1/3 de terra de subsolo, 1/3 de
vermiculita e 1/3 de esterco de curral curtido. As plantas permaneceram durante
90 dias em estufa e, após passado este período, foram transplantadas para o
campo, em área previamente preparada, calcareada e adubada, conforme resultado
de análise de solo prévia e seguindo as recomendações técnicas da cultura
(Boletim Técnico nº 100 IAC, 1996), num espaçamento de 2,5 x 2,5 m, com uma
área de 6,25 m2/planta.
Durante o primeiro ciclo de produção (planta-mãe), as plantas receberam os
seguintes tratos culturais: irrigação complementar, controle de plantas
daninhas, desbaste, retirada de folhas secas, eliminação do coração, retirada
dos pistilos e corte do pseudocaule após a colheita.
O delineamento experimental empregado foi o inteiramente casualizado, com 3
tratamentos, correspondentes às cultivares de bananeiras estudadas, 16
repetições e 1 planta (família) útil por unidade experimental, completamente
rodeada por 4 plantas (famílias) bordadura. Foi utilizado o método das
estatísticas descritivas, através do cálculo das médias e desvio-padrão, para a
caracterização das cultivares. Posteriormente, foram estabelecidas possíveis
correlações entre medidas de desenvolvimento vegetativo e produção (Kronka e
Banzatto, 1992).
Avaliaram-se características de crescimento medidas na emissão da
inflorescência, conforme segue: número de dias do plantio à emissão da
inflorescência, número de dias do plantio à colheita, número de folhas ativas,
altura de plantas (medida do nível do solo até o nível superior da roseta
foliar) e diâmetro do pseudocaule. Também foram mensuradas características de
produção, como o número de pencas, número de frutos, diâmetro, comprimento e
peso da segunda penca (Rodrigues et al., 1998), o peso total das pencas e o
número de frutos por cacho, avaliados na época da colheita.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A duração dos ciclos vegetativo e produtivo das cultivares de bananeira revelou
que a cv 'Nanicão' foi a mais precoce, com duração média total do primeiro
ciclo de 416 dias, seguida da cv 'Prata-anã', com 434 dias e da cv 'Maçã', com
437 dias, o que pode ser considerado como início de produção precoce, quando
comparado com relatos de pequenos produtores rurais da região de Botucatu-SP,
que utilizam mudas de rizoma brotado para o plantio. Segundo Kluge (1999), que
avaliou o primeiro ciclo produtivo da bananeira 'Nanicão', as mudas
micropropagadas foram as que apresentaram colheita mais tardia, com 511,92 dias
do plantio até a colheita, comparadas com 483,73 dias dos pedaços de rizoma e
com outros sistemas de cultivo, como"chifrinho", "chifrão" (brotações laterais
com folhas lanceoladas) e "guarda-chuva" (brotações separadas da planta-mãe,
com folhas normais). Estes resultados foram confirmados anteriormente por
Pradeed et al. (1992), que constataram florescimento tardio de mudas oriundas
de micropropagação, quando comparadas com as mudas convencionais. No entanto,
estes resultados são contrários aos obtidos por Vulsteke & Ortiz (1996),
que observaram o florescimento precoce. No que se refere à produtividade,
embora existam resultados indicando que as mudas micropropagadas podem ser mais
produtivas que as convencionais (Drew & Smith, 1990), outros estudos
mostram um comportamento semelhante dos dois tipos de materiais de plantio
(Souza et al., 2000).
Com relação ao ciclo da cultura, em algumas regiões produtoras de bananas do
Estado de Minas Gerais, Pereira et al. (1998), em Jaíba (região norte de Minas
Gerais), e Salomão et al. (1998), em Visconde do Rio Branco (região da zona da
mata de Minas Gerais), avaliando o comportamento da cv 'Prata-anã' em condições
de sequeiro, relatam que o ciclo total foi, respectivamente, de 411 e 520 dias.
No presente trabalho, realizado com irrigação complementar, verificou-se uma
diminuição neste ciclo, para a região de Botucatu-SP, quando comparado à outra
região produtora do Estado de São Paulo (oeste paulista), que foi de 633 dias
com irrigação e 646 dias em condições de sequeiro para a cv 'Prata-anã'
(Foltran et al., 1998).
Martins et al. (1998), estudando o comportamento de bananeiras do subgrupo
'Prata' nas condições do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, concluíram que
os resultados da primeira colheita permitiram deduzir que as duas variedades
('Prata-anã' e 'Mineira') testadas apresentaram potencial para a região com
comportamentos similares, com ligeira vantagem para a 'Prata-anã' em relação à
uniformidade de floração.
Os resultados obtidos neste experimento evidenciaram correlações positivas e
significativas entre o número de folhas, altura de plantas e diâmetro do
pseudocaule, com o peso das pencas, peso dos frutos da segunda penca e o número
de frutos da segunda penca para as cultivares 'Nanicão' e 'Prata-anã' (Tabelas
1 e 3). Para a cv 'Maçã', as correlações positivas e significativas
estatisticamente foram entre o número de folhas e o peso, diâmetro e
comprimento dos frutos da segunda penca (Tabela_2). Também foram positivas as
correlações entre altura de plantas e o peso das pencas, e o número de frutos
por cacho (Tabela_2). Esses resultados permitem inferências sobre um bom
crescimento e desenvolvimento das cultivares de bananeira, oriundas de mudas
micropropagadas, na região de estudo, refletindo em correlações positivas e
significativas com as características de produção.
Gaiva (1992), estudando o comportamento das plantas-matrizes de bananeira
cultivares 'Farta-velhaco' (grupo AAB), 'Mysore' (AAB) e 'Nanicão' (AAA),
observou que o maior número de folhas ativas, na época da colheita,
correspondeu a cachos mais pesados nas cvs 'Mysore' e 'Nanicão'. Ainda segundo
o mesmo autor, os pesos dos cachos não apresentaram correlação com a altura das
plantas nas 3 cultivares, e também, nos perímetros dos pseudocaules nas cvs
'Farta-velhaco' e 'Nanicão'. Pereira et al. (1998), na mesma linha de pesquisa,
obtiveram superioridade da cv 'Prata-anã' em relação à 'Prata' e 'Mysore', com
maior peso do cacho e dos frutos, maior número de folhas funcionais, menores
períodos vegetativo, produtivo e total. O peso médio dos frutos no primeiro
ciclo foi de 115,62 g e do cacho foi de 11,61 kg na cv 'Prata-anã'.
Nas condições edafoclimáticas do município de Botucatu-SP, o peso médio do
cacho foi de 12,20 kg, para 'Prata-anã', 8,93 kg para 'Maçã' e 19,06 kg para
'Nanicão'(Tabela_4). A produtividade média estimada foi de 30,56; 14,37 e 19,50
t.ha-1, respectivamente, para as cvs 'Nanicão', 'Maçã' e 'Prata-anã' (Tabela
4), permitindo inferir sobre o comportamento superior da bananeira 'Nanicão' em
precocidade dos ciclos vegetativo e produtivo e nas características de
crescimento e produção, corroborando os resultados obtidos por Brechbuelber
& Couto (1996), os quais relataram que a cv 'Nanicão' apresentou um menor
ciclo entre o plantio e a colheita, bem como um menor tempo entre a emissão do
cacho e sua colheita. O número de frutos por cacho, o peso do cacho e das
pencas foi maior na 'Nanicão', quando comparado com a 'Prata-anã' (Tabela_4). A
produtividade estimada foi de 38 t.ha-1 na 'Nanicão' e 17 t.ha-1 na 'Prata-anã'
(Tabela_4). No oeste paulista, Foltran et al. (1998) relataram produtividades
médias no primeiro ciclo, com e sem irrigação, variando entre 8,9 e 16,9 t.ha-
1 nas bananeiras 'Nanicão', 'Nanicão jangada', 'Mysore' e 'Grand naine'.
CONCLUSÕES
1. As cultivares de bananeira 'Nanicão', 'Maçã' e 'Prata-anã', oriundas de
mudas micropropagadas, apresentaram, no município de Botucatu-SP, o primeiro
ciclo de produção (planta-mãe) variando entre 416 dias para a cv 'Nanicão', que
foi a mais precoce, seguida da 'Prata-anã' (434 dias) e da 'Maçã' (437 dias).
2. Houve correlações positivas entre características de crescimento e produção,
que variaram conforme a cultivar, porém todas apresentaram boa precocidade e
produtividade, para a região de Botucatu-SP, permitindo a indicação do uso de
mudas micropropagadas em culturas comerciais.
3. A cultivar 'Nanicão' apresentou o maior peso médio do cacho (19,06 kg) e a
maior produtividade estimada (30,56 t.ha-1), seguida da 'Prata-anã', com peso
médio do cacho de 12,20 kg e produtividade estimada de19,50 t.ha-1. A cultivar
'Maçã' apresentou cachos com peso médio de 8,93 kg e produtividade estimada de
14,37 t.ha-1.