O ensino do brinquedo/brinquedo terapêutico nos cursos de graduação em
enfermagem no Estado de São Paulo
PESQUISA
O ensino do brinquedo/brinquedo terapêutico nos cursos de graduação em
enfermagem no Estado de São Paulo
The teaching of play/therapeutic play in nursing schools in São Paulo State
La enseñanza del juguete/juguete terapéutico en las escuelas de enfermería en
el Estado de São Paulo
Sílvia Maira Pereira CintraI; Conceição Vieira da SilvaII; Circéia Amália
RibeiroIII
IProfessor Colaborador Assistente I da Disciplina Enfermagem Pediátrica da
Universidade de Taubaté, SP. Membro do Grupo de Estudos do Brinquedo, do Núcleo
de Estudos da Criança e do Adolescente da UNIFESP
IIProfessor Adjunto da Disciplina Enfermagem Pediátrica do Departamento de
Enfermagem da UNIFESP, São Paulo, SP. Presidente da Sociedade Brasileira de
Enfermeiros Pediatras (SOBEP)
IIIProfessor Adjunto da Disciplina Enfermagem Pediátrica do Departamento de
Enfermagem da UNIFESP, São Paulo, SP. Coordenadora do Grupo de Estudos do
Brinquedo, do Núcleo de Estudos da Criança e do Adolescente da UNIFESP. Vice
Presidente da Sociedade Brasileira de Enfermeiros Pediatras (SOBEP)
1. INTRODUÇÃO
A criança e o brinquedo/brinquedo terapêutico
A prestação da assistência de enfermagem à criança, independente do contexto em
que esteja ocorrendo, é algo abrangente. Além da execução adequada da técnica
ou do domínio dos conhecimentos relacionados a determinada patologia, exige que
a criança e sua família sejam contempladas como um todo: atender suas
necessidades emocionais, estabelecer vínculos com ela e a família, saber
compreendê-la, conforme a fase de desenvolvimento em que se encontra e,
especialmente, quando vivencia um processo de doença.
Como recurso facilitador da intervenção de enfermagem, temos o brinquedo. Pela
Declaração dos Direitos da Criança das Nações Unidas, a necessidade de brincar
é vista como essencial à criança(1). O Estatuto da Criança e do Adolescente,
reafirma a importância do brincar; no Artigo 16, item IV "brincar, praticar
esportes e divertir-se"(2).
Brincar é importante à criança, e a equipe profissional deve reconhecer essa
necessidade, propiciar meios para sua realização e incorporá-la de forma
sistemática na assistência diária. Como afirma D'Antonio, "a enfermeira é um
orquestrador que facilita a brincadeira da criança"(3).
Se esta necessidade não for suprida, poderá ocasionar distúrbios
comportamentais, como: alterações no sono, irritabilidade excessiva,
agressividade, falta de adequação social e o não favorecimento de
desenvolvimento e crescimento saudáveis da criança(4,5).
A brincadeira pode ser classificada em dois tipos: a recreacional, atividade
não estruturada, na qual a participação da criança é espontânea, a fim de obter
prazer, promover a interação entre crianças, e terapêutica, atividade
estruturada, conduzida por profissionais que conhecem sua técnica de aplicação
e visa a promover o bem-estar físico e emocional da criança que vivencia uma
situação incomum à sua idade(6,7).
Dentre as brincadeiras terapêuticas, encontramos a ludoterapia e o brinquedo
terapêutico, este se fundamenta na função catártica do brinquedo e aplica
princípios de ludoterapia(8). Cabe descrever a diferença entre essas duas
modalidades de intervenção.
Ludoterapia: é uma técnica psiquiátrica, utilizada para tratamento de crianças
com algum distúrbio psicológico, sua meta é facilitar a compreensão dos
comportamentos e sentimentos pela própria criança. Deve ser conduzida por um
psiquiatra, psicólogo ou enfermeiro especializado em um local preparado para
esse fim(9-10).
Brinquedo Terapêutico:é um brinquedo estruturado que possibilita à criança
aliviar a ansiedade gerada por experiências atípicas para sua idade que
costumam ser ameaçadoras e requerem mais do que recreação, para que sejam
resolvidas(11).Não exige local específico para sua aplicação. As sessões de
brinquedo terapêutico são de 15 a 45 minutos, podem ser feitas diariamente ou
apenas uma vez e seu principal objetivo é favorecer ao profissional a
compreensão das necessidades da criança(9).
De acordo com sua finalidade e a intenção de seu uso, o brinquedo terapêutico
pode ser classificado em três tipos:
Brinquedo Terapêutico Dramático: sua finalidade é permitir à criança
exteriorizar as experiências que tem dificuldade de verbalizar, a fim de
aliviar tensão, expressar sentimentos, necessidades e medos(6,10,12).
Brinquedo Terapêutico Instrucional: indicado para preparar e informar a criança
dos procedimentos terapêuticos a que deverá se submeter, com a finalidade de se
envolver na situação e facilitar sua compreensão a respeito do procedimento a
ser realizado(6).
Brinquedo Terapêutico Capacitador de Funções Fisiológicas: utilizado para
capacitar a criança para o autocuidado, de acordo com o seu desenvolvimento,
condições físicas e prepará-la para aceitar a sua nova condição de vida(6).
Na sessão do brinquedo terapêutico, além dos materiais específicos referentes
ao procedimento a ser realizado na criança, deve-se assegurar-lhe, um ambiente
aconchegante e seguro, pois é essencial que durante a sessão de brinquedo
terapêutico, ela perceba a presença de um adulto aceitador que a encoraje a
expressar seus sentimentos(13).
O ensino do Brinquedo/Brinquedo Terapêutico na enfermagem
O ensino de graduação em enfermagem considera os pressupostos da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN), Lei n.º 9.394/96(14); assim
como as Diretrizes Curriculares Nacionais, para que o futuro profissional tenha
uma formação generalista e, enfrente o mercado de trabalho.
Os projetos pedagógicos, apoiados nas Diretrizes Curriculares Nacionais dos
Cursos de Graduação em Enfermagem(15) devem se fundamentar em princípios
educacionais que garantam a flexibilidade dos currículos, a consideração dos
estudantes, como sujeitos do processo ensino-aprendizagem e dos professores,
como facilitadores do processo.
Assim, devem contemplar também a articulação teoria e prática, a pesquisa
integrada ao ensino e à extensão, o uso de metodologias ativas no processo
ensino e ou aprendizagem, a diversificação dos cenários de aprendizagem, a
elaboração de currículos fundamentados no humanismo, a avaliação formativa, a
educação orientada aos problemas relevantes da sociedade e a terminalidade dos
cursos(16).
Entre as novas tendências filosóficas do cuidado à criança, destaca-se a
prestação da assistência atraumática que pressupõe intervenções voltadas a
eliminar ou minimizar os desconfortos físicos e psicológicos experimentados
pelas crianças e seus familiares, seja na realização de um procedimento ou
quando vivenciam a internação hospitalar(17). Como recurso para esta
assistência de enfermagem efetiva e atraumática destaca-se o emprego do
brinquedo/brinquedo terapêutico.
No Brasil, o ensino do brinquedo, como recurso de intervenção na assistência de
enfermagem à criança, iniciou-se no final da década de 1960, com a Profa. Dra.
Esther Moraes, na época, docente na Disciplina Enfermagem Pediátrica da Escola
de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP)(8).
Em entrevista com a Profa. Dra. Esther Moraes, para melhor conhecer a situação,
ela afirmou ser o brinquedo dramático uma forma de interação entre pessoas e
começou a utilizá-lo na assistência à criança, intuitivamente, durante a
observação de situações traumatizantes à criança(18).
A partir de então, constatou menor sofrimento e maior cooperação quanto ao
tratamento, quando a criança tinha a oportunidade de repetir os procedimentos
em bonecas ou conversar com as mesmas. Verificou que o brincar amenizava o
sofrimento ocasionado pela separação de seus pais na hospitalização. Percebeu
que, por meio dessa assistência, havia maior aproximação entre o adulto e o
pequeno paciente, tornando, assim, o cuidado individualizado.
Quanto à facilidade ou dificuldade no emprego do brinquedo pelos alunos, a
Prof.ª Dra. Esther refere que dependia da prontidão dos estudantes; isto é, sua
capacidade de envolvimento e entrega a algo novo e desconhecido. Relata que
aqueles que estavam "amarrados" em si mesmos, não conseguiam se beneficiar das
propriedades que o emprego do brinquedo poderia proporcionar a seu processo de
aprendizagem.
Na entrevista, a professora fez sugestões para trabalhar com o brinquedo no
ensino, que consideramos princípios norteadores para nossas ações, como
docentes de Enfermagem Pediátrica: tratar o estudante como pessoa; dar
fundamentação sobre a estrutura da personalidade; expor a conceituação
filosófica de Carl Rogers a respeito da natureza humana; apresentar aos alunos
bibliografias, por vezes, com imagem e som, de experiências com emprego do
brinquedo dramático; preparar os estudantes para o relacionamento terapêutico e
condutas da comunicação dirigida e não dirigida; considerar as medidas de
controle de infecção, sem prejudicar a manipulação dos brinquedos pelas
crianças; criar ambiente privativo para o pequeno paciente vivenciar seu
brinquedo dramático.
Hoje, a abordagem desta temática no ensino de graduação em enfermagem é
recomendada pelos órgãos profissionais: o Conselho Federal de Enfermagem
(COFEN), pela Resolução N.º 295/2004 e o Conselho Regional de Enfermagem -SP
(COREN-SP), pela PRCI N.º 5.1669, a fim de assegurar ao profissional
enfermeiro, em sua prática, o emprego da técnica do brinquedo/brinquedo
terapêutico na assistência à criança e sua família(19,20).
2. OBJETIVOS
Caracterizar o ensino do brinquedo/brinquedo terapêutico e analisar as
facilidades e dificuldades de seu desenvolvimento nos cursos de Graduação em
Enfermagem do Estado de São Paulo.
3. MÉTODO
O estudo é uma pesquisa quantitativa descritiva. A população compôs-se pelos
docentes da disciplina Enfermagem Pediátrica que ministram aulas nos cursos de
Graduação em Enfermagem no Estado de São Paulo.
Como critério de seleção definiu-se que participariam da amostra os cursos de
Graduação em Enfermagem com sua data de início de funcionamento até o ano de
2000, já tendo formado sua primeira turma em 2004.
Assim, totalizaram-se 49 instituições e 141 docentes, dos quais, 40
instituições e 76 docentes responderam aos questionários. Este se compôs de
questões estruturadas, semi-estruturadas e abertas, contemplando as variáveis
do estudo: perfil docente, caracterização da instituição e da disciplina
Enfermagem Pediátrica em relação ao brinquedo/brinquedo terapêutico, e sua
experiência pessoal do docente no ensino da temática.
A coleta de dados verificou-se de 1 de junho a 21 de setembro de 2004. Antes de
ser iniciada, o projeto do estudo obteve a aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo, sob o CEP N.º 1497/03.
A análise dos dados quantitativos será apresenta em valores porcentuais e aos
dados qualitativos, as premissas da análise de conteúdo de Bardin(21).
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Caracterização da disciplina Enfermagem Pediátrica
A disciplina Enfermagem Pediátrica é ministrada na 3ª série do curso, em 75,0%
das instituições, e os docentes que a lecionam, têm experiência mínima de um e
máxima de 32 anos; mas a maioria, (53,3%) leciona entre um e dez anos a
disciplina.
Ao analisar a relação entre tempo que o docente leciona na disciplina
Enfermagem Pediátrica e o tempo que o brinquedo/brinquedo terapêutico é
abordado na instituição onde atua, constatou-se que os docentes que lecionam na
disciplina Enfermagem Pediátrica no período de um a 15 anos, abordam o tema
brinquedo/brinquedo terapêutico no ensino entre oito e dez anos. Ao passo que
os docentes que lecionam na disciplina, há mais de 15 anos, abordam a temática
no ensino, há menos tempo, sendo esta média menor que cinco anos.
Isto pode estar relacionado ao fato dos docentes mais novos já terem tido a
abordagem dessa temática em sua formação, tanto na graduação como na pós-
graduação, visto que o incremento do ensino e da pesquisa a respeito da
temática em nosso País deu-se a partir da década de 1980.
A abordagem do tema brinquedo/brinquedo terapêutico no conteúdo programático da
disciplina Enfermagem Pediátrica, em 38 instituições, ocorre tanto no ensino
teórico como no prático. A maioria dos docentes (69,1%) aborda a temática e a
ensina, tanto na teoria como na prática, 21,8% abordam na prática e 9,1% na
teoria. O fato de só 9,1% abordarem na teoria, leva-nos ao seguinte
questionamento: será que os alunos desses docentes estão vivenciando o ensino
dessa prática com outro professor? Como será a integração entre os docentes da
teoria e prática, para que o ensino do brinquedo/brinquedo terapêutico seja
efetivo? Será que só a abordagem na teoria é capaz de promover que o aluno
sedimente e valorize a utilização desse recurso na prática, de forma a utilizá-
lo na vida profissional futura?
Os docentes abordam a temática no conteúdo programático da disciplina pelo fato
de se sentirem motivados a utilizar esse recurso, pelo reconhecimento de sua
importância, como instrumento da assistência à criança; meio que propicia a
expressão dos sentimentos, a comunicação, a liberação de estresse, a interação
criança-família-profissional e minimiza o impacto da hospitalização, sendo
fundamental no crescimento e desenvolvimento infantis, conforme pode ser
verificado nos relatos de alguns docentes:
Consideramos importante o uso do brinquedo, pois, sabe-se que através
dele, a criança pode enfrentar o processo de hospitalização de uma
forma mais tranqüila e menos traumática.(27)
Acredito nesta prática na mediação entre o profissional, o cliente e
a família, durante principalmente as técnicas evasivas e dolorosas.
(41)
Esta visão dos docentes corrobora com os achados da literatura que consideram a
importância do uso do brinquedo terapêutico pelo enfermeiro para identificar
distintos aspectos e fatores que devem influenciar o desenvolvimento da
criança, para assim, prestar uma assistência mais humanizada(8,22).
Caracterização do ensino teórico e prático do brinquedo/brinquedo terapêutico
Em relação aos objetivos, para o desenvolvimento do conteúdo programático da
disciplina Enfermagem Pediátrica relacionados à temática, estes, foram
agrupados conforme o sujeito da ação pedagógica: criança; criança e família;
criança, família e equipe; relação interpessoal; estudante de enfermagem e
brinquedo/brinquedo terapêutico.
A carga horária teórica destinada ao ensino da temática, varia de uma a 20
horas.
Este achado levou-nos a refletir sobre a adequação dessa carga horária, em
especial, quando existe apenas uma hora/aula para discutir o referencial
teórico e a metodologia de sua utilização, o que conforme nossa experiência é
pequena para se motivar o aluno quanto à sua importância na assistência à
criança.
Em relação a como o docente fez para introduzir a temática no conteúdo
programático da referida disciplina, os docentes relatam que foram
impulsionados pela filosofia norteadora da assistência, ou seja, não conceber
lidar com a criança sem considerar as brincadeiras; pela importância da
temática para a formação do futuro enfermeiro; por considerar o tema como um
instrumento facilitador para a abordagem das temáticas: desenvolvimento
infantil, preparo da criança para procedimentos intrusivos e exame físico,
conforme mostram os relatos de alguns docentes:
Sempre fez parte de minha concepção enquanto docente de pediatria e
não consigo ver crianças longe de brincadeiras. (39)
Comecei a usar o brinquedo na consulta de enfermagem para avaliar o
desenvolvimento da criança, depois usamos a música para distrair a
criança durante procedimentos desagradáveis, o exame físico. Hoje,
usamos "bolinha de sabão" é mágico. Experimente! (1)
Os comentários dos docentes em relação à abordagem da temática no conteúdo da
disciplina apresentam vários atributos que reafirmam a importância do emprego
do brinquedo/brinquedo terapêutico na assistência à criança e com sugestões de
como realizá-lo, confirmando que o uso do brinquedo exerce um papel importante
na assistência à criança, como aparece ressaltado nos vários trabalhos
anteriormente citados.
Quanto ao número de alunos por turma em aula teórica, este varia de oito a 100.
Consideramos que número muito grande de alunos por turma pode dificultar o
emprego de técnicas de ensino-aprendizagem mais lúdicas e a discussão da
temática, assim como tratar o aluno de forma mais individualizada, conforme
sugere a Prof.ª Dra. Esther em sua entrevista(18).
A metodologia utilizada para abordar o conteúdo relacionado ao brinquedo/
brinquedo terapêutico na teoria, em 49,9% das instituições foi a aula
expositiva e participativa. Outras metodologias também foram citadas como o
estudo dirigido (23,7%), aula expositiva e seminário (23,7%) e, em menor
proporção, a dramatização (2,7%). Acreditamos que a associação de estratégias
que o docente utiliza para desenvolver o conteúdo programático relacionado ao
brinquedo/brinquedo terapêutico possa favorecer o processo de ensino-
aprendizagem. Isto é confirmado em um estudo recente sobre o emprego do
brinquedo na assistência à criança, no qual os alunos de graduação apresentam
sugestões para melhorar o processo ensino-aprendizagem na graduação, como "a
utilização de dinâmicas para sensibilizar o acadêmico, envolvimento da equipe
de enfermagem e maior articulação entre teoria e prática, pelo acadêmico e
professor"(23).
Em relação às formas de avaliação do aluno no ensino teórico da temática, em
47% das instituições pesquisadas, o instrumento usado nesta avaliação é a prova
escrita, seguida de estudo de caso, seminário e confecção de brinquedo
associado a seminário.
A bibliografia básica utilizada na disciplina Enfermagem Pediátrica para
desenvolver o ensino da temática em estudo, foi variada, compreendendo:
artigos, livros, capítulos de livros, CD-ROM, dissertações e teses que enfocam,
tanto o aspecto do ensino como da assistência à criança, com a utilização do
brinquedo/brinquedo terapêutico. O achado demonstra que os docentes têm buscado
não só se inovar, como também indicar referências atualizadas aos alunos.
Quanto à carga horária destinada ao ensino prático da utilização do brinquedo/
brinquedo terapêutico na assistência à criança, 63,8% das instituições,
referiram não ter uma carga horária prática específica. Este achado nos levou a
questionar se todos os alunos estão realmente vivenciando esse recurso na
prática. No caso de vivenciarem essa prática, poderá não estar havendo um
planejamento pedagógico da mesma, no sentido de garantir que eles vivenciem sua
aplicação no contexto assistencial.
Para o desenvolvimento do conteúdo programático relacionado ao brinquedo/
brinquedo terapêutico na prática, em 71,0% das instituições, os alunos realizam
a atividade prática recreativa com a criança que compreende o emprego do
brinquedo recreacional na assistência. O brinquedo terapêutico propriamente
dito é praticado em apenas 14,5% das instituições.
Este dado nos mostra que a aplicação do brinquedo terapêutico não é realizada
por todos os alunos durante a atividade prática de ensino na graduação.
O campo de prática onde o aluno tem oportunidade de utilizar o brinquedo/
brinquedo terapêutico na assistência à criança, em 50,0% instituições é
desenvolvido, tanto na área hospitalar como na área não hospitalar, em 30,5% só
na área hospitalar e 19,5% na área não hospitalar.
Quanto às situações em que o aluno é orientado a utilizar o brinquedo/brinquedo
terapêutico, foram referidas: o preparo da criança para procedimentos; a
necessidade de estabelecer comunicação, interação entre a criança e família; no
diagnóstico, prescrição e consulta de enfermagem e realização de atividades de
educação em saúde, conforme os relatos de alguns docentes:
Para realizar orientações sobre cuidados com a saúde para crianças;
antes e depois da realização dos procedimentos técnicos de
enfermagem, para iniciar o exame físico, quando a criança apresenta-
se chorosa, e ansiosa. (3)
Sempre em todas prescrições de enfermagem é enfocado este item. Os
alunos próprios buscam brinquedos, na maioria das vezes, se busca a
estimulação.(27)
Os achados demonstram que o emprego do brinquedo/brinquedo terapêutico pelos
alunos tem sido estimulado como instrumento que favorece a prestação de uma
assistência integral e humanizada. Esta técnica pode ser usada em várias
situações na assistência à criança; muitas vezes, cabe ao docente orientar o
aluno para o momento oportuno de seu uso, de forma que possa vivenciá-la,
sensibilizar-se e incorporar o brinquedo em sua assistência.
Para a avaliação do brinquedo/brinquedo terapêutico no ensino prático, 52,5%
dos docentes relataram que empregam a observação do aluno no desempenho de suas
atividades diárias, só 16,0% avaliam o aluno, quanto ao emprego da técnica do
brinquedo terapêutico no contexto da assistência à criança.
Quanto à percepção do docente em relação à receptividade dos alunos ao
abordarem o tema brinquedo/brinquedo terapêutico na prática, verifica-se que as
informações denotam receptividade e resistência dos alunos para seu emprego,
conforme os relatos de alguns docentes:
Inicialmente, não muito boa, há muita resistência, mas a hora que
percebem o resultado, que melhora a interação, eles acabam utilizando
mesmo sem o professor incentivá-los. (3)
Boa, ajuda também na criatividade e aproximação da criança. Favorece
o relacionamento do aluno quanto a estabelecer vínculo.(32)
Desse modo, é possível observar que a receptividade dos alunos em relação ao
emprego do brinquedo/brinquedo terapêutico é individual. Em vista da situação,
é preciso que os docentes lancem mão de recursos que sensibilizem os alunos a
empregar esta abordagem no ensino prático, pois só após conseguir aplicar a
teoria na prática do cuidado, o aluno poderá reconhecer sua real importância no
sentido de utilizá-lo no exercício profissional futuro.
No que se refere às facilidades dos docentes para implementação do brinquedo/
brinquedo terapêutico no ensino, nos relatos encontram-se respostas que indicam
a valorização desse recurso, como facilitador da assistência à criança; infra-
estrutura favorável a seu emprego e existência de literatura que respalde a
importância da estratégia à assistência:
A experiência do cotidiano do ensino fortalece e consolidou a
importância da necessidade do BT no cuidar da criança doente ou
sadia.(12)
A abordagem e finalidades são discutidas e respaldadas em literatura
especializada, facilitando a análise. (46)
Os achados revelam a valorização de um importante instrumento para qualidade da
assistência a ser prestada. Para tanto, esta assistência deve estar
fundamentada no conhecimento científico, assim como as demais instituições de
saúde tenham uma filosofia de assistência centrada não só na patologia, mas,
sim, na criança e sua família.
As dificuldades na implementação do ensino prático do brinquedo/brinquedo
terapêutico, nos relatos dos docentes são mencionadas situações referentes à
aplicação propriamente dita, como: falta de infra-estrutura e recursos; não
valorização e despreparo dos docentes em relação à aplicação do brinquedo
terapêutico e não aceitação desse recurso pela equipe profissional e
dificuldade na implantação sistemática dessa intervenção, como: crença que o
brinquedo é competência só do psicólogo; falta de tempo para sua aplicação e o
fato do aluno não compreender a importância do brinquedo, conforme os relatos
de alguns docentes:
Não utiliza como uma atividade rotineira, a enfermeira aprende na
graduação, especialização e mestrado, e nunca presenciei esta
atividade na prática, ou seja, é apenas teórico. (45).
Na prática, os enfermeiros resistem a utilização da técnica, por
falta de tempo, sobrecarga de atividade e indisponibilidade no setor.
E os conflitos gerados com os profissionais da saúde mental
(psicólogos) que não aceitam a aplicação da técnica pelas
enfermeiras.(47)
Em relação à não valorização do brinquedo/brinquedo terapêutico, despreparo dos
docentes e não ser competência do profissional enfermeiro a realização desta
técnica torna-se necessária a capacitação desses profissionais para a demanda
atual em razão da aprovação da Resolução COFEN N.º 295/2004 que considera a
intervenção com o brinquedo na prática assistencial e assegura ao profissional
enfermeiro o emprego da técnica na assistência à criança e família(19).
Quanto à questão da falta de infra-estrutura e de recursos nos hospitais, as
instituições precisam se reestruturar para atender à Lei N.º 11.104/05, que
preconiza a obrigatoriedade de instalação de brinquedoteca nas unidades de
saúde que ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação(24).
5. CONCLUSÃO
Na maioria das instituições estudadas, o brinquedo/brinquedo terapêutico é
abordado, tanto no ensino teórico como no prático de modo efetivo nos últimos
dez anos. Os alunos têm tido a oportunidade de utilizar o brinquedo/brinquedo
terapêutico na assistência à criança, tanto na área hospitalar como na área não
hospitalar; porém, o brinquedo terapêutico propriamente dito é praticado em
apenas 14,5% das instituições. A receptividade dos alunos pela temática é
individual: pois, alguns se envolvem facilmente, outros precisam vivenciar para
acreditar em sua eficácia e também existem os que não demonstram interesse pela
técnica. Suas facilidades de aplicação na assistência relacionam-se à
valorização desse recurso e suas dificuldades são relacionadas à aplicação e
implantação do brinquedo/brinquedo terapêutico na assistência à criança.
Para tanto, o docente precisa estar ciente das dificuldades de implementação do
instrumento na prática e atuar como facilitador do processo de articulação
entre teoria e prática, com conhecimento e habilidades pedagógicas necessárias
para motivar o aluno de maneira efetiva. Os resultados deste estudo poderão
contribuir para o repensar do ensino do brinquedo/brinquedo terapêutico nos
cursos de graduação em enfermagem.