Crescimento e sintomas visuais de deficências de micronutrientes em umbuzeiros
SOLOS E NUTRIÇÃO DE PLANTAS
Crescimento e sintomas visuais de deficências de micronutrientes em umbuzeiros1
Growth and visual symptoms of micronutrients deficiency in umbuzeiro
Orlando Sílvio Caires NevesI; José Roberto de SáII; Janice Guedes de
CarvalhoIII
IDoutorando em Solos e Nutrição de Plantas, DCS - UFLA, Bolsista CNPq. E-mail:
orlandosilvio@ufla.br, Fone (0xx35)38216741. Rua Sílvio Menicucci, 1510, ap.
102, Centenário. Lavras-MG, CEP 37.200.000
IIDoutorando em Solos e Nutrição de Plantas, DCS - UFLA, Bolsista CNPq. E-mail:
robertsaj@bol.com.br. Fone (0xx35)38213189. UFLA/DCS, CP 37, CEP 37.200.000
IIIProfessora Titular do Departamento de Ciência do Solo da Universidade
Federal de Lavras-MG. E-mail: janicegc@ufla.br. Fone (0xx35)38291269. UFLA/DCS,
CP 37, CEP 37.200.000
INTRODUÇÃO
O umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.) é uma espécie xerófita, caducifólia,
originária das zonas menos chuvosas da região Nordeste do Brasil e do norte do
Estado de Minas Gerais e pertence à família Anacardiaceae. Devido às suas
defesas fisiológicas, a árvore do umbuzeiro é resistente à seca (Gondim et al.,
1991).
Apesar de sua distribuição ser dispersa, o umbuzeiro se consagra como espécie
frutífera de grande importância econômica, social e ecológica, cuja cultura
representa uma fonte de renda adicional no período da entressafra, contribuindo
com a metade da renda média anual dos agricultores nas áreas de coleta (Araújo
et al., 2000).
De acordo com o Censo frutícola da CODEVASF (2001), a área total plantada com
umbuzeiros (excetuando as de plantas nativas) é de 509,4 ha, sendo 0,5 ha em
formação, 23,0 ha em produção crescente, 332,8 ha em produção plena e 153,1 ha
em declínio de produção. É importante frisar que a área plantada cresceu
consideravelmente nos dois últimos anos.
Deficiências de micronutrientes, tanto em culturas anuais como em perenes nos
solos brasileiros, são muito comuns, ocorrendo, principalmente, em função da
matéria orgânica do solo, do pH do solo e da calagem excessiva (Malavolta et
al., 1997). Segundo Malavolta (1986), uma planta cultivada em solo pobre em
micronutrientes pode apresentar comprometimento no crescimento e,
conseqüentemente, queda (20% a 30%) de produção.
A falta ou excesso de um dado elemento é traduzida em anormalidades visíveis,
que são típicas de cada elemento. O motivo pelo qual o sintoma é típico, deve-
se ao fato de que um dado nutriente exerce sempre as mesmas funções, qualquer
que seja a espécie de planta. Deve-se ter em mente, entretanto, que, antes da
manifestação visível da deficiência, o crescimento e a produção já poderão
estar limitados: é o que se chama de "fome escondida". O sintoma visível é o
fim de uma série de eventos, que têm início com alterações em nível molecular,
avança para modificações subcelulares, intensifica-se com alterações celulares
e atinge o tecido, modificando-o, ocasionando a expressão de sintomas visíveis
(Malavolta et al., 1997).
O boro afeta o crescimento meristemático, onde sua falta leva a um
desenvolvimento precário das pontas das radicelas das pontas dos ramos; ao que
parece, isso deve-se à necessidade de boro para a síntese de bases
nitrogenadas, como a uracila, componente essencial do RNA (Marschner, 1995). O
Fe, dentre outras funções na planta, participa da biossíntese de clorofila, e a
sua falta afeta o crescimento da mesma; o Cu participa de ativação enzimática,
da fotossíntese e tem influência no processo de fixação biológica de N; o Mn
também participa da fotossíntese, agindo na liberação fotoquímica do O2 e faz
parte da redutase do nitrato, e o Zn participa, principalmente, na síntese do
AIA e na divisão celular (Malavolta et al., 1997).
O objetivo deste trabalho foi avaliar o crescimento e caracterizar a
sintomatologia de deficiências de micronutrientes em mudas de umbuzeiro.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado em casa de vegetação do Departamento de Ciência do
Solo da Universidade Federal de Lavras (Lavras-MG), definida geograficamente
pelas coordenadas de 21º 14' de latitude sul e 45º 00'de longitude oeste,
altitude de 910 m e conduzido de outubro de 2002 a janeiro de 2003.
O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com quatro
repetições e sete tratamentos, representados por: solução (Hoagland &
Arnon, 1950) completa (testemunha), solução nutritiva menos B (-B), solução
nutritiva menos Cu (-Cu), solução nutritiva menos Fe (-Fe), solução nutritiva
menos Mn (-Mn), solução nutritiva menos Zn (-Zn) e solução nutritiva com
omissão de Cu e Zn (Cu+Zn). Cada parcela foi constituída por uma planta por
vaso de 3 L. As mudas utilizadas foram oriundas de sementes, sendo germinadas
em vermiculita. As sementes passaram pelo processo de quebra de dormência
através de escarificação mecânica, conforme recomendação de Nascimento et al.
(2000). Quinze dias após a germinação, as mudas foram transferidas para solução
nutritiva completa com 25; 50 e 100% da sua força iônica, durante período de 15
dias em cada concentração, respectivamente. Após o período de aclimatação,
aplicaram-se os tratamentos onde foram omitidos os micronutrientes. As soluções
foram trocadas quinzenalmente durante os 75 dias de condução do experimento.
Após a medida da altura (cm) e o diâmetro da base dos caules (mm), as plantas
foram colhidas, separadas em raiz, caule e folha, e secadas em estufa com
circulação forçada de ar, a 60-70 ºC, até peso constante, para a determinação
do peso da matéria seca e pelo somatório dos pesos da raiz, do caule e das
folhas, o peso total da planta. A relação parte aérea : raiz (PA / R) foi
calculada dividindo-se o peso seco da parte aérea (folha + caule) pelo peso
seco de raiz.
O efeito relativo foi calculado pelo método de porcentagem de suficiência ou
produção relativa (Raij, 1991), adaptado para a determinação do "crescimento
relativo" (CR), segundo a fórmula:
Os tratamentos que manifestaram os sintomas visuais de deficiência antes de
completados os 75 dias de condução do experimento foram colhidos, visando, com
isso, a reduzir perdas de material para análise.
Os dados obtidos foram analisados estatisticamente pelo teste F e, quando
verificadas diferenças significativas, as médias foram comparadas pelo teste
Tukey (p<0,05), conforme descrito em Pimentel-Gomes (1990). Para a realização
dos cálculos estatísticos, foi utilizado o Programa Computacional Sisvar
(Ferreira, 2000).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Efeitos no desenvolvimento - Os resultados da altura (cm) e do diâmetro do
caule (mm) das mudas de umbuzeiro, nos diferentes tratamentos, são apresentados
na Tabela_1. Conforme análise estatística dos dados, verificou-se que a omissão
dos micronutrientes reduziu a altura das plantas, sendo o B e o Fe os que mais
comprometeram o desenvolvimento em altura das mudas, quando comparados com o
tratamento completo.
Em relação ao diâmetro, as plantas cultivadas com omissão de Fe e B
apresentaram caules menos espessos, porém, não diferindo significativamente
daquelas cultivadas na falta simultânea de Zn e Cu (Zn+Cu) e apenas Zn (-Zn).
Isso parece indicar maior exigência em Fe e B na fase inicial de
desenvolvimento das mudas, já que eles foram limitantes ao crescimento em
altura. O maior diâmetro do caule foi apresentado pelas mudas do tratamento sem
Mn, cujos valores não diferiram significativamente daqueles apresentados no
tratamento completo e menos Cu. Nas plantas do tratamento menos Mn, o caule, na
sua parte basal, apresentou um engrossamento, caracterizando possivelmente a
expressão de sintoma de deficiência, particularmente observado neste
experimento.
As omissões de B, Fe, Zn e Zn+Cu ocasionaram, ainda, um decréscimo na produção
de matéria seca de raiz e caule; já para as folhas, a redução foi maior quando
não se adicionaram B, Fe ou Zn. Em relação ao Mn e ao Cu, a matéria seca de
raiz, caule e total das plantas não diferiu significativamente do tratamento
completo. Isso parece decorrer do fato de o Mn e de o Cu terem sido os últimos
nutrientes a apresentarem sintomas visuais de deficiência, indicando menor
exigência do umbuzeiro, na fase de muda, desses nutrientes em relação aos
demais estudados.
Os efeitos das deficiências dos micronutrientes, na produção de matéria seca
total, induziram a seguinte ordem de redução: Fe > B > Zn > Zn+Cu > Cu > Mn,
indicando mais uma vez que o desenvolvimento da planta, durante o período
experimental, foi menos afetado pela omissão de Mn e de Cu do que pela omissão
de Fe. Trabalhando com mudas de goiabeira, cultivadas em solução nutritiva,
Salvador et al. (1999) encontraram resultados semelhantes quando avaliaram a
deficiência de micronutrientes. Verificaram que a omissão dos micronutrientes
afetou negativamente o desenvolvimento das mudas na seguinte ordem: Fe > Cu > B
> Zn > Mn, sendo o Mn o micronutriente que menos influenciou no desenvolvimento
da goiabeira.. Em plantas de andiroba, Martins et al. (2000) verificaram que,
em ordem crescente, os micronutrientes que mais afetaram o desenvolvimento das
mudas, foram: B > Mn > Cu, Fe e Zn.
Os resultados da Tabela_1 mostram que a relação parte aérea/raiz foi menor nos
tratamentos menos B e menos Fe, indicando ter havido maior redução na produção
da parte aérea em relação à produção das raízes. A maior participação da parte
aérea nessa redução fica evidenciada quando se observam os valores de massa
seca produzida no tratamento completo, que diminuíram em aproximadamente 65% e
79% nos tratamentos sem adição de B e Fe, respectivamente, enquanto, em relação
às raízes, essas reduções foram de 27% e 46%.
O crescimento relativo foi calculado em relação ao tratamento completo, onde a
produção de matéria seca total foi maior, permitindo verificar que o total de
matéria seca produzida pelas mudas de umbuzeiro nos tratamentos sem B e sem Fe
foi inferior a 50%, sendo, respectivamente, de 25,1% e 42,0% do total produzido
no tratamento completo. As plantas deficientes em Zn ou em Zn+Cu apresentaram
um CR entre 50 e 75%, com valores reais de 67,9 e 75%, respectivamente, e nas
deficientes em Cu ou Mn, as produções relativas de matéria seca total
apresentaram-se acima de 75%. O CR das plantas deficientes em Cu foi de 94,7% e
das deficientes em Mn foi de 99,7%. Estudando a limitação nutricional de um
Latossolo Vermelho distrófico para umbuzeiros do norte de Minas Gerais, Silva
et al. (2002) verificaram que, naquelas condições, os micronutrientes que mais
limitaram o crescimento das plantas foram o B e o Zn, resultados esses que
mostram certa concordância com os apresentados na Tabela_1.
Pelos dados apresentados, percebeu-se que o umbuzeiro é mais exigente em Zn do
que em Cu, fato que fica mais evidenciado quando se analisa o crescimento
relativo das plantas cultivadas na omissão simultânea de Zn e Cu e as compara
com as cultivadas com omissão de Zn ou Cu, isoladamente, onde os valores de CR
se situam intermediariamente àqueles.
Sintomas visuais de deficiências de micronutrientes em umbuzeiro
As plantas que se desenvolveram nos tratamentos com omissão de micronutrientes,
na solução nutritiva, apresentaram sintomas visuais de deficiências nas folhas,
sintomas estes ausentes no tratamento completo (Figura_1_A). A ordem
cronológica de aparecimento desses sintomas foi a seguinte: B, Fe, Zn+Cu, Zn,
Mn e Cu. Essa ordem é bem semelhante à descrita por Salvador et al. (1999), que
trabalharam com mudas de goiabeira, em solução nutritiva.
Deficiência de boro - Os sintomas de deficiências começaram a aparecer
nitidamente a partir do 20º dia do início do tratamento, sendo as plantas
colhidas aos 50 dias. A deficiência foi observada nas folhas mais jovens, que
apresentaram leve clorose internerval, posteriormente evoluindo do centro para
as bordas das folhas. Em seguida, essas folhas tornaram-se amareladas,
destacando-se um fundo levemente clorótico. Essas folhas se encurvaram e se
retorceram para baixo, resultando em acentuada queda dos primeiros pares de
folhas, persistindo, entretanto, as mais velhas. A omissão do B induziu, ainda,
a morte dos pontos vegetativos apicais (Figura_1_B), provocando o secamento dos
ápices de maneira descendente (dieback). A deficiência de B causou a formação
de folhas menores e mais espessas em relação às folhas consideradas normais.
Deficiência de cobre - Aos 60 dias após o início do tratamento, foram
observados os primeiros sintomas de deficiência do nutriente e, aos 75 dias, as
mesmas foram colhidas; esses foram representados, inicialmente, por áreas
cloróticas, esparsas nas folhas mais novas, que foram se agravando no decorrer
do experimento. Os limbos foliares passaram a mostrar alterações morfológicas
com as folhas posicionando-se verticalmente, o que é comumente denominado de
"orelha-de-zebu", conforme Figura_1_C. As plantas deficientes em Cu também
acabaram por emitir gemas vegetativas axilares múltiplas, dando origem a
brotações com folhas diminutas.
Deficiência de ferro - Aos 30 dias, a omissão de Fe causou alterações na
coloração das folhas mais novas e uma tonalidade arroxeada no caule,
contrastando nitidamente com o resto amarelado do limbo (Figura_1_D). Com o
agravamento da deficiência e conseqüente queda dos níveis de clorofila, as
folhas tornaram-se totalmente cloróticas e, em seguida, esbranquiçadas,
retardando o crescimento das plantas (Figura_1_E). As plantas desse tratamento
foram colhidas aos 50 dias.
Deficiência de manganês - Os sintomas de deficiência do Mn, na fase inicial,
foram menos evidentes, mais facilmente observados nas folhas mais sombreadas,
tornando-se mais perceptíveis com a severidade da deficiência (Figura_1_F). As
folhas mais jovens, aos 55 dias após o início do tratamento, apresentaram-se
com esparsas áreas cloróticas adjacentes à nervura principal. Com o
aparecimento da deficiência, os pontos cloróticos a necróticos foram se
multiplicando sem, contudo, ocasionar a queda das folhas. As plantas
deficientes apresentaram, durante um determinado período, desenvolvimento
aparentemente normal, com as folhas atingindo dimensões até mesmo maiores
quando comparadas às das plantas do tratamento completo. Uma característica
bastante interessante observada nas plantas deficientes em Mn foi o
engrossamento da parte basal do caule, que acabou por ficar mais espesso do que
os caules das plantas submetidas ao tratamento completo.
Deficiência de zinco Nas plantas cultivadas na ausência de Zn, as alterações
morfológicas surgiram aos 35 dias após o início do tratamento, de forma mais
pronunciada nas folhas mais jovens. O principal sintoma de deficiência de zinco
consistiu na produção de folhas pequenas e estreitas, algumas vezes retorcidas
(Figura_1_G). Foi observado também, além da formação de folhas pequenas e
próximas entre si, com áreas cloróticas entre as nervuras, a formação de ramos
com internódios curtos, dando o aspecto de "roseta".
Deficiência simultânea de cobre e zinco - Nos tratamentos em que não se
adicionaram Cu e Zn, os primeiros sintomas observados foram os da deficiência
de Zn, onde os limbos foliares apresentaram uma superfície enrugada/deformada,
originando folhas diminutas, cloróticas e com leve crestamento nas pontas.
Essas plantas desenvolveram ramos finos com folhas pequenas e mais estreitas,
que, no final, se mostraram pendentes, com ápices voltados para baixo (Figura_1
H). De modo semelhante ao que foi observado na deficiência de Cu, a falta
conjunta de Cu e Zn também induziu a emissão de gemas vegetativas axilares
múltiplas, originando brotações com folhas diminutas (Figura_1_I)
CONCLUSÕES
1 - A falta de B, Cu, Fe, Mn e Zn na solução nutritiva levou a um
comprometimento no desenvolvimento das plantas, induzindo, inclusive,
alterações morfológicas com sintomas característicos de deficiência nutricional
de cada nutriente.
2 - O umbuzeiro mostrou-se mais exigente em B, Fe e Zn na fase inicial de
crescimento do que em Mn e em Cu.
3 - A redução na matéria seca total das mudas de umbuzeiro foi influenciada na
seguinte ordem: Fe > B > Zn > Zn+Cu > Cu > Mn.