Maternidade na adolescência: um desafio a ser enfrentado
Maternidade na adolescência: um desafio a ser enfrentado
Matemity in Adolescence: a challenge to be faced
Maternidad en la adolescencia: un reto que hay que enfrentar
Ana Maria de AlmeidaI; Ruth França Cizino da TrindadeIII;Flávia Azevedo
GomesIII;Loren NielsenIV
IProfessora Doutora do Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Saúde
Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
IIProfessora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Alagoas.
doutorando do Programa de Doutorado em Enfermagem Interunidades EERP-USP.
IIIProfessora Assistente do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde
Pública da EERP-USP .
IVAluna de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo. Bolsista do Programa de Iniciação Científica do CNPq
-PIBIC/USP. E-mail do autor:amalmeid@eerp.usp.br
1 Introdução
No final da década de 40, o fenômeno da maternidade na adolescência passou a
ser definido como um problema de saúde pública e tornou-se objeto de interesse
generalizado na área de saúde. Vários fatores contribuíram para esse fato como
o aumento na população de adolescentes após a Segunda Guerra Mundial; a intensa
participação dos jovens no movimento de transformação dos padrões de
comportamento sexual prevalecentes no Ocidente; a aderência gradativade
mulheres aos componentes tecnológicos capazes de assegurar o exercício da
sexualidade na independência das áreas da maternidade; a participação de jovens
nas lutas feministas permitindo às mulheres a assunção de projetos próprios
desvinculados de orientações masculinas e tradicionais(1).
O conjunto desses fatores, possivelmente, contribuiu para uma maior
visibilidade das questões ligadas à maternidade na adolescência, fato que pode
ser comprovado atravésdo aumento da produção literária a respeito do tema. No
entanto, o cabedal de conhecimentos na época, tratavaa gravidezna adolescência
como um fenômeno estritamente biológico e trazia como escopo da discussão os
agravosmédico-biológicos relacionados à gestação e ao parto.
Consoante com esse movimento, a gravidezna adolescência passou a ser analisada
à luz dos conceitos de "enfermidade", "doença" e "epidemia" e nessa perspectiva
os conceitos de Parsons são utilizados na busca de estratégias que possam
coibir o fenômeno. Assim, são definidas estratégias, a partir dos mesmos
pressupostos, que definem que uma moléstia só é aceita e tolerada socialmente
quando preenche algumas condições como: ter uma origem não deliberada; os
indivíduos atingidos devem querer se livrar dela e o indivíduo acometido deve
procurar ajuda competente(1).
É inegável que a gravidez na adolescência constitui um problema de saúde
pública, mas as ações devem merecer uma atenção diferenciada e contemplar
aspectos biopsicossociais. Torna-se importante reconhecer que a mãe adolescente
enfrenta, também, riscos sociais e, na maioria das vezes vê-se forçada a
abandonar sua educação, ficando condenada à pobreza com perspectivas econômicas
muito limitadas e com pouco apoio social(2).
A partir do final da década de 60, com a emergência de novos enfoques nos
modelos de atenção a saúde, a preocupação com a gravidez na adolescência busca
um novo olhar para a questão mudando seu foco para a adolescente grávida.
Assim, a atenção passou a ser dirigida para a mulher adolescente inserida num
contexto econômico, de valores culturais, sociais, educacionais.
Portanto, a percepção social do problema da gravidez na adolescência apresenta
uma alternância de acordo com as expectativas sociais e históricas, assim em
dado momento o fenômeno é tido como aceitável e natural e em outro contexto
considerado inaceitável(3).
Vale ressaltar que algumas hipóteses devem ser consideradas na análise da
gravidez na adolescência, visto que podem contribuir para novas concepções e
para uma modernização dos costumes, uma vez que não abandona todo seu caráter
tradicional de provável estratégia matrimonial, ao alocar sobre a possível
maternidade um apelo ao compromisso da aliança. Tais hipóteses apontam,
inicialmente, para um projeto de negociação, bem sucedido ou não, que permite
realizar a transição da mudança de status,seja conjugal, seja da maioridade
social contemplando a idéia de uma possível aquisição de autonomia pessoal no
domicílio parental ou novos arranjos residenciais, além de constituir-se como
uma experiência corporal significativa possibilitando às jovens testarem a
dimensão reprodutiva de sua identidade feminina. Outro aspecto levantado seria
a emergência de novos valores relativos à virgindade feminina na sociedade
brasileira(3).
Apesar das considerações acima serem de grande valia na análise do problema não
podemos perder a perspectiva de que o fenômeno da maternidade na adolescência
interrompe os projetos de vida e interfere nas perspectivas propostas para essa
e outras fases da vida das adolescentes, uma vez que a sociedade brasileira
ainda não apresenta aparelhos de suporte social para apoio à maternidade
Assim esse trabalho teve como objetivo identificar entre as mães adolescentes,
de uma maternidade de um município do interior do estado de São Paulo, como a
maternidade interferiu no seus projetos e perspectivas de vida.
2 Metodologia
O estudo foi realizado em uma maternidade de um município paulista, localizada
na região norte da cidade de Ribeirão Preto, com a totalidade da população
assistida" dependente do Sistema Único de Saúde (SUS). É uma entidade
filantrópica conveniada com a Universidade de São Paulo com a interveniência da
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto e da Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto, desde 1999.
A maternidade assiste mulheres com gestação de baixo risco, com cerca de 200
parto/mês. Nesse total, encontramos um percentual considerável de mães
adolescentes, muitas delas com mais de uma gravidez nessa fase da vida.
O trabalho após o consentimento da instituição foi submetido à aprovação do
Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto.
É um estudo descritivo e prospectivo, onde foi feito um levantamento das
adolescentes que tiveram a resolução do parto na maternidade descrita. Buscou-
se dados de identificação e sociais, além de um inquérito acerca das
dificuldades que vem enfrentando e a rede de suporte com que pode contar a
partir da gravidez, bem como suas perspectivas futuras em relação aos projetos
educacionais e de profissionalização.
A coleta de dados foi feita no período de janeiro a março de 2002, quando todas
as mães adolescentes foram contatadas no momento de visitas de familiares ou em
algum outro momento em que estivessem acompanhadas de algum familiar ou
responsável, atentando para o fato de usar uma abordagem adequada respeitando
suas necessidades de conforto, sono, repouso e/ou cuidados ao recém-nascido.
Nesse contato houve a preocupação de explicar o objetivo da pesquisa e
solicitar seu consentimento para participação na pesquisa.
No período em que a coleta de dados foi feita 165 adolescentes tiveram a
resolução do parto na maternidade. Destas, 16 se recusaram, 9 não foi possível
adquirir o consentimento do familiar/responsável e 140 adolescentes
participaram da pesquisa.
Para a coleta de dados foi aplicado um formulário contendo informações acerca
de dados pessoais, ginecoobstétricos além das variáveis de estudo relacionadas
ao rede de apoio com que pode contar e as dificuldades enfrentadas com a
gravidez. Os dados foram armazenados no banco de dados no programa Epi-Info e
posteriormente processados de forma a possibilitar a análise dos mesmos.
3 Resultados e discussão
As mães adolescentes estudadas tinham idade variando entre 13 e 19 anos, sendo
que 15 (10,7%) tinham 15 anos ou menos, 80 (57,1%) entre 16 e 18 anos e 45
(32,1%) 19 anos e em sua maioria 102 (72,9%) era procedente do município sede
da maternidade onde ocorreu o estudo.
A idade em que as adolescentes estudadas estão engravidando vem de encontro à
afirmativa de Santos (1998) de que parece ser habitual nos grupos populares, as
moças envolverem-se em relações sexuais-amorosas que podem resultar em gravidez
ou em casamento, ou em ambos por volta dos 14 ou 15 anos.
Vale ressaltar que essa afirmação tem sustentação para esse grupo quando
analisamos a idade dos parceiros que tem uma distribuição entre 15 e 53 anos,
sendo que 49 (35%) dessas adolescentes tinham parceiros com idades entre 15 e
20 anos, e 9 (6,4%) delas, parceiros com idade acima de 30 anos. O fato dos
parceiros terem mais idade que as mães adolescentes segue, portanto, um padrão
cultural aceito, em algumas classes sociais, em que os parceiros masculinos, em
sua maioria, na constituição da família são mais velhos. Esse fato é um
condicionante, muitas vezes, de uma situação econômica que Ihes permita seu
desempenho no papel de provedor.
Ainda podemos tecer considerações sobre a importância de se estudar o fenômeno
da gravidez na adolescência, não apenas do ponto de vista da idade da mulher,
mas considerando, também, a idade do parceiro(4). Nesse sentido, esse estudo
mostra que para essas jovens, a gravidez nessa fase, pode fazer parte de um
projeto de vida, uma vez que, em grupos populares, muitas adolescentes trazem
em sua bagagem de experiências o cuidado de crianças, o que torna o desejo de
ser mãe mais freqüente entre essas jovens.
O nível de escolaridade predominante entre as mães adolescentes foi o ensino
fundamental, com 76 (54%) delas incompleto e 22 (15%) completo. Esse fato é
preocupante, uma vez que muitas delas não conseguem retomar aos estudos após
tornarem-se mães e, com isso comprometem suas perspectivas de vida profissional
futura, principalmente quando não contam com a colaboração de seus parceiros e/
ou suas famílias. Esse é um dado concordante com a pesquisa realizada pela
UNICEF, no Brasil, que aponta uma distorção entre idade e série escolar
freqüentada que juntamente com outros dados sociais demonstram um panorama de
desigualdades que se refletem no cotidiano dos adolescentes de classes menos
privilegiadas(5). No entanto, 41 (29,3%) das jovens pesquisadas cursavam ou já
haviam terminado o ensino médio, situação escolar esperada para essa faixa
etária, apesar de 11 (7,9%) delas terem interrompido após a conclusão do ensino
médio. Como a maternidade, onde o estudo ocorreu, é uma instituição prestadora
de serviço exclusivamente para o Sistema Único de Saúde-SUS era esperado
encontrar uma baixa condição de escolaridade, típica das classes menos
favorecidas, uma vez que o abandono escolar ainda no ensino fundamental é um
fenômeno bastante freqüente aliado ao fato de que poucas oportunidades de
ingresso no ensino público, principalmente no 3° grau são oferecidas a esse
grupo.
A situação escolar enquanto indicador de qualidade de vida pode ser vista como
mais comprometida se acrescentarmos aos dados acima, que apenas 44 (31,4%)
adolescentes estudavam quando engravidaram, e na época da resolução do parto,
apenas 20 (14,2%) delas continuavam freqüentando a escola. Mais da metade da
amostra estudada, ou seja 78 (55,8%) das jovens mães já havia interrompido os
estudos antes de engravidar.
Em relação ao estado civil 108 (77%) adolescentes eram casadas ou viviam em
união estável com seus parceiros sexuais, sendo que 56 (40%) adolescentes já
haviam casado antes de engravidar. Frente a diferença de idade das adolescentes
e dos seus respectivos parceiros pode-se inferir que a gravidez precoce para
esse grupo estudado faz parte de um projeto de constituição de uma família, uma
vez que muitos adolescentes no Brasil vivem em famílias desagregadas e com
altos índices de violência doméstica, assim, casar e engravidar nessa fase pode
ser visto como um recurso para interromper esse ciclo de instabilidade, fato
que nem sempre se concretiza no novo núcleo familiar.
No entanto, quando acrescentamos ao nível de escolaridade o fato que 49 (35%)
das jovens mães tinham parceiros, também adolescentes temos que apontar
questões relacionadas à saúde que tem implicações nesse processo, com destaque
para as dificuldades de acesso à contracepção e a possibilidade efetiva de
escolha, bem como a opção pelo aborto.
Essa situação vem de encontro à afirmativa de que a ilegalidade do aborto
imprime características dramáticas, quando se soma à maior vulnerabilidade dos
adolescentes quanto ao reconhecimento de uma gravidez e à busca de alternativas
para enfrentá-la(4).
As adolescentes estudadas tiveram a menarca entre 9 e 16 anos de idade, sendo
que 41 (29,2%) delas tiveram sua primeira menstruação entre 9 e 11 anos, fato
que nos aponta uma precocidade na maturação sexual das mulheres, fenômeno que
também tem sido identificado em outras regiões do Brasil e, mesmo do mundo. A
grande maioria, 91 (65%) menstruou pela primeira vez entre 12 e 14 anos, idade
esperada para esse fenômeno acontecer e em 8 ( 5,7%) delas a menarca ocorreu
entre 15 e 16 anos.
Quando analisamos a idade do primeiro coito, identificamos que 22 (15%)
adolescentes tiveram sua primeira relação sexual com menos de 14 anos de idade,
sendo que houve um caso em que a mesma ocorreu com sete anos, quando foi vítima
de estupro. Por outro lado, 66 (47,1 %) delas iniciaram sua vida sexual entre
os 14 e 15 anos de idade e 52 (37,1%) o fizeram entre 16 e 18 anos. Esse dado
contradiz um discurso da mídia e mesmo dos profissionais da saúde que apontam
uma precocidade muito acentuada na iniciação sexual dos adolescentes.
Entretanto ressalta-se que há um espaçamento muito estreito entre a idade de
ocorrência da menarca e a iniciação sexual das jovens estudadas, fato que nos
leva a refletir sobre a maturidade das adolescentes e seu preparo para essa
atividade, que muitas vezes ocorre por pressão social para sua inserção no
grupo em que vivem. No entanto, para esse grupo, o fenômeno pode também ser
analisado por outro ângulo, uma vez que 91 (65%) delas tinham parceiros com
mais de 20 anos de idade e isso pode ter contribuído para essa iniciação
precoce.
A primeira gravidez no grupo estudado se deu entre 13 e 19 anos de idade, com
uma freqüência de 32 (22,8%) adolescentes que engravidaram antes dos 15 anos de
idade significando cerca de uma em cada quatro adolescentes tendo sua primeira
gestação antes dos 15 anos.
Assim a história sexual e reprodutiva das adolescentes estudadas permite
identificar o fenômeno já bem conhecido em classes populares e menos
favorecidas onde as meninas têm uma infância muito curta. No entanto não
podemos esquecer que aquilo que hoje se abriga sob o rótulo de "gravidez na
adolescência" por muito tempo foi considerada a etapa ideal para a mulher ter
filhos, levando-nos a concordar com autores que afirmam que a adequação da
reprodução a uma determinada idade varia em cada grupo social e pode ser
acrescentada em cada tempo histórico(3,6).
No entanto, a difusão de valores como maternidade retardada, trabalho extra-
lar, estudo e melhor qualificação profissional entram em conflito com a
normalização fornecida por modelos mais tradicionais, em que a maternidade
produz um "bem" concreto - o filho - ao qual a adolescente carente pode
vincular-se afetivamente com menor risco(4).
Esse fato pode contribuir para a repetição das gestações nesse grupo visto que
41 (29,3%) delas já estavam em sua segunda até na quinta gestação antes dos 20
anos e 14 (10%) delas já tinham praticado aborto anteriormente. No entanto, é
importante ressaltar que a multiparidade na adolescência colocam-nas numa
situação de risco obstétrico aumentado, contribuindo para um aumento nos
índices de morte materna e perinatal. Os riscos sociais também devem ser
analisados uma vez que o aumento de mães jovens com uma condição de
escolaridade baixa pode ser um fator de contribuição para a manutenção da
situação de pobreza e iniquidade social em que vive a maioria das famílias
brasileiras.
Os dados nos mostraram que, muito embora, 83 (63%) adolescentes tenham afirmado
que a gravidez, no momento de sua ocorrência, não havia sido planejada, 124
(89%) afirmaram desejar engravidar, fato que pode ter contribuído para o alto
índice de resposta positiva em relação à aceitação da mesma com o total da
amostra afirmando ter aceitado.
A aceitação, no entanto, parece ter passado por um processo de elaboração, fato
que pode ser confrontado pela resposta das adolescentes acerca de sua reação
quando houve a confirmação da gravidez. Nessa pergunta 79 (56,5%) das
adolescentes gostaram e aceitaram a gestação desde o início. Quanto aos
parceiros sexuais 121 (86,5%) deles gostaram e aceitaram quando souberam da
confirmação da gravidez e houve apenas dois casos de abandono da jovem mãe por
seus parceiros. Na percepção das adolescentes estudadas entre 111 (79,4%) casos
houve boa aceitação da gravidez pela família da gestante. As famílias dos
parceiros também apresentaram boa aceitação sendo que 123 (87,9%) delas
gostaram e aceitaram o fato dos filhos, do sexo masculino, tornarem-se pais,
apesar de alguns deles também serem adolescentes.
Entretanto houve dois casos que merecem destaque por implicar em desamparo num
período de crise, configurado pela gravidez na adolescência visto que dois
adolescentes, sendo um do sexo feminino e outro do sexo masculino, foram
expulsos de casa.
Quando analisamos a condição de trabalho das adolescentes estudadas encontramos
que apenas 15 (10,7%) delas continuaram a trabalhar após ter engravidado, 24
(17,1 %) interromperam em decorrência da gravidez, 57 (40,7%) já haviam
interrompido o trabalho quando engravidaram e 44 (31,5%) adolescentes nunca
haviam trabalhado.
Apesar da maioria das mães adolescentes não terem trabalhado durante a gestação
55 (39,3%) delas demonstraram o desejo de ter um trabalho remunerado. No
entanto, observamos que os aparelhos sociais com que elas podem contar para
suporte no cuidado dos filhos durante a jornada de trabalho são restritos uma
vez que apenas 2 (1,4%) referiram contar com creche no trabalho e 13 (9,3%)
manifestaram o desejo de pleitear uma vaga em creches comunitárias.
Contrastando com essa realidade social, a família continua desempenhando o
papel de apoio e suporte para que as mães adolescentes possam retornar ou se
inserir no mercado de trabalho. Cerca de 26% (37) das jovens mães esperam
contar com o apoio da família para o cuidados dos filhos, referindo o suporte
das mães, sogras, irmãs e cunhadas.
Um dado preocupante é que 83 (59,4%) das adolescentes declararam que deverão
interromper os estudos em decorrência das necessidades do cuidado do filho. Por
outro lado, 54 (38,6%) delas continuarão estudando, e destas, 41 (76%)
adolescentes podem contar com o apoio das famílias no cuidado do filho contando
com a colaboração dos avós paternos e/ou maternos no retorno à escola. A
situação de dominação e subordinação também se apresentou como uma das razões
para que as mães adolescentes deixassem de estudar em 2 (1,4%) casos,
declarando que o motivoda interrupção seria a proibição do parceiro.
A afirmação acerca da interrupção dos estudos nesse grupo de adolescentes é uma
realidade com conseqüências sociais importantes e, a esse respeito podemos
citar o relatório da UNICEF(5) em que 21,1 % dos entrevistados apontam o estudo
como a principal ferramenta para atingir seus sonhos.
Entretanto, mesmo frente à situação de baixa escolaridade das mães
adolescentes, outro fator que também dificulta o retorno das mesmas aos estudos
é a falta de organização dos espaços escolares para sua reinserção, uma vezque
nenhuma escola conta com creches para suporte e cuidado das crianças.
O grupo social em que estão inseridas as mães adolescentes, em sua maioria
aceita a gravidez na adolescência sendo que 127 (90,8%) delas afirmaram que os
amigos aceitaram a gravidez enquanto apenas 13 (9,2%) jovens mães declararam
ter sofrido críticas e mesmo afastamento dos amigos frente à gestação.
Assim o grupo estudado demonstra um comportamento compatível com seu meio
quando se espera que entre adolescentes vivendoem famílias e vizinhos com
presença freqüente de mulheres que se tomam mães, precocemente, os mesmos
encaram como mais "normal" a maternidade precoce(7).
O número de adolescentes que declarou envolvimento com drogas foi 9 (6%), que
pode ser considerado baixo para uma região considerada rota de tráfico
internacional e com uma realidade de violência, importante no cenário do país,
gerada pelo envolvimento com seu uso e comercialização, inclusive. entre os
adolescentes. O mesmo valepara uso de álcool, apenas 3,5% das jovens mães
declararam ingerir bebida alcoólica com freqüência de três a quatro vezespor
semana e 12,2% disseram beber apenas aos finais de semana. Esse resultado
merece investigação mais aprofundada, com metodologia apropriada, para que o
fenômeno relacionado ao uso de drogas psicoativas seja melhor delineado e
compreendido.
4 Considerações Finais
Este estudo evidenciou que embora sejam adolescentes, com idades que variaram
entre 13 e 19 anos, 16% delas têm parceiros com mais de 25 anos, e ainda, 6%
destas com parceiros com mais de 30 anos. 77% mantém relação marital, sendo que
56 adolescentes já haviam casado antes de engravidar.
A escolaridade predominante entre as adolescentes é o ensino fundamental com
aproximadamente 54% incompleto e 15% completo.
Entre as adolescentes 15% tiveramsua primeira relação sexual com menos de 14
anos de idade, 24% delas já estavamem sua 28, 38, 48 ou 58 gestação e 10% delas
já praticaram aborto pelo menos uma vez.
Os dados nos mostraram que muito embora 63% das adolescentes tenham afirmado
que a gravidez não foi planejada, 89% relataram o desejo de engravidar.
A respeito da reação na confirmação da gravidez, temos que 57% das adolescentes
gostaram e aceitaram a gestação desde o início. Quanto aos companheiros 87%
deles gostaram e aceitaram quando souberam da confirmação da gravidez e
houveapenas dois casos de abandono, da adolescente, pelo parceiro. Houve79% de
boa aceitação da gravidez pela família da adolescente e em relação à família do
parceiro 88% delas gostaram e aceitaram o fato do filho ser pai.
Segundo a situação escolar 31,4% das adolescentes estudavamno momento em que
engravidaram, porém até a resolução do parto, apenas 14,3% continuavam
freqüentando a escola. Mais da metade da população estudada, 55,8% das
adolescentes, já haviam interrompido os estudos antes de engravidar.
Cerca de 72% das adolescentes não trabalhavam quando engravidaram, sendo que
destas, 31,5% nunca haviam trabalhado. Apenas 10,7% das adolescentes
continuaram trabalhando até a resolução do parto.
59,4% das adolescentes deverão interromper os estudos para cuidar do filho. Por
outro lado 38,6% continuarão estudando, e destas, 66% podem contar com o apoio
da família para deixar o filho enquanto vão à escola.
Cerca de 60% das adolescentes deixarão de trabalhar e entre aquelas que
continuarão 15,8% contam com a ajuda da mãe para cuidar do filho enquanto
trabalham.
Algumas considerações se fazem necessárias a partir do quadro apresentado, e
merece destaque a necessidade de reformulação dos programas de atenção ao
adolescente utilizando alternativas metodológicas que tenham mais impacto na
saúde das adolescentes, considerando o período de transição pelo qual estão
passando.
Deve ser considerado o impacto adverso que ocorre quando se faz a relação entre
pobreza, educação e maternidade precoce. Os dados deste estudo apontam para
essa possibilidade uma vez que o nível de escolaridade das mães adolescentes é
baixo, o retorno para a escola é dificultado pela falta de aparelhos sociais de
suporte e mesmo pela não disponibilidade das mesmas. Acresce-se a isso a
restrição no mercado de trabalho, uma vez que as mães estudadas têm pouca
qualificação para se inserir numa atividade mais competitiva e que exige uma
maior profissionalização.
Ainda é importante abordar o tema da anticoncepção numa compreensão mais
ampliada e complexa, entendendo que as jovens vivem uma vida sexual não
autorizada e os serviços de saúde precisam compreender esse contexto onde não
basta informações acerca dos métodos, mas implica em entender a visão romântica
que os adolescentes têm sobre o sexo, as dificuldades e os medos de que as
famílias descubram acerca de sua vida sexual, o pensamento mágico infantil de
que não vão engravidar até pelo desconhecimento da fisiologia do próprio ciclo
reprodutivo.