Divergência genética entre linhagens de melão pele de Sapo
FITOTECNIA
Divergência genética entre linhagens de melão pele de Sapo1
Genetic divergence among Piel Del Sapo melon lines
Glauber Henrique de Sousa NunesI, *; José Hamilton da Costa FilhoII; Derly José
Henriques SilvaIII; Pedro Crescêncio Souza CarneiroIV; Mara Suyane Marques
DantasII
IDepartamento de Ciências Vegetais/UFERSA, Av. Francisco Mota, Campus Mossoró,
Mossoró-RN, Brasil, glauber@ufersa.edu.br
IIPrograma de pós-graduação em fitotecnia com área de concentração em
melhoramento vegetal/UFERSA, Av. Francisco Mota, Campus Mossoró, Mossoró-RN,
Brasil, 59.625-900, hamilton_costa@yahoo.com.br, mra_suy@hotmail.com
IIIDepartamento de Fitotecnia, UFV, Av. PH Rolfs, s/n, Campus Universitário,
Visçosa-MG, Brasil, 36.571-000, derly@mail.ufv.br
IVDepartamento de Biologia Geral, Av. P.H. Rolfs, s/n, Campus Universitário,
Viçosa-MG, Brasil, 36.571-000, carneiro@ufv.br
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RESUMO
Estudou-se a divergência genética entre linhagens de melão pele de Sapo,
avaliadas em Mossoró-RN. Foram avaliadas vinte linhagens em um experimento em
blocos casualizados com três repetições. A divergência genética foi avaliada
por procedimentos multivariados: distância generalizada de Mahalanobis, método
de agrupamento de otimização de Tocher e UPGMA. As características estudadas
foram: número total de frutos, produtividade, peso médio dos frutos, diâmetro
transversal, diâmetro longitudinal, índice de formato, cavidade interna,
espessura da polpa, firmeza da polpa, teor de sólidos solúveis, concentração de
colheita e perda de peso. Houve concordância parcial quanto à composição dos
grupos formados pelos métodos de otimização de Tocher e UPGMA. As
características que mais contribuíram para a divergência foram firmeza de polpa
(20,69%) e sólidos solúveis (10,94%). A presença de variabilidade genética
permitiu a identificação de cultivares dissimilares e com média elevada para as
características estudadas. Os cruzamentos sugeridos no estudo da divergência
genética foram: SA-13 x TH-03, SA-13 x TH-04, SA-13 x TH-05, SA-13 x TH-07, SA-
13 x TH-09 e SA-13 x SA-17, TH-05 x TH-04, TH-05 x SA-10, TH-05 x SA-12, TH-05
x SA-14 e TH-05 x SA-14.
Palavras-chave - Cucumis melo. Escolha de genitores. Heterose. Cucumis melo -
Variabilidade genética.
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ABSTRACT
The objective of this work was to study the genetic divergence among lines of
Pele de Sapo melon evaluated in Mossoró-RN, Brazil. Twenty lines were evaluated
in a randomized block design with three replications. The genetic divergence
was evaluated by multivariate procedures: generalized distance of Mahalanobis,
methods of grouping optimization of Tocher and UPGMA. The traits assessed were:
The traits evaluated were: total number of fruits, productivity, average weight
of fruits, transversal diameter, diameter longitudinal, format index, internal
cavity, pulp thickness, pulp firmness, soluble solids content, concentration of
harvesting and weight loss. There was partial concordance regarding the
composition of the groups formed by the methods of optimizing Tocher and UPGMA.
The traits that most contributed to the divergence have been pulp firmness
(20.69%) and soluble solids (10.94%). The presence of genetic variability
allowed the identification of cultivars dissimilar and with a mean high for the
traits studied. The crosses suggested in the study of genetics divergence were:
SA-13 x TH-03, SA-13 x TH-04, SA-13 x TH-05, SA-13 x TH-07, SA-13 x TH-09, SA-
13 x SA-17, TH-05 x TH-04, TH-05 x SA-10, TH-05 x SA-12, TH-05 x SA-14 and TH-
05 x SA-14.
Key words - Cucumis melo. Choice of parents. Heterosis. Cucumis melo - Genetic
variability.
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Introdução
A lavoura meloeira é baseada no uso de sementes melhoradas, em especial,
híbridos simples, bem como na alta tecnologia de produção com a aplicação de
insumos agrícolas e modernas técnicas de irrigação e manejo pós-colheita dos
frutos (FREITAS et al., 2007). Dentre os híbridos existentes, aqueles
pertencentes à variedade botânica inodorus são os mais cultivados, com destaque
para o tipo amarelo que corresponde a mais de 60% do melão exportado, seguido
dos tipos Orange Flesh com 15,1% das exportações e Pele de Sapo com 9,29%,
sendo este último preferido no mercado espanhol (SALES JÚNIOR et al., 2006).
A maioria dos híbridos produzidos são oriundos de programas de melhoramento
desenvolvidos em países como os Estados Unidos, Espanha, Holanda e França. Os
genótipos selecionados e produzidos nesses países são avaliados pelos
produtores em áreas de cultivo comercial. Todavia, nos últimos anos, tanto as
empresas privadas como as empresas públicas têm desenvolvido trabalhos de
melhoramento nas condições climáticas e de cultivo dos principais Estados
produtores como Rio Grande do Norte e Ceará.
A estratégia é a obtenção de linhagens endogâmicas, com recuperação da heterose
por cruzamentos. Por outro lado, no caso, principalmente, de instituições
públicas, nas quais os recursos são limitados, a obtenção de híbridos simples
de todas as linhagens selecionadas pode ser um fator limitante. Com efeito, o
conhecimento da divergência genética entre os possíveis genitores tem sido
bastante importante para estudos que envolvem hibridações, pois fornecem
informações para a identificação de genitores que possibilitem maior efeito
heterótico. A divergência genética tem sido utilizada como indicativo de que os
genitores quando cruzados proporcionarão elevado efeito heterótico aos seus
híbridos (CRUZ et al., 1994).
No estudo da divergência genética, empregam-se procedimentos multivariados de
análise estatística com o intuito de reunir, por algum critério de
classificação, as unidades amostrais em vários grupos, de tal forma que exista
homogeneidade dentro de cada grupo e heterogeneidade entre grupos (MACHADO et
al., 2002).
Embora existam muitos artigos de diversidade com o meloeiro na literatura
internacional, em especial como marcadores moleculares (LOPÉZ-SESÉ et al.,
2003; STAUB et al., 2003), no Brasil, ainda são escassos os trabalhos com
divergência genética. Rizzo e Braz (2004), utilizando a distância de
Mahalanobis obtida por caracteres morfológicos, agruparam cinco linhagens de
melão rendilhado em dois grupos. O primeiro grupo formado pelas linhagens JAB-
20, JAB-21 e 'Bônus 02', e o segundo, por JAB-22 e JAB-23. Braz et al. (2004),
avaliando a divergência genética de vinte linhagens de melão rendilhado por
características morfológicos, obtiveram pela técnica de otimização de Tocher,
sete grupos de similaridade, sendo um formado por 14 genótipos e seis formados
por um genótipo cada.
Diante dessas considerações, o presente trabalho foi desenvolvido para
quantificar a dissimilaridade genética entre linhagens de melão Pele de Sapo a
partir de características morfo-agronômicas, por meio da aplicação de
estatística multivariada, visando indicar cruzamentos potencialmente
promissores.
Material e métodos
O experimento foi conduzido entre setembro e novenbro de 2005 em Mossoró,
município do Rio Grande do Norte, situado a 5º11' de latitude Sul, 37º20'
longitude a oeste de Greenwich e 18 m de altitude. O clima, segundo a
classificação de Koppen, é BSwh', ou seja, muito seco, com estação de chuva no
verão atrasando-se para o outono (período de março a junho) (CARMO FILHO;
OLIVEIRA, 1989).
Foram avaliadas 20 linhagens pele de Sapo, sendo as linhagens TH-01, TH-02, TH-
03, TH-04, TH-05, TH-06, TH-07, TH-08, TH-09 obtidas do cruzamento entre os
híbridos do Tipo Pele de Sapo HTH-07 e Tendency. As linhagens SA-10, SA-11, SA-
12, SA-13, SA-14, SA-15, SA-16, SA-17, SA-18, SA-19 e SA-20, obtidas do híbrido
do tipo Pele de Sapo Sancho. Todas as linhagens do presente estudo têm polpa
branca e expressão sexual andromonóica. As linhagens foram obtidas pelo método
SSD (Single Seed Descendent) com modificações e estão na geração S8.
A cultura foi irrigada por gotejamento, com fertirrigação, no espaçamento de
2,0 m entre linhas e 0,5 m entre gotejadores. Foram utilizados dois turnos de
rega no período entre 12 e 30 dias após o transplantio e um turno de rega até
65 dias. No manejo da irrigação, a evapotranspiração da cultura foi estimada a
partir da evapotranspiração de referência, através da equação de Penman-
Monteith FAO utilizando dados de uma estação climatológica situada a 12 km e
coeficiente de cultura (Kc). A lâmina total de irrigação foi obtida pela razão
entre a evapotranspiração da cultura e a eficiência da irrigação, adotada como
0,91. O volume de água foi em torno de 3.000 m3 ha-1. Os fertilizantes foram
aplicados de acordo com as recomendações baseadas na análise do solo. A
adubação de fundação, em kg ha-1, consistiu de 130 N, 270 K2O e 85 de P2O5 e 10
t ha-1 de esterco bovino. As fontes de minerais fornecidas via água de
irrigação, em kg ha-1, foram: 450 de KCl, 120 de Uréia, 450 de CaNO3 e 210 de
H3PO4. As demais práticas culturais foram realizadas conforme a recomendação de
manejo para a cultura no estado (NUNES et al., 2005).
Utilizou-se o delineamento de blocos completos casualizados com três
repetições. Cada parcela foi constituída por duas linhas de 5 metros de
comprimento, contendo 10 plantas cada. As características avaliadas estão
apresentadas na Tabela_1. A metodologia de avaliação das características está
descrita em detalhes por Torres et al. (2009).
Foram realizadas análises de variância univariada para todas as características
avaliadas e, posterior agrupamento de médias conforme Scott-Knott (BHERING et
al., 2008). Posteriormente, realizou-se a análise de variância multivariada e
aplicação do critério de Wilks a 5% de significância. A partir da matriz das
médias de cada característica para cada linhagem e da matriz de variância-
covariância residual, foram calculadas as distâncias generalizadas de
Mahalanobis (D2ij), conforme descrição de Cruz et al. (2004). Realizou-se o
diagnóstico de multicolinearidade da matriz de correlação residual pelo método
de Montgomery e Peck (1981). A análise de agrupamento foi realizada com a
matriz de distâncias de Mahalanobis entre as linhagens, utilizando o método
aglomerativo de Tocher e o método hierárquico do UPGMA. Foi utilizado o
critério de Singh, descrito por Cruz et al. (2004), para identificar a
contribuição relativa de cada característica para a divergência genética. Todas
as análises foram processadas no programa GENES (CRUZ, 2008).
Resultados e discussão
A existência de diferenças significativas entre as médias dos cultivares para
todas as características, exceto diâmetro transversal, concentração de colheita
e perda de peso, ao nível de 1% de significância pelo teste F de Snedecor,
indicando a existência de variabilidade genética estão apresentados na Tabela
1.
As linhagens foram agrupadas em três grupos, conforme metodologia de Scott-
Knott, para o número total de frutos (TAB._1). As linhagens com maior número de
frutos, primeiro grupo, foram TH-02, TH-08, SA-10 e SA-20. Enquanto que as
linhagens TH-03, TH-05, TH-07, TH-09, SA-13 e SA-15, pertencentes ao grupo
três, possuíram os menores valores da referida característica. O número de
frutos é uma característica importante dentro de um programa de melhoramento do
meloeiro. Considerando que o mercado exige frutos pesados (> 3,0 kg) de melão
do tipo Pele de Sapo, o melhorista deve priorizar frutos maiores, contudo deve
selecionar genótipos produtivos. Sabendo que o número de frutos é uma
característica que se correlaciona positivamente com a produtividade, mas
negativamente com o tamanho do fruto (NUNES et al., 2009) é sempre um desafio
para o melhorista. Nos hibridos atuais, em média, são colhidos 1,5 frutos por
planta no padrão comercial.
Com relação à produtividade, também foi verificada a formação de três grupos. O
primeiro grupo, formado pelas mais produtivas, contemplou 70% das linhagens,
sendo as linhagens TH-01, TH-02, TH-04, TH-06 e TH-08 do cruzamento dos
híbridos do tipo Pele de Sapo HTH-07 e Tendency; e as demais linhagens (SA-10,
SA-12, SA-14, SA-15, SA-16, SA-17, SA-18, SA-19 e SA-20) do híbrido Sancho. O
segundo grupo foi composto pelas linhagens TH-03, TH-07 e SA-11, enquanto que o
terceiro foi constituído pelas linhagens TH-05, TH-09 e SA-13. Em melão, a
produtividade precisa ser de pelos menos 25 t ha-1 para que o produtor tenha
lucro (PAIVA et al., 2002). Assim sendo, apenas as linhagens pertencentes ao
primeiro grupo estariam próximas desse nível mínimo. Um aspecto importante a
ser ressaltado é que como se trata de linhagens, as médias são inferiores
àquelas observadas nos híbridos avaliados em estudos anteriores no Agropolo
Mossoró-Assu (NUNES et al., 2004; NUNES et al., 2005). Por outro lado, segundo
Dias et al. (1998), a produtividade média de melão está entre 17 e 30 t ha-1.
Com efeito, a média do experimento está dentro da faixa verificada pelos
autores. Outro aspecto relevante na cultura do meloeiro é que a mesma possui
pouca depressão por endogamia, assim como as demais cucurbitáceas, sendo na
verdade considerada uma espécie mista quanto à biologia reprodutiva (MALUF,
2001). Esse fato é muito relevante, pois indica a possibilidade de obter
cultivares de melão como linhagens, embora as empresas privadas tenham
explorado a heterose, lançando anualmente no mercado apenas híbridos simples
por diversas razões, inclusive de proteção comercial. A exceção são as
variedades de polinização aberta de melão do tipo Honey Dew (GUSMINI et al.,
2008).
Formaram-se três grupos quanto ao peso médio do fruto, sendo o primeiro grupo
formado pelas linhagens TH-01, TH-05, SA-13, SA-15, SA-16 e SA-19, com frutos
superiores a 3,0 kg. O tamanho do fruto do melão do tipo Pele de Sapo é uma
característica muito importante uma vez que, ao contrário dos frutos de todos
os outros tipos de melão, o mercado consumidor exige frutos de melão do tipo
Pele de Sapo com tamanhos acima de 3,0 kg. Não obstante, o melão Pele de Sapo é
muito apreciado principalmente no mercado espanhol, sendo comercializados, no
Porto de Natal, frutos entre 2,5 e 3,5 kg (SALES JÚNIOR et al., 2006). Com
efeito, os frutos das linhagens do segundo grupo também podem ser
comercializados no mercado europeu.
As linhagens não diferiram quanto ao diâmetro transversal, embora tenham
diferido quanto ao diâmetro transversal. Para a referida característica
formaram-se três grupos de linhagem. O grupo de menores médias foi composto
pelas linhagens TH-06 e TH-08. O segundo grupo foi formado pelas linhagens TH-
02, TH-04 e AS-10. Por fim, o grupo com frutos mais alongados foi composto
pelas demais linhagens. Houve maior discriminação entre as linhagens oriundas
dos genitores THT-07 e Tendency, quando comparadas com as linhagens oriundas do
híbrido Sancho.
Para o índice de formato verificou-se exatamente a mesma discriminação
observada para o diâmetro longitudinal (TAB._1). Todas as linhagens têm frutos
de formato oval (1,01 < IF < 1,50) (PAIVA et al., 2000), característica
marcante dos cultivares de melão do tipo Pele de Sapo.
As linhagens foram agrupadas em dois grupos quanto à cavidade interna. O grupo
com as menores estimativas de médias foi formado pelas linhagens TH-02, TH-05,
TH-08, SA-11, SA-14, SA-18, SA-19 e SA-20. As linhagens também foram divididas
em dois grupos para a espessura da polpa. O grupo com maiores estimativas foi
constituído por 65% das linhagens, com estimativas variando de 4,4 a 5,1 cm. No
melão é desejado fruto com menor cavidade interna e maior espessura da polpa,
pois tais características reduzem o deslocamento da placenta, desacelerando a
deterioração do fruto. Os valores médios observados estão coerentes com as
estimativas observadas em híbridos de melão do tipo Pele de Sapo, cultivados no
Estado do Rio Grande do Norte (NUNES et al., 2005).
Verificou-se uma grande discriminação de linhagens para firmeza da polpa, com a
formação de cinco grupos. Todavia, a maioria das linhagens foi agrupada nos
três grupos intermediários. Os grupos extremos foram formados cada um por
apenas uma linhagem. A linhagem SA-13 o grupo de maior média (44 N), enquanto
que a linhagem TH-05 formou o grupo de menor média (18,8 N). A firmeza da polpa
é outro atributo de qualidade importante, em razão dos frutos com maior firmeza
serem mais resistentes às injúrias mecânicas durante o transporte e a
comercialização. Frutos colhidos com maior firmeza da polpa têm, geralmente,
maior conservação e vida útil pós-colheita. Em estudos realizados com vários
tipos de melão no Agropólo Mossoró-Assu, Filgueiras et al. (2000) observaram o
valor mínimo de 22 N para firmeza da polpa. No presente trabalho, apenas a
linhagem TH-05 tem firmeza da polpa abaixo do valor mínimo.
As linhagens foram agrupadas em quatro grupos para o teor de sólidos solúveis.
Destaque para as linhagens dos dois primeiros grupos, com estimativas
superiores a 10%. O teor de sólidos solúveis (SST), definido como a percentagem
de sólidos solúveis no suco extraído da polpa, é um fator tradicionalmente
usado para definir a qualidade do melão. A maioria dos países utiliza os
valores do conteúdo de sólidos solúveis como o principal guia de mercado para a
aceitação de frutos do meloeiro. O valor mínimo recomendado para Europa para o
melão Pele de Sapo, segundo Filgueiras et al. (2000) é de 11%. Conforme este
critério, apenas as linhagens dos dois primeiros grupos estariam dentro do
valor mínimo aceitável. Não obstante, frutos com valores acima de 10% têm sido
comercializados no porto de Natal (SALES JÚNIOR et al., 2006).
Em melão é interessante que a maioria dos frutos seja colhida na primeira, ou
pelo menos, na segunda colheita, pois reduz as atividades de colheita, no
campo, e pós-colheita, em packing house, diminuindo os custos de produção com
mão-de-obra. Outro aspecto não menos relevante é o fato de que frutos colhidos
nas últimas colheitas podem ser afetados pelo estresse causado nas plantas
devido às atividades das colheitas anteriores. As linhagens não diferiram
quanto à concentração de colheita. As porcentagens observadas estão dentro da
faixa constatada em híbridos comerciais no Agropolo Mossoró-Assu.
Durante o período de armazenamento, uma característica importante a ser
analisada é a perda de massa, ocasionada pela transpiração dos frutos. A perda
de massa pode acarretar sérios efeitos sobre as propriedades físicas,
nutricionais, fisiológicas, patológicas e de aparência do produto. Em adição,
do ponto de vista econômico, a perda de peso é uma característica fundamental,
pois a venda dos frutos é feita em unidade de massa. As linhagens não diferiram
quanto a essa característica. Não houve efeito de linhagens e os valores
observados estão de acordo com as estimativas observadas em estudos de pós-
colheita realizados na região (GOMES JÚNIOR et al., 2001; MENEZES et al, 2001).
Considerando as distâncias máxima e mínima para cada uma das linhagens
avaliadas no presente estudo (TAB._2), observou-se que a linhagem SA-13 foi a
mais divergente em relação a quatorze linhagens (TH-01, TH-02, TH-03, TH-05,
TH-06, TH-07, TH-08, TH-09, SA-11, SA-15, SA-16, SA-17, SA-18 e SA-19),
enquanto a linhagem TH-05 em relação a seis linhagns (TH-04, SA-10, SA-12, SA-
13, SA-14 e SA-20).
Com relação aos pares menos divergentes, constatou-se que o par mais similar é
SA-11 e SA-16 (TAB._2). De um modo geral, as menores distâncias foram
observadas dentro de cada grupo de linhagens, ou seja, as linhagens oriundas do
cruzamento THT-04 e Tendency foram mais similares entre si, fato também
verificado para as linhagens com background do híbrido Sancho.
No método de UPGMA foram formados quatro grupos (FIG._1). O primeiro grupo foi
formado pela linhagem SA-13; o segundo pelas linhagens TH-06, SA-10, TH-04, TH-
08 e TH-02; o terceiro grupo pelas linhagens TH-03, TH-05, TH-07 e TH-09. O
quarto grupo foi formado pelas demais linhagens. A correlação cofenética entre
matriz de distâncias originais e a matriz resultante do agrupamento foi de
0,76** e a distorção de 15,16%, evidenciando que o agrupamento refletiu as
distâncias originais.
![](/img/revistas/rca/v42n3/24f01.jpg)
Os grupos II e III foram constituídos pelas linhagens oriundas do cruzamento
Tendency x HPS-07, com exceção da linhagem SA-10, com background do híbrido
Sancho. O grupo IV foi composto por nove linhagens obtidas do híbrido Sancho e
apenas uma linhagem do cruzamento Tendency x HPS-07 (FIG._1).
No presente estudo, firmeza da polpa e sólidos solúveis foram as
características que mais contribuíram para a divergência com 20,69 e 10,94%,
respectivamente (TAB._3). Paiva (2002) e Rizzo e Braz (2002) constataram que o
teor de sólidos solúveis foi uma das características de maior contribuição para
a divergência genética entre linhagens de melão. Uma das prioridades em
qualquer programa de melhoramento é o aumento do teor de sólidos solúveis. Essa
é um das características mais importantes no melão, pois é utilizada como um
fator de qualidade do fruto. Em função, principalmente, do teor de sólidos
solúveis é definido o mercado de consumo do fruto. Por outro lado, a firmeza da
polpa está estreitamente relacionada com a vida útil pós-colheita do fruto,
sendo uma característica fundamental em frutos exportados para mercados
distantes como Europa e Estados Unidos.
[/img/revistas/rca/v42n3/24t03.jpg]
A formação de grupos linhagens via Tocher auxilia no planejamento das
combinações híbridas a serem obtidas. Com efeito, híbridos promissores podem
ser obtidos entre linhagens de grupos distintos. Dentro de cada grupo devem ser
identificadas as linhagens de interesse a partir das estimativas das médias das
características mais importantes do meloeiro.
A técnica de otimização de Tocher discriminou quatro grupos de linhagens (TAB.
3). O primeiro grupo foi composto por 70% das linhagens, sendo nove linhagens
SA (SA-17, SA-18, SA-15, SA-16, SA-11, SA-19, SA-12, SA-20 e SA-14) e cinco TH
(TH-01, TH-02, TH-07, TH-03, TH-09).
O segundo grupo foi constituído por quatro linhagens, sendo três do cruzamento
Tendency x HTC-07 (TH-04, TH-06 e TH-08) e uma do híbrido Sancho (SA-10). Os
grupos III e IV foram compostos por apenas uma linhagem. A linhagem TH-05 no
grupo III e a linhagem SA-13, no grupo IV.
Considerando o grupo de linhagens estudado, a princípio, o primeiro cruzamento
recomendado é SA-13 x TH-05, uma vez que a maior distância de Mahalanobis foi
constatada entre essas linhagens, proporcionando a alocação das mesmas em
grupos distintos pelos métodos de Tocher (TAB._4) e UPGMA (FIG. 1). Além disso,
as referidas linhagens possuem diferentes backgrounds genéticos. As linhagens
SA-13 e TH-05 possuem frutos grandes (> 3,0 kg), mas diferem principalmente na
firmeza da polpa e no teor de sólidos solúveis.
A linhagem SA-13 pode ser cruzada com as linhagens do grupo II,
preferencialmente com as linhagens TH-06 e TH-08 em razão da magnitude das
distâncias de Mahalanobis (TAB._2). As linhagens TH-06 e TH-08 são mais
produtivas em relação à linhagem SA-13, mas a linhagem SA-13 tem maior firmeza
de polpa e teor de sólidos solúveis superior a linhagem TH-06.
Em razão das magnitudes das distâncias, a linhagem SA-13 pode ser cruzada com
as linhagens TH-03, TH-07, TH-09 e SA-17, pertencentes ao grupo I formado pelo
método de Tocher. As referidas linhagens têm menor firmeza de polpa, teor de
sólidos solúveis e frutos menores em relação à linhagem SA-13, mas são mais
produtivas (TAB._1).
A linhagem TH-05, a segunda mais divergente do grupo avaliado, poderia ser
cruzada com as linhagens do grupo II, preferencialmente com SA-10 e TH-04,
pelas magnitudes das distâncias de Mahalanobis (TAB._2). A linhagem TH-05
maiores frutos, com maior espessura de polpa e cavidade. Qualidades que podem
ser combinadas com a maior produção, maior firmeza de polpa e menor teor de
sólidos solúveis das linhagens SA-10 e TH-04 (TAB._1).
A linhagem TH-05 poderia ser cruzada com as linhagens SA-12, SA-20, SA-14 do
grupo I. As maiores distâncias de Mahalanobis para as linhagens SA-12, SA-20,
SA-14 são em relação à linhagem TH-05 (TAB._2). Os referidos cruzamentos
permitem combinar as qualidades de número total de frutos, produtividade,
sólidos solúveis, firmeza de polpa das linhagens SA-12, SA-20, SA-14 com o
tamnaho do fruto da linhagem da linhagem TH-05.
Embora o procedimento mais indicado para testar a capacidade de cruzamentos de
linhagens seja o testcross, especialmente em espécies com alta taxa de
fecundação cruzada como o milho, as empresas produtoras de sementes têm
recetemente utilizado a divergência genética com base em caracteres morfo-
agronômicos e também com dados moleculares para identificar combinações de
genitores com potencial para obtenção de populações segregantes com média
elevada e grande variabilidade genética. Todavia, os estudos têm mostrado que
não necessariamente os genitores mais divergentes produzirão a população com as
características desejadas (FERREIRA et al., 1995). No caso do meloeiro, há
resultados discrepantes na literatura. Paiva (2002) não constatou relação entre
a divergência de linhagens e a heterose. Barros (2005) também trabalhando com
melão verificou que não há associação entre a divergência e a variabilidade
genética na população, bem como entre a divergência e a heterose. Todavia,
trabalhando com a divergência genética com dados morfológicos e moleculres de
linhagens de melão dos tipos Gália e Pele de Sapo, Garcia et al. (1998)
recomendam a utilização das distancias genéticas para orientar cruzamentos em
meloeiro e explorar a heterose, bem como José et al. (2005). Não obstante os
resultados contraditórios verificados na literatura, vale ressaltar que o uso
da divergência genética permite uma orientação parcial sobre quais cruzamentos
podem ser realizados. Nesse sentido, as informações da divergência são
interessantes, pois permitem a redução do trabalho do melhorista, bem como
recursos e mão-de-obra dispensados nos cruzamentos. No presente trabalho, o
estudo da divergência genética permitiu maior indicação de cruzamentos de
linhagens provenientes de backgrouds genético diferentes.
A análise de comparação de médias, juntamente com os agrupamentos estabelecidos
pelo método de Tocher e UPGMA, permite a identificação de quais serão os
cruzamentos promissores, bem como aqueles que poderão resultar em variabilidade
restrita nas gerações segregantes, como aqueles realizados entre progenitores
de um mesmo grupo. Neste sentido, poderão ser esperadas como promissoras as
seguintes hibridações: SA-13 x TH-03, SA-13 x TH-04, SA-13 x TH-05, SA-13 x TH-
07, SA-13 x TH-09 e SA-13 x SA-17, TH-05 x TH-04, TH-05 x SA-10, TH-05 x SA-12,
TH-05 x SA-14 e TH-05 x SA-14.
Conclusões
1. Houve concordância parcial quanto à composição dos grupos formados pelos
métodos de otimização de Tocher e UPGMA;
2. As características que mais contribuíram para a divergência foram firmeza de
polpa (20,69%) e sólidos solúveis (10,94%);
3. A presença de variabilidade genética permitiu a identificação de cultivares
dissimilares e com média elevada para as características estudadas;
4. Os cruzamentos sugeridos no estudo da divergência genética foram: SA-13 x
TH-03, SA-13 x TH-04, SA-13 x TH-05, SA-13 x TH-07, SA-13 x TH-09 e SA-13 x SA-
17, TH-05 x TH-04, TH-05 x SA-10, TH-05 x SA-12, TH-05 x SA-14 e TH-05 x SA-14.
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Recebido para publicação em 08/09/2010; aprovado em 20/04/2011
* Autor para correspondência
1 Pesquisa financiada com recursos do PROAP (CAPES)
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