Programa saúde da família: entrevista
TRABALHOS ENCOMENDADOS
DENISE. Porque o Ministério da Saúde (M.S.) propôs o Programa Saúde da Família
(PSF)? Fale do histórico do surgimento da proposta.
HELOIZA. Inicialmente é preciso afirmar que hoje o Programa Saúde da Família é
uma das grandes prioridades do Ministério da Saúde, mas que não foi assim desde
a sua origem. Em segundo lugar dizer que esta não é uma proposta nova. Estamos
recuperando uma série de iniciativas e de movimentos inerentes ao próprio
"Movimento Sanitário" no sentido de reordenamento do modelo assistencial em
saúde e de consolidação do Sistema Único de Saúde. Em 1991 o Ministério da
Saúde lançou o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), com o objetivo
de contribuir para o enfrentamento dos alarmantes indicadores de
morbimortalidade infantil e materna na região Nordeste do Brasil. Este programa
já estava pautado em princípios indutores da mudança de modelo, ou seja,
provocava a vinculação dos indivíduos e famílias com as unidades básicas de
saúde. O agente comunitário representava o "elo" entre a comunidade e o serviço
de saúde. Este agente, sendo uma pessoa da própria comunidade e portanto
identificado com seus valores e costumes, passou a contribuir
significativamente no resgate e na valorização do saber popular.
Penso que também é importante citar as experiências brasileiras que,
influenciadas ou não pelas recomendações de Alma Ata, já desenvolviam trabalhos
importantes nesta direção e influenciaram o desenho e concepção do Programa de
Agentes Comunitários de Saúde. Projetos como do Vale do Ribeira em São Paulo,
Casa Amarela em Recife, Rondonópolis no Mato Grosso e especialmente o programa
do Governo Estadual do Ceará foram importantes neste contexto. Também não posso
deixar de citar que existiam inúmeras experiências, como a nossa em Santa
Catarina (Projeto Costeira do Pirajubaé), que não fizeram parte do "desenho" do
programa nacional, mas contribuíram para disseminar idéias e formar recursos
humanos neste movimento de busca de alternativas que pudessem provocar mudanças
no modelo assistencial.
No entanto, mesmo com todas as suas potencialidades, este programa percorria um
caminho marginal no próprio espaço institucional, e foi avaliado externamente
com muitos preconceitos. No nível de execução municipal, havia um limitante
importante para a continuidade e o impacto das suas ações: as unidades básicas
de saúde continuavam atuando no sistema tradicional, sem absolutamente nenhuma
vinculação com a população, com baixa resolutividade e com um enfoque
predominante curativo. Em outras palavras, atuando em direção oposta ao que se
preconizava com o trabalho dos agentes comunitários.
Na medida que o PACS se fortalecia nos municípios, demonstrando resultados
concretos nos indicadores de mortalidade infantil e sendo bem avaliado pela
própria população, estas contradições cresciam e passaram a pressionar as
unidades básicas de saúde. É importante citar que, além do impacto nos
¡indicadores, o PACS trazia contribuições importantes para a organização dos
sistemas locais através de uma expressiva interiorização de profissionais
enfermeiros e do estímulo à criação dos conselhos municipais de saúde (eram
exigências para a implantação do programa).
Alguns municípios, mais engajados no processo de fortalecimento do sistema de
saúde e mais articulados tecnicamente, passaram a fortalecer este debate.
Expandiu-se então a idéia de que o Ministério da Saúde precisava ampliar os
investimentos no sentido de dar retaguarda a este trabalho, uma vez que a idéia
de "elo de ligação" não mostrava-se tão verdadeira, uma vez que as unidades
básicas de referência continuavam desestruturadas, sucateadas e sem vínculo
nenhum com a população.
Na continuidade deste processo, o Ministério da Saúde lança, no início de 1994,
o Programa de Saúde da Família, que valorizava os princípios de
territorialização, de vinculação com a população, de garantia de integralidade
na atenção, de trabalho em equipe com enfoque multidisciplinar, de ênfase na
promoção da saúde com fortalecimetno das ações intersetoriais e de estímulo à
participação da comunidade entre outros.
Esta questão não pode ser entendida de forma descontextualizada. Naquele
período a descentralização e a municipalização dos serviços de saúde estavam no
foco do debate, como grande desafio para a implantação efetiva do Sistema Único
de Saúde (SUS). Desta forma a adesão de secretários municipais de saúde foi
expressiva e significante para o direcionamento da proposta do PSF - ele nasce
num contexto de movimento dos próprios municípios. Porém não havia no MS,
naquele momento, uma postura política forte o suficiente para definir o Saúde
da Família como a estratégia de reordenamento do modelo assistencial.
O Programa nasce mesmo como algo marginal, tanto assim que se origina como um
programa de um Departamento de Operações da Fundação Nacional de Saúde, sem
nenhuma articulação com os outros setores do Ministério da Saúde.
Não havia, no momento do seu lançamento, uma definição de orçamento que
garantisse sua expansão. A modalidade de financiamento do sistema de saúde
também era completamente contraditória com os princípios do PSF. Propunha-se no
PSF a "produção social da saúde" com um modelo de financiamento que remunerava
procedimentos executados, em detrimento de todas as ações de prevenção de
doenças e de promoção da saúde.
Não se pautou no MS, naquele momento, o desenvolvimento de uma política de
recursos humanos que pudesse fomentar ou recuperar profissionais com perfil
para este modelo.
Desta forma fica claro que o PSF nasce em condição completamente desfavorável.
A questão de recursos humanos, aliada ao financiamento, eram apontados como os
maiores "nós" críticos para a sustentabilidade da proposta.
Não tenho dúvida de que houve muita persistência técnica naquele momento. A
ousadia de alguns secretários municipais foi fundamental para mostrar que o
caminho era possível, que o PSF representava um potencial importante para
reordenar a atenção básica e provocar a reorganização dos demais níveis de
complexidade do sistema. Desta forma não estava se caracterizando como
"paralelo ao SUS" e sim como estratégia de substituição das práticas
tradicionais da atenção básica.
O primeiro documento do PSF falava em focalizar os 32 milhões de excluídos,
segundo o mapa da fome do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas).
Isso também gerou a compreensão equivocada de que o PSF era um "programa de
pobre para pobre". Diante da limitação de recursos, optou-se por iniciar a
implantação do programa pelas áreas mais desassistidas, de grande exclusão
social, enquanto compromisso com o princípio da equidade.
A partir de 1995 o PSF passou a ser incorporado pela Secretaria de Assistência
à Saúde e iniciou uma trajetória importante para sair da condição "periférica"
no MS e que o levou a ocupar hoje o espaço de prioridade, não somente do
Ministério da Saúde, mas configurando-se como um certo consenso entre os níveis
estadual e municipal de gestão do sistema. Nesta trajetória o PSF gerou a
organização do Departamento de Atenção Básica - hoje vinculado à Secretaria de
Políticas de Saúde, que tem como missão o fortalecimento da atenção básica,
tendo o PSF como seu eixo estruturante.
É no campo do financiamento que encontramos uma das mais significativas
sinalizações de como se traduziu a prioridade dada a esta estratégia. Em 1994 o
financiamento, como afirmei anteriormente, era extremamente frágil e
inadequado. Hoje podemos não ter atingido o ideal, mas conseguimos avanços
importantes a partir da operacionalização da NOB-SUS/96 (Norma Operacional
Básica do Sistema Único de Saúde de 1996) com a implantação do PAB - Piso de
Atenção Básica. O PAB introduz a modalidade per capita, com transferência
regular e automática (do Fundo Nacional de Saúde aos Fundos Municipais de
Saúde) dos recursos federais para os municípios habilitados como gestores da
atenção básica (atualmente cerca de 98% dos municípios já estão habilitados
nesta condição de gestão), gerando maior autonomia para a execução das ações e
atividades da atenção básica consideradas de responsabilidade típica municipal.
O PAB é composto por uma parte fixa (varia de 10 a 18 reais/habitante/ano) e
uma variável destinada aos incentivos voltados a programas, estratégias ou
ações prioritárias para o processo de reorganização da atenção básica. Referem-
se aos incentivos de Agentes Comunitários de Saúde e Equipes de Saúde da
Família, de combate às carências nutricionais, de epidemiologia e controle de
doenças, às ações básicas de vigilância sanitária e assistência farmacêutica
básica. A implantação do PAB, além do avanço enquanto modalidade que rompeu com
a lógica de remuneração de procedimentos, também representou um caráter
redistributivo importante no campo dos recursos financeiros. Para se ter uma
idéia, antes da sua implantação, 1.943 municípios faturavam, em média, 3,3
reais per capita/ano nas ações básicas. Por outro lado, 269 municípios
faturavam, em média, 22 reais/per capita/ano. A diferença entre o Estado que
tinha o maior per capita e o que tinha o menor per capita era de 133%. Esta
diferença agora é de 25%.
O incentivo ao Programa de Saúde da Família e de Agentes Comunitários também
teve uma evolução importante. No início de 1998 o valor do incentivo era de
1.800 reais/agente comunitário/ano e o das equipes de saúde da família variava
de 14 a 28 mil/equipe/ano. Em 1999, já na gestão do Ministro Serra, esse valor
foi alterado para 2.200 reais/agente/ano e as equipes passaram a ter um
incentivo fixo de 28 mil/equipe/ano.
No final de 1999 ocorreu uma nova alteração nos valores e na forma de repasse
dos incentivos para as equipes de saúde da família. Criou-se uma classificação
dle nove faixas de valores de incentivo, que vai de 28 mil reais/equipe/ano a
58 mil reais/equipe/ano de acordo com a cobertura populacional do programa nos
municípios. Esta foi uma decisão para induzir o aumento da cobertura, de forma
que o PSF se constitua de fato como substitutivo das práticas tradicionais,
tornando-se a porta de entrada nos sistemas locais de saúde.
Estas mudanças na lógica do financiamento, aliado a outras medidas técnicas e
políticas, se refletem nos números de equipes e de agentes. Em dezembro de 1997
haviam 54.934 agentes comunitários de saúde e 1.623 equipes de saúde da família
implantados. Hoje são 145 mil agentes que acompanham mais de 80 milhões de
pessoas. E são 10.400 equipes implantadas em todo o país, que já vinculam mais
de 30 milhões de pessoas. Agora estamos estimulando o avanço desta estratégia
para os grandes centros urbanos.
Podemos afirmar que nesses anos de implantação do PSF, temos percorrido
importantes reformulações na direção do aperfeiçoamento e das adaptações
necessárias para que se coloque de fato como uma estratégia capaz de contribuir
para o reordenamento do modelo de atenção, a partir da atenção básica.
DENISE.A realidade tem mostrado que os trabalhadores que atuam na equipe do PSF
não têm a mesma relação trabalhista que os demais trabalhadores das unidades
básicas. Eles são contratados por tempo determinado, com condições de trabalho
também diferenciadas. Existe perspectiva de integrá-los à equipe? Há uma
perspectiva de mudança na organização do serviço como um todo?
HELOIZA. É preciso diferenciar em alguns aspectos. Se queremos de fato provocar
mudanças nas práticas de trabalho, é fundamental que todos os profissionais
exerçam dedicação em tempo integral. Para isso é preciso haver remuneração
adequada. As pesquisas têm nos mostrado que os salários de médicos e
enfermeiros, ainda que reproduzindo as diferenças entre si, têm sido atraentes
no mercado.
Quanto à relação trabalhista, é preciso reconhecer que existe hoje uma certa
precarização das relações de trabalho em todo o Sistema Único de Saúde e,
portanto, não é "privilégio" do PSF. O que ocorre é que o PSF, pelo destaque
político e pelo avanço de sua implantação, coloca este problema na 'vitrine'.
Estamos certos de que este é um problema que precisa ser superado se queremos a
sustentabilidade do PSF.
Quanto às condições diferenciadas de trabalho, é preciso entender o que se quer
dizer: defendemos unidades básicas que ofereçam condições para o
desenvolvimento dos trabalhos em padrões ideais de qualidade. Precisamos pensar
em unidades básicas com incorporação adequada de tecnologia que permita elevar
o grau de resolutividade na assistência e os níveis de satisfação e segurança
dos profissionais. No entanto esta ainda não é a realidade. As equipes de saúde
da família, em sua maioria, estão desenvolvendo suas atividades em unidades
precárias - as mesmas utilizadas pela rede tradicional. Nas pesquisas recentes,
que realizamos, constatamos a insatisfação dos profissionais quanto as
condições de espaço físico, de equipamentos, de acesso a medicamentos e apoio
diagnóstico. Isso, na minha avaliação, é positivo enquanto movimento
reinvidicatório dos profissionais. Demonstra que as equipes não estão
acomodadas com a precariedade das instalações que herdamos nas unidades básicas
de saúde. Acho que estamos, onde incluo especialmente os municípios, num
esforço muito grande para recuperar as condições de trabalho das unidades
básicas, buscando incorporação tecnológica para garantir os padrões de
qualidade desejados. No ano passado o MS introduziu um incentivo financeiro
fixo, pontual, por equipe implantada, para apoiar as questões de infra-
estrutura. Estamos, junto com as Secretarias Estaduais, aperfeiçoando também os
investimentos em medicamentos básicos.
Quanto à integração dos profissionais nas equipes, acho que é uma deficiência
no entendimento da proposta. A equipe do PSF é a própria equipe da atenção
básica. O que está ocorrendo é um período transitório, de adaptação da rede
tradicional ao novo modelo. Algo que temos induzido e recomendado aos
municípios é que procurem absorver os profissionais que eles já possuem na
rede. Se já existe um centro de saúde estruturado, com uma equipe de médicos,
enfermeiros e auxiliares trabalhando, é possível converter esses profissionais
para o novo modelo e estabelecer um novo processo de trabalho na unidade de
saúde. É possível fazer, a nível municipal, uma convocação interna, para saber
quem são os profissionais que querem se dedicar a esta nova modalidade de
trabalho. É necessário esclarecer que irão assumir novos compromissos, que
precisarão de dedicação integral e garantir que terão complementação de
salário. Porém, continuam tendo vínculo institucional como já tinham. Quando se
esgota a possibilidade deste aproveitamento, faz-se então uma seleção externa,
com uma nova contratação.
No entanto, temos alguns exemplos onde a decisão local foi diferente e não se
absorveu os profissionais já existentes. Isto freqüentemente gera resistência
nos profissionais, levando a uma maior dificuldade de integração do PSF à
própria rede de serviços.
DENISE. Continuando sobre a questão do financiamento e a forma de contratação
de Recursos Humanos para o PSF, qual é a estratégia a ser adotada?
HELOIZA. O financiamento para custear os serviços de saúde não muda em função
da forma de contratação de Recursos Humanos. A mudança no financiamento que
houve recentemente no Ministério da Saúde diz respeito ao aspecto da cobertura
de equipes, como afirmei anteriormente. Ainda é necessário pensar na questão
das grandes cidades, pensar as equipes enquanto aglomerados de equipes. Na
medida em que um grande município fecha com o Programa de Saúde da Família um
território significativo, enquanto cobertura populacional, ele já merece ser
analisado de forma diferenciada. A modalidade de financiamento atual ainda não
dá conta desse aspecto. Um grande município precisa fazer um esforço imenso
para atingir a cobertura de 70% da população, para corresponder à maior faixa
do valor do incentivo.
Quanto à forma de contratação, isso é sempre uma decisão municipal. O que o
Ministério tem feito é um esforço, nos últimos anos, para identificar
modalidades de contratação compatíveis com o perfil de trabalho e dos
profissionais que integram as equipes, mas entendendo que a decisão final, a
escolha, é sempre do gestor municipal. Muitos municípios já resolveram a
questão da contratação através do concurso público, garantindo regime CLT aos
profissionais. O problema maior está na contratação dos agentes comunitários,
que exige um tratamento diferenciado em função do perfil desses trabalhadores.
Pensar em aplicar o concurso público para os agentes é abrir mão da condição de
morador da própria comunidade, pois o concurso traz em si o caráter
universalista no momento da inscrição dos candidatos. E perder essa vinculação
do agente com a própria comunidade é romper com um dos princípios elementares
desta estratégia. Por isso temos trabalhado no levantamento de outras
alternativas de contratação que garantam os direitos trabalhistas do regime CLT
para os Agentes Comunitários. É uma articulação que envolve várias instituições
e representações, como dos próprios agentes, dos Conselhos de Secretários
Estaduais e Municipais de Saúde, do Ministério Público do Trabalho, do
Ministério da Justiça, do Programa Comunidade Solidária.
Uma alternativa identificada como compatível para a contratação dos agentes
comunitários de saúde, e que foi acatada recentemente pelo ministério Público
do Trabalho, é a elaboração de Termo de Parceira entre as administrações
municipais e entidades reconhecidas como a OSCIP - Organização da Sociedade
Civil de Interesse Público. As OSCIPs foram regulamentadas em 1999 pela Lei
9.790/99 (conhecida como a lei do Terceiro Setor).
Repito que não é o Ministério da Saúde que vai resolver este problema. A
decisão é do município, uma vez que o mesmo tem autonomia para escolher a
modalidade de contratação adequada à sua realidade. Porém, entendemos que cabe
ao Ministério da Saúde a responsabilidade de orientar e de ofertar os
instrumentos que possam facilitar a decisão dos municípios, assim como a
operacionalização de sua decisão.
Neste momento há um ingrediente novo neste debate, que é a recente aprovação da
Lei de Responsabilidade Fiscal, que tem aspectos que interferem na questão de
expansão do quadro de recursos humanos dos municípios. Há um processo de
discussão já instalado envolvendo os níveis federal, estadual e municipal de
gestão do SUS para a busca de soluções aos problemas já identificados na
implantação desta lei.
DENISE. Ainda sobre a estratégia de que falávamos anteriormente...É possível
observar que existe uma disputa política muito grande no que diz respeito ao
modelo assistencial. De um lado, o modelo que tem por base os princípios
aprovados na 8º Conferência Nacional de Saúde. De outro, o modelo defendido
pela maioria da categoria médica e pelas empresas de medicamentos e
equipamentos hospitalares, baseado na atenção curativa, individual e
fragmentada em especialidades. São dois modelos polares e teoricamente
diferentes. Então, neste cenário, o Ministério da Saúde, ao invés de propor uma
mudança radical no modelo assistencial com base nos princípios do SUS, opta
pela estratégia de criar um Programa?
HELOIZA. Inicialmente é preciso entender que o PSF não está em contraposição ao
SUS. Muito ao contrário, o PSF é uma estratégia que está contribuindo para a
operacionalização dos próprios princípios do SUS. É preciso refletir sobre os
caminhos percorridos no processo de construção do SUS. Mesmo que ainda não
tenhamos atingido os princípios do SUS em sua plenitude, é preciso reconhecer
que estamos construindo um sistema solidário e que os avanços, nestes últimos
10 anos, foram significativos, especialmente no que diz respeito ao processo de
descentralização e municipalização dos serviços de saúde. O acesso aos serviços
também foi ampliado, decorrente da própria expansão dos serviços municipais de
saúde. No campo do financiamento avançamos significativamente, hoje a maior
parte dos recursos federais já são transferidos pela modalidade fundo a fundo e
recentemente o setor obteve uma importante conquista com a aprovação da PEC da
saúde. Mesmo que os Conselhos de Saúde ainda não estejam atuando no plano
ideal, é inegável o que já representam enquanto instância de participação e
controle social.
No campo dos arranjos institucionais, a criação das Comissões Bipartites e
Tripartites significa espaço privilegiado de pactuação entre os diferentes
níveis de gestão do SUS. Não se admite mais decisões centralizadas, que não
sejam acordadas entre as representações de gestores. Estes são alguns aspectos,
dentre muitos, que demonstram os avanços. Mias também temos a consciência de
que em algumas questões avançamos muito pouco. Ainda não conseguimos traduzir
efetivamente estes avanços em uma linguagem que a população realmente
compreenda: de serviços que sejam verdadeiramente acessíveis, oportunos,
resolutivos e humanizados. É neste contexto que o PSF precisa ser entendido. É
preciso criticar as suas limitações, mas é preciso também romper com
preconceitos e reconhecer a sua potencialidade como estratégia estruturante do
próprio Sistema Único de Saúde.
Outra questão importante, de amadurecimento, é a compreensão de que os avanços
e retrocessos no interior do SUS não são de responsabilidade única do
Ministério da Saúde. Esta é uma construção de erros e acertos que precisa ser
compartilhada entre os três níveis de gestão e com a representação da
sociedade. Por isso, quando o Ministério coloca hoje o Programa Saúde da
Família como a estratégia de reorientação do modelo, com ampla adesão de
gestores estaduais e municipais de saúde, o que resulta é o que alguns autores
tem denominado de "reforma da reforma", ou seja, o PSF está provocando um
movimento de reorientação do modelo no interior do Sistema Único de Saúde.
Neste contexto estamos tendo avanços sucessivos, mas as transformações não
ocorreram repentinamente e simultaneamente, e nem serão assim num país com
tanta diversidade como o nosso.
Estamos agora vivendo a possibilidade de um novo salto na organização do
sistema. Os princípios de regionalização e hierarquização do SUS também foram
muito bem desenhados, mas representaram avanços limitados. Tivemos, sem dúvida,
processos muito bem desenvolvidos, limitados a alguns municípios em um processo
claro de atomização . A organização da atenção básica é condição para que
qualquer sistema se estruture de forma hierarquizada. Os avanços provocados
pela implantação do PSF nos últimos anos contribuíram para fortalecer a
necessidade de avançar na organização dos demais níveis de complexidade,
inclusive possibilitando uma atenção básica com maior incorporação tecnológica
e maior capacidade resolutiva. Esta é a grande discussão que ocupa os fóruns
tripartites nos últimos meses. Há, nitidamente, uma coesão de interesses das
representações federal, estaduais e municipais para se iniciar em 2001 a
operacionalização da instalação de redes regionalizadas com microregiões de
saúde.
Isto tudo é um processo e é democrático porque é constantemente pactuado.
Acho que estamos em um momento privilegiado enquanto possibilidade de avanços,
de aperfeiçoamento do processo de descentralização e com um compromisso claro
de buscar a equidade na organização do nosso sistema de saúde.
DENISE. Que papel vai ter o agente comunitário de saúde, já que esta é uma
questão polêmica?
HELOIZA. Realmente esta é uma polêmica antiga e o perfil do agente comunitário
precisa ser e está sendo alterado diante das diferentes realidades e contextos
de trabalho. É preciso lembrar que o agente comunitário começou a ser
implantado no Nordeste, com um volume de atribuições e competências muito
voltado ao enfrentamento da mortalidade infantil e materna. Este papel se
expandiu, na região Norte, para o enfrentamento do cólera. Esta agenda básica
de trabalho na área da mulher e da criança ainda permanece porque ainda é um
grave problema em muitos municípios do país. Ainda convivemos com problemas
antigos, nos quais os agentes estão trazendo uma grande contribuição, a exemplo
da malária, da tuberculose e da hanseníase. Com as transformações que estamos
vivendo no quadro demográfico e epidemiológico a agenda requer permanente
adaptação. Temos as questões relativas às doenças crônico- degenerativas, ao
envelhecimento da população, à gravidez precoce, a expansão que ocorreu com a
AIDS no país.
Com a expansão do Programa para outras regiões do país e sua implantação nos
grandes centros urbanos a agenda de trabalho se altera mais rapidamente. A
realidade urbana traz novos desafios que requerem uma ação intersetorial mais
efetiva: é o enfrentamento de situações geradas pelo consumo de álcool e
drogas, da violência intrafamiliar, da inclusão da saúde mental como agenda
básica de trabalho.
A entrada dos agentes comunitários de saúde nas regiões metropolitanas rompeu a
visão que muitos tinham de que o agente comunitário somente era importante e
necessário para as regiões rurais ou para o Nordeste do país. A avaliação que
hoje a coordenação do Projeto QUALIS/SAÚDE DA FAMÍLIA de São Paulo faz, é que a
grande inovação do Saúde da Família na capital de São Paulo é justamente a
introdução do agente comunitário, por esta identidade que ele tem com as
pessoas, pela facilidade de interlocução, pela capacidade de facilitar o
vínculo com o restante da equipe e pela possibilidade de traduzir os
interesses, necessidades e potencialidades da própria comunidade. Temos que
entender que o agente tem, em qualquer contexto, a atribuição importante de
provocador da vinculação, o que possibilita a criação dos laços de compromisso
e de co-responsabilidade entre os serviços, as equipes e a população. Por tudo
isso, podemos pensar no papel que os agentes terão no futuro, mas ainda
precisamos trabalhar muito para superar os problemas com os quais ainda
convivemos no presente.
REBEn Será que, a longo prazo, não poderá haver confusão na divisão de papéis,
dentro da equipe de saúde? Como o agente comunitário se diferencia dos outros
membros da equipe? Dual é a sua especificidade?
HELOIZA. A grande especificidade do ACS, que o diferencia da equipe, é que ele
vive e intervém no processo saúde-doença da comunidade num nível de interação
próprio de quem participa de um mesmo universo simbólico, de uma mesma cultura.
Assim, embora todos estejam preocupados com questões de promoção à saúde, o ACS
é o elemento central para fomentar movimentos sociais por melhores condições de
vida (moradia, transporte, educação, lazer, acesso a serviços de saúde), pelo
sentimento único de pertencer àquela comunidade. Nesta perspectiva, ele atende
aos princípios da promoção à saúde definidos nas conferências internacionais,
conforme expressão da própria Carta de Otawa: construção de políticas públicas
saudáveis, criação de ambientes saudáveis, fortalecimento da participação
comunitária, desenvolvimento de habilidades pessoais e reorganização dos
serviços de saúde.
Acabamos de concluir um documento importante que trabalha as competências dos
agentes comunitários, mediante as diversas possibilidades de sua inserção na
comunidade. Com isto estamos propondo uma qualificação profissional, em nível
básico, para o ACS, de acordo com a lei 93.94/96 (LDB).
DENISE. Se o agente comunitário é um trabalhador de saúde e se ele está
incluído na equipe, poderíamos falar então do surgimento de uma nova profissão
na área de saúde?
HELOIZA. Tem um debate importante neste aspecto. Ele é um agente de saúde hoje,
mas com a ampliação da sua agenda e com a necessidade de articulação
intersetorial, visando o desenvolvimento local, será ele um futuro agente de
desenvolvimento social? Será um agente de cidadania? Qual a relação que isto
tem com o desenvolvimento local sustentável, integrado?
Embora na maioria dos municípios ainda não conseguimos dar conta de vencer os
desafios da agenda básica, é importante pensar que o agente comunitário se
apresenta como um ator importante neste processo mais ampliado, de
fortalecimento de um "pensamento intersetorial".
DENISE. Como este trabalhador da saúde pode ser representado por um sindicato?
HELOIZA. Eles já se organizam. Temos informação da existência de oito
Federações e uma Confederação de Agentes Comunitários de Saúde.
DENISE.Dentro do âmbito do Ministério da Saúde, de um lado temos o PROFAE que
busca a profissionalização dos trabalhadores de enfermagem. De outro lado, o
próprio Ministério da Saúde forma Agentes Comunitários de Saúde e tem colocado
no mercado uma grande quantidade de trabalhadores que acabam assumindo o papel
de atendente de enfermagem. Em que se apóia esta contradição?
HELOIZA. Acho que não podemos nos confundir com esta questão. Em primeiro lugar
os agentes comunitários não estão assumindo o papel de atendentes de
enfermagem. Em segundo lugar é fundamental, para a qualidade da assistência, o
investimento que está sendo articulado pelo PROFAE. Representa o que a
enfermagem busca há muito tempo.
Existem também perguntas como: "Por que não transformar os agentes em
auxiliares de enfermagem?" Temos colocado que isto pode ocorrer quando
representa uma demanda pessoal, do próprio agente. Se ele quiser se incorporar
no serviço como um auxiliar de enfermagem, então que se ofereça a oportunidade
para que ele faça isto dentro dos processos de qualificação já existentes.
DENISE.Embora o PROFAE exclua o agente de saúde de seu programa...
HELOIZA. Ele entra se for uma demanda do serviço, para que ele possa exercer o
papel de auxiliar na Unidade. Um processo de transformação dos agentes em
auxiliares de enfermagem não é o objetivo. O PROFAE é um programa que alocou
recursos para qualificação profissional dos atendentes de enfermagem, isto é,
qualificar, e também requalificar os auxiliares de enfermagem. A forma como o
projeto foi estruturado e vem sendo gerenciado é que permite a criação de
espaços para discutir a formação dos trabalhadores de nível médio para saúde. A
qualificação profissional dos ACS é uma outra proposta que prevê a qualificação
de nível básico, cuja diretrizes foram elaboradas com a finalidade de
qualificar o ACS de acordo com os pressupostos da própria LDB.
DENISE. E em relação a capacitação de recursos humanos para atuar no PSF, quais
são os desafios?
HELOIZA. A questão de recursos humanos representa desafios e riscos para a
sustentabilidade deste modelo. Desde que o PSF foi concebido sabia-se da
inexistência de profissionais com o perfil necessário. Sabia-se também que as
instituições de ensino superior só ingressariam em um movimento de preparar
profissionais com este perfil se houvesse mercado de trabalho que os
absorvesse. Desta forma é preciso compreender que, durante uma longa transição,
as equipes de Saúde da Família não serão compostas por profissionais com perfil
ideal. Como em outros países, o Brasil também terá um processo de adaptação dos
profissionais que já estão no mercado de trabalho para este novo modelo de
atenção. A meta do Ministério da Saúde, com recursos previstos no PPA - Plano
Plurianual do Governo Federal, aponta para a implantação de 20 mil equipes de
saúde da família até o ano 2002. Isso representará a cobertura de praticamente
metade da população brasileira. Creio que isto deve representar estímulo e uma
certa segurança às escolas médicas e de enfermagem, para começar a produzir
mudanças na formação dos seus profissionais.
Na verdade, o PSF veio fomentar um movimento já existente de necessidade de
reforma do ensino na área da saúde. É preciso que as escolas se voltem para a
realidade social e sanitária do país. É preciso que se tenha a capacidade de
recuperar os elos perdidos na relação dos profissionais de saúde com a
população. Há um certo consenso, além do PSF, destas necessidades. O Ministério
da Saúde vem estimulando a participação das instituições de ensino superior,
especialmente cursos de enfermagem e de medicina, a envolverem-se neste
processo através dos Pólos de Capacitação, Formação e Educação Permanente em
Saúde da Família. Atualmente já temos mais de cem cursos envolvidos neste
processo, sendo 64 deles, cursos de enfermagem.
Os Pólos estão atuando no sentido de preparar os profissionais que estão sendo
inseridos nas equipes e também provocar a formação dos futuros profissionais
que ingressarão neste mercado de trabalho. Estamos falando de grandes números.
Somente em relação aos profissionais de nível superior estamos falando em
10.400 equipes, ou seja, 10.400 médicos(as), 10.400 enfermeiros(as) onde soma-
se ainda cerca de 2.000 enfermeiros(as) que estão nas áreas do programa de
Agentes Comunitários que ainda não foram incorporadas pelo PSF.
O PSF portanto, provoca uma mudança concreta de espaço de trabalho, de mercado.
O papel das Universidades tem sido fundamental. Esta é uma tarefa que de fato
precisa ser compartilhada entre as instituições de ensino e de serviço.
Para atuar numa equipe de saúde da família o profissional precisa compreender a
nova dinâmica do processo de trabalho. É preciso portanto inserí-lo em uma
capacitação introdutória. Os profissionais precisam desenvolver os
conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias a nova concepção de trabalho,
de forma a estarem preparados ao enfrentamento de situações e problemas no
cotidiano da comunidade que está sob sua responsabilidade. Para isso é
indispensável um processo de educação permanente. Outro movimento está voltado
para a formação dos novos profissionais, seja através de inovações na graduação
ou na pós-graduação.
DENISE. Este processo também envolve a Residência e a Especialização em Saúde
da Família, cujas propostas estão sendo aprovadas agora...
HELOIZA. Exatamente isto. Induzimos esta proposta para estimular as
Universidades a apostar no Programa e elevar a sua contribuição na formação dos
profissionais necessários.
A Residência não vai dar conta do quantitativo de profissionais necessários,
mas ela é importante no sentido de formação de massa crítica, de produção de
quadros multiplicadores do processo de capacitação. A especialização, que deve
incorporar o ensino presencial e à distância, representa uma possibilidade
importante de aprimoramento dos conhecimentos e também de valorização dos
profissionais.
DENISE.Estás afirmando que esta mudança no mercado realimenta a formação dos
profissionais de saúde e que a formação de novos quadros também influencia o
mercado?
HELOIZA. Não tenho dúvida em afirmar que a expansão e o fortalecimento do PSF
tem exercido influência sobre as Universidades, que passam a reconhecer um novo
espaço de trabalho e iniciam movimentos no sentido de dirigir, ainda que não
totalmente, pelo menos alguns aspectos da formação para este campo de trabalho.
A entrada da Universidade também influencia o mercado, que encontra na
perspectiva da formação, possibilidade de sua expansão e também contribui para
o aperfeiçoamento conceitual e teórico da estratégia. Podem as escolas de
enfermagem negar o mercado de trabalho gerado pelo PACS e PSF? Pode o MS estar
desatento da capacidade formadora e da distribuição territorial das escolas de
enfermagem?
Na área da pesquisa e da avaliação, esta realimentação também tem sido
fundamental. Nestes poucos anos de vigência do Programa, os processos de
avaliação e monitoramento, têm fornecido subsídios importantes para repensar as
coisas em nível nacional, estadual e municipal. O PSF também tem estimulado a
elaboração de dissertações de Mestrado e teses de Doutorado nesta temática, o
que tem sido muito bom para o aprofundamento conceitual.
DENISE. Qual é a concepção teórica sobre família que embasa o Programa?
HELOIZA. Entendemos a família como o espaço nuclear da agregação das pessoas,
inseridas em um contexto social, devendo ser objeto prioritário e de
focalização da atenção à saúde.
Existem centros acadêmicos aprofundando esta questão e estas contribuições
serão bem vindas ao desenvolvimento dos trabalhos. As equipes poderão se
beneficiar de um maior embasamento teórico para melhorar o entendimento de "que
famílias são estas que estamos lidando?".
DENISE. Como o Programa tem sido avaliado até agora? Que resultados foram
conquistados?
HELOIZA. A avaliação no setor saúde sempre é comprometida pela deficiência dos
instrumentos de avaliação. No PSF estamos preocupados em acompanhar os
resultados na organização dos serviços, na satisfação dos usuários e dos
profissionais de saúde, na ampliação do acesso e no impacto nos indicadores de
saúde. Estruturamos e implantamos um sistema de informação para acompanhamento
da oferta de serviços pelas unidades básicas de saúde da família e de um
conjunto de indicadores de resultados. Por este sistema será possível, a partir
do próximo ano, um acompanhamento sistemático da evolução desses resultados. Na
amostra existente já observa-se um melhora significativa nas taxas de
mortalidade infantil, na elevação dos índices de aleitamento materno, na
cobertura de pré-natal, no acompanhamento de hipertensos e diabéticos, entre
outros. Entretanto, a maior importância deste sistema de informação está no
município. Ele apresenta-se como uma ferramenta fundamental que possibilita ao
gestor a tomada de decisões em tempo real para o enfrentamento dos problemas
identificados. Algumas avaliações pontuais, de municípios, apontam para a
influência da expansão da cobertura do PSF no processo de organização dos
demais níveis de complexidade do sistema.
Existem também algumas pesquisas de caráter qualitativo sobre o nível de
satisfação com o Programa em alguns municípios e estados. Ainda não temos um
resultado disto em nível nacional. Os resultados mostram uma elevação no nível
de satisfação das pessoas com o Programa; não só dos usuários, mas também dos
profissionais de saúde, que enfatizam o resgate da humanização da assistência e
do reconhecimento profissional. Então, apesar das condições de trabalho serem
inadequadas porque os Postos de Saúde ainda têm condições muito rudimentares
para o atendimento, e apesar da situação contratual dos profissionais também
incomodar, o nível de satisfação é crescente. Todas as pesquisas mostram isso.
Há uma pesquisa que o Ministério da Saúde encomendou e foi coordenada pela
Professora Maria Helena Machado, da FIOCRUZ, que revela que a maioria dos
profissionais tem uma visão otimista e de satisfação no seu trabalho. Mostra
também que quase 90% dos médicos e enfermeiros consideram bom o entrosamento da
equipe.
Neste momento está em curso uma pesquisa nacional para verificar as mudanças
ocorridas no processo de organização dos sistemas locais de saúde após a
implantação do PAB e um estudo de custos do PSF, em municípios selecionados.
DENISE. A interdisciplinariedade parece ser algo fundamental não é mesmo?
HELOIZA. Sem dúvida. Os profissionais das equipes de saúde da família
necessitam de uma visão ampliada. É imprescindível ser resolutivo nas clínicas
básicas, ser capaz de resolver pelo menos 80% dos problemas de saúde da
população numa concepção de recuperação de condições adequadas de saúde e de
qualidade de vida. Esta prática precisa estar pautada pelos princípios de
promoção da saúde. Isto requer uma visão e uma ação ampliada, exigindo a
incorporação de novos saberes e novos conhecimentos que tradicionalmente não
foram incorporados na formação dos nossos profissionais de saúde.
1 Entrevista realizada por Denise Elvira Pires de Pires, membro do Conselho
Editorial da REBEn com Heloiza Machado de Souza, diretora do Departamento de
Atenção Básica do Ministério da Saúde.