Atuação do enfermeiro no programa saúde da família em Sobradinho II
RELATO DE EXPERIÊNCIA
GERENCIAMENTO
Atuação do enfermeiro no programa saúde da família em Sobradinho II
Arlete Rodrigues Chagas da Costa; Manuela Costa Melo; Marilda Augusto Oliveira;
Rosana Nunes Dias
Enfermeiras do Programa Saúde da Família - Sobradinho II. Brasília-DF
O Programa Saúde da Família (PSF) segue o modelo de atenção à saúde
estabelecido pelo Ministério da Saúde baseado na Lei n.º 2177 de 30.12.98, na
qual foi criado e no Decreto n.º 2043 de 23.02.99, que estabelece as gestões do
PSF. A filosofia do Programa baseia-se na doutrina do Sistema Único de Saúde -
SUS com o objetivo de buscar a reorganização da pratica assistencial em novas
bases e critérios, tendo como objetivo o atendimento ao indivíduo no seu
contexto familiar.
Todos os profissionais selecionados para trabalhar nas equipes do PSF, em nosso
serviço passaram por um treinamento geral realizado no Centro de
Desenvolvimento de Recursos Humanos para a Saúde - CEDRUS, em Brasília,
abrangendo todas as áreas para que houvesse maior integração das mesmas e
conhecimento da metodologia do Programa.
No Distrito Federal, Brasília é o centro Administrativo das Cidades Satélites,
onde o Programa vem atuando desde maio 1999.
Sobradinho, uma das cidades Satélites, criada em 1960, tem uma área de 570 km2;
fica localizado a 22,1 Km ao nordeste de Brasília com uma população de 168.000
habitantes.
O presente trabalho se restringe ao Sobradinho Oeste, região criada em 1989 por
meio do Programa de Assentamento da População de Baixa Renda, conhecida como
Sobradinho II. Hoje com dez (10) anos de existência conta com 5.000 famílias
instaladas em dezenove quadras e uma população de cerca de 20.000 habitantes,
possuindo asfaltamento nas avenidas principais, saneamento básico, rede
elétrica, posto policial, escolas públicas, posto de saúde, pequenas indústrias
e comércio diversificado.
Atuação do Enfermeiro do PSF/COER (Centro de Orientação e Educação Rural)
Sobradinho II
Na grande maioria das equipes de saúde o enfermeiro é que detém o papel de
Coordenador, acumulando várias funções, principalmente, no acompanhamento dos
trabalhos dos Agentes Comunitários de Saúde - ACS. A atuação do enfermeiro no
PSF desenvolve-se em dois campos essenciais:
Na unidade de Saúde junto à equipe
Realizar supervisão técnica dos auxiliares de enfermagem;
Planejar, supervisionar as ações diárias;
Implantar as rotinas;
Desenvolver treinamento em serviço para capacitação dos ACS;
- Facilitar a integração entre os membros da equipe;
Promover ações de assistência básica, vigilância epidemiológica e sanitária;
Implantar programas de atenção á criança, adolescente, mulher, adulto idoso,
com ênfase na promoção à saúde e prevenção de doenças;
Contribuir com a vigilância epidemiológica;
Orientar para preservação do meio ambiente;
Realizar consultas de enfermagem;
Realizar reuniões de grupo;
Manter registro sistemático das atividades desenvolvidas;
Encaminhar estatística mensal das atividades para a coordenação central
através do assistente técnico do PSF;
Coordenar a consolidação dos dados, selecionando os elementos de
diagnósticos.
Na Comunidade
Acompanhar os trabalhos dos ACS;
Realizar visitas domiciliares nos casos que necessitam de procedimentos
especiais;
Promover educação em saúde;
Desenvolver atividades de promoção, e prevenção em saúde: campanhas de
vacinação, prevenção de helmintos, prevenção da dengue, promoção do aleitamento
materno e prevenção de DST/AIDS;
Identificar e conhecer formas de trabalho das liderançãs, serviços e órgãos
existentes na comunidade:
Estimular a organização e participação popular;
Discutir com a comunidade a filosofia e funcionamento do PSF.
As equipes 2 e 3 do PSF iniciaram suas atividades no mês de julho de 1999, no
COER Sobradinho II, em imóvel cedido pela presidente da entidade, tendo como
componentes das equipes:
1 Médico;
2 Enfermeiras;
1 Odontóloga;
6 Auxiliares de Enfermagem,
10 Agentes Comunitários de Saúde;
1 Técnica de Higiene Dentária;
1 Auxiliar de Consultório Dentário;
2 AOSD de limpeza.
O trabalho consistiu no cadastramento da família utilizando-se como instrumento
um formulário elaborado pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal - SES/DF.
A metodologia do trabalho foi desenvolvida através da delimitação da área à ser
trabalhada,visitas domiciliares composta por dois ACS e uma enfermeira portando
identidade funcional.
Inicialmente fazíamos a nossa apresentação e, mediante a autorização da
família, dava-se início à coleta dos dados, no ambiente da familiar,
preservando a ética e o sigilo.
Através destas visitas obtivemos o produto para elaboração do consolidado, bem
como para traçar o perfil epidemiológico da comunidade e maior integração junto
à população envolvida.
De posse dos dados encontrados após a realização do cadastramento, consolidamos
os achados referentesàs diversas áreas residenciais (AR) e são apresentados a
seguir nos Quadros_1 e 2.
![](/img/revistas/reben/v53nspe/a20qua01.jpg)
Pelos dados obtidos pode-se avaliar o perfil da população no que se refere à
faixa etária e, a partir daí, desenvolver vários trabalhos dentro dos programas
estabelecidos pelo Ministério da Saúde.
Quadro_3
Observando-se o Quadro acima temos uma visão das condições saúde/doença da
comunidade. Das 9307 pessoas cadastradas 6436 são sadias, o equivalente a 69%,
2818 são portadoras de doenças, equivalente a 30% e 53 são portadoras de
seqüelas, equivalente a 1 %. A prevalência está na faixa dos 20 a 49 anos,
tanto para homens como para mulheres.
No Quadro_4 temos uma indicação dos índices de incidência de doenças
apresentadas pela população. Com estes resultados traçãmos metas e iniciamos o
atendimento à criança, gestante, adulto, hipertensos, diabéticos, tabagistas e
alcoólatras entre outras.
Estão sendo desenvolvidos trabalhos em conjunto com a Fundação Hospitalar do
Distrito Federal (FHDF), relacionados a companhas de multivacinação e mutirões
de saúde, bem como atuando em conjunto com o centro de saúde da localidade.
No desenvolvimento da programação, foram evidenciadas várias dificuldades, tais
como:
- Mentalidade da população pela prioridade em procurar o primeiro atendimento
de saúde no Pronto Socorro;
- Desconhecimento da população sobre a importância da atenção básica de saúde;
- Os Cursos de Ensino Superior não estarem preparando os profissionais para
atividades generalistas, com habilitação em saúde da família;
- Mudançãs de hábitos;
- Flutuação da população.
Observamos, nesta atividade, grande expectativa por parte da comunidade o que
gera facilidade para a implantação do Programa, tendo em vista que após as
primeiras ações de saúde, a comunidade integrou-se na busca de solucionar seus
problemas sociais. Outros elementos importantes foram a decisão governamental,
o interesse e compromisso dos profissionais e a articulação entre os serviços.
Todavia deve-se salientar que a maior parte da população brasileira encontrada
nas periferias está desprovida de assistência à saúde e, com a atuação do
Programa Saúde da Família, a comunidade tem uma referência primária à saúde,
desafogando outros atendimentos, recebendo tratamento mais igualitário e
humanizado.