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BrBRCVHe0034-71672005000200006

BrBRCVHe0034-71672005000200006

National varietyBr
Country of publicationBR
SchoolLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN0034-7167
Year2005
Issue0002
Article number00006

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A pesquisa na área de Gerenciamento em Enfermagem no Brasil PESQUISA

A pesquisa na área de Gerenciamento em Enfermagem no Brasil

Research in Nursing Administration area in Brazil

La investigación en la area de Gerencia en Enfermería en Brasil

Paulina KurcgantI; Maria Helena Trench CiamponeII IProfesora Titular do Departamento de Orientação Profissional da Escola de Enfermagem da USP na área de Administração em Enfermagem no âmbito de Programas de Graduação e Pós-Graduação IIProfesora Livre-Docente do Departamento de Orientação Profissional da Escola de Enfermagem da USP na área de Administração em Enfermagem no âmbito de Programas de Graduação e Pós-Graduação

1. INTRODUÇÃO A produção do conhecimento na área do Gerenciamento em Enfermagem no Brasil,tem sido objeto de alguns estudos e discussões, no âmbito dos Programas de Pós- Graduação e tem subsidiado importantes transformações no que se refere, tanto às práticas de ensino como do gerenciamento da assistência e dos serviços de Enfermagem.

O processo de pesquisa tem complementado e integrado o processo gerencial, principalmente pelo uso do conhecimento gerado pelas pesquisas nessa área temática.

O resgate da trajetória desse conhecimento oriundo das pesquisas em gerenciamento, permitem visualizar as práticas gerenciais e refletir sobre os motivos que orientam o pensar, o sentir e o agir numa dada direção.

Assim, o presente estudo tem por objetivo identificar e analisar a produção do conhecimento na área do gerenciamento em enfermagem, no país, resultante das pesquisas produzidas nos cursos de Mestrado, Doutorado e Teses de Livre- Docência.

Nessa direção, estudo denominado "Administração em Enfermagem: constituição histórico social do conhecimento, recupera a gênese do conhecimento de Administração na Enfermagem, considerando a dimensão histórica desse conhecimento no Brasil. Nas considerações finais assinala a crítica feita aos trabalhos, inicialmente desenvolvidos nessa área, que concebem a atividade administrativa do enfermeiro como um desvio de suas funções(1).

Aponta que apesar de na década de 80 algumas pesquisas mostrarem que a atividade administrativa era inerente ao trabalho assistencial, ainda permanecia o conflito de posições acerca do gerenciar e do cuidar.

Chama também a atenção para o fato da necessidade do conhecimento da Administração em Enfermagem constituir um instrumento do processo de trabalho do enfermeiro, sendo determinado pelas transformações históricas do processo de trabalho em saúde advindas da instalação do modo de produção capitalista.

Essa abordagem administrativa que predominou até quase o final do século XX, e que exerce, ainda, nos dias atuais, importante influência na prática administrativa dos enfermeiros, teve como embasamento a Teoria Geral da Administração (TGO), ancorada na vertente do pensamento funcionalista.

Nessa vertente, conforme estudo realizado sobre a influência das teorias administrativas na prática gerencial da enfermagem, as variáveis enfatizadas no trabalho gerencial foram, em diferentes momentos, ênfase nas tarefas, nas pessoas, na estrutura e no ambiente(2).

Segundo esse referencial, predominou na administração a abordagem prescritiva e normativa, caracterizando uma condução estritamente racional das atividades.

Avançando nessas reflexões, outra autora(3) aprofunda a idéia de que a gerência na enfermagem, constitui um processo de trabalho específico. Ressalta que é preciso compreender as práticas de saúde enquanto práticas imediatamente sociais. Desse modo, essas práticas são historicamente estruturadas e socialmente articuladas. De acordo com esse entendimento as práticas de saúde tem que ser concebidas de modo articulado às demais práticas sociais, sendo assim, parte que contém as determinações da totalidade desse social.

Essa concepção teve por base estudos desenvolvidos(4), onde o trabalho em saúde foi analisado nas relações de dependência e de determinação recíprocas, ou seja, como um trabalho que não se isoladamente. Os modelos assistenciais, clínico e epidemiológico são analisados segundo paradigmas diferenciados de concepção de saúde, que se articulam a projetos distintos de efetivação de praticas, tanto assistenciais como gerenciais.

Nessa concepção a gerência constitui um importante instrumento para a efetivação de políticas, incorporando um caráter articulador e integrativo, ou seja, "a ação gerencial é determinada e determinante do processo de organização de serviços de saúde e fundamental na efetivação de políticas sociais e, em específico, as de saúde"(3).

Assim, investigações na área do gerenciamento em enfermagem, ao enfocarem como objeto de estudo elementos do cotidiano das práticas desenvolvidas no trabalho da enfermagem, em diferentes contextos, no seu embasamento, de forma implícita ou explícita, permitem a identificação de pressupostos das correntes de pensamento funcionalista/positiva; compreensiva ou do materialismo histórico e dialético.

2. METODOLOGIA Para realização desta pesquisa foram utilizadas as informações contidas no CD- Room Volume 1 a 18, denominado "Informações sobre pesquisas e Pesquisadores em Enfermagem" da ABEN/CEPEn, correspondentes ao período 1979-2000(5,6) e as informações oriundas dos Anais do CEPEn, dos anos 2001 a 2003(7,8).

Dessas fontes foram coletados os seguintes dados: titulação obtida Mestrado (M), Doutorado (D) ou Livre-Docência (LD); nome do autor; título do trabalho; ano de conclusão; local/Estado e respectivo resumo. Para fins de análise os estados foram agrupados segundo as regiões geopoliticas do país.

A população do estudo constituiu-se de: 138 Dissertações, 50 Teses de Doutorado e 10 de Livre-Docência, totalizando 198 produções científicas.

Essas informações foram lançadas numa planilha do MS Excel, com a finalidade de realizar cruzamentos e análise dos dados.

3. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS O referencial de análise dos dados pautou-se, num primeiro momento, no esquema categorial segundo o Documento aprovado na Reunião de Coordenadores de Pós- Graduação em Enfermagem no 11º SENPE, 2001, onde estão definidas três áreas/ campos denominadas de Profissional, Assistencial e Organizacional. Por se tratar de pesquisas desenvolvidas com temáticas relacionadas ao Gerenciamento em Enfermagem, foram adotadas para a análise e classificação dos dados, as linhas de pesquisa "Políticas e Práticas em Saúde e Enfermagem; Políticas e Práticas de Educação e Enfermagem; Produção Social e Trabalho em Saúde e Enfermagem; Gerenciamento dos Serviços de Saúde e de Enfermagem e Informação/ Comunicação em Saúde e Enfermagem", pertencentes à área/campo, do documento, denominada área Organizacional.

Estas linhas foram respectivamente codificadas como A, B, C, D e E, na planilha do estudo, no sentido de facilitar a tabulação dos dados.

Também foram considerados como subsídios para a análise dos dados, a identificação do método adotado na pesquisa (quantitativo, qualitativo, ou quanti-qualitativo) e a vertente de pensamento (Positivista, Compreensiva e Materialismo Histórico e Dialético)(9) .

A operacionalização da análise deu-se pela leitura analítica dos 198 resumos; categorização segundo esquema categorial supramencionado e lançamento do resultado da categorização na planilha.

Esta etapa apresentou às pesquisadoras, dificuldades, pois, muitas vezes, os resumos não constavam dos anais e, em outras, não permitiam o resgate dos dados essenciais para a análise, devido à omissão e/ou à falta de objetividade na descrição dos mesmos. Nesses casos, procedeu-se à busca bibliográfica na própria dissertação ou tese, ou em bancos de dados científicos.

Chama a atenção que na base de dados do CEPEn, não se encontram alguns trabalhos, comprovadamente, desenvolvidos na área de gerenciamento. Este fato mostra uma limitação desse tipo de estudo e da importância do envio e cadastramento sistemático das informações sobre pesquisas e pesquisadores no âmbito nacional.

Uma vez imputados os dados na planilha do MS Excel, para a análise, os mesmos foram transpostos para outra planilha do Access, de modo a favorecer o cruzamento das informações.

Os procedimentos de análise permitiram a apresentação dos seguintes resultados que, conforme definidos pelas autoras em alguns momentos, foram agrupados por décadas.

A tabela_1 permitiu verificar que quanto à titulação dos autores, foram encontradas 138 dissertações correspondentes a 70% da produção; 50 Teses de Doutorado, equivalentes a 25% do total e 10 Teses de Livre-Docência, que correspondem a 5% do total dos estudos.

De acordo com a Tabela_2, apreende-se que a produção, no âmbito do gerenciamento em Enfermagem, ao longo das décadas, evidencia incremento significativo do número de pesquisas, na década de 90, que pode ser explicado, em parte, pelo processo de expansão dos Programas de Pós-Graduação em Enfermagem no país. Na década de 2000, transcorridos apenas 3 anos, titularam- se 28 Doutores e 61 Mestres, sendo que na década de 90 esses números foram 20 Doutores e 72 Mestres, o que mostra um importante crescimento na formação de Mestres e Doutores e conseqüente incremento do conhecimento na área.

Conforme ilustram as Tabelas_3 e 4, a seguir, a linha de pesquisa denominada Gerenciamento dos Serviços de Saúde e de Enfermagem (D) foi a que concentrou maior número de estudos 115, (58%); seguida da linha Produção Social e Trabalho em Saúde e Enfermagem (C) com 52, (26 %); a linha Políticas e Práticas de Educação e Enfermagem (B) com 14, (7%); a linha Políticas e Práticas em Saúde e Enfermagem (A) com 13, (7 %) e finalmente 4, (2 %) de estudos na linha Informação/Comunicação em Saúde e Enfermagem (E).

Quanto ao método adotado nos estudos, a tabela_5 e a tabela_6, permitem visualizar que do total dos trabalhos, 94, (47%) adotam métodos quantitativos; 92, (46%) correspondem a metodologia qualitativa, e 7, (4%) correspondentes a métodos quanti-qualitativos. Vale salientar que do total de 198 trabalhos, 5 (3%) não apresentaram dados suficientes para a análise.

As tabelas_7 e 8 permitem considerar que a trajetória da adoção de diferentes enfoques metodológicos apoiados em diferentes correntes de pensamento, pelos pesquisadores da área, evidencia a mudança de paradigmas, quando enfocam objetos distintos em consonância com os movimentos da sociedade.

Segundo a tabela_8, fica evidente que até a década de 80 prevalecia a abordagem positivista. Esse dado coincide com a tendência onde, de modo geral, na década de 70 e de 80, as pesquisas estiveram marcadas pelas teorias funcionalistas aderentes ao método positivista(10). No presente estudo, na década de 90, evidencia-se que o número de trabalhos que adotam métodos compreensivos supera os que adotam métodos positivistas. Chama a atenção, que na década de 2000, apenas no triênio estudado, a adoção de métodos compreensivos, nas pesquisas, se igualam ao número de métodos positivistas.

Embora seja salientado que nas décadas de 60 e 70 as abordagens compreensivas se faziam presentes no campo do pensamento sobre saúde(10), pode-se afirmar que o mesmo não ocorreu com as pesquisas em Enfermagem, pois somente a partir da década de 90 as abordagens compreensivas, pautadas principalmente na fenomenologia, no interacionismo simbólico, na etnografia, na teoria fundamentada em dados e na representação social, se fazem presentes nos estudos em Gerenciamento de Enfermagem. O Materialismo Histórico e Dialético, quando adotado como corrente de pensamento, incorpora, nos estudos, uma crítica social.

De acordo com a tabela_9, é possível verificar que a região Sudeste, concentra, 158 estudos 80%, seguidos pela região Sul com 25, (13%); pela região Nordeste com 11, (5%) e 4 na região centro-oeste (2%). Na região Norte não foi encontrado registro de pesquisa sobre Gerenciamento em Enfermagem.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Análise da produção científica na área de Gerenciamento em Enfermagem , no período de 1979 a 2003, analisada segundo as linhas de pesquisa propostas no documento norteador, onde estão definidas as três áreas/campos denominadas "Profissional, Assistencial e Organizacional", possibilitou evidenciar o incremento do número de pesquisas na área Organizacional,nas diferentes linhas de pesquisa englobadas nessa área/campo.

Possibilitou, também, visualizar essa produção científica diferenciada pela titulação dos pesquisadores; pelas temáticas investigadas; pelo ano em que ocorreu a pesquisa; pelas regiões geopolíticas do país; pelo método adotado e pelas correntes de pensamento que embasaram esses estudos.

Vale considerar como pontos de destaque: a ampliação da adoção de diferentes vertentes de pensamento pelos enfermeiros pesquisadores possibilitando verticalizar e ampliar o resgate e análise dos diferentes temas e objeto das investigações; a incorporação e valoração crescente das temáticas de investigação vinculadas à saúde do trabalhador de enfermagem, evidenciando ênfase, também na dimensão de quem cuida.

Entretanto, denota-se que a concentração dessa produção, ainda se concentra na região sudeste e sul, mostrando a necessidade de se continuar investido na expansão dos Programas de Pós-Graduação nas demais regiões do país.

Quanto à concentração de pesquisas na linha de Gerenciamento dos Serviços de Saúde e de Enfermagem, seguida da linha Produção Social e Trabalho em Saúde e Enfermagem; Políticas e Práticas de Educação e Enfermagem; Políticas e Práticas em Saúde e Enfermagem e Informação/Comunicação em Saúde e Enfermagem, apreende- se que o foco dos estudos se atem, ainda, à dimensão instrumental das práticas gerenciais estando menos vinculados às políticas determinantes dessas práticas.

Também é possível apreender que a investigação sobre os processos de informação ainda é incipiente.

Se por um lado o conhecimento gerado pelas pesquisas influencia as transformações nos processos de trabalho, entre eles o processo educacional, por outro lado mostra que a capacitação no âmbito para o gerenciamento em saúde e em enfermagem, ainda carece de fortalecimento das competências que integram as dimensões ético-políticas, que compreendem a instância relacional e de responsabilidade social da profissão.

Embora considerando que o presente estudo contribui para o resgate do conhecimento gerado pela pesquisa em Gerenciamento em Enfermagem, as autoras consideram como uma limitação do mesmo, o fato de ter sido adotado apenas uma fonte de coleta de dados, que restringiu, as pesquisas desenvolvidas, ao âmbito da Pós-graduação e da titulação docente. Desse modo, recomenda-se à continuidade de estudos que ampliem as fontes de coleta de dados e permitam trabalhar outros elementos de análise.


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