Colite alérgica: características clínicas e morfológicas da mucosa retal em
lactentes com enterorragia
ARTIGO ORIGINAL
GASTROENTEROLOGIA PEDIÁTRICA
Colite é termo utilizado para designar processos inflamatórios, de diferentes
etiologias, que envolvem o intestino grosso, na presença de lesões
microscópicas características, não necessariamente associadas a alterações
macroscópicas. A causa mais importante da colite, no primeiro ano de vida, é
alergia alimentar(19), sendo as proteínas do leite de vaca e da soja os
alérgenos principalmente implicados(5), podendo inclusive ser veiculados pelo
leite materno(1). Enterorragia é a principal manifestação clínica e que pode
ser a única queixa ou mesmo vir acompanhada de outros sintomas(12, 23); na
maioria das vezes, porém, apenas o quadro sintomático não é suficiente para
esclarecer a etiologia da colite. O estudo histopatológico da mucosa retal deve
sempre ser realizado e se constitui no método diagnóstico mais importante,
embora não patognomônico, para o esclarecimento da etiologia da colite. Assim
sendo, além de outras possíveis anormalidades morfológicas, a presença de um
infiltrado eosinofílico na mucosa retal, associado a manifestações clínicas
pertinentes, sugere fortemente a suspeita diagnóstica de colite alérgica. O
desaparecimento dos sinais em concomitância com a retirada da suposta proteína
agressora da dieta e a restituição integral da morfologia da mucosa retal,
preenche os critérios de forma suficiente para a confirmação diagnóstica de
colite alérgica.
Considerando que no nosso meio, até o presente momento, não são conhecidos
estudos que correlacionem os dados clínicos com os achados histopatológicos na
colite alérgica, realizou-se este projeto de pesquisa para descrever as
características clínicas e morfológicas da mucosa retal neste grupo de
pacientes e compará-las com um grupo controle.
CASUÍSTICA E MÉTODOS
Pacientes
Foram estudados, de forma prospectiva e consecutiva, 20 lactentes, de ambos os
sexos, menores de 6 meses, com queixa de sangramento vivo nas fezes e suspeita
clínica de alergia alimentar. Em cada caso foram obtidas as seguintes
informações: idade, sexo, idade de início da enterorragia, presença de outros
sintomas associados (vômitos, regurgitação, diarréia, palidez, distensão
abdominal, dor abdominal, ganho ponderal inadequado, constipação e febre), peso
ao nascer, tipo de alimentação no início dos sintomas (leite materno, leite de
vaca ou a combinação de ambos), idade do desmame, tratamentos dietéticos
prévios, antecedentes pessoais e familiares de primeiro grau de outras doenças
de provável origem alérgica.
Foram realizados os seguintes testes laboratoriais: hemograma completo,
protoparasitológico e coprocultura. A avaliação do estado nutricional foi
determinada segundo os critérios de GOMEZ(9), tomando como referência o gráfico
de crescimento ponderoestatural do NCHS(30).
Critérios de inclusão
1. Presença de sangue vivo nas fezes ou diarréia sanguinolenta, acompanhado
ou não de outros sintomas.
2. Aleitamento materno exclusivo, artificial ou misto.
3. Ausência de antecedentes de hipóxia durante o período neonatal.
Critérios de exclusão
1. Presença de parasitas e/ou agentes enteropatogênicos nas fezes.
2. Alterações de coagulação.
Critérios diagnósticos de colite alérgica
Foram utilizados os critérios propostos por WALKER-SMITH(31), a saber:
1. Presença de sangramento retal em um paciente com desenvolvimento
ponderoestatural normal.
2. Exclusão de causas infecciosas de colite.
3. Desaparecimento dos sintomas, após eliminação do leite de vaca da dieta
da criança e da mãe
4. Desencadeamento precoce não é necessário, na rotina poderia ser tentado
entre 9 e 12 meses de idade, quando provavelmente, a criança já será
tolerante ao leite de vaca.
Controles
Constituído por 10 lactentes menores de 1 ano, com suspeita de megacólon
congênito, que não apresentavam manifestações clínicas compatíveis com colite,
bem como antecedentes de alergia alimentar e cujo desenvolvimento
ponderoestatural encontrava-se dentro dos limites da normalidade. A análise da
mucosa retal, obtida por biopsia, mostrou-se compatível com os padrões de
normalidade.
Avaliação morfológica da mucosa retal
Biopsia retal foi realizada durante o período de estado da enfermidade, antes
do início do tratamento, sem sedação e sem preparo prévio, com pinça de
aspiração de Rubin. Em todos os pacientes foram colhidos três fragmentos a 2, 3
e 5 cm da borda anal, das paredes lateral ou posterior do reto. Os fragmentos
de tecido foram submergidos em solução fixadora de formalina a 10% e,
posteriormente, incluídos em parafina, processados em micrótomo em cortes de 4
a 5 micras de espessura e corados pela técnica de hematoxilina-eosina. Para
cada caso foi feita avaliação inicial qualitativa de toda a lâmina de biopsia
tendo sido escolhido o fragmento que apresentasse maior intensidade de
anomalias anatomopatológicas, sendo estudados cinco campos de grande aumento
para cada paciente. Os elementos microscópicos avaliados foram: alterações no
epitélio superficial (degeneração, regeneração, erosão, criptite, metaplasia de
células de Paneth), alterações da arquitetura glandular (distorção,
ramificação, abscessos crípticos), conteúdo mucoso das glândulas (normal ou
reduzido), infiltrado da lâmina própria (tipo, extensão, quantidade), nódulos
linfóides (presença, número, localização), presença de granulomas, parasitas,
fungos, corpos de inclusão de citomegalovírus e outras inclusões virais. O
número de eosinófilos e neutrófilos foi realizada para cada uma das camadas da
mucosa retal (epitélio superficial, epitélio glandular, lâmina própria e
muscular da mucosa).
A contagem de eosinófilos foi realizada tomando como padrão de anormalidade os
achados dos estudos de WINTER et al.(32) e ODZE et al.(23), a saber:
1. Presença de um ou mais eosinófilos por campo, de grande aumento avaliado
(400x), no epitélio superficial ou glandular ou na muscular da mucosa. O
número total de células foi expresso como a média do número total de
células, dividido entre o número de campos de grande aumento avaliados.
2. Presença de seis ou mais eosinófilos por campo, de grande aumento
avaliado, na lâmina própria. O número total de células foi expresso da
mesma forma que no item anterior.
Foram contados apenas os eosinófilos íntegros e não os degranulados para evitar
erros de identificação.
Para caracterização histológica da colite foram adotados os critérios de
GOLDMAN(8).
Análises estatísticas
Foram aplicados os testes de Mann-Whitney, Kruskall-Wallis, Fisher e o de
comparações múltiplas. Para a descrição dos achados clínicos foram usados
apenas média, desvio padrão e mediana. As médias foram calculadas e
apresentadas apenas a título de informação, para a contagem celular, sendo que
os valores não se comportam de acordo com a curva normal. São apresentadas as
medianas.
O presente projeto de pesquisa foi aprovado pela Comissão de Ética Médica da
Universidade Federal de São Paulo.
RESULTADOS
Características clínicas
A idade dos pacientes esteve compreendida entre 22 e 175 dias (média 97 ± 47
dias), sendo que 50% eram do sexo feminino. A idade de início dos sintomas
esteve compreendida entre 2 e 157 dias (média 54 ± 40 dias), sendo que em 85%
dos casos os sintomas tiveram início anteriormente aos 120 dias de idade. A
determinação da idade gestacional mostrou que 80% eram nascidos de termo e 20%
pré-termo; no último caso a idade gestacional esteve compreendida entre 35 e 36
semanas, 90% apresentava peso adequado ao nascer (maior de 2,500 g) e 10%
apresentaram peso abaixo de 2,500 g ao nascer, sendo que nenhum deles
apresentou peso inferior a 2,000 g.
A avaliação do estado nutricional, segundo os critérios de GÓMEZ(9), indicou
que 70% eram eutróficos e 30% apresentavam desnutrição de I grau. Entre os seis
pacientes com déficit ponderal, três correspondiam a nascimentos pré-termo.
Com relação à alimentação quando do início dos sintomas, 60% recebiam leite de
vaca ou este além do leite materno, e 40% recebiam exclusivamente leite
materno. O desmame ocorreu antes dos 4 meses de idade em 92% dos pacientes
(considerando-se os pacientes que não estavam em aleitamento materno exclusivo
no momento da primeira consulta).
Quanto aos pacientes que recebiam leite materno exclusivo, a média de tempo
entre o início da alimentação e o surgimento dos sintomas foi de 42 ± 38 dias,
ao passo que nos pacientes que recebiam aleitamento misto ou artificial, a
média de tempo foi 24 ± 23 dias; embora estas médias tenham sido
consideravelmente distintas, não houve significância estatística entre ambas.
Os sintomas associados à enterorragia foram: vômito e/ou regurgitação (65%),
palidez (30%), cólicas (20%), diarréia (20%), ganho ponderal inadequado (15%),
distensão abdominal (15%), constipação (5%) e febre (5%). Manifestações
cutâneas de provável origem alérgica estiveram presentes em 20% dos pacientes e
respiratórias em 10% deles. Manifestações alérgicas em familiares de primeiro
grau estiveram presentes em 50% dos casos, sendo maternos em 15%, paternos em
5%, ambos em 20% e em irmãos em 10% deles. Em relação aos tratamentos
dietéticos previamente utilizados, sem aparente sucesso, três pacientes (15%)
haviam recebido fórmula de soja e dois (10%) fórmula a base de hidrolisado de
proteínas.
A média de hemoglobina foi 10,2 ± 0,8 g/dL, com valor mínimo de 8,1 g/dL e
máximo de 11,7 g/dL e a do hematócrito 34 ± 2,8%, mínimo de 25% e máximo 37%.
Características morfológicas da mucosa retal
Quando avaliados os aspectos morfológicos da mucosa retal nos pacientes e nos
controles (Tabela_1), encontrou-se no epitélio superficial erosão ou úlcera em
3 dos 20 pacientes estudados, ao passo que nos controles não foram observadas
alterações no epitélio superficial.
A arquitetura glandular esteve preservada tanto nos pacientes, quanto nos
controles; apenas 5 dos 20 pacientes tiveram conteúdo mucoso diminuído.
O infiltrado da lâmina própria esteve sempre aumentado tanto nos pacientes,
quanto nos controles, sendo levemente aumentado em todos os controles e nos 20
pacientes, foi leve em 13 e moderado em 7. O infiltrado sempre foi difuso.
Nódulos linfóides estiveram presentes em 17 de 20 pacientes e em 5 de 10
controles, não existindo diferença estatisticamente significativa entre ambos
os grupos.
Pesquisa de granulomas, parasitas, ovos, fungos e corpos de inclusão viral
mostrou-se sempre negativa em ambos os grupos.
A contagem de eosinófilos e neutrófilos em cada uma das camadas da mucosa retal
(Tabela_2), mostrou variação de neutrófilos entre 0,1 e 0,5 por campo de grande
aumento (CGA), nos pacientes com alergia às proteínas do leite de vaca (APLV),
sendo esta variação de 0,02 até 0,2 no grupo controle, cuja diferença não se
mostrou estatisticamente significativa. Para os eosinófilos a variação foi
entre 10,3 e 1,4, por CGA, nos pacientes com alergia às proteínas do leite de
vaca (APLV), ao passo que no grupo controle a foi de 0,1 a 1,3 por CGA. A
diferença entre ambos os grupos mostrou-se estatisticamente significativa para
cada uma das camadas da mucosa retal.
Na muscular da mucosa verificou-se infiltrado de eosinófilos maior ou igual a 1
em 10 de 19 pacientes com APLV, não se encontrando eosinófilos na muscular da
mucosa dos controles.
Foi comparado o número de eosinófilos, para cada uma das camadas da mucosa
retal, nos pacientes em aleitamento materno exclusivo (AME) e aleitamento
artificial ou misto (AA/M), comparados com o grupo controle (Tabela_3). A média
de eosinófilos, na lâmina própria, nos pacientes em AME, foi de 11,7 e nos
pacientes em AA/M foi de 9,4. Nos pacientes controles a média de eosinófilos na
lâmina própria foi de 1,3. Não houve diferença no número de eosinófilos na
lâmina própria entre os pacientes em AME e AA/M, existindo porém, diferença
entre esses dois grupos e o grupo controle. No epitélio superficial e glandular
o número de eosinófilos apresentou diferença estatisticamente significativa
entre os pacientes e o grupo controle. Não foi possível demonstrar diferença,
estatisticamente significativa, no número de eosinófilos na muscular da mucosa,
quando se separam os pacientes segundo o tipo de alimentação e os comparam com
o grupo controle.
DISCUSSÃO
No primeiro ano de vida as manifestações gastrointestinais induzidas pela APLV
são as mais freqüentes, seguidas das manifestações cutâneas e respiratórias(6,
18). Sangramento intestinal que ocorre em diferentes regiões do trato
gastrointestinal tem sido relacionado com APLV(3, 15), sendo o sangramento
retal o mais freqüentemente observado(12, 21, 27).
Dois pacientes, iniciaram os sintomas aos 3 e 2 dias de idade, respectivamente,
ambos em uso exclusivo de leite materno. Existem vários relatos de colite por
APLV, com início entre 1 e 3 dias de idade(29), sugerindo sensibilização intra-
útero. A produção de imunoglobulina da classe IgE não específica tem sido
documentada em fetos humanos. Outro elemento que deve ser considerado no
desenvolvimento de sintomas de alergia alimentar, induzidos pelas proteínas do
leite de vaca, nos primeiros dias de vida, é a prática de administrar aos
recém-nascidos, logo nas primeiras horas, mamadeiras com fórmulas adaptadas de
leite de vaca. HOST et al.(17), estudando 1.749 neonatos, encontraram 9
pacientes que desenvolveram APLV enquanto eram alimentados com leite materno
exclusivo; quando os prontuários desses pacientes foram revisados,
evidenciaram-se que todos haviam recebido leite de vaca, durante os 3 primeiros
dias no berçário. A exposição às proteínas do leite de vaca, inadvertida e
ocasional, pode iniciar o processo de sensibilização em crianças predispostas e
a exposição posterior a mínimas quantidades das proteínas bovinas, presentes no
leite materno, podem servir como desencadeadores de alergia.
O desmame precoce entre os 12 pacientes que recebiam aleitamento artificial ou
misto, é informação útil com relação à duração da amamentação exclusiva, em
crianças que desenvolvem colite por APLV. O leite materno oferece proteção
contra a penetração de antígenos para a circulação sistêmica, induzindo a
maturação da barreira de permeabilidade gastrointestinal ou provendo fatores
intraluminais que promovem importante efeito protetor, até que a barreira
natural esteja plenamente desenvolvida(26). Em animais de experimentação tem
sido mostrado um efeito antiinflamatório do leite humano sobre colite induzida
quimicamente(10).
Estudos avaliando os efeitos preventivos da administração de leite materno, têm
dado maior ênfase ao efeito no desenvolvimento de manifestações cutâneas e
respiratórias de atopia, sendo difícil avaliar seu efeito específico no
desenvolvimento de sintomas gastrointestinais, como a enterorragia. Alguns
autores(13, 16, 28) contradizem os efeitos benéficos do leite materno para
prevenir alergia. A administração de leite materno e o retardo na introdução de
sólidos na dieta do lactente, até 4 a 6 meses de idade, têm mostrado efeito
protetor contra o desenvolvimento de doenças alérgicas em população de alto
risco(33). A maioria dos estudos demonstra que reações adversas são menos
freqüentes em crianças em aleitamento materno do que em crianças alimentadas
com fórmulas lácteas e concordam que a incidência de reações adversas às
proteínas do leite de vaca é menor com alimentação exclusiva ao seio(4, 11,
22).
Desnutrição de I grau esteve presente em seis (30%) dos pacientes. Dentre eles,
três correspondiam ao grupo de quatro pacientes pré-termo. A prematuridade tem
sido considerada como fator de risco para o desenvolvimento de APLV,
provavelmente relacionada com a maior permeabilidade intestinal e imaturidade
do sistema imunológico gastrointestinal, permitindo a passagem de
macromoléculas e o desenvolvimento de respostas anormais ao contato com
partículas potencialmente antigênicas(2, 10, 14). Em contrapartida, dois
estudos(17, 20) indicam incidência de APLV em pacientes pré-termo entre 1,1% e
4,4%, não sendo assim diferente do que é relatado em crianças a termo.
Os achados do presente estudo concordam com os relatados na literatura, onde
vômitos, diarréia e cólicas são os sintomas mais freqüentemente associados com
a enterorragia(23, 24, 25), sendo constipação, febre, distensão abdominal e
ganho ponderal inadequado os relatados com menos freqüência(24).
A avaliação histológica dos fragmentos da biopsia retal dos pacientes,
demonstrou que o achado predominante, para caracterização da colite, foi o
aumento do infiltrado de eosinófilos, em uma ou várias das camadas da mucosa
retal. Segundo os critérios de GOLDMAN(8) para a caracterização de colite, os
achados histológicos do estudo presente corresponderam à colite aguda, não
sendo evidenciado nenhum caso de colite crônica, o que é coincidente com o
relatado em outros estudos(7, 19, 23, 32). Três pacientes mostraram, além do
infiltrado aumentado de eosinófilos, a presença de erosão no epitélio
superficial (Tabela_1), que é manifestação de processo mais grave(5, 25). Estes
pacientes estavam sendo alimentados com leite de vaca quando do início dos
sintomas, e diarréia sanguinolenta foi a queixa principal. Por outro lado, até
o presente momento, nenhum estudo estabeleceu relação estatisticamente
significativa entre a intensidade dos achados histológicos e os sintomas e/ou
tipo de alimentação, relação esta que também não foi possível estabelecer na
presente investigação. Entretanto, vale ressaltar que, nenhum dos pacientes
desta série, em aleitamento materno exclusivo, apresentou lesões do tipo erosão
ou úlcera na mucosa retal.
O número de eosinófilos considerado como anormal foi baseado nos achados de
ODZE et al.(23), onde também foram avaliados, pelo menos, cinco campos de
grande aumento, para cada biopsia. A média de eosinófilos na lâmina própria no
presente estudo, foi de 10,3 por CGA, sendo que outros estudos têm relatado
valores entre 10,4 e 15,6 eosinófilos por CGA(32). Quando se selecionaram os
pacientes entre os que recebiam AME e AA/M, a média de eosinófilos na lâmina
própria dos pacientes em AME foi 11,7 por CGA e a dos pacientes em AA/M foi 9,4
por CGA, não sendo a diferença estatisticamente significativa. ODZE et al.(23),
ao contrário, obtiveram nos pacientes em AME média de eosinófilos menor (14,2)
em relação aos pacientes em AA/M (17,4), embora estes valores também não
apresentassem diferença estatisticamente significativa. A média de eosinófilos
em uma cripta foi de 1,4 no estudo de WINTER et al.(32), enquanto que a
contagem por CGA nesta série, obteve média de eosinófilos no epitélio glandular
de 1,8.
A presença de eosinófilos, na muscular da mucosa, como marcador de colite
alérgica, já foi reconhecida anteriormente(23, 32). No presente trabalho, o
infiltrado de eosinófilos na muscular da mucosa, teve média de 2,5 por CGA,
enquanto nenhum paciente do grupo controle apresentou eosinófilos nesta
localização. Quando se separaram os pacientes que receberam AME e os pacientes
em AA/M e os compararam com os controles, a diferença entre os três grupos não
foi estatisticamente significativa, sendo que quando a comparação foi feita
entre o grupo total de pacientes e os controles houve diferença
estatisticamente significativa. Dentre os oito pacientes em AME, quatro não
apresentaram infiltrado de eosinófilos na muscular da mucosa; em um não foi
avaliado. O valor máximo foi 3 eosinófilos por CGA e o valor mínimo foi 1,5 por
CGA, sendo que 50% da amostra não apresentou infiltrado de eosinófilos. Dentre
os 12 pacientes em AA/M, 5 não apresentaram infiltrado de eosinófilos na
muscular da mucosa, o valor mínimo foi de 1 eosinófilo por CGA e o máximo de
30,5 por CGA, sendo que 60% não apresentaram infiltração de eosinófilos na
muscular da mucosa; deste modo, a média de eosinófilos para os pacientes em AA/
M apareceu como maior a causa da dispersão ocasionada pelo valor muito alto em
uma das amostras, pelo qual não poderia se dizer que houve infiltrado mais
marcado em número de eosinófilos da muscular da mucosa nos pacientes em AA/M.
Assim, ao separar os dois grupos, o teste estatístico não permitiu demonstrar
diferença estatisticamente significativa.
Finalmente, a partir dos resultados deste estudo, é possível afirmar que a
demonstração do incremento de infiltrado de eosinófilos na mucosa retal em
pacientes com colite alérgica, constitui, associado aos dados clínicos, o mais
importante elemento diagnóstico. Portanto, determinado paciente recebendo leite
materno de forma exclusiva ou fórmula láctea, em bom estado geral, sem
comprometimento do crescimento, com sangramento retal, que responde
favoravelmente à retirada do leite de vaca e cuja mucosa retal mostra
incremento do número de eosinófilos maior ou igual a 6 por CGA na lâmina
própria, e/ou maior ou igual a 1 por CGA nos epitélios, e na muscular da
mucosa, não teria indicação de realizar-se o desencadeamento, sendo
perfeitamente suficientes os elementos mencionados para estabelecer o
diagnóstico de colite alérgica.