Características da competência interpessoal do enfermeiro: estudo com
graduandos de enfermagem
Características da competência interpessoaldo enfermeiro: estudo com graduandos
de enfermagem1
Caracteristics of interpersonal competency for nurses: study accomplished with
nursing undergraduate students
Caracteristicas de la competencia interpersonal dei enfermero: estudio con
académicos de enfermería
Denize Bouttelet MunariI; Hérica Kelly da CostaII; Adriane Helena Alves
CardosoIII; Carlos Cristiano Oliveira de Faria AlmeidaIV
IDoutora em Enfermagem, Professora Titular da FE/UFG, Pesquisadora CNPq
IIBolsista PET/SESu, aluna do Curso de Graduação em Enfermagem da FEN/UFG
IIIBolsista PET/SESu, aluna do Curso de Graduação em Enfermagem da FEN/UFG
IVBolsista PET/SESu, aluna do Curso de Graduação em Enfermagem da FEN/UFG. E-
mail do autor:denize@fen.ufg.br
1 Introdução
O desenvolvimento da competência interpessoal do enfermeiro constitui-se uma
tarefa complexa, considerando a tendência da formação desses profissionais na
maioria das escolas, cujo foco está mais voltado para a excelência do
desenvolvimento técnico(1-3).
Por outro lado vimos que é cada vez maior a necessidade de ampliação desse
modelo para um que privilegie também o desenvolvimento de habilidades no campo
das relações humanas, aspecto tão presente nessa nova era, especialmente se
considerarmos a dimensão do trabalho gerencial do enfermeiro(4, 5).
O fato de vivermos na era da globalização exige dos profissionais uma postura
que seja compatível com as mudanças e necessidades desse novo tempo, o que nos
sugere que a formação do enfermeiro deve contemplar conteúdos que o
instrumentalize para uma ação também globalizada, principalmente quando se
trata do trabalho em equipes e da coordenação desse trabalho.
Nesse sentido, é esperado que o enfermeiro seja capaz de desempenhar um papel
de gerenciador do trabalho, dentro de uma perspectiva participativa, onde o
objetivo é atingido pelo esforço de todos e não mais pela união de esforços
individuais(4,6,7)
O interesse pelo assunto surgiu após verificarmos a dificuldade com que os
alunos graduandos em enfermagem enfrentam ao entrar no estáÇlio profissional,
ocasião em que Ihes é exigido o exercício de cargos de chefia e posição de
comando. Em nossa experiência essa etapa da formação é experienciada com muita
angustia e conflitos relacionados ao campo das relações interpessoais.
Assim, a partir de um trabalho com alunos de graduação em enfermagem em estágio
profissional, no sentido de viabilizar através do laboratório de grupo,
experiências que possibilitassem o descobrimento da competência interpessoal
como instrumento para o seu desenvolvimento enquanto gerente, traçamos como
objetivo dessa pesquisa identificar características da competência interpessoal
em alunos da graduação em enfermagem em estágio profissional.
2 Revisão da literatura
É inerente ao homem viver em sociedade e, nesta interação de cultura e
significados, ele é influenciado quer seja positivamente, quer seja
negativamente, estabelecendo relações.
Pessoas convivem e trabalham com pessoas e portamse como pessoas, isto é,
reagem com as outras pessoas com as quais entram em contato: comunicam-se,
simpatizam e sentem aversões, aproximam-se, afastam-se, entram em conflito,
competem, colaboram, desenvolvem afeto(8,9).
Através destas relações se sobressaem aquelas pessoas com maior competência
interpessoal, considerada como "a habilidade de lidar eficazmente com relações
interpessoais, de lidar com outras pessoas de forma adequada às necessidades de
cada uma e às exigências da situação"(8:36). O relacionamento interpessoal é o
responsável pela integração e cooperação em uma equipe e o facilitador no
alcance da tão buscada sinergia, assim como, a sua deficiência pode prejudicar
por completo o desempenho grupal. Por essa razão estudos sobre líderes e
liderança vêm sendo cada vez mais abordados, em conseqüência da substituição da
administração autocrática por uma administração participativa, o que exige uma
melhor adequação dos profissionais no que diz respeito ao seu desempenho
gerencial(10).
Estudos contemporâneos sobre o processo e a dinâmica
organizacionais,especificamente sobre o comportamento humano e liderança
visualizam-na como um processo coletivo compartilhado entre os membros de um
grupo(4:78).
A área da saúde, por sua complexidade e envolvimento de diversos profissionais
de áreas distintas trabalhando num mesmo ambiente, exige de cada um dos
profissionais uma postura que favoreça o trabalho de grupo. É de suma
importância que estes profissionais busquem um movimento que fortaleça o
trabalho multiprofissional(11-13).
O enfermeiro inserido nesse grupo assume papel de liderança nas diferentes
áreas de atuação e para isso precisa se desenvolver na área de liderança com
competência técnica e interpessoal.
Assim, consideramos que o desenvolvimento da competência interpessoal pode ser
um veículo transformador na prática gerencial do enfermeiro, uma vez que esta
permite a formação de um líder que consiga avaliar e dimensionar os problemas
de forma mais efetiva e integrada.
A competência interpessoal
é resultante de percepção acurada e realística das situações
interpessoais e de habilidade específicas comportamentais que
conduzem as conseqüências significativas no relacionamento duradouro
e autêntico, satisfatório para as pessoas envolvidas(8:36).
Para a aquisição dessa habilidade são necessários dois componentes: a percepção
e a habilidade propriamente dita(8). Nesse estudo focalizamos o desempenho das
dimensões indispensáveis ao bom treinamento do profissional nessa esfera: a
comunicação, a liderança e a participação.
O verdadeiro líder é aquele que tem desenvolvido a competência interpessoal,
que é inata ao ser humano, porém deve ser desenvolvida e exige investimento
pessoal. `Líderes se desenvolvem, não são fabricados. Devem ter tempo e espaço
para se revelar"(14:31).
Nesse sentido nos propusemos nesse estudo a focalizar o desenvolvimento da
competência interpessoal como instrumento para a formação do enfermeiro,
considerando sua importância na capa citação desse profissional na condução de
suas ações gerenciais. optando por realizá-Ia no enfoque grupal considerando a
natureza do trabalho da enfermagem.
3 Metodologia
Pesquisa descritiva. de abordagem quanti-qualitativa, realizada na Faculdade da
Universidade Federal de Goiás com alunos do 5° ano de Graduação em Enfermagem.
Através da disciplina de Saúde Mental 11 foi desenvolvido um laboratório de
grupo, com base em um modelo teóricovivencial(8), com o objetivo de preparar
os alunos para o trabalho coletivo, o manejo grupal e o treino de coordenador
de grupo, apresentando a estes as caracteristicas do desenvolvimento da
competência interpessoal e as condições para seu desempenho. como forma de
avaliar o aprimoramento das relações interpessoais e desenvolvimento da
liderança em decorrência desse exercicio. A população estudada constituiuse de
9 alunos graduandos em enfermagem que estavam desenvolvendo estágio
profissional e que fizeram parte do laboratório de grupo. Estes alunos se
dispuseram a fazer parte do estudo, dando-nos sua autorização através do
formulário de consentimento livre e esclarecido. A pesquisa foi analisada e
aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa Médica Humana e Animal do Hospital
das Clínicas da Universidade Federal de Goiás.
Na primeira etapa os alunos responderam a um instrumento que apresentava as
características da competência interpessoal pontuando os atributos de acordo
com sua percepção atual para as dimensões: comunicação, liderança e
participação dentro de uma escala de 1 a 7(8).
Na segunda etapa os alunos partíciparam do laboratório de grupo, que oferecia
condições para que os mesmos entrassem em contato com os recursos teóricos,
além de vivências que serviam de análise para os problemas decorrentes de sua
prática enquanto gerentes nos serviços de saúde durante o estágio profissional.
Na terceira e última etapa, ao término do laboratório foi reaplicado o
instrumento, acrescido de duas perguntas abertas solicitando uma análise
qualitativa do seu desempenho após a participação do laboratório de grupo, bem
como da eficácia desse método enquanto técnica de ensino.
Os resultados foram construidos, analisando comparativamente a 18 e a 28 etapa
da aplicação do instrumento e as questões abertas foram tratadas vislumbrando a
análise do seu conteúdo.
4 Apresentação e análise dos dados
O modo como adquirimos e desenvolvemos nossa competência interpessoal depende
de nossa percepção e da habilidade propriamente dita. A partir do modelo
adotado (8), buscamos neste estudo identificar os aspectos mais voltados ao
aprendizado da percepção da competência interpessoal, através do laboratório de
grupo e balizados pelo instrumento adotado que pontua as dimensões
interpessoais.
A aplicação do instrumento aplicado nas duas ocasiões para os alunos nos
permitiu observar como a pessoa se considera nas várias dimensões estudadas.
Para a comunicação o participante deveria atribuir pontos aos cinco itens que
trabalham esse aspecto. No que diz respeito à liderança, sete itens foram
avaliados e quanto à participação o aluno deveria atribuir pontos aos oito
itens.
No que diz respeito à comunicação foram observados os itens: Habilidade de
comunicar idéias de forma clara e precisa em situações individuais e de grupo;
Habilidade de ouvir e compreender o que os outros dizem; Habilidade de aceitar
criticas sem fortes reações emocionais defensivas; Habilidade de dar feed-
backaos outros de modo útil e construtivo; Capacidade de organizar e de
apresentar suas idéias de forma efetiva induzindo os outros a aceitá-Ias.
Dos dados analisados das respostas para a questão comunicação, na primeira
aplicação identificamos como único ponto forte apontado o saber ouvir (88,8%) e
os pontos fracos a expressão do feed-back(66.6%), a reação ao feed-back(66,6%),
a capacidade de persuasão (55,5%), a comunicação efetiva (88,8%). Tais aspectos
nos levam a considerar, no que diz respeito à comunicação, que o aluno
apresenta uma posição de timidez nesse inicio de trabalho, atribuindo maior
número de pontos a um fator em que ele se coloca numa posição mais passiva,
haja vista que em contrapartida os fatores apontados como os mais fracos são
aqueles onde o aluno deveria se colocar de modo mais ativo.
Esse panorama não muda muito após as vivências de laboratório, uma vez que na
segunda aplicação os pontos fortes evidenciados pelos alunos no quesito
comunicação são: comunicação efetiva (88,8%) e o saber ouvir (77,7%). Os pontos
fracos, segundo o que constatamos nas respostas estão relacionados novamente à
reação ao feed-back(66,6%), à expressão ao feed-back(66,6%) e à persuasão
(55,5%).
Os itens ligados à questão do feed backsão considerados como "carências
importantes a serem trabalhadas em desenvolvimento interpessoal, sem o que
ficarão como aspectos ineficientes do desempenho de gerentes"(8:39). Partindo
do princípio de que esses processos são extremamente importantes no trabalho do
enfermeiro, o dar e receber feed-backdeve ser um aspecto melhor elaborado na
sua formação. se queremos capacitá-Ios melhor na função gerencial.
O ensino efetivo da capacidade gerencial é uma necessidade para a formação do
enfermeiro haja vista a lacuna encontrada por alguns pesquisadores sobre o
ensino da liderança em enfermagem aplicado hoje em todo o país(10,15).
Ainda no que se refere à comunicação e sua implicação nas relações
interpessoais no trabalho em enfermagem,
"o êxito do líder está relacionado com a sua habilidade de comunicar-
se com os outros; o objetivo do comunicador é transmitir uma mensagem
para alguma outra pessoa, de modo tal que essa mensagem seja recebido
da forma pretendida, sem distorções"(4:78).
A segunda dimensão analisada foi a liderança cujos atributos referem-se a:
capacidade de influenciar os outros, fazer com que aceitem suas idéias e sigam
sua orientação; enfrentar e superar dificuldades em situações de desafio,
aceitando riscos com relativo conhecimento das conseqüências; capacidade de
propor idéias inovadoras, de iniciar projetos e influenciar o rumo dos
acontecimentos; assumir responsabilidade, agir de acordo com suas habilidades e
convicções sem dependência demasiada dos outros; capacidade de trabalhar em
situações não rotineiras mantendo padrões de desempenho eficaz, mesmo
enfrentando falta de apoio e cooperação, resistência, oposição, hostilidade;
estimular e encorajar os outros a desenvolverem seus próprios recursos para
resolverem seus problemas; desejar vencer e ser o melhor no desempenho, superar
obstáculos e conseguir reconhecimento dos outros.
Como pontos fortes foram apontados pelos alunos o apoio catalisador (88,8%) e a
competição (88,8%) e como pontos fracos a autoconfiança (77,7%), a iniciativa
(55,5%) e a resistência ao stress(66,6%).Na segunda aplicação do questionário.
ao final do laboratório de grupo a resistência ao stress e a iniciativa,
continuam sendo apontadas como pontos fracos. No entanto, aparece uma mudança
substancial nos pontos fortes, sendo apontados os fatores liderança efetiva
(77,7%), autoconfiança (66,6%), apoio catalisador (88,8%) e competição (100%)
como aqueles mais presentes nas respostas dos alunos.
Os pontos apontados pelos alunos são respostas às necessidades do profissional
em se firmar e buscar o seu lugar no mercado de trabalho(8). Como vimos, as
fragilidades apontadas pelos alunos repousam sobre aspectos que se relacionam
com o desenvolvimento pessoal, ou seja, a dificuldade de lidar com o stresse a
falta de iniciativa. Tais fatores, no entanto, devem ser ponderados mediante a
situação do aluno em situação de treino e avaliação pelos docentes.
A terceira questão a ser analisada é a participação caracterizada pelos
seguintes itens: capacidade de criar uma boa primeira impressão e obter
atenção, reconhecimento pessoal e respeito; dizer e fazer coisas de modo
natural, expressar livremente idéias, opiniões e sentimentos na ocasião em que
ocorrem; habilidade de percepção e consciência de necessidades, sentimentos e
reações aos outros; habilidade de reconhecer, diagnosticar e lidar com
conflitos e hostilidades dos outros; experimentar fazer coisas diferentes,
conhecer novas pessoas, testar novas idéias e atividades com outras pessoas;
tendência a procurar relacionamento mais próximo com as pessoas. dar e receber
afeto no seu grupo; procurar conhecer as idéias dos outros, disposição para
receber sugestões e influências dos outros.
Na primeira aplicação do instrumento, os pontos fortes identificados pelos
alunos foram o impacto (77,7%), a espontaneidade (66,6%), a sensibilidade
(77,7%) e os pontos fracos a flexibilidade (55,5%), o lidar com conflito
(55,5%) e a experimentação (77,7%). A segunda aplicação revela uma sensível
mudança nesse quadro, onde identificamos como ponto fraco o lidar com o
conflito (44,4%) e a experimentação (33,3%). Os demais itens foram todos
apontados como pontos fortes, demonstrando muito o momento em que estão vivendo
os alunos de graduação em estágio profissional.
No que podemos aferir desses dados com relação à participação, verificamos
também que durante o laboratório a questão do lidar com o conflito é um grande
desafio para os alunos. Parece que o modelo utilizado por eles é o de se fugir
do conflito, como se fosse possível não se envolver com ele no cotidiano.
Acreditamos que isso se dê para esse grupo de alunos, em parte por sua
inexperiência e pouco tempo de atuação no campo do trabalho assumindo
responsabilidades de modo integral, mas também por falta de outros modelos
desempenhados pelos profissionais do campo de estágio. Dificilmente observamos
nas equipes ou grupos de trabalho em saúde, ações gerenciais adequadas para o
manejo do conflito. Essas, geralmente, se dão muito mais pela força e poder do
líder do grupo do que por uma intervenção criativa e assertiva, capaz de tornar
os membros da equipe satisfeitos com as decisões tomadas.
Nesse sentido
[...] a potencialidade de conflitos se acentua quando não existe ação
gerencial para solucioná-Ios. A falta de programação para enfrentar
problemas não só aumenta a desconfiança e `a passividade, como deixa
implícito que os canais de comunicação existentes são insuficientes
para resolvê-Ios. Em situações conflituosas, as interações
normalmente distantes e formais são insuficientes para produzir
informações contrárias às percepções das pessoas envolvidas(16:72).
Da análise feita nas questões abertas que procurava avaliar o desempenho do
aluno após a participação do laboratório de grupo, bem como da eficácia desse
método enquanto técnica de ensino, identificamos que a maioria dos alunos
afirma que o modelo centrado no grupo para trabalhar questões do exercício da
gerência em enfermagem e o exercício da competência interpessoal favorecem o
aprendizado por viabilizar mudanças imediatas.
Na percepção dos participantes o laboratório permitiu maior integração entre o
autoconhecimento do aluno e do referencial teórico utilizado para mediá-Io:
Acho que pude abrir novos caminhose conhecimentos para tentar mudanças. alterar
falhas no meu relacionamento, aprimorar minha competência interpessoal
(A4).Nãome sinto ainda muito segura frenteao desafio de enfrentaro mercado de
trabalho. mas sinto mais facilidade por conhecer alguns aspectos do
relacionamento interpessoal que antes ignorava(A2).
O autoconhecimento é ferramenta fundamental no aprendizado do trabalho em
equipe uma vez que permite ao sujeito o controle de suas emoções. A dimensão
emocional das relações interpessoais no trabalho é tão importante quanto a
dimensão da tarefa e das metas que se pretende atingir com a equipe, já que ela
possibilita a vazão das emoções em tempo certo e de modo adequado(8).
A função de liderança da enfermeira deve estar coordenada entre o exercício do
cuidado articulado ao conhecimento e "na competência de ir mais além na
sensibilidade, na solidariedade e no respeito à dignidade humana"(5:412). No
nosso entendimento esse movimento só é possível quando se tem desenvolvido o
autoconhecimento, o controle emocional e a competência interpessoal.
Na visão dos alunos a participação do laboratório de grupo ampliou a maneira
como se relacionar em grupo, especialmente por se descobrir caminhos novos e
maneiras de lidar com seus sentimentos no contexto do trabalho coletivo. Para
mimo mais importante nesse processo foi descobrir que posso ser mais flexível,
aprendi que não sou dona da razão(A7). Aprendia lidar como desconhecido, com
situações novase conviver sem dependência(A5). Nesse processo conheci coisas na
minha personalidade que não conhecia ou interpretava de modo equivocado(A9).
O processo de desenvolvimento da competência interpessoal é um caminho longo,
trilhado a custa de muito sofrimentoe trabalho interno de revelação do olhar no
espelho nossasqualidades e defeitos, nem sempre fácil. Observamos, no geral,
que para os alunos foi uma oportunidade única de se fazer essa incursão em meio
às expectativas do último ano, da aproximação da formatura e do ter que dar
conta de ser enfermeiro a qualquer custo.
Acreditamos ser esta uma possibilidade da transformação do perfil de liderança
do enfermeiro. A literatura nacional sobre essa questão no âmbito da enfermagem
é unânime em afirmar que essa é uma necessidade urgente, então nos cabe
promover essa mudança.
5 Considerações finais
Desenvolver esse estudo nos possibilitou fazer uma aproximação sobre o processo
de formação da liderança do enfermeiro e das possibilidades do desenvolvimento
da competência interpessoaf. Obviamente, trata-se de um recorte que abarca uma
problemática muito mais ampliada, que precisa ser revisitada.
Dos resultados obtidos identificamos aspectos frágeis no processo de
desenvolvimento da competência interpessoal do enfermeiro, que seguramente
serão dificuldades a serem trilhadas na descoberta de ser profissional. Um
estudo publicado em 2000(15) relata a insatisfação do enfermeiro quanto a sua
formação para a liderança, aspecto que pode ser relacionado aos resultados
encontrados em nossa pesquisa.
Identificamos por exemplo, como pontos fracos, no que diz respeito a
comunicação a expressão do feed-back,a reação ao feed-back,a capacidade de
persuasão e a comunicação efetiva. O aspecto apontado pelos alunos nesse
quesito como ponto forte é o saber ouvir. No que diz respeito à liderança, os
aspectos que fortalecem a competência interpessoal foram evidenciados pelo
apoio catalisador e a competição, sendo a iniciativa e a resistência ao
stressidentificados como pontos que merecem mais atenção dos docentes na
formação desse profissional.
Quanto à participação, terceira área indicada para o desenvolvimento da
competência interpessoal, os pontos fortes identificados pelos alunos foram a
espontaneidade e a sensibilidade e os pontos fracos a flexibilidade, o lidar
com conflito e a experimentação, o que sinaliza de certa forma onde podemos
ajudar o enfermeiro em formação a buscar fortalecerse e desenvolver-se durante
o seu curso.
O laboratório de grupo mostrou-se uma excelente estratégia para lidar com essas
questões, por proporcionar através de uma situação simulada, que se descubra
potencialidades, limites, maneiras de se operar frente ao desafio de ser
enfermeiro no dia-a-dia.
Do mesmo modo como desejamos ver o enfermeiro sendo respeitado por sua
competência técnica e seu desenvolvimento científico, acreditamos que seu
desempenho no campo das relações humanas deva andar no mesmo compasso, pois a
liderança do enfermeiro na perspectiva da ética pós-moderna centra-se na
relação com o outro. Esse processo é carregado de obstáculos internos e
externos(5,17), o que nos sugere a importância da parceria da área de
administração e saúde mental para que consigamos formar enfermeiros capazes de
integrar razão e emoção.
Finalmente, os resultados do presente estudo nos levam a refletir sobre os
modelos que temos desenvolvido com nossos alunos na graduação em enfermagem,
especialmente, no que diz respeito à qualidade das relações interpessoais que
estabelecemos com estes.
Se o desenvolvimento da competência interpessoal passa, necessariamente, por um
período de experimentação, aonde vamos construindo nossa competência, a partir
das relações estabelecidas com os outros, temos que pensar em proporcionar aos
alunos de graduação espaços para essa vivência, senão caímos no discurso vazio
do faça como eu digo e nãoo que eu faço.
É o momento de nos atualizarmos para uma ética no trabalho diferenciada, que
privilegie relações mais saudáveis, o que não quer dizer imersas apenas na
emoção, mas equilibradas o suficiente, para nos tornar profissionais
competentes e satisfeitos com o trabalho.