Saúde do trabalhador de saúde: análise das pesquisas sobre o tema
REVISÃO
Saúde do trabalhador de saúde: análise das pesquisas sobre o tema
Health worker's health: an analysis of research studies on the theme
La salud del trabajador que actua en la salud: análisis de las pesquisas sobre
ese tema
Vitória de Cássia Félix de AlmeidaI; Marta Maria Coelho DamascenoII; Thelma
Leite AraújoIII
IEnfermeira. Doutoranda em Enfermagem do Programa de Pós-Graduação da
Universidade Federal do Ceará - UFC, Professora Adjunto do Departamento de
Enfermagem da Universidade Regional do Cariri URCA, Bolsista da FUNCAP
IIEnfermeira, Doutora em Enfermagem, Docente do Departamento de Enfermagem da
UFC, Pesquisadora do CNPq
IIIEnfermeira, Doutora em Enfermagem, Docente do Departamento de Enfermagem da
UFC, Pesquisadora do CNPq
1. INTRODUÇÃO
O ato de pesquisar pode ser definido como a busca de conhecimentos acerca de
uma determinada realidade a partir da utilização de procedimentos sistemáticos
e formais. É através da realização de pesquisas que temos presenciado o
surgimento de descobertas e a construção de conhecimentos que abrangem até os
aspectos mais triviais da experiência humana e, cada vez mais, essa atividade
se mostra imprescindível para o fortalecimento de qualquer disciplina.
Na área da enfermagem isso não se mostra diferente, sendo vários os autores que
têm enfatizado repetidamente que gerar conhecimentos por meio de pesquisas é
condição básica para sua caracterização como uma ciência.
Na concepção de Stefanelli(1), da construção e legitimação metódica do saber
depende o caráter científico da enfermagem, bem como seu posicionamento no
mesmo nível das demais profissões, ocupando de maneira competente e qualificada
seu espaço no sistema de saúde.
Do ponto de vista histórico, a pesquisa passou a fazer parte do cotidiano da
enfermagem brasileira apenas recentemente. De fato, datam dos anos de 1950 os
primeiros trabalhos realizados por enfermeiros com base no método científico
(2). Nos anos que se seguiram, pode-se acompanhar um incremento nesta atividade
associado, principalmente, ao surgimento dos Cursos de Pós-Graduação no País,
tendo como sustentáculo os estudos realizados por alunos e professores em
referidos cursos.
Discorrendo sobre a evolução das pesquisas em enfermagem, Saupe(3)demonstra que
desde seu início até os dias atuais houve um aumento expressivo em relação à
produção científica dos enfermeiros e relata que as mudanças ocorreram não
somente em relação à quantidade de trabalhos publicados, mas também no que se
refere aos tipos de pesquisa realizados e metodologias utilizadas.
Mesmo reconhecendo os avanços obtidos em relação às pesquisas na atualidade,
entendemos que, para continuar progredindo, a enfermagem precisa estar
constantemente envolvida num processo de avaliação e reavaliação do
conhecimento produzido. Isto é necessário uma vez que, se a enfermagem deseja
estar contribuindo para o desenvolvimento científico e tecnológico tal como
outras áreas de conhecimento, o saber produzido deverá condizer com as demandas
sociais e ter valor informativo considerável.
Saupe(3) faz referência ao surgimento nos últimos anos de vários trabalhos que
intencionam verificar a situação da pesquisa em enfermagem e avaliar a produção
científica dos enfermeiros quantificando-a e detectando seus focos de
interesse.
Alguns desses estudos têm buscado delinear a conformação das pesquisas em
relação às principais tendências tal como estudo realizado por Prado e Gelbcke
(4) em que categorizaram as pesquisas realizadas no Brasil, de 1990-1999, em
relação às áreas profissional, assistencial e organizacional. Outros autores
têm procurado analisar as características da produção científica em áreas
específicas, entre as quais: apego mãe e filho(5); educação de pacientes(6);
enfermagem psiquiátrica(7); terapia intensiva(8); biossegurança(9); hipertensão
arterial(10); educação profissional(11); gravidez na adolescência(12); doenças
sexualmente transmissíveis e HIV/AIDS(13) e acidentes de trabalho(14). Ainda
outros estudos têm se preocupado com a identificação dos trabalhos realizados
por grupos específicos, entre os quais o de Salzano e colaboradores(15) e o de
Costa e Carvalho(16) que procuraram investigar e analisar a produção científica
de enfermeiros do Município de São Paulo e do Estado de Minas Gerais,
respectivamente.
Um aspecto que não pode ser desconsiderado quando se faz referência às
tendências em pesquisa, é que o processo investigativo está condicionado às
relações do pesquisador com o mundo. Dessas relações emergem as questões
importantes a serem estudadas. Obviamente, como a construção do conhecimento
pressupõe uma postura ética em relação à sociedade, para definir aspectos que
merecem ser investigados devem ser verificados os problemas que têm
influenciado a vida das pessoas de um modo geral.
Entre os assuntos que têm suscitado o interesse de pesquisadores de várias
áreas, em âmbito nacional e internacional, apresentam-se as questões referentes
ao mundo do trabalho e suas repercussões na saúde dos indivíduos e, de modo
particular, os aspectos relativos à saúde de trabalhadores da área da saúde.
Considerando tais pressupostos, é nosso interesse investigar se tais questões
têm estimulado os enfermeiros a desenvolverem pesquisas e analisar como a
produção científica da enfermagem tem enfocado as interrelações entre a
atividade laboral e o processo saúde-doença relativo a trabalhadores na área da
saúde e, em última análise, verificar qual a contribuição desta produção no
sentido de caracterizar a saúde do trabalhador de saúde como campo importante
de elaboração de conhecimentos.
Desse modo, o objetivo do estudo é analisar as pesquisas acerca da temática
Saúde do Trabalhador de Saúde, publicadas em periódicos de enfermagem no
período de 1998-2002.
2. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
A fim de analisar as conexões existentes entre trabalho e saúde a partir de
publicações na área de enfermagem realizamos, durante os meses de setembro a
novembro de 2003, um estudo do tipo bibliográfico no intuito de levantar que
pesquisas tem sido realizadas e como os diversos pesquisadores têm se
posicionado acerca do tema.
Para a seleção dos estudos que constaram na amostra adotamos como critérios de
inclusão: o tipo de publicação, o país e o ano em que os mesmos foram editados
e a categoria profissional dos autores. Desse modo, optamos por trabalhos de
pesquisa, que possuíssem pelo menos um enfermeiro como autor, publicados no
período de 1998-2002, em periódicos de enfermagem brasileiros de circulação
internacional - segundo classificação QUALIS/CAPES 2002 fornecida pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A opção
por esses critérios fundamentou-se na idéia de que a seleção dos periódicos e
dos artigos tendo em vista tais convenções pré-estabelecidas proporcionaria
segurança em relação à ampla divulgação e acesso desses periódicos entre os
enfermeiros, bem como a qualidade e o caráter atual de sua produção.
Atualmente, seis periódicos atendem aos requisitos, sendo eles: Revista
Brasileira de Enfermagem, Revista Latino-Americana de Enfermagem, Revista da
Escola de Enfermagem da USP, Texto e Contexto Enfermagem, Acta Paulista de
Enfermagem e Revista Gaúcha de Enfermagem.
A localização e a seleção dos artigos foram efetuadas a partir da busca de
trabalhos que versassem acerca da temática do estudo nos referidos periódicos,
respeitando-se o recorte temporal definido para a pesquisa. Para isto efetuamos
a análise do título, dos descritores e do resumo dos textos publicados. Caso a
análise desses elementos não fosse suficiente para a seleção, realizávamos uma
leitura exploratória do artigo com vistas à sua caracterização ou não como
parte da amostra da pesquisa.
Para análise e categorização dos artigos foi realizada uma leitura
interpretativa destes e para a organização das informações utilizamos um
formulário contemplando: variáveis de caracterização dos pesquisadores,
temática abordada, tipo de estudo, contexto de realização do estudo, população
investigada e sugestões dos autores quanto à possibilidade de utilização dos
resultados obtidos à prática. Os resultados foram apresentados em tabelas e
quadros e dispostos em termos de freqüência absoluta e percentual.
3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com o levantamento realizado, encontramos 48 artigos relacionados ao objeto da
pesquisa os quais foram distribuídos entre os periódicos investigados conforme
demonstra a tabela_1.
Verificamos que a Revista Latino-americana de Enfermagem e a Revista da Escola
de Enfermagem da USP constituíram-se nos principais meios de divulgação dos
trabalhos relacionados à temática Saúde do Trabalhador de Saúde.
Acreditamos que estes resultados, em parte, podem estar associados à tradição
em pesquisa adquirida pelas universidades do Sudeste do País, entre as quais, a
Universidade de São Paulo. Não podemos esquecer que um dos primeiros cursos de
pós-graduação stricto sensu do Brasil foi desenvolvido na Escola de Enfermagem
da USP, em 1973. A reconhecida importância da pesquisa nesta instituição pode
estar motivando os enfermeiros a privilegiarem os periódicos por ela veiculados
por ocasião da divulgação de suas pesquisas.
Um fato que foi verificado durante o levantamento de dados é que os três
periódicos que apresentaram maior número de publicações estão ligados a
instituições que possuem grupos e linhas de pesquisa relacionadas à análise do
trabalho em saúde. Considerando que, os enfermeiros têm a tendência de publicar
em revistas de suas regiões(15,16), podemos inferir que a produção resultante
dos grupos de pesquisa que se dedicam a estudar temáticas afins com a saúde do
trabalhador findam por escoar para as revistas ligadas direta ou indiretamente
a eles.
Cumpre ressaltar a contribuição da revista Texto e Contexto, responsável por
cerca 20% do total de artigos da amostra, fato este associado a três números
privilegiando a questão do trabalho de enfermagem e afins, a saber: "qualidade
de vida e enfermagem" (1999), "processo da morte, morrer e luto" (2001) e "o
(a) trabalhador (a) em enfermagem e saúde" (2002).
Outra variável analisada foi o ano de publicação dos artigos cujos resultados
são apresentados na tabela_2.
Analisando a tabela acima é possível visualizar que a quantidade de artigos
mantém-se a mesma para os anos de 1998 e 1999. Entretanto, identificamos um
aumento no quantitativo destes nos anos de 1999, 2001 e 2002. Em nossa opinião,
essa mudança pode estar associada ao incremento nos artigos proporcionado pelos
números específicos da revista Texto e Contexto, publicados, precisamente, nos
anos que perfizeram os maiores percentuais de publicação.
Foram obtidas, adicionalmente, informações referentes à autoria dos trabalhos
publicados as quais apresentam-se sintetizadas nas tabelas_3_a_6.
De acordo com a tabela_3, podemos perceber a partir dos dados que começa a
manifestar-se o interesse dos autores em desenvolverem trabalhos em parcerias,
uma vez que apenas 12,5% dos trabalhos foi realizado individualmente. Apesar
disso, estes dados não nos permitem afirmar categoricamente que a publicação em
grupos já está amplamente difundida entre os enfermeiros, posto que outros
autores, investigando a produção científica em outras temáticas, têm encontrado
resultados variados. Alguns apresentam achados semelhantes aos nossos(11). Por
outro lado, há referências há prática predominante de trabalhos científicos em
autoria única(10,15). Neste caso cumpre ressaltar que, apesar de termos
encontrado a maioria dos artigos com participação de mais de um autor,
verificamos que mais da metade foram escritos por dois pesquisadores (52%), em
muitos dos casos tendo os artigos sido resultado de dissertações de mestrado e
teses de doutorado. Entendemos, desse modo que a pesquisa em grupos poderia ser
fomentada ainda mais, considerando que essa prática poderia proporcionar não
somente facilidades operacionais para os próprios pesquisadores quanto uma
maior abrangência nos estudos que passariam a contar com múltiplas visões
acerca dos objetos de pesquisa.
Na caracterização dos autores de acordo com a categoria profissional, como já
supúnhamos, a grande maioria dos trabalhos teve a autoria de enfermeiros
(78,9%), reforçando o que foi referido por outras pesquisas semelhantes à
nossa.
Chama-nos a atenção a pequena quantidade de pesquisadores de outras áreas -
6,5% - envolvidos nas pesquisas acerca da temática em análise, tendo sido
relacionada a participação de um médico, um filósofo, um psicólogo e um
acadêmico de medicina. Em nossa percepção, a complexidade inerente às questões
relativas à saúde do trabalhador, por si só, traz implícita a necessidade de
atividades de pesquisa envolvendo grupos multiprofissionais, no intuito, dessa
forma, de proporcionar uma abordagem integradora para a análise dessas
questões. Trabalhar integradamente a saúde dos trabalhadores é condição
essencial para o desenvolvimento de novas abordagens teórico-metodológicas que
possibilitem avançar em relação à análise e às intervenções sobre as situações
de risco dos trabalhadores(17).
Com tais afirmações não estamos fazendo uma crítica em particular aos
enfermeiros, até porque, a compartimentalização disciplinar não é exclusividade
da enfermagem, mas o resultado de um paradigma científico que fragmenta
sobremaneira os saberes. Aqui não podemos nos privar de mencionar que também a
enfermagem não tem estado presente em pesquisas realizadas por grupos de outras
áreas. Temos observado, mesmo de forma assistemática, que trabalhos publicados
em livros ou periódicos por outros profissionais em muitos casos não incluem
enfermeiros como autores.
No que tange à qualificação dos autores, identificamos que os doutores estão
entre os que mais publicaram, resultado associado a vários fatores entre os
quais as exigências cada vez maiores das agências financiadoras de pesquisa que
apenas destinam recursos aos pesquisadores doutores que tenham uma produção
científica constante e significativa, o que de certo modo, impõem a
responsabilidade a estes de estarem encabeçando o processo de elaboração do
conhecimento.
Um aspecto a ser observado é a participação de graduandos na autoria dos
trabalhos, alguns dos quais são bolsistas de iniciação científica ou fazem
parte de grupos de pesquisa. Cada vez mais temos observado a importância de
estar preparando o acadêmico, desde o seu ingresso na academia, às atividades
científicas, o que tem sido reforçado pelos órgãos que fomentam a pesquisa como
forma de estimular, inclusive, a formação de doutores mais precocemente que em
outras épocas e, conseqüentemente, a ampliação do quadro de pesquisadores do
País que possam estar desenvolvendo pesquisas por um tempo mais prolongado.
Sobre a área de atuação dos autores dos trabalhos, pode ser constatado a
predominância de docentes nas publicações. Esse achado reitera as informações
presentes em outros estudos e, ao mesmo tempo, evidencia a necessidade de que
sejam desenvolvidas estratégias que promovam a inclusão de enfermeiros que
trabalhem na área assistencial na elaboração de pesquisas.
Em estudo anterior, Salzano et al(15) sugerem que uma política de recursos
humanos fundamentada na educação em caráter permanente e articulada a uma
política salarial e ascensão a cargos na instituição poderia ser fator decisivo
para ampliar o número de enfermeiras assistenciais envolvidas em pesquisa. É
importante lembrar que essa é uma estratégia que vêm sendo usada em algumas
universidades e que tem sido útil, à medida que o profissional passa a sentir-
se compelido a produzir, posto que sua produção resulta em proventos e, em
correspondente qualidade de vida.
Ainda em relação às diferenças na produção científica de enfermeiros docentes e
assistenciais, academia e serviço, embora relacionados, são estruturalmente
diferentes e convivem cercados de interesses diversos(8). Portanto, é de certo
modo esperado que os docentes desenvolvam trabalhos científicos de forma mais
acentuada, uma vez que esta é a essência de seu campo de atuação. Cabe,
entretanto, procurando modos de atenuar essas diferenças e fazer com que os
enfermeiros que estão na assistência vislumbrem na pesquisa um instrumento de
avaliação contínua e melhoria na assistência.
Nas tabelas que seguem trazemos informações acerca das temáticas que têm sido
alvo de interesse dos pesquisadores em relação à saúde dos trabalhadores da
área da saúde, assim como aspectos metodológicos das pesquisas analisadas.
Cabe informar inicialmente que, para o agrupamento dos artigos nas temáticas
apresentadas, utilizamos como referencial o trabalho de Ferreira Júnior(18). De
acordo com esse autor saúde do trabalhador envolve não só identificar e
prevenir doenças, mas também verificar o impacto do trabalho no dia-a-dia do
trabalhador. Pressupõe uma visão apurada da cultura e das características de
saúde e de vida da população-alvo, o conhecimento dos riscos ocupacionais, a
análise das condições físicas, organizacionais, psicológicas e sociais a que os
trabalhadores estão submetidos e formas de avaliar e atuar diante das
repercussões do trabalho. A tabela5 traz informações referentes às temáticas
centrais abordadas nos artigos.
Com base nas informações apresentadas, podemos identificar que os pesquisadores
têm se preocupado não só com aspectos relativos à saúde física dos
trabalhadores da área de saúde, mas também têm examinado questões voltadas para
a saúde mental destes, contemplando análises sobre identidade do trabalhador,
relação do trabalhador com a atividade laboral, sofrimento psíquico e prazer no
trabalho.
Tais achados parecem indicar que os pesquisadores têm procurado,
paulatinamente, estar concatenados às mudanças conceituais dessa área cuja
concepção de saúde do trabalhador rompe com a concepção hegemônica do vínculo
causal doença/agente e ou grupo de fatores de risco presentes no trabalho,
buscando a explicação para o processo saúde-doença dos trabalhadores, através
do estudo dos processos de trabalho, articulando a estes os aspectos
subjetivos, valores, crenças, entre outros(19).
Na tabelas_6 e 7 encontramos informações referentes aos tipos de pesquisa e
abordagens metodológicas adotados pelos autores nos artigos analisados.
Verificamos, com base na tabela 6 que na maioria dos artigos os autores não
especificaram o tipo de pesquisa realizada. Nos artigos em houve essa
identificação, os autores afirmaram ter realizado, predominantemente, pesquisas
de cunho exploratório e descritivo.
No que diz respeito à abordagem metodológica verificou-se que a maior parte dos
estudos foi de caráter qualitativo (56,2%) corroborando com os achados de
Gomes, Fonseca e Veiga(20). A realização de estudos qualitativos tem sido um
aspecto constante nas pesquisas realizadas na enfermagem. Na realidade, a
utilização das pesquisas qualitativas por diversas áreas do conhecimento tem
associação com a instabilização da corrente positivista, segundo a qual, a
pesquisa qualitativa não fazia muito sentido(21).
Em relação às abordagens metodológicas é necessário compreender que sua escolha
deverá estar associada ao objeto a ser estudado e não à preferência do
pesquisador, a qual condiciona mais a escolha do problema do que, propriamente,
o método a ser empregado.
O que não se deve fazer é apostar na dicotomia entre quantidade e qualidade
(21). No máximo, prioriza-se uma a outra, reconhecendo-se, no entanto, que uma
não ocorre às expensas da outra.
Procuramos ainda verificar se os autores dos artigos forneciam alguma sugestão
em relação ao modo como os resultados por eles encontrados poderiam ser
utilizados na prática. Dentre os 48 artigos, 35 (72,9%) traziam sugestões e em
13 (27,1%) não havia referência quanto a isso. No quadro_1 registramos as
sugestões feitas pelos autores bem como a freqüência com que elas foram
mencionadas.
Podemos observar que as sugestões foram bastante diversificadas, entretanto,
percebemos que muitas destas possuíam caráter muito genérico de forma a
dificultar sua aplicação em situações prática.
Percebemos, adicionalmente, que muitas sugestões indicam soluções para os
problemas encontrados voltados para aspectos intrínsecos ao ambiente de
trabalho. Apenas alguns autores manifestam sugestões que evidenciam uma
preocupação com os determinantes sócio-econômicos e políticos da profissão.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista o que apresentamos e discutimos nesse estudo, verificamos que os
trabalhos analisados apontam para uma preocupação dos enfermeiros em relação
aos fatores envolvidos com a saúde dos trabalhadores de saúde, a partir de
pesquisas que privilegiaram tanto os aspectos físicos como questões relativas à
saúde mental dos trabalhadores.
Observamos que as pesquisas publicadas nos periódicos analisados foram
desenvolvidas quase que exclusivamente por enfermeiros, evidenciando, a
necessidade de fomentar a participação de profissionais de outras áreas,
inclusive das Ciências Sociais, levando-se em consideração a complexidade que
cerca o tema.
Os resultados obtidos apontam para a predominância de pesquisadores com
titulação de doutor e que têm na docência sua área de atuação, reforçando a
necessidade, já evidenciada por outros autores, de criar estratégias para que a
pesquisa possa fazer parte com maior força dos serviços de saúde.
Chamou-nos atenção o fato de os artigos, em sua quase totalidade, terem como
cenário de estudo o ambiente hospitalar. Embora reconheçamos que nesse ambiente
há inúmeros fatores que podem interferir na saúde dos trabalhadores sugerimos
que os pesquisadores da área possam também voltar suas análises para outros
cenários nos quais o trabalho em saúde ocorre, como centros de saúde,
instituições de ensino e ambiente domiciliar.
Esperamos dessa forma poder contribuir para as pesquisas que vêm sendo
realizadas na área, pois a análise do que temos feito e como temos feito
pesquisas na atualidade pode instigar aos pesquisadores a busca de novos
problemas ou mesmo formas mais eficientes para investigar velhos problemas.