Classificação dos pesquisadores/consultores da área de enfermagem no CNPq:
contribuição para um banco de dados
1 Considerações Iniciais
Pretende-se neste trabalho apresentar a classificação dos pesquisadores de
enfermagem cadastrados no CNPq, conforme suas linhas de pesquisa e sub-áreas do
conhecimento de enfermagem. Sabemos que esta importante agência de fomento vem
delineando tendências e apontando para estudos que enfatizam a
multidisciplinaridade e o pluralismo tanto teórico como metodológico na
construção das linhas e áreas de p'esquisa(1); porém, acreditamos que esta
multidisciplinaridade e esse pluralismo serão construídos na aproximação de
diferentes saberes que se reúnem para compreender, explicar e ou intervir -
quando possível - na realidade. Justamente porque assim entendemos esta
questão, defendemos a idéia de que é importante e necessário delinear a posição
dos pesquisadores, especificamente da área de Enfermagem, contribuindo para
disponibilizar um banco de dados e informações úteis para consulta.
Considerando que esta agência incluiu a Enfermagem como área de conhecimento na
grande área da Saúde e que vem ao longo dos últimos 20 anos expandindo suas
cotas de investimento para produção científica desta área, pensamos que é
relevante contribuir com a sua organização técnico- cientifica, oferecendo
subsídios para a tomada de decisão acerca do universo de estudiosos que estão
aptos a atuar e que atuam como consultores, uma vez que eles são detentores de
Bolsa de Produtividade (PQ), concedidas pela própria agência, otimizando o
tempo, a disponibilidade e adequação aos projetos que Ihes são destinados a
avaliar.
Por outro lado, é necessário compreender que a inclusão da Área de Enfermagem
como campo de produção de conhecimento nesta agência de fomento foi uma
conquista da categoria a partir dos esforços de seus membros, inseridos na sua
associação de classe, a Associação Brasileira de Enfermagem, e nos programas de
pós-graduação, desde que estes foram criados, tendo como palco principal de
discussão os eventos da categoria. Daí porque sentimos necessidade de
recuperar, mesmo que sucintamente, o processo de inclusão da Enfermagem como
área de conhecimento na Agência, bem como de apontar particularidades do
funcionamento do CNPq naquilo que se reveste de interesse para a Enfermagem.
2 A Enfermagem no CNPq
A pesquisa tem sido uma área de contínuo crescimento e investimento por parte
da Enfermagem brasileira. O caminho percorrido até o patamar atual foi longo e
difícil. Já no 1° Congresso Brasileiro de Enfermagem (10 CBEn), realizado em
1947, exigia-se que as enfermeiras se iniciassem na pesquisa, deflagrando um
processo de aprendizagem no mister de produzir conhecimento que era uma
necessidade para a consolidação da profissão. Há quase 40 anos, em 1964, o tema
central do 14° CBEn, realizado na cidade de Salvador, foi "Enfermagem em
Pesquisa", por sugestão da coordenadora da Comissão de Temas, prof. Maria Ivete
Ribeiro de Oliveira(2). Naquele momento as pesquisas ainda não eram
expressivas, em termos quantitativos, para concorrer com outras áreas,
necessitando ainda de incremento. Em 1967 este tema volta a ser repetido e a
partir de 1970 tornou-se uma constante em todos os Congressos, quando já se
discutia a organização dos primeiros cursos de pós-graduação(3).
Com o início dos cursos de mestrado, em 1972, a pesquisa em Enfermagem tomou
vulto, ampliando seu corpo de produção científica a partir dos resultados das
dissertações defendidas, mas só em 1985 essa produção foi suficiente para
incluir a Enfermagem entre as áreas de conhecimento do CNPq, passando os
pesquisadores da área a concorrer com seus projetos aos recursos de fomento à
pesquisa (1). Deste modo, quando este órgão criou o Diretório dos Grupos de
Pesquisa em 1992, as enfermeiras registraram seus grupos de estudos e trabalhos
que hoje totalizam, segundo o Censo de 15/07/ 2002, 231 grupos, com 657 linhas
de pesquisa e 1537 pesquisadores(3). Essa informação dá idéia do peso desta
conquista e do quanto é significativo para a área estar incluída nesta agência
de fomento à pesquisa. É importante salientar que a base de dados consultada
contém informações sobre todos os grupos de pesquisa em atividade no país, e
que hoje totalizam 15158 grupos distribuídos em todas as áreas de conhecimento
atendidas pela Agência(4).
2.1 O funcionamento do CNPq
Inicialmente, descrevemos sucintamente a origem do CNPq, enquanto agência de
fomento à pesquisa, e depois tentaremos explicar resumidamente a lógica de seu
funcionamento, a partir das instâncias percorridas pelos projetos e como se dá
a escolha dos consultores que examinam as solicitações e recomendam a concessão
de bolsas(5).
A idéia de criar uma entidade governamental específica para fomentar o
desenvolvimento científico remonta ao ano de 1920 quando os integrantes da
Academia Brasileira de Ciências (ABC) comentavam o assunto como conseqüência da
Primeira Guerra Mundial. Em 1931, a ABC dá a sugestão formal ao governo e este
não se pronuncia a respeito. Em maio de 1936, o Presidente Getúlio Vargas
enviou mensagem específica ao Congresso sobre essa idéia, mas não teve a
acolhida desejada por parte dos parlamentares. A partir da Segunda Guerra
Mundial, graças ao avanço das tecnologias bélica, aérea e farmacêutica, houve
um despertar não só no Brasil, mas em todos os países, da preocupação sobre a
importância da investigação científica, principalmente em energia nuclear. A
bomba atômica era a prova real e assustadora do poder que a ciência poderia
atribuir ao homem, ficando claro que a pesquisa deveria passar a ser vista
pelos governos como uma área a ser alvo de investimento, principalmente se
fosse acompanhada de uma agenda de prioridades que enfocasse problemas de
difícil resolução ou que significasse desenvolvímento científico e tecnológico.
Depois desses esforços, em maio de 1946 o almirante Álvaro Alberto da Motta e
Silva, representante brasileiro na Comissão de Energia Atômica do Conselho de
Segurança da recém criada Organização das Nações Unidas (ONU), propôs ao
governo, por intermédio da ABC, a criação do CNPq, denominado à época de
Conselho Nacional de Pesquisa. Dois anos mais tarde, em 1948, o projeto sobre a
criação do CNPq era apresentado à Câmara dos Deputados, porém, somente em 1949,
o presidente Eurico Gaspar Outra indicou uma Comissão para apresentar um Ante
Projeto de Lei sobre sua criação. Depois de discutido em diversas Comissões, em
15 de janeiro de 1951 foi criado o CNPq, através da Lei n01310/51, chamada pelo
Almirante Álvaro Alberto de Lei Aurea de Pesquisa do Brasil(6). Hoje,
denominado de Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico,
conserva a mesma sigla, embora tenha assumido maiores proporções e tenha
conservado antigas dificuldades na hora de definir o seu orçamento anual.
Atualmente, é dirigido por um Conselho Deliberativo (CD) integrado pelos
Presidentes do CNPq, da FINEP e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nivel Superior (CAPES), o Secretário Executivo do Ministério da Ciência e
Tecnologia, o Vice-Presidente do CNPq, seis representantes da Comunidade
Cientifica, três da Comunidade Tecnológica, três da Comunidade Empresarial e um
representante dos servidores. Este Conselho Deliberativo (CD) tem à sua
disposição um conjunto de estruturas internas no estilo Comitê, cuja função é
de assessoria nas decisões relativas à distribuição dos recursos financeiros e
na determinação da política nacional de articulação e fomento à pesquisa. Os
órgãos colegiados são os 37 Comitês Assessores (CAS) e o Comitê
Multidisciplinar de Articulação (CMA), descritos a seguir:
2.1.1 Comitês de Assessores (CA)
O CNPq tem uma estrutura de trabalho composta pelos membros dos Comitês
Assessores (constituídos após consulta à comunidade científica) organizados por
áreas de conhecimento, responsáveis pela avaliação de projetos de solicitação
de apoio à pesquisa e de formação de recursos humanos (RH). Esses comitês ainda
avaliam os projetos que chegam pelo fluxo contínuo solicitando recursos para
pósdoutorado no Brasil e no exterior (PDE), visitas de estágios, auxílios a
viagens, entre outros.
Para esclarecer o percurso dos projetos que chegam ao balcão da agência em
busca de financiamento, deve-se registrar que eles são verificados pela área
técnica do órgão que analisa se o projeto e o seu autor estão em conformidade
com as exigências internas. Depois desta verificação, os considerados aptos são
direcionados pelos técnicos a dois consultores adHoc, que emitem parecer sobre
o mérito do projeto. Essas providências são formalizadas em processos que são
encaminhados para serem analisados pelo CA. Esse fluxo dos processos foi um dos
principais motivadores do presente estudo e confere a ele a relevância que lhe
atribuímos.
O Comitê Assessor responde pela recomendação da distribuição das cotas de bolsa
e de recursos, segundo critérios de relevância, produção científica, formação
de recursos humanos, com base no parecer dos consultores e dos critérios
técnico-cientificos da proposta. A Enfermagem integra o Comitê Assessor
Multidisciplinar de Saúde (CAMS), único que é multidisciplinar e a·sua
coordenação no presente exercício está sendo desenvolvida pela representante da
Enfermagem. As áreas que integram o CAMS são: Odontologia, Enfermagem, Educação
Física, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional.
2.1.2 Comitê Multidisciplinar de Articulação (CMA)
Este Comitê é constituído por 15 membros dos CAs, sendo um colegiado que
assessora a diretoria executiva do CNPq nos assuntos de competência de fomento
à pesquisa e desenvolvimento de RH. No momento de elaboração deste estudo o CMA
está em reformulação, sem previsão de como será (re)constituído e como
funcionará.
2.1.3 Consultores ad-Hoc
São especialistas do mais alto nível, em sua maioria bolsistas de Produtividade
em Pesquisa, que analisam o mérito científico e a viabilidade técnica dos
projetos de pesquisa submetidos à agência em forma de solicitação de bolsas e
auxílios, através de encaminhamento pelos técnicos da agência.
Uma vez esclarecidos esses pontos, retomamos a questão que nos prepusemos a
investigar.
3 O Problema em Foco
A experiência tem mostrado que as informações que pretendemos reunir neste
estudo não estão facilmente disponíveis ou organizadas no próprio órgão e nem
nas áreas de conhecimento. Isto ocorre, de um lado, pelo próprio dinamismo da
ciência brasileira, e/ou pela falta de uma política de gestão de conhecimento
e, por outro lado, pela ínsuficiência de informação do próprio pesquisador aos
órgãos de pesquisa sobre qual a área temática em que está realmente atualizado,
através de palavras-chave que possam ser utilizadas pelos técnicos para acioná-
Io para atividade de consultoria. Com isso, não raras vezes os projetos são
analisados pelos consultores que não detêm as melhores condições para analisá-
Ios. Isto não ocorre por falta de mérito do próprio consultor, mas simplesmente
porque seus estudos e sua produção científica evoluíram e podem estar agora
localizados em outra especialidade. A insuficiência de informações atualizadas
gera dificuldades para todos os envolvidos. Outra fonte geradora de tais
dificuldades é a falta de atualização das sub-áreas no contexto de todas as
áreas de conhecimento nos organismos de Ciência e Tecnologia no Brasil.
Justamente por conhecer a dinâmica de funcionamento desta agência governamental
de fomento à pesquisa e saber como é importante que a Enfermagem tenha os seus
projetos analisados por consultores da própria área e especialistas na sub-área
do projeto submetido, julgamos necessário visualizar a distribuição dos
consultores ad Hoc em condições de fazer' frente às necessidades tanto do CNPq
como da Enfermagem, otimizando o aproveitamento dos recursos que sabidamente já
são insuficientes para a demanda desta área do conhecimento.
Neste sentido, a classificação que pretendemos apresentar vem preencher uma
lacuna no sistema de informação sobre pesquisa e pesquisadores da Enfermagem
brasileira, daí porque temos como objetivos:
Apresentar a distribuição dos pesquisadores/consultores do CNPq de acordo com a
atual classificação nas sub-áreas de Enfermagem adotadas pelo órgão;
Discutir a representatividade e especialidade dos pesquisadores/consultores,
por sub-área de conhecimento tendo em vista o crescimento e desenvolvimento da
Enfermagem.
4 Metodologia
Para atingir os objetivos propostos, optou-se por um estudo exploratório
descritivo cujo recorte temporal foi de 2002 a 2003. A população foi
constituída pelo universo dos pesquisadores bem como suas linhas de pesquisa
atualmente cadastrados no CNPq. O levantamento das linhas de pesquisa ou áreas
temáticas de atuação dos pesquisadores cadastrados no CNPq foi feito com base
no resultado do julgamento dos projetos da área, realizado em julho de 2003.
Metodologicamente, percorremos os seguintes passos:
Primeira etapa: relacionou-se os pesquisadores constantes do banco de dados on-
line do CNPq de agosto de 2003, com bolsas concedidas naquele julgamento, bem
como aqueles em curso. No período em estudo os pesquisadores são em número de
90(7).
Segunda etapa: efetuou-se buscas nos sites das universidades dos pesquisadores,
suas linhas de pesquisa e publicações afins, cotejando as informações
adquiridas com os demais dados anteriormente coletados.
Terceira etapa: na presença de dúvidas, consultou-se os programas de pós-
graduação, ou o próprio pesquisador,
para fins de confirmação ou esclarecimento sobre a área temática do
pesquisador.
Quarta etapa: agrupou-se as temáticas por sub-áreas de conhecimento extraídas
das áreas de atuação cadsatradas, sendo que para aquelas que não constam da
classificação atualmente adotada pelo CNPq, efetuou-se uma aproximação
conceitual e operacional, exclusivamente para efeito de análise dos dados.
Tomou-se como fontes primárias os bancos de dados on-line do CNPq e ossites das
universidades dos consultores. As fontes secundárias foram capturadas através
de sucessivas leituras de artigos sobre assuntos correlatos para compreender e
revelar a realidade de onde foi destacado o objeto de estudo, a fim de
contextualizar a análise dos dados.
5 Análise e discussão dos Resultados
No período em estudo os pesquisadores são em número de 90, conforme detectado
no site do CNPq em agosto de 2003, o que reflete um quantitativo ainda muito
reduzido. Isto se explica, talvez, pelas dificuldades advindas das exigências
constantes nos critérios de seleção da grande área da Saúde, tanto para
aceitação dos projetos como para inclusão de recémdoutores entre os
habilitados para concorrer aos recursos do órgão ou ainda, pela insatisfação
dos doutores quando enviam os seus projetos para avaliação e recebem resultado
desfavorável(5l. Para tentar reverter esta situação e ampliar o contingente de
pesquisadores temos realizado estratégias de estímulo e orientação com vistas
ao aumento da demanda.
De posse do quantitativo de pesquisadores cadastrados, tratamos de identificá-
Ios conforme sua região geográfica e instituição, como pode se ver na tabela_1.
Os dados das Tabelas_1 e 2 revelam a alta concentração de pesquisadores na
Região Sudeste, o que não é um fato desconhecido, porém, apontam para o
aparecimento de pesquisadores cadastrados na Região Centro Oeste e um discreto
crescimento do número de pesquisadores na Região Nordeste em relação ao ano de
2001(5). Continua sendo ainda no eixo Rio/São Paulo que está localizado o maior
número de pesquisadores, uma vez que aí se localizam as Universidades que detém
o maior número de programas de pós-graduação stricto sensu, como é o caso da
EERP/USP (35,6%), EEUSP (17,8%), UFRJ (13,4%) e UNIFESP (7,8%), totalizando 67
pesquisadores ou 74,4% do total dos pesquisadores em Enfermagem do país. Se
forem acrescidas as demais Universidades do eixo, esse número chega a 72
pesquisadores ou 80,0% do total.
Por outro lado, os dados da Tabela_2 acabam por responder a uma das questões
levantadas: onde se encontram os pesquisadores de Enfermagem cadastrados no
CNPq. Hoje, pode-se dizer que eles estão ligados a Universidades Públicas,
Federais ou Estaduais, majoritariamente as de São Paulo e Rio de Janeiro. Não
obstante, torna-se visível a distribuição dos pesquisadores pelo território
nacional, deixando em aberto algumas questões: Como ampliar essa distribuição
para as demais regiões do país? Que estratégias poderão conduzir o processo de
superação das dificuldades imp'ostas pelos critérios de inclusão da Grande
Área, para os recém-doutores? E, mesmo para os que não são mais jovens
doutores, como seria possível sensibilizá-Ios, a fim de tornar possível a
ampliação dos pesquisadores cadastrados nas demais áreas geográficas?
Outro dado significativo é a distribuição dos pesquisadores cadastrados segundo
sua categoria e nível. A classificação dos pesquisadores cadastrados no CNPq,
no período considerado para o estudo, está apresentada na Tabela_3.
Os dados da Tabela_3 evidenciam que a maioria dos pesquisadores está
classificada na categoria 2, Nível 8 (25,6%), sendo esse o segundo nível após a
entrada do pesquisador no sistema. Enquanto isso, somente 16,7% são
classificados como pesquisadores experientes, porque estão nos Níveis 1A e 1 B.
Isso quer dizer que a grande maioria dos pesquisadores ainda se encontra no
início do percurso na carreira de pesquisador. Deve-se esclarecer que muitos
dos pesquisadores que ingressaram recentemente no sistema, não são
inexperientes na prática da pesquisa. Muitos outros são doutores há bastante
tempo, são profissionais com produção reconhecida em quantidade e qualidade,
mas que, pelas mais diversas razões, não fazem parte da carreira de
pesquisador, demonstrando a falta de tradição da Enfermagem na captação de
recursos para pesquisa.
Sobre esse problema, cabe, ao nosso ver, duas reflexões: A Enfermagem
brasileira se encontra num patamar de desenvolvimento tal que é imprescindível
investir maciçamente em pesquisa, inclusive contribuindo com a prioridade
mundial para a área que é o desenvolvimento de estudos da prática de Enfermagem
baseada em evidências, testando suas teorias, com a finalidade de consolidar,
articular e ampliar seu corpo próprio de conhecimento. Deve, portanto contar
com a participação de todos os pesquisadores que se disponham a compartilhar
este processo num esforço coletivo, o que nos indicaria o engajamento de todos
os pesquisadores, antigos e novos, experientes ou não, independente do esforço
que seja necessário para superar os critérios de inclusão. A demanda
qualificada traduzida pelos projetos dos enfermeirospesquisadores ainda não-
incluídos nesta carreira do CNPq viria contribuir como demonstrativo ao órgão
(e à própria classe) do potencial da enfermagem e da necessidade de ampliação
das cotas de bolsa produtividade em pesquisa.
A segunda reflexão diz respeito ao grau de dificuldade que cada pesquisador
enfrenta para estar em condições de concorrer aos recursos disponibilizados
pelas agências de fomento. Isso implica em superar suas limitações,
principalmente quanto a produção científica ao tempo em que tece suas análises
críticas sobre o processo, os critérios e os recursos com que os projetos
disputam em desigualdade de condições na grande área da saúde.
No que diz respeito à classificação dos pesquisadores e suas linhas de pesquisa
por sub-área de conhecimento, limitamo-nos aos que estão atualmente cadastrados
no CNPq. Estamos cientes de que os pesquisadores não cadastrados também têm
seus saberes, suas linhas de pesquisa, sua especialidade; porém, o nosso
propósito guarda relação com aqueles que são cadastrados como pesquisadores de
produtividade na referida agência, e por conseqüência atuam como consultores
ad-Hoc, esperando até que a leitura desses dados sensibilize novos cadastros,
aumentando assim o número dos estudiosos pertencentes ao seleto grupo estudado.
Todavia, o fato de termos optado pelos pesquisadores cadastrados não impede que
os demais, caso seja desejado, não possam ser localizados e incluídos nesta
classificação, uma vez que ampliar o leque de pesquisas e pesquisadores na
Enfermagem é a motivação deste trabalho.
Por outro lado, aceitamos que o conceito de linha de pesquisa pode variar
conforme o olhar do pesquisador e por esta razão adotamos neste trabalho a
definição do CNPq, assim descrita: temas aglutinados de estudos científicos e/
ou tecnológicos que se fundamentam em tradição investigativa, de onde se
originam projetos cujos resultados guardam relação entre si(B). Da mesma forma,
para este trabalho, tomamos como Área de Conhecimento um conjunto de
conhecimentos que guardam coerência e afinidade entre si e que se refere ao
saber produzido para a produção de algum bem ou serviço necessário à
sobrevivência da humanidade. Levamos em conta as áreas de conhecimento adotadas
pelo CNPq, entre as quais se encontra a Área de Enfermagem, dentro da Grande
Área da Saúde.
Assim sendo, acatamos o princípio da liberdade do pesquisador que se permite
produzir em mais de uma linha de pesquisa, considerando que, através deste
artifício, muito trabalhoso, reconhecemos, é possível construir um
quantumexpressivo d,e estudos, suficiente para tornar a área reconhecidamente
produtiva, a ponto de ser necessário dispor de uma classificação das sub-áreas
que compõem a Área da Enfermagem. Tal necessidade foi suprida pelas
providências das representantes de área que, através de seus estudos e de suas
recomendações, contribuíram para a elaboração das subáreas existentes, embora
já sintamos há algum tempo dificuldades em acomodar, na classificação em vigor,
a totalidade dos projetos recebidos.
Uma vez cumprida a quarta etapa da coleta de dados anteriormente descrita,
elaboramos um primeiro quadro onde foram distribuídas as linhas de pesquisa dos
pesquisadores, o sistema de cadastramento de pesquisadores do CNPq permite a
inclusão de no máximo seis áreas de atuação com possibilidade de inserção das
especialidades. Assim, identificamos 62 registros de especialidades não
contempladas nas sub-áreas existentes, indicando que muitos pesquisadores não
puderam ter suas linhas de pesquisa ou sua produção científica localizada em
nenhuma das sub-áreas existentes, o que, certamente contribui para dificultar o
trabalho de distribuição dos projetos, por parte da área técnica do CNPq, para
os consultores ad-Hoc.
Aqueles que prosseguiram produzindo e nominando sua linha de pesquisa/ou área
de estudo, ou seu grupo de trabalho ou núcleo de estudo, com a nomenclatura
usual e em vigor, foram facilmente identificados e classificados, destacando-se
a área dê Enfermagem Médico-Cirúrgica como sendo a mais contemplada (44),
reunindo estudos sobre Assistência de Enfermagem à pessoa adulta, idosa, homens
ou mulheres, em situação clinica, cirúrgica ou em Emergências, numa lógica mais
aproximada do modelo biomédico, insuficiente para incluir estudos não clinicos,
mas que dizem respeito à questão sob outros paradigmas.
Quando analisamos os dados do Quadro_I em relação aos projetos submetidos ao
CNPq, tomando como base estudo anterior(5) verificamos que, de fato, não é
possível identificar qual a distribuição dos pesquisadores segundo a
classificação de sub-áreas do CNPq. Por outro lado, a categoria também tem
dificuldade em identificar os estudos dos pesquisadores; nem os alunos dos
diversos níveis de formação podem facilmente consultar referências, se tomarem
por base esta classificação. Se este processo é difícil entre os que compõem a
categoria, como esperar que outras pessoas, nas mais diversas circunstâncias,
possam identificar a produção da Enfermagem e que julgamento poderão fazer da
produção assim classificada? Qual o conceito e referência que se tem da
produção da Enfermagem, quando se analisa da forma como está distribuída?
Enfim, a questão mais premente é: Como esperar que a área técnica do CNPq
direcione o projeto para o consultor certo, ou seja, um especialista no tema?
Essas interrogações se colocam ao verificar a situação da categoria outras,
onde se pode incluir todos os estudos, por se tratar do indeterminado, do que
foge à norma, ou seja, onde se pode arrolar a produção científica mais atual,
onde estão os
estudos que mostram a diversidade e a profundidade de investigação alcançada
pela profissão.
Acreditando ter ficado visível a insuficiência da versão atual e o grau de
urgência da modificação requerida, a fim de facilitar o julgamento dos projetos
recebidos pelos técnicos, procuramos incluir os itens arrolados na categoria
outras, agrupando-os por linhas de pesquisa ou áreas temáticas. Derivou-se daí
o Quadro 11 que traduz uma nova opção de cadastramento dos pesquisadores em
cada sub-área, a quem os projetos poderão ser enviados para análise e parecer
prévio.
Assim, o quantitativo de áreas temáticas e/ou linhas de pesquisa foi obtido dos
dados cadastrados nas sub-áreasl especialidades dos pesquisadores (Quadro_I)
depois de renomeado com base na nova proposta de classificação das áreas
temáticas e/ou linhas de pesquisa (Quadro_II).
Os dados do Quadro II revelam que existe maior número de linhas de pesquisa e
de áreas temáticas voltadas para os Fundamentos teóricos, epistemológicos,
metodológicos, históricos, éticos e biológicos do processo de cuidar (40),
enquanto que a área de Metodologias da Pesquisa aplicadas à Enfermagem
congregou menor número de estudos (03). Analisando-se esses dados, verifica-se
que a enfermagem, embora continue investindo muito em estudos sobre a saúde do
adulto, com ênfase nas doenças crônico-degenerativas, avançando para estudos
que dizem respeito a esse grupo de pessoas em outras perspectivas, sob a forma
de estudos epidemiológicos, estudos sobre as questões sociais, está investindo
fortemente em pesquisas sobre os fundamentos do processo de cuidar. Isso revela
o encontro com a maturidade científica da área, a exploração metodológica de
seus métodos de cuidar, teorizando e criticando seus pressupostos filosóficos e
epistemológicos. Por outro lado, esta nova distribuição das linhas e áreas
temáticas dos pesquisadores favoreceu a visualização de que a enfermagem tem
apresentado diversidade de abordagens, deixando de pensar o seu trabalho
somente na perspectiva da assistência individual.
Neste reordenamento das linhas e áreas temáticas dos pesquisadores foi possível
detectar outras áreas que estão sendo exploradas através de pesquisa, avançando
do modelo biomédico para outras inquietações, aparecendo estudos voltados para
questões da saúde mental, questões de gênero e sexualidade, que trazem à tona
objetos de estudos que abordam relações interpessoais sejam elas permeadas ou
não de relações de poder. Nesta condição, fica mais fácil perceber a
representatividade dos pesquisadores em cada subárea, ao mesmo tempo em que se
observa suas especialidades podendo ser mais fácil distribuir mais
acertadamente os projetos entre os consultores ad-Hoc.Reconhecemos que será
necessário um esforço para manter disponível na agência uma relação que integre
o nome dos pesquisadores com as suas respectivas linhas de pesquisa ou área
temática do seu domínio, para consulta imediata.
Os resultados deste estudo e as reflexões deles originadas permite-nos alertar
os pesquisadores, atuais e futuros, sobre a importância e necessidade de
informar ao órgão, através de palavras-chave, sua real especialidade. Isto
permitirá à área técnica encaminhar processos de competência do consultor para
avaliação, redundando em rapidez, eficácia' e garantia de que os projetos de
enfermagem sejam analisados por nossos próprios pares e não por outros
profissionais.
6 Considerações finais
Tivemos como objetivos deste estudo apresentar a distribuição dos pesquisadores
cadastrados no CNPq conforme as sub-áreas atualmente empregadas pelo órgão,
discutindo a representatividade e especialidade dos pesquisadores a partir das
linhas de pesquisa e áreas temáticas onde desenvolvem seus trabalhos. Ficou
evidenciada a insuficiência da classificação atual, demonstrada a diversidade
da produção da Enfermagem e a especialidade dos pesquisadores. As subáreas da
Enfermagem adotadas pelo CNPq já não comportam mais a diversidade de produção
dos estudiosos da área, diversidade esta decorrente, ao nosso ver, das
diferenças do próprio trabalho de Enfermagem enquanto prática social. Além do
mais, pudemos comprovar que as sub-áreas onde houve maior concentração de
pesquisadores se referem ao cuidado dos grupos humanos, mostrando a aproximação
necessária entre o profissional e a pessoa de quem cuida, deixando perceber que
a prática de Enfermagem é geradora de conhecimento novo, privilegiando os
espaços onde se desenvolve(7).
Em assim pensando consideramos muito positiva a diversidade da produção dos
pesquisadores; a ampliação de seus objetos de estudo torna-se necessária porque
possibilita atender as necessidades dos clientes, o aumento da produção
científica fortalecendo a qualificação de recursos humanos, incrementando
inclusive a área de produção tecnológica, a qual vem conquistando novos
estudiosos(9). Nada mais justo que se ofereça à agência em questão subsídios
para que repense a forma como vem classificando e distribuindo os projetos de
pesquisa da área, ao tempo em que também se revela como se torna necessário
ampliar as cotas de financiamento para os pesquisadores da área.
Torna-se patente a necessidade de inclusão de novas sub-áreas de conhecimento,
o estabelecimento de estratégias de incentivo e apoio aos pesquisadores, bem
como o desenvolvimento de uma cultura de demanda por financiamento de projetos
por parte dos recém-doutores.