Análise da implementação da Sistematização da Assistência de Enfermagem,
segundo o Modelo Conceitual de Horta
PESQUISA
Análise da implementação da Sistematização da Assistência de Enfermagem,
segundo o Modelo Conceitual de Horta
Application analysis of Nursing Care Systematization according to Horta's
Conceptual Model
Analisis de la aplicación de la Sistematización de la Atención de Enfermería,
según el Modelo Conceptual de Horta
Sandra Maria Botelho da CunhaI; Alba Lúcia Botura Leite BarrosII
IEnfermeria do Hospital São Camilo - Pompéia. Mestre em Enfermagem.
sanbot@ig.com.br
IIEnfermeira. Livre docente. Docente do Departamento de Enfermagem da
Universidade Federal de São Paulo
1. INTRODUÇÃO
Ao buscar referências sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE)
na literatura, observa-se que existe uma evolução crescente e contínua em
direção a uma assistência integral ao paciente.Todas as teorias elaboradas têm
como objetivo prestar uma assistência sistematizada, planejando, organizando e
registrando as ações realizadas pela enfermeira. Ainda nesta perspectiva,
O método utilizado na prática clínica para sistematizar a assistência de
enfermagem é o processo de enfermagem (PE). Este é um método de tomada de
decisões de forma deliberada que se apóia nos passos do método científico.
No Brasil, o modelo mais conhecido e seguido para a implantação do processo de
enfermagem é o proposto por Horta(1) em 1979, o qual contém as seguintes fases:
a) histórico de enfermagem, b) diagnóstico de enfermagem, c) plano
assistencial, d) prescrição de enfermagem, e) evolução de enfermagem e f)
prognóstico de enfermagem. A sua aplicação na prática clínica, desde então, vem
sofrendo modificações que freqüentemente descaracterizam a sua utilização .
Autores conceituados afirmam que a Sistematização da Assistência de Enfermagem
eleva a qualidade da assistência de enfermagem beneficiando tanto o paciente,
através de um atendimento individua-lizado; assim como a enfermeira, mostrando
a importância do processo de enfermagem. Por esse motivo, a instituição
hospitalar que serviu de campo de estudo para esta pesquisa, elaborou uma
proposta inicial de modelo de cuidados para os pacientes internados, seguindo o
referido modelo coneitual(1).
Como assinala Barros(2) "a literatura de enfermagem revela o empenho das
enfermeiras na organização das ações de enfermagem, mas revela, também, os
conflitos e empecilhos surgidos, os quais vêm sendo poucas vezes vencidos. Um
destes empecilhos foi a não aceitação, por parte de muitas enfermeiras, de que
o método científico pudesse ser utilizado por todas as profissionais. Hoje, é
possível saber que pode-se utilizá-lo sob diferentes formas metodológicas e
embasamentos conceituais, visando a solução de problemas".
O hospital em estudo, após várias tentativas, resgatou a implantação do
processo de enfermagem, método que permite sistematizar os cuidados de forma
mais organizada, adotando o histórico,exame físico, prescrição e evolução de
enfermagem como fases do processo de enfermagem. Até porque, "quando o processo
é possível de ser implantado,apesar de satisfeitos por sabermos estar vencida
uma etapa novas dificuldades advém para mantê-lo e para aprimorar o seu
conteúdo"(3).
Progressivamente, a SAE foi sendo implantada considerando que, desde fevereiro
de 2001, toda a instituição já se encontrava trabalhando com esta metodologia
de forma consolidada.
Desde a implantação da SAE tive a impressão de que estava havendo, por parte
das enfermeiras, um conhecimento apenas parcial sobre como esta metodologia é
utilizada e como as suas fases estão inter-relacionadas. De forma geral,
algumas das etapas do processo foram encontradas incompletas ou tornam-se
ausentes. O histórico de enfermagem apresentou-se com escassez de dados e não
segue protocolos existentes, não relacionando com coerência os problemas
identificados e o estado geral dos pacientes na prescrição e evolução de
enfermagem.
Partindo desta realidade, propus-me a verificar se a SAE implantada atende aos
requisitos do modelo de Horta(1), para obter informações sobre os pacientes
através do histórico de enfermagem, exame físico, evolução e prescrição de
enfermagem, visando, também, verificar se nestas fases estão registradas as
informações desejáveis para a eficácia do processo, a fim de avaliar a
implementação da sistematização e propor soluções que contribuam para a sua
viabilização, com o propósito de aprimorar esta metodologia de trabalho, visto
que o modelo adotado para realizar a SAE demonstra a intenção de aumentar a
qualidade da assistência prestada ao paciente internado e enriquecer a prática
das enfermeiras, elevando o desempenho profissional neste processo.
Levantando as hipóteses de que: a) o processo de enfermagem não está apoiado no
referencial a que se propôs(1), no que diz respeito às suas diferentes fases,
b) que as enfermeiras necessitam de maior preparo para a utilização do processo
de enfermagem nas suas diferentes fases e que possuem conhecimento parcial do
modelo teórico que sustenta a SAE implantada, tivemos como objetivos analisar a
efetiva utilização do modelo teórico que permeia a SAE e anotar a realização
das etapas da mesma.
A dinâmica organizada da sistematização da assistência de enfermagem, através
da seqüência das suas fases que estão inter-relacionadas e inter-
dependentes,baseadas no conhecimento científico da enfermeira, identifica as
necessidades do indivíduo como um todo e, através de uma intervenção,
proporciona os resultados que se esperam dela,pois,"como intervenção
terapêutica,o cuidado é centralizado nas necessidades do paciente que devem ser
atendidas. A ação será de cuidado, se a enfermeira identifica uma necessidade e
sabe o que fazer para atendê-la(4).
O modelo de SAE adotado não prevê impresso para levantamento dos problemas
identificados nos pacientes, devendo estes ser anotados no próprio histórico de
enfermagem durante a coleta de dados. Ainda nesta direção: "a sistematização da
assistência de enfermagem tem deixado de ser um meio ou instrumento de trabalho
para constituir-se no próprio objeto de trabalho do enfermeiro"(5).
2. MÉTODO
Optou-se pela realização de uma pesquisa do tipo retrospectiva, exploratória e
descritiva. O estudo foi desenvolvido num hospital da rede privada, de médio
porte, na cidade de São Paulo.
O presente estudo contou com a autorização da instituição hospitalar para ser
realizado e obteve também a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal de São Paulo.
Os dados foram coletados a partir dos prontuários dos pacientes internados na
instituição onde foi realizada a pesquisa, não sendo necessário o uso de um
termo de consentimento livre e esclarecido.
Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram os próprios
instrumentos/impressos da SAE presentes nos prontuários dos pacientes.
A população considerada no estudo foi constituída pelos prontuários dos
pacientes clínicos e cirúrgicos das unidades de clínica médico-cirúrgica
denominadas "A", "B" e "C", selecionadas por apresentarem características
semelhantes quanto ao número de leitos, número de enfermeiras e condições de
trabalho.
A amostra foi constituída por 94 prontuários contendo o registro sobre a SAE,
assim distribuídos: 40 prontuários de pacientes internados na 11ª unidade, aqui
denominada "A"; 22 prontuários da 8ª unidade A, aqui denominada "B"; e 32
prontuários da 8ª unidade B, aqui denominada "C".
Para o cálculo do tamanho da amostra deste estudo utilizou-se a técnica de
amostragem aleatória estratificada, onde dividiu-se a população em subgrupos. O
sorteio foi aleatório e realizado dentro de cada estrato.
A coleta de dados foi realizada pela pesquisadora no mês de novembro de 2001.
Selecionaram-se no arquivo médico, os prontuários dos pacientes internados no
mês de setembro de 2001 nas unidades "A", "B" e "C".
Foi realizada a análise do referencial teórico dos instrumentos utilizados nas
fases da SAE, verificando-se nos prontuários dos pacientes, o conteúdo dos
instrumentos que a compõe. Esta verificação foi realizada através de
formulário, constituído de tópicos dos instrumentos próprios utilizados na SAE
e nos protocolos da prescrição e evolução de enfermagem, sendo estes os únicos
que tinham sido elaborados pela instituição, até o momento, para verificar se o
processo de realização das fases está sendo executado, assim como para analisar
o inter-relacionamento entre estas fases.
O pré-teste foi realizado em prontuários arquivados, selecionando os da unidade
de clínica médico-cirúrgica do 11º andar da instituição onde foi realizada a
pesquisa.
3. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Confrontando o referencial de Horta(1) com o modelo que foi observado nas fases
da SAE implantadas na instituição em estudo, nota-se que o processo de
enfermagem é utilizado de forma adaptada, uma vez que são referidas as
seguintes fases: histórico, exame físico, prescrição e evolução de enfermagem.
O histórico foi constituído, na sua maior parte, de dados referentes ao modelo
biomédico e epidemiológico de risco e verifica-se que menos de 50% do seu
conteúdo possui o modelo proposto .
O conteúdo do histórico de enfermagem foi constituído pela Educação Continuada
da instituição, adaptando-o à realidade da sua clientela, tendo conscientemente
como exemplo o Modelo conceitual de Horta(1) e inconscientemente foi utilizado
o Modelo Biomédico e Epidemiológico de Risco, sem intenção e nem conhecimento
da existência desses modelos no histórico, não identificando-os no instrumento.
Para a instituição o único modelo existente conhecido é o de Horta(1), tendo
sido elaborada as fases do processo de enfermagem com o pensamento voltado
nesse modelo, mas, não utilizou exclusivamente o modelo escolhido como
referencial teórico.
Os roteiros do histórico e exame físico até o momento não foram elaborados,
existindo os protocolos da evolução e prescrição de enfermagem pouco fiéis ao
ensinamento teórico(1) .
O protocolo da evolução de enfermagem, foi formulado contendo apenas como
orientação a redação que deve ser clara, sucinta, evitando repetição das
observações já anotadas. O restante do roteiro, não se enquadra no modelo
adotado.
O protocolo da prescrição de enfermagem, já apresenta um maior número de
orientações conforme o referencial teórico escolhido, devido a orientação de
realização em impresso próprio, sendo cada dia em uma folha e ter numeração
seqüencial, deixar claro o grau de dependência do paciente utilizando FAOSE
(fazer, ajudar, orientar, supervisionar e encaminhar), deve ser redigida na
forma de objetivo operacional, o verbo deve iniciar a frase sempre no
infinitivo, deve ser checada quando realizada e feita anotação de observação
referente ao cuidado prestado.
O modelo(1) considerado como exclusivo no processo de enfermagem da
instituição, apresenta-se parcialmente adaptado nas orientações do referencial
teórico. Obtendo o conhecimento sobre os modelos teóricos, facilitaria a
compreensão e a utilização das informações que são registradas diariamente,
para que organize a assistência de enfermagem com fundamentação científica e
raciocínio clínico em busca da resolução dos problemas dos pacientes chegando
ao julgamento clínico das ações de enfermagem.
A instituição hospitalar apresentou um modelo eclético que foi adaptado à sua
clientela, portanto, as enfermeiras precisam entender os modelos teóricos e o
seu conteúdo para que possam guiar as suas ações, já que a teoria
interpreta,explica e elucida o conhecimento. Como comenta Farias(6), "seria
amadorismo acreditar que é fácil implementar um processo de sistematização
seguindo um modelo teórico num serviço de enfermagem; as dificuldades são
grandes e são superadas somente com um trabalho constante e árduo".
3.1 Análise das fases da SAE
A falta de correlação entre as fases constitui uma barreira à utilização do
processo de enfermagem, levando a uma redução de valorização da SAE.
Transcrevemos uma prescrição e evolução, como exemplo:
Prescrição
1 ) Anotar e Comunicar nível de consciência.
2 ) Realizar higiene bucal com cepacol.
3 ) Realizar banho no leito.
4 ) Realizar mudança de decúbito.
5 ) Anotar débito urinário e aspecto.
6 ) Observar e anotar evacuação.
7 ) Efetuar cuidados com traqueostomia e nebulização.
8 ) Passar hipogloss em região perianal a cada troca de fralda.
9 ) Passar dersani em toda extensão corpórea.
Evolução
Consciente, eupnéico, traqueostomizado com nebulização contínua, mantém SNE,
mantém quadro neurológico.
A prescrição de enfermagem apresenta-se em descompasso com a evolução, já que a
prescrição não foi justificada pelas informações constantes na evolução.
A prescrição de enfermagem evidencia um plano de cuidados sem fundamento quando
o processo apresenta inexistência de outras fases que sustentem sua elaboração;
assim não conduz a uma assistência eficaz. Deve ser elaborada a partir do
histórico e da avaliação do quadro clínico.
Explica-se essa desarmonia de interação entre a prescrição e evolução por não
estar claro que essas duas fases devem ser interdependentes e complementares,
que devem registrar diariamente as ações e descrever o resultado dessas ações,
bem como o estado em que se encontra o paciente durante as 24 horas.
Notamos que as prescrições consistem, na maioria das vezes, em rotinas já pré-
estabelecidas, sendo prescritas praticamente as mesmas ações para todos os
pacientes, faltando raciocínio e julgamento clínico para atuar com eficiência e
individualidade. Para ser assim, não haveria sentido em sistematizar a
assistência, já que o conhecimento científico não é utilizado, faltou
correlacionar os fatos, falta fundamentação teórica e científica.
Uma classificação da intervenção de enfermagem possibilitaria melhor
organização no trabalho, trazendo compreensão para toda a equipe de enfermagem
e facilitando o entendimento tanto das ações realizadas como dos resultados
alcançados, diminuindo ainda as idéias errôneas no registro de enfermagem.
3.2 Implementação da SAE no hospital em estudo
O tempo de internação dos pacientes nos prontuários pesquisados variou na
unidade "A" de 1 à 7 dias, unidade "B" de 1 à 10 dias e unidade "C" de 1 à 5
dias. Os cálculos dos dados foram feitos com base no primeiro dia de internação
do paciente na unidade até o dia de saída por alta hospitalar.
Com relação ao perfil das fases da SAE estudadas, verificou-se que dos 40
prontuários da unidade "A" todas as fases implantadas (100%) do histórico,
exame físico, prescrição e evolução, foram realizadas durante todo o período de
internação dos pacientes. O total das prescrições e evoluções foram referentes
aos dias de internação dos pacientes.
Apenas na unidade "A" a SAE foi realizada metodologicamente correta, com a
presença de todas as fases nos 40 prontuários estudados, mostrando que o que
falta é interesse, pois, é possível fazer. A unidade "B" e "C" revelaram falhas
na continuidade do cuidado, faltando a interdependência das fases do PE, devido
a ausência em alguns prontuários de uma ou mais fases, não seguindo os padrões
estabelecidos por Horta(1).
Na unidade "B", 3 (13,6%) dos 19 (86,4%) prontuários apresentaram ausência do
histórico e do exame físico.
Sendo a 1ª fase da SAE é de extrema importância o histórico e o exame físico,
para que seja viável realizar as seguintes fases do processo de enfermagem, já
que estas são inter-relacionadas e interdependentes. Senão em que a enfermeira
buscará suporte para desenvolver uma metodologia de trabalho individualizada e
eficaz durante o período de internação dos pacientes?
Esses 3 (13,6%) prontuários da unidade "B" sem o histórico e exame físico foram
arquivados incompletos, devido as ações prescritas e evoluídas não terem
apuradas as fases que as precedem, ou seja, histórico, exame físico e
diagnóstico, tornando difícil uma avaliação das fases executadas.
Entre as 87 (100%) prescrições e evoluções analisadas da unidade "B", 1 (1,1%)
deixou de ser realizada e 2 (2,3%) evoluções estavam ausentes.
Com a ausência de prescrição e evolução de enfermagem deixamos de saber como o
paciente está se recuperando, pois, não há informação do seu estado de saúde
físico e mental, passando como desapercebido na unidade, entregue
exclusivamente ao cuidado médico.
Em 2 (9,1%) prontuários da unidade "B", 1 (4,5%) apresentou prescrição não
acompanhada de evolução no 4º dia dos 5 dias de internação do paciente e o
outro prontuário sem prescrição e evolução no 1º dia de 3 dias de internação.
O inter-relacionamento das fases não aconteceu, com isso pode-se questionar
como foi possível prescrever sem evoluir a situação atual do paciente, já que
as ações prescritas foram baseadas em "supostos problemas" que não foram
registrados. Além disso, em um dos dias de internação o paciente não foi
prescrito e nem evoluído, passando esse dia sem registro do cuidado de
enfermagem que foi prestado e o seu resultado junto ao paciente.
Para Vigo(7)"as anotações de enfermagem, como forma de documentação e expressão
do cuidado são de grande importância, uma vez que somente através delas é que
alcançaremos segurança e eficiência para o desenvolvimento do processo de
enfermagem, e sendo assim, devemos implementar o uso contínuo das mesmas".
Nos 32 prontuários analisados da unidade "C", 4 (12,5%) não apresentaram o
histórico de enfermagem e 2 (6,3%) não apresentaram exame físico, desses 4
prontuários 2 (6,3%) não apresentaram nem histórico e nem exame físico e os
outros 2 (6,3%) prontuários com histórico, mas, sem o exame físico; mostrando
uma coleta de dados de ausente à incompleta, não subsidiando o plano de
cuidados.
Na unidade "C" ocorreu a maior porcentagem de não realização da 1ª fase do
processo de enfermagem, sendo entendido como um descrédito sobre a coleta de
dados ou por não ter conseguido compreender o que é o processo de enfermagem e
sua importância para a profissão e para o paciente.
Uma (0,93%) prescrição e evolução em dias diferentes não foram realizadas do
total de 107 (100%) analisadas na unidade "C". Percebe-se que quando uma das
fases deixa de ser feita nenhuma enfermeira procura terminar a fase pendente
para que o processo de enfermagem se cumpra coerentemente, oferecendo uma
assistência de enfermagem descontinua.
A função mais importante da enfermeira é planejar a assistência e para isso é
necessário levantar informações, problemas, executar ações e avaliar os
resultados para assegurar a continuidade do cuidado.
Em relação à distribuição percentual total dos itens preenchidos nas etapas do
histórico de enfermagem dos 94 prontuários, foram analisados 87 (100%)
históricos de enfermagem devido a ausência de 7 (7,4%). Deixaram de ser
realizados na admissão do paciente 5 (5,7%) históricos.
Horta(1), diz que o histórico deverá ser feito na admissão, isto é, no primeiro
contato com o paciente.
O histórico de enfermagem nas três unidades estudadas apresentou 100% de
preenchimento referente ao registro do nome do paciente, número do registro do
paciente, quarto, sexo, procedência, alergias e assinatura das enfermeiras.
Possuem como informações menos registradas os antecedentes familiares de
patologias (59,8%); moléstias infecciosas (56,3%); hábitos / vícios (65,5%) e
exames que trouxe de casa (40,2%).
É curioso que os itens do histórico mais preenchidos, com exceção das alergias,
são itens que não necessitam contato com o paciente para preencher apresentando
estes alto índice de conteúdo e os itens de maior valor onde as enfermeiras
devem ter habilidade e prática para obter informações relevantes para o
planejamento da assistência foram os menos preenchidos. Talvez isso ocorra
devido a necessidade da enfermeira ter que gastar um tempo maior na entrevista
não conseguindo administrar todas as suas atribuições durante o seu turno de
trabalho torna-se mais fácil pincelar os históricos incompletos, por não ser
considerado prioritário como uma ferramenta de trabalho indispensável na SAE.
Os históricos de enfermagem deixaram a desejar no seu conteúdo, não se
apresentaram uniformes, já que a grande maioria das etapas não apresentou total
preenchimento, faltando muitos dados, necessitando das enfermeiras uma maior
valorização sobre a coleta de dados, pois esta 1ª fase é que vai direcionar as
outras fases do processo de enfermagem em busca da satisfação do paciente e
família através do cuidado de enfermagem individualizado direcionado pelos
problemas que devem ser identificados.
Esses resultados são decorrentes do despreparo das enfermeiras e falta de visão
holística sobre o paciente para que percebam o quanto é imprescindível não
deixar nenhuma etapa sem preencher, pois, os dados obtidos servirão não só para
a continuidade do processo de enfermagem eficaz, mas também para que outros
profissionais possam consultar e utilizar o registro com segurança e
confiabilidade.
Em relação à distribuição percentual total dos itens preenchidos nas etapas do
exame físico dos 94 prontuários, foram analisados 89 (100%) exames físicos,
devido a ausência de 5 (5,6%) destes nos prontuários. Estudando a realização
dos exames físicos nas 3 unidades verificou-se que nas anotações não houve
nenhum item preenchido 100% em todos os prontuários. As etapas que obtiveram
maior porcentagem de preenchimento foram: nível de consciência (96,6%);
realização na admissão do paciente (94,4%); respiração (94,4%); tipos de
respiração (89,9%); cardiovascular / pulso (89,9%); data da realização (91%) e
assinatura da enfermeira (94,4%). Já os itens com menos de 50% de preenchimento
foram: pressão arterial, pulso e temperatura com (46,1%); eliminação intestinal
(36%); próteses (43,8%); sondas (27%); drenos (19,1%) e localização dos drenos
(20,2%).
Estas etapas menos anotadas são importantes tanto nos históricos quanto nos
exames físicos, não podendo deixar de serem preenchidas e nem deixar lacunas no
instrumento, pois pode levar a crer que o paciente não foi visto e observado
como um todo. Notou-se que estes não ofereceram uma fonte de dados útil por
apresentar informações insuficientes e não oferecer suporte para a execução do
processo de enfermagem.
O exame físico mal realizado não satisfaz as necessidades dos pacientes durante
o cuidado de enfermagem, já que as enfermeiras não utilizam fontes de
informações seguras e fidedignas com o quadro do paciente. Verificou-se que
cinco exames físicos nos 94 prontuários analisados não foram feitos e, mesmo
assim, realizou-se a prescrição e evolução dos pacientes. O instrumento deve se
apresentar completo, visando a identificação e resolução de problemas e não
demonstrar, através dos dados apresentados, que esta fase é uma rotina que
precisa ser cumprida.
Assim, "os fatores que dificultam a implementação da sistematização da
assistência de enfermagem são: despreparo do pessoal, falta de interesse, falta
de tempo, quantidade de pessoal, falta de material e/ou equipamento, falta de
vontade por parte das chefias e da instituição. Os fatores que a favorecem são:
interesse da equipe, determinação da chefia, preparo da equipe, disponibilidade
de materiais e adequação do modelo teórico"(8).
O raciocínio clínico e criativo está embutido na prática de enfermagem. O
julgamento deve resultar da existência do raciocínio da situação, alterando
decisões sobre as ações de enfermagem.
Referente as alterações realizadas nas evoluções de enfermagem quando refeitas,
entre os 94 prontuários 15 (16% ) não apresentaram evolução e prescrição de
enfermagem refeitas durante o período de internação dos pacientes, conservando
estas fases por 24 horas sem alterações.
O total de evoluções refeitas na unidade "A" ocorreram 24 (14,7%) vezes, na
unidade "B" 10 (11,8%) e na unidade "C" 21 vezes (19,8%).
A unidade "A" se destacou no número de evoluções que foram refeitas e na
presença de horário nas suas alterações. A unidade "B" não apresentou liderança
em nenhuma das alterações verificadas e a unidade "C" mostrou um maior número
de evoluções refeitas precedidas de prescrição de enfermagem em relação as
outras unidades.
Na prática as enfermeiras não usam o processo de enfermagem explicitamente
porque não tomam decisões com raciocínio clínico. Não reorganizam as sugestões
e análise dos dados diante de situações clínicas específicas. As enfermeiras
não estão se preocupando com a qualidade dos registros referente à precisão do
planejamento do cuidado, apesar de serem líderes da equipe de enfermagem e
responsáveis pela assistência ao paciente.
As unidades "A" e a "B" apresentaram ausência de evolução de alta em todos os
seus prontuários analisados. Somente uma (0,94%) evolução de alta foi
encontrada entre as 106 (100%) evoluções de enfermagem analisadas da unidade
"C".
A última evolução de enfermagem nos prontuários estudados não apresentou
nenhuma informação que direcionava as condições em que o paciente saiu do
hospital e / ou as orientações que receberam. Entendo que essa ausência se deve
ao não conhecimento das informações que deve apresentar uma evolução de alta.
As evoluções de alta por não serem realizadas reforçam o fato de que as
enfermeiras não utilizam o processo de enfermagem completamente, pois falta
maior conhecimento e compreensão teórica para executá-lo, sem apresentar tantas
falhas e incoerências que tornem a assistência ineficaz no cuidado ao paciente.
Compete à enfermagem prestar assistência ao paciente e família dando
continuidade do tratamento em seu domicilio.
4. CONCLUSÃO
O modelo utilizado para a Sistematização da Assistência de Enfermagem é
eclético não obedecendo, portanto, apenas o referencial teórico proposto. Os
dados não foram coletados em sua totalidade nas várias fases do processo de
enfermagem, não existindo uma correlação das fases na maioria dos prontuários
analisados. As fases diagnóstica e planejamento não contemplam o processo de
enfermagem do modelo proposto por Horta(1).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de implementação do processo de enfermagem na instituição estudada
apresenta-se carente do acompanhamento de uma equipe direcionada na SAE com a
finalidade de corrigir, orientar e supervisionar a realização das suas fases, a
fim de desenvolver o raciocínio lógico, crítico e coerente.
Entendemos ser necessário continuar investindo no aperfeiçoamento das anotações
das enfermeiras, tendo em vista um novo treinamento teórico e prático para
esclarecer as dúvidas sobre o processo de enfermagem, explicar o modelo teórico
que sustenta as fases da SAE e a relação que existe entre estas, visando o
registro escrito do cuidado prestado em busca da qualidade da assistência de
enfermagem apresentando-a com coerência, completa e seqüencial, para que seja
direcionada uma ação benéfica no tratamento do paciente.
Com os sistemas de classificação na enfermagem descrevemos a prática da
enfermeira, utilizando uma linguagem compartilhada, promovendo a sua autonomia
ao planejar suas ações para o cuidado ao paciente, assim difere,a atuação da
enfermeira dos demais profissionais da equipe da saúde(9).