Produtividade e qualidade dos frutos da laranjeira 'Pêra' clone IAC em 16
porta-enxertos na região de Bebedouro-SP
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
FITOTECNIA
Produtividade e qualidade dos frutos da laranjeira 'Pêra' clone IAC em 16
porta-enxertos na região de Bebedouro-SP1
Yield and fruit quality of 'Pêra' sweet orange clone IAC on 16 rootstocks in
Bebedouro region, State of São Paulo, Brazil
Eduardo Sanches StuchiI; Luiz Carlos DonadioII; Otávio Ricardo SempionatoII;
Dilermando PerecinIII
IPesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, trabalhando na Estação
Experimental de Citricultura de Bebedouro, Caixa Postal 74, 14700-000,
Bebedouro (SP) <stuchi@cnpmf.embrapa.br> (17) 3344-8844
IIEstação Experimental de Citricultura de Bebedouro, Caixa Postal 74, 14700-
000, Bebedouro (SP) <eecb@estacaoexperimental.com.br> (17) 3344-8844
IIIProf Titular Departamento de Ciências Exatas, Faculdade de Ciências Agrárias
e Veterinárias - UNESP, Jaboticabal, (SP) <perecin@fcav.unesp.br> (16) 3209-
2624
Atualmente, o limoeiro 'Cravo' é o principal porta-enxerto da citricultura
paulista ( 80% das plantas estão enxertadas sobre ele, embora seja intolerante
ao declínio (Pompeu Júnior, 2001) e à morte súbita dos citros (Müller et al.,
2002). Em dezembro de 2000, o Fundecitrus registrou que 28,2% das mudas da
laranjeira 'Pêra' estavam enxertadas sobre limoeiro 'Cravo', e as mudas de
'Pêra' representavam 31,1% das existentes nos viveiros (Salva, 2001). A
laranjeira 'Pêra' é a principal variedade cultivada no Estado de São Paulo. Em
2000, existiam 92,7 milhões de árvores plantadas desta cultivar, representando
37,8% das plantas cítricas do Estado (Pompeu Júnior, 2001). O limoeiro 'Cravo'
é classificado como indutor de boa qualidade aos frutos das variedades
enxertadas (Pompeu Júnior, 1991). Porém outros porta-enxertos, como as
tangerineiras 'Cleópatra' e 'Sunki', o citrumelo 'Swingle', a laranjeira
'caipira' e o citrangeiro 'Troyer' e o trifoliata, além de serem tolerantes ao
declínio dos citros, à gomose e à morte súbita dos citros, podem proporcionar
qualidade superior à do limoeiro 'Cravo'. A qualidade dos frutos é influenciada
pela clorose variegada dos citros (CVC) (Laranjeira & Palazzo, 1999).
Alguns dos porta-enxertos tolerantes ao declínio (tangerineiras 'Cleópatra' e
'Sunki', citrumelo 'Swingle') e à morte súbita dos citros (tangerineiras
'Cleópatra' e 'Sunki', citrumelo 'Swingle' e trifoliata) têm algumas
desvantagens em relação ao limoeiro 'Cravo': a 'Cleópatra' tem a entrada em
produção mais tardia; trifoliata, 'Cleópatra', 'Swingle e 'Sunki' apresentam,
em ordem decrescente, maior suscetibilidade ao estresse hídrico; 'Swingle' e
trifoliata são incompatíveis com 'Pêra', e a 'Sunki' é mais suscetível à gomose
(Pompeu Júnior, 1991; Müller et al., 2002). Laranjeira et al. (2001) relataram
não haver influência dos porta-enxertos na expressão da CVC quando consideradas
a incidência em plantas e ramos, a proporção de ramos infectados e a
concentração relativa de bactéria em folhas. Stuchi et al. (1998) também
reportaram a não-interferência dos porta-enxertos na intensidade da CVC quando
consideradas a incidência e a severidade em conjunto através de um índice de
doença calculado com base nas duas primeiras. O objetivo deste trabalho foi
avaliar a influência de 16 porta-enxertos na Produtividade e na qualidade dos
frutos de laranjeira 'Pêra' cultivada na região de Bebedouro (SP), em condições
de alta pressão de inóculo da clorose variegada dos citros.
O experimento foi conduzido na Estação Experimental de Citricultura de
Bebedouro (E.E.C.B.), município de Bebedouro-SP, em um solo classificado como
Latossolo Vermelho-Escuro, epieutrófico, endoálico, A moderado, textura
argilosa. O clima da região é subtropical com inverno moderado e seco, verão
quente e chuvoso, com temperatura média de 23,5 ºC; a precipitação anual média
é de 1.522 mm. O plantio do experimento foi realizado em julho de 1993, sob
espaçamento de 6,0 m entre linhas e 3,5 m entre plantas (476 plantas/ha). O
experimento foi conduzido sem irrigação. O delineamento experimental foi em
blocos ao acaso, duas plantas por parcela, três repetições e 16 tratamentos
(porta-enxertos). As cultivares de porta-enxertos, cujas sementes foram obtidas
de plantas existentes na EECB e no BAG do Centro APTA Citros "Sylvio Moreira",
estas últimas estão identificadas pelos seus números de acesso no referido BAG,
após o nome científico, são as seguintes: tangerineira 'Sun Chu Sha Kat'(Citrus
reticulata Blanco ), tangerineira 'Pectinífera' (C. reticulata) - 210,
'Shekwasha' (C. depressa Hayata) - 187, tangerineira 'Pectinífera/Shekwasha'
(C. depressa Hayata) - 642, tangerineira 'Batangas' (C. reticulata),
tangerineira 'Oneco' (C. reticulata), citrangor [citrange (Poncirus trifoliata
Raf. x C. sinensis) x C. sinensis] - 156, citrandarin [ C.sunki hort. ex
Tanaka) x Poncirus trifoliata (L.) Raf. cv. English - 256, tangerineira 'Sunki'
(C. sunki), tangerineira 'Suen-Kat' (C. sunki) - 418 , tangerineira 'Nasnaran'
(C. amblycarpa Ochse) - 812, tangerineira 'Venezuela' (C. reticulata) - 747,
tangerineira 'Heen Naran' (C. lycopersicaeformis hort. ex Tan.) - 1505,
limoeiro 'Cravo' (C. limonia Osbeck) x tangerineira 'Cleópatra' (C. reshni hort
ex Tanaka), limoeiro 'Cravo' (C. limonia), tangerineira 'Cleópatra' (C.
reshni). As avaliações de produção foram realizadas nos anos de 1996 a 1999. A
colheita dos frutos e pesagem foram efetuadas por parcela, calculando-se
posteriormente a Produtividade média, em kg.planta-1, de cada ano e do período
estudado. Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância,
considerando o delineamento de parcelas subdivididas no tempo. As médias
obtidas, nos anos de 1996 a 1999, e a média geral do experimento foram
comparadas pelo teste de Tukey-Kramer, ao nível de 5% de probabilidade, devido
à ocorrência de parcelas perdidas, uma vez que, após as avaliações de CVC, nos
anos de 1995 e 1997, foram realizadas podas para a redução de inóculo e a
eliminação de árvores com grau 3 de contaminação pela doença. Estas eliminações
causaram a perda de parcelas em diversos tratamentos, a partir de 1997. Para
isso, utilizou-se o pacote estatístico SAS (Statistical Analysis System). A
qualidade dos frutos foi avaliada em 8 de julho de 1998 e em 28 de julho de
1999. Em cada avaliação, coletaram-se amostras de cinco frutos por parcela,
evitando-se os frutos de ramos atacados pela CVC. Com estas amostras,
determinaram-se as seguintes características de qualidade dos frutos: massa,
diâmetro e altura; e do suco: sólidos solúveis totais (SST), determinado com
refratômetro de leitura direta a 20° C e expressa em porcentagem (m/v); acidez
por titulação com hidróxido de sódio 0,3125 N, expressa em g de ácido cítrico/
100 mL; ratio, que é a razão aritmética entre os sólidos solúveis totais e a
acidez, rendimento em suco (RS) expresso em porcentagem (m/m) e o índice
tecnológico (IT), expresso em kg de sólidos solúveis totais por caixa (kg SST .
caixa-1) e calculado pela expressão: IT = [RS x SST x 40,8] x 10.000-1, onde o
valor de 40,8 kg corresponde à da caixa-padrão industrial de citros. Para cada
uma das características estudadas, calculou-se a média das duas avaliações. Os
resultados obtidos foram submetidos à análise de variância, considerando o
delineamento de parcelas subdivididas no tempo, e as médias foram comparadas
pelo teste de Tukey-Kramer, conforme descrito anteriormente. Em razão da
ocorrência da CVC no pomar experimental e com o objetivo de avaliar a
influência dos porta-enxertos na evolução e intensidade da doença, foram
determinadas a incidência e a severidade da mesma, no segundo semestre dos anos
de 1995, 1997 e 2000. A incidência foi avaliada por meio de contagem das
plantas com sintomas, e posterior cálculo do percentual de plantas atacadas. A
severidade foi avaliada de acordo com uma escala de notas 0 (sem sintomas) a 3
(mais de 50% dos ramos com sintomas) proposta por Salva et al. (1995). Com
estes dados, calculou-se o percentual de plantas com grau máximo (3) em cada
ano. Os resultados obtidos não foram analisados estatisticamente.
A Tabela_1 mostra os valores de produtividade para o período de 1996 a 1999 e a
produtividade média. O experimento apresentou produtividade média de frutos
baixa, 20% menor que a produtividade média das quatro primeiras safras de
laranjeiras 'Pêra' clone IAC enxertadas em 'Cleópatra', conforme relataram
Donadio et al. (2002). A produtividade média, em 1997, foi maior que a de 1998.
Os porta-enxertos tiveram desempenhos distintos em cada ano, sugerindo uma
forte influência de fatores climáticos. Os porta-enxertos, aparentemente menos
afetados pelo déficit hídrico, ocorrido no período de florescimento e pegamento
dos frutos em 1997, foram Pectinífera/Shekwasha, 'Suen-Kat', citrangor,
'Venezuela' e 'Nasnaran', pois apresentaram, em 1998, produtividade de frutos
similar ou ligeiramente inferior às de 1997. Na média das quatro safras
estudadas, os porta-enxertos 'Cravo' x 'Cleópatra', citrandarin, Pectinífera /
'Shekwasha' e 'Cravo' induziram maior produtividade, diferindo
significativamente de 'Nasnaran'. Os demais porta-enxertos apresentaram valores
intermediários. Não se observou uma relação entre o percentual de plantas com
grau máximo de CVC em 1999 (Tabela_3) e a produtividade média de frutos, para o
período 1996-1999. Talvez, isso possa ser atribuído a maiores rendimentos
proporcionados por plantas com menor severidade da doença, que existiam nas
parcelas. Entretanto, como as colheitas foram realizadas por parcelas, as
avaliações de severidade da doença não foram efetuadas todos os anos e não
houve separação dos frutos por tamanho, não possível determinar a redução na
produção pela porcentagem de frutos pequenos nem pela percentagem estimada de
danos conforme proposto por Laranjeira & Palazzo (1999) e por Laranjeira
& Pompeu Júnior (2002). Segundo estes últimos autores, a avaliação da
reação à CVC não deve ser feita apenas com base em sintomas foliares, sendo
necessária a avaliação dos danos à produção. Pelo exposto, sugere-se que, em
futuros trabalhos, quando se tratar da influência dos porta-enxertos na
intensidade da doença, sejam feitas avaliações que permitam estimar os danos à
produção. Com exceção do IT, para todas as características de qualidade,
ocorreram diferenças significativas devidas aos porta-enxertos (Tabela_2).
'Cravo' x 'Cleópatra' proporcionou maior tamanho médio dos frutos, diferindo de
'Sun Chu Sha Kat', 'Pectinífera', 'Batangas', 'Oneco', 'Shekwasha' e
'Nasnaran'. 'Cravo' x 'Cleópatra' induziu os maiores valores médios de diâmetro
e altura dos frutos, diferindo de 'Pectinífera', 'Batangas', 'Oneco',
'Shekwasha' e 'Nasnaran' quanto à primeira característica e apenas de
'Nasnaran' quanto à altura. 'Nasnaran' proporcionou os maiores valores de SST,
diferindo de 'Cravo' x 'Cleópatra' e de 'Cravo'. O maior valor de acidez também
foi encontrado com este porta-enxerto, valor este que diferiu de todos os
demais, com exceção de 'Batangas'. O valor de ratio foi mais elevado com
'Cravo', diferindo significativamente de 'Suen-Kat', 'Heen Naran', 'Oneco',
'Batangas' e 'Nasnaran', indicando que estes porta-enxertos podem proporcionar
colheitas mais tardias. 'Cravo' x 'Cleópatra' e citrandarin proporcionaram os
maiores rendimentos em suco, diferindo significativamente de 'Nasnaran'. Em
1995, a incidência média de CVC, no pomar experimental, foi de 28,1 % (Tabela
3). Em alguns tratamentos, a incidência foi consideravelmente maior, 50% para
as cultivares Suen-Kat, Cravo x Cleópatra e Oneco, e 66,7% para Pectinífera/
Shekwasha. Não havia plantas com o grau máximo da doença. Na avaliação seguinte
(1997), a incidência média foi de 56,3% e detectaram-se plantas em todos os
porta-enxertos com o grau máximo da doença, exceto no citrandarin. Em 1999, a
incidência foi de 100%, havendo um percentual apreciável de plantas com o grau
máximo da doença (46,9%). Com relação ao percentual de plantas com grau máximo,
em 1999, Pectinífera e Pectinífera/Shekwasha apresentaram os maiores valores,
100% e 83,3%, respectivamente. As menores incidências foram detectadas nos
tratamentos citrangor e 'Sunki', 16,7% para ambos, e citrandarin que não
apresentou, novamente, plantas com grau máximo da doença. Os resultados obtidos
sugerem que a intensidade da CVC é distinta para uma mesma variedade em função
do porta-enxerto, o que diverge dos resultados relatados por Laranjeira et al.
(2001) e por de Stuchi et al. (1998) e está em concordância com os resultados
obtidos por Stuchi et al. (2002), que empregaram o mesmo critério de avaliação
adotado no presente trabalho. Os porta-enxertos, com exceção da tangerineira
'Nasnaran', induziram à laranjeira 'Pêra' qualidade e produtividades iniciais
de frutos similares às do limoeiro 'Cravo'.