Perfil socioeconômico e nutricional de pacientes com doença inflamatória
intestinal internados em um hospital universitário
ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE
Perfil socioeconômico e nutricional de pacientes com doença inflamatória
intestinal internados em um hospital universitário
Socioeconomic and nutritional profile of patients with inflammatory bowel
disease at a university hospital
Flávia Nunes Salviano; Maria Goretti Pessoa de Araújo Burgos; Eduila Couto
Santos
Serviço de Nutrição, Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Pernambuco,
Recife, PE
Correspondência
INTRODUÇÃO
As doenças inflamatórias intestinais (DII), classicamente conhecidas como
retocolite ulcerativa inespecífica (RCUI) e doença de Crohn (DC) são processos
inflamatórios crônicos que cursam de maneira imprevisível com períodos de
atividade e remissão variáveis; apesar de sintomatologia clínica semelhantes,
são consideradas doenças distintas(26).
Descritas em todo o mundo, há tendência do crescimento de suas incidências(15,
22) inclusive no Brasil(26, 48), embora sejam escassos os estudos sobre a
ocorrência da DC e da RCUI nos países em desenvolvimento(30), principalmente no
nordeste brasileiro. Predominam em raça branca (nórdicos europeus)(18, 52),
apresentando distribuição semelhante em ambos os sexos, com a DC atingindo mais
a população feminina, com idade mais freqüente em adultos jovens, na faixa
etária entre 20 a 40 anos e um segundo pico a partir dos 55 anos(40).
Prevalece, ainda, em áreas urbanas em relação às rurais e em classes econômicas
mais altas(10), em fumantes e parentes de primeiro grau de indivíduos
acometidos(18).
A compreensão da etiologia e patogênese das DII melhorou extensivamente nos
últimos anos, provavelmente por maior entendimento do sistema imunológico do
intestino e particularmente sua reação inflamatória decorrente na flora
intestinal normal(5, 46). Acredita-se que a doença tenha etiopatogenia
multifatorial, com participações de fatores genéticos, ambientais, microflora
intestinal e reposta imune. No que se refere aos fatores genéticos e
ambientais, são mal definidos e não são ainda sensíveis às manipulações
terapêuticas por razões técnicas e éticas(23), apesar de descritas maiores
incidências em gêmeos monozigóticos e grupos éticos específicos(18). Com isso a
microflora intestinal e a reposta imune passam a ser as duas categorias
selecionadas para os tratamentos atuais(33, 44, 45).
Em relação à microbiota, sabe-se que pacientes com DII apresentam alterações
qualitativa e quantitativa, mas nenhuma bactéria, isoladamente, pode ser
responsável por desencadear o processo inflamatório(23). Além desses fatores,
existe uma alteração na permeabilidade da mucosa intestinal e resposta
imunológica anormal, que ativa uma cascata imunoinflamatória, resultando em
lesão continuada da mucosa intestinal(8). A amplificação da reposta
inflamatória é mais importante que o evento inicial como causa da destruição
tecidual e das alterações histológicas e funcionais características das DII
(18).
As DII são comumente associadas à desnutrição proteicoenergética, como também à
carência de micronutrientes tanto em pacientes hospitalizados como em
ambulatório(16, 17, 27, 31, 49), causadas por redução da ingestão alimentar, má
absorção, aumento das perdas gastrointestinais e necessidades nutricionais
aumentadas(29, 42, 43). Essas alterações têm impacto em todas as idades,
sofrendo a influência da fase de atividade, extensão e localização da doença
(18, 31, 42). A desnutrição, por sua vez, agrava o prognóstico tanto do
paciente em tratamento clínico, quanto naqueles submetidos a cirurgias, além de
deteriorar a competência imune(43).
Segundo FISHER(24), as deficiências nutricionais mais freqüentes são: perda de
peso, hipoalbuminemia, balanço nitrogenado negativo, anemia e deficiência de
vitaminas (Folato, B12, D) e minerais (Fe, Ca, Zn e Mg). De acordo com
WAITZBERG e SILVA(53), a avaliação nutricional permite o reconhecimento precoce
da desnutrição e a terapêutica necessária para a sua correção. Além disso, um
suporte nutricional adequado deve ser instituído com o objetivo de reduzir as
indicações cirúrgicas e as complicações operatórias, mantendo e/ou recuperando
as condições nutricionais(14, 18).
Considerando as características demográficas, clínicas e evolutivas dos
pacientes com DII, este estudo ganha relevância devido à escassez de pesquisas
regionais realizadas com esse objetivo. Portanto, pretende-se caracterizar esse
grupo em um hospital do nordeste brasileiro, para acompanhamento
multiprofissional específico e conseqüentemente, conduta dietoterápica mais
adequada, proporcionando redução do tempo de hospitalização além de melhor
qualidade de vida.
MÉTODOS
Estudo transversal, realizado na clínica de Gastroenterologia do Hospital das
Clínicas de Pernambuco (HC/UFPE), Recife, PE, durante o período de julho a
dezembro de 2005. O protocolo foi previamente aprovado pela Comissão de Ética
para estudos em humanos do Centro de Ciências da Saúde da UFPE, de acordo com a
Resolução no 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, sob o número do registro
198/2005. Os critérios de inclusão foram: pacientes com diagnóstico de RCUI e
DC em qualquer período de atividade da moléstia, de ambos os sexos, na faixa
etária entre 20-80 anos. Os pacientes sem diagnóstico clínico definido através
de exames radiológicos e histopatológicos, faixa etária abaixo de 20 anos e
acima de 80 anos e aqueles tratados em ambulatório, foram excluídos da
pesquisa.
A caracterização da população incluiu dados de identificação, história clínica
e condições socioeconômicas (segundo a Pesquisa Nacional de Orçamento Familiar
2002/2003)(9), a partir da entrevista com o paciente (no momento da admissão na
enfermaria), com informações contidas no prontuário e ficha de acompanhamento
individual.
Em relação à faixa etária, foram divididos em três subgrupos: 20-40 anos, 41-59
anos, acima de 60 anos, classificados como adultos jovens, adultos e idosos,
respectivamente. Quanto ao grau de instrução, foram classificados os níveis de
escolaridade em analfabeto, 1º, 2º e 3º grau completo. A renda familiar foi
calculada a partir da soma das rendas mensais de todos residentes no domicílio,
considerando-se o número de pessoas que residiam na mesma casa,
independentemente de parentesco; adotou-se o ponto de corte em três níveis: 0-
2, 2-5, >5 salários mínimos, considerando 5 salários mínimos como necessário
para uma família de quatro membros.
Em relação às características clínicas, o tempo de diagnóstico foi descrito em
anos e definido como o intervalo entre a confirmação diagnóstica (critérios
radiológicos e histopatológicos) e a data do internamento atual, identificando-
se os principais sinais e sintomas no momento do internamento hospitalar. O
registro do número de evacuações e a gravidade da manifestação clínica foram
comparados com a presença de perda de peso. Quanto à localização da doença,
foram identificadas as principais porções gastrointestinais acometidas, através
de laudos clínicos e histopatológicos. As manifestações extra-intestinais foram
registradas, indicando a intensidade com que se manifestam as DII.
Na antropometria, foram utilizados métodos de aferição de altura e peso e
calculado o índice de massa corporal (IMC) de acordo com classificação proposta
pela Organização Mundial de Saúde(32); prega cutânea do tríceps (PCT),
circunferência do braço (CB) e circunferência muscular do braço (CMB), pelos
critérios de BLACKBURN e THORNTON(7). Além desses, foi avaliado o percentual de
perda ponderal (%PP) do indivíduo após a doença, calculado entre o peso
habitual e o atual dividido pelo peso habitual, durante os últimos 3 meses, com
classificação proposta por BLACKBURN et al.(6), modificada por CARVALHO(19).
Os pacientes foram pesados no momento da admissão e semanalmente durante todo o
internamento, utilizando-se balança de marca Filizola, com capacidade 150 kg e
altura medida através de um antropômetro fixo à balança. As circunferências e a
PCT foram mensuradas com plicômetro da marca Cescorf e fita métrica de fibra de
vidro não-distensível, em centímetros, com precisão de milímetros, através das
técnicas de medição proposta por LOHMAN et al.(37). As medidas antropométricas
descritas foram realizadas exclusivamente pelo próprio pesquisador, a fim de
minimizar erros.
Em relação aos parâmetros bioquímicos, foram utilizadas dosagens séricas de
albumina, hematócrito, hemoglobina, glicose em jejum, uréia, creatinina, sódio,
potássio e cálcio, por serem as únicas de rotina do serviço e dosados no
laboratório do HC/UFPE.
As comparações estatísticas foram realizadas pelo teste t de Student para
variâncias iguais e desiguais. A margem de erro (ou nível de significância)
utilizado na decisão dos testes estatísticos foi de 5,0%(2, 54).
RESULTADOS
A amostra foi constituída de 24 pacientes, com maior predomínio de homens
(58,3%) e idade média de 43,83 ± 16,13 anos. Com relação às características
socioeconômicas, a maior parte da amostra tinha ocupação doméstica, seguida de
ambulantes e estudantes, em sua maioria casados, procedentes de Recife, com
baixa renda, residindo com seus familiares em casa própria. Quanto ao nível de
escolaridade, foi observado que quase 50% tinha cursado o 2º grau (Tabela_1).
Analisando as características clínicas da amostra, o percentual de RCUI foi
superior aos de DC (62,5% e 37,5%, respectivamente), com tempo de diagnóstico
superior a 5 anos (56,5%), apresentando dor abdominal e diarréia
mucosanguinolenta como principais causas de internamento (41,7%), com seis a
nove evacuações por dia. A porção intestinal mais acometida foi o cólon distal
(33,3%), seguido por sigmóide e reto (26,7%). Em relação às manifestações intra
e extra-intestinais, 26,7% dos pacientes apresentaram osteoporose, seguido pela
ocorrência de colostomia (13,3%), ileostomia (13,3%) e fístulas (13,3%), sendo
marcante o grau de intensidade.
Os resultados do perfil bioquímico revelaram alto percentual de
hipoalbuminemia, prevalência elevada de anemia, observadas através dos níveis
de hematócrito e hemoglobina. Por outro lado, a maioria dos pacientes
apresentava a glicose de jejum, uréia, creatinina, sódio e potássio dentro dos
padrões de normalidade. No que se refere ao cálcio sérico, constatou-se níveis
reduzidos, demonstrando grande vulnerabilidade desses indivíduos em relação ao
metabolismo ósseo.
De acordo com a adoção dos critérios da OMS de 1997(32) para o IMC, no momento
da admissão, 41,7% apresentaram-se como desnutridos. Enquanto o indicador de
%PP revelou percentual mais elevado de desnutrição, alcançando 70,8% da amostra
(Tabela_2). Destes, 64,7% apresentavam perda de peso maior que 10% em menos de
6 meses. Na subdivisão da amostra por grau da desnutrição, constatou-se
percentual elevado de desnutridos graves usando o indicador %PP, como mostrado
na Figura_1.
No que se refere ao sexo e estado nutricional (Tabela_3), observou-se maior
percentual de desnutrição no sexo feminino, segundo o IMC, enquanto o indicador
de %PP evidenciou maior número no sexo masculino. Quando se subdividiu a
amostra por grau de desnutrição, as mulheres foram mais afetadas pela
desnutrição grave. Na associação com as variáveis: PCT, CMB e CB, observou-se
menores valores de PCT e CB em mulheres, estatisticamente significante (Tabela
4).
Não houve correlação entre o estado nutricional e parâmetros bioquímicos, com
exceção dos eletrólitos, sódio e potássio. A hipoalbuminemia esteve presente em
80% dos pacientes desnutridos, enquanto que a anemia não se mostrou dependente
do estado nutricional avaliado pela antropometria (Tabela_5).
Os níveis de glicose foram semelhantes em ambos os grupos. Por outro lado,
comportamento diferente foi detectado nos níveis de uréia e creatinina, em que
os desnutridos apresentaram tendência elevada em relação aos eutróficos. Quanto
ao cálcio, os valores encontravam-se normais apenas nos eutróficos de ambos os
sexos (Tabela_5).
Como podem ser observados na Tabela_6, sinais e sintomas, como diarréia,
vômitos e dor abdominal, foram identificados com maior freqüência em pacientes
desnutridos, assim como as complicações extra e intra-intestinais (66,7%),
ressaltando a importância da avaliação nutricional precoce.
DISCUSSÃO
A determinação das características socioeconômicas, clínicas e nutricionais dos
pacientes com DII em um hospital universitário do nordeste brasileiro ganha
importância devido à deficiência de estudos regionais. Assim sendo, não se
dispõe de informações precisas sobre a ocorrência dessas enfermidades e
tampouco sobre as dimensões da população de referência.
Os dados deste estudo revelam predomínio da amostra do sexo masculino, com
faixa etária de 40 anos, diferindo dos resultados de SOUZA et al.(47)e VIEIRA
et al.(51), que observaram predomínio do sexo feminino, na faixa etária de 20-
50 anos. Dados da literatura indicam que as DII acometem igualmente os sexos,
começam a se manifestar com maior freqüência após os 10 anos de idade e
apresentam distribuição bimodal por faixa etária, atingindo picos entre 15 e 25
anos e 55 e 60 anos idade(3, 38).
Nesta casuística, grande parte dos pacientes apresentou renda familiar inferior
a dois salários mínimos, sendo incompatível com a manutenção de um estado
nutricional adequado. Por outro lado, vale ressaltar que a maioria possuía casa
própria, residia com seus familiares e tinha o 2º grau completo, o que talvez
possa amenizar os efeitos adversos da baixa renda. Considerando alguns fatores
que podem acarretar alterações em certos domínios, principalmente no âmbito
social, psicológico e socioprofissional, a proximidade da família associada ao
retorno mais rápido ao estilo de vida normal, após períodos de agudização da
doença, têm resultados positivos na recuperação dos pacientes(21).
Dados de SOUZA et al.(47) indicam que a determinação da incidência e da
prevalência das DII no Brasil é escassa, em função das deficiências no sistema
de registro de dados, da falta de informações precisas de casos novos da
doença, além da carência de registros da própria população de referência(30).
GABURRI et al.(25) e SOUZA et al.(47) forneceram informações representativas da
ocorrência dessas enfermidades na região sudeste nas últimas décadas, onde a DC
passou a ser mais freqüente que a RCUI. No presente estudo, apesar de
limitações ainda maiores na região nordeste, foi observado comportamento
diferente, com maior prevalência de casos de RCUI (62,5%) em relação à DC
(37,5%), o que confirma os resultados apresentados por VIEIRA et al.(51), em
que 81% dos pacientes tratados em ambulatório tinham RCUI, porém com menor
gravidade que os casos de DC.
Em relação às características clínicas e localização anatômica das lesões
inflamatórias, resultados desta pesquisa concordavam com outros autores(35,
50), que similarmente detectaram como principal causa de internamento a
diarréia mucosanguinolenta associada à dor abdominal e cólon distal e reto,
foram os segmentos intestinais mais afetados, ambos comuns na RCUI. Nos
pacientes acometidos com DC foram mais evidentes as complicações intestinais,
semelhantes aos achados na literatura, como colostomia, ileostomia e fístulas
(18, 35, 48).
Quanto às manifestações extra-intestinais, é consenso entre pesquisadores(18,
40, 49) que as afecções mais comuns são osteoarticulares, cutâneas e alterações
hepáticas; no entanto, nos últimos anos, existe um interesse crescente pela
osteoporose e osteopenia, que podem afetar cerca de 7%-42% dos pacientes com
DII, causando importante aumento da morbidade(39). Estes resultados são
variáveis entre os estudos publicados, provavelmente devido à heterogeneidade
nas populações, duração da enfermidade, tipo de tratamento administrado,
critérios diagnósticos utilizados e diferenças metodológicas(34). Neste estudo,
foi encontrada prevalência significativa de osteoporose, possivelmente pelo
tratamento prolongado à base de corticóides, o que provoca aumento da
reabsorção óssea(36) e deficiências nutricionais, associada nesta amostra à
condição de inatividade física. Além disso, a resposta inflamatória própria das
enfermidades pode favorecer o desenvolvimento desta complicação(28).
No que se refere à dificuldade de diagnóstico das DII, observou-se tempo de
diagnóstico superior a 5 anos, como relatado por MISZPUTEN(40), que afirma ser
o mesmo muitas vezes confundido com outras afecções intestinais, especialmente
durante manifestações iniciais, sendo os casos mais complicados e ricamente
sintomáticos, facilmente suspeitos e investigados.
Os pacientes com DII requerem atenção especial quanto ao aspecto nutricional
desde o diagnóstico da doença. Neste contexto, a avaliação nutricional permite
o reconhecimento precoce da desnutrição e a triagem dos pacientes em risco, o
que levará à instituição da terapêutica nutricional adequada. Para tanto, dados
obtidos por inquérito dietético, exame físico, mensurações antropométricas e
exames bioquímicos devem ser utilizados conjuntamente para um diagnóstico
nutricional preciso(53). Entretanto, reconhecem-se muitas dificuldades no
estádio destas deficiências em doenças crônicas, sendo difícil discriminar
alterações destes parâmetros induzidas pela doença ou pela desnutrição
pregressa do paciente(1).
Na população brasileira, dados de inquéritos realizados entre 1975, 1989 e 1996
indicam declínio expressivo da desnutrição em todo país, principalmente na
prevalência de adultos com baixo peso, com déficit ponderal em torno de 6% e na
região nordeste 6,8%(4, 41). Segundo CAMPOS et al.(15), a prevalência de
desnutrição no grupo de pacientes com DII é alta, variando de 23% em pacientes
ambulatoriais a 85% em hospitalizados, por exacerbações do quadro clínico.
Nesta casuística, o maior percentual de pacientes estava desnutrido pelos dois
indicadores. A correlação do estado nutricional, segundo PCT e CB, com sexo,
identificou diferenças significativas, com perda da massa gorda e magra mais
evidente nas mulheres. Estudo realizado por BURNHAM et al.(11), que associou DC
com massa corporal (magra x gorda) em crianças e adultos jovens, evidenciou
déficit significante na massa magra, enquanto foi preservada a massa gorda,
sendo consistente com o quadro clínico inicial de caquexia.
A associação entre desnutrição e características clínicas revelou percentual
elevado de desnutridos com sinais e sintomas mais pronunciados e manifestações
extra e intra-intestinais mais freqüentes. Os achados desta série confirmam as
descrições publicadas anteriormente por ROLIM(43) e CABRÉ et al.(13), em que
encontraram estado nutricional diretamente relacionado com a gravidade com que
se manifestam as DII, acarretando prognóstico negativo e deterioração da
competência imune. A própria desnutrição agrava a diarréia e/ou má absorção, em
função da diminuição da secreção de enzimas pancreáticas e da atividade
enzimática na borda em escova das células da mucosa intestinal(42).
Deficiências importantes nestes pacientes estão associadas freqüentemente a
conseqüências clínicas adversas, como balanço nitrogenado negativo, limitação
da cicatrização de feridas e fístulas, além de descalcificação óssea(15), como
relatado por HAN et al.(29), que evidenciaram deficiências nutricionais em
pacientes internados e de ambulatórios, com maior freqüência de anemia (54%-
80%) e hipoalbuminemia (25%-80%), observadas no grupo com alto índice de
atividade da doença. Semelhante ao encontrado no presente estudo, a
hipoalbuminemia pode resultar não só do menor aporte protéico e da anorexia,
mas também de reduzida síntese hepática, de perdas intestinais, do catabolismo
conseqüente à inflamação, da febre e uso de corticoesteróides prolongado(20).
Quando se correlacionou a albumina com a desnutrição, observou-se uma tendência
ao aumento da albumina nos pacientes desnutridos em todos os graus, resultado
semelhante ao referido por CABRAL et al.(12), que não encontraram associação
entre as duas características, definindo hipoalbuminemia como indicador pouco
sensível de desnutrição, porém específico para detectar doença inflamatória
ativa(20, 27).
A anemia apresentou alta prevalência em ambos os sexos, o que corrobora os
dados de CABRÉ et al.(13), que relatam prevalência em torno de 85% explicada
pela deficiência de ferro, folato, vitamina B12, inflamação crônica, ressecções
intestinais e perdas sangüíneas. Correlacionando anemia e estado nutricional,
detectou-se que os níveis de hematócrito e hemoglobina mostraram tendência
abaixo dos valores de normalidade nos desnutridos de todos os graus, assim como
nos eutróficos, constatando-se que a anemia independe do estado nutricional.
CONCLUSÕES
Apesar das limitações do estudo, estes dados fornecem informações relevantes
tanto da ocorrência dessas doenças na região nordeste do país, quanto sua
associação freqüente com importantes deficiências nutricionais. Embora
antropometricamente os pacientes apresentaram-se eutróficos, o elevado %PP
associado à baixa renda per capita demonstra que esses pacientes estão em grave
risco nutricional e complicações clínicas mais acentuadas.
São necessários mais estudos com amostra representativa para caracterizar o
perfil epidemiológico desses pacientes, principalmente em regiões norte-
nordeste, incluindo análises bioquímicas de transferrina, pré-albumina e
capacidade de fixação do ferro, acompanhados da pesquisa da atividade
inflamatória, que é de grande significância nas DII.