Memória da implantação da graduação em enfermagem na Unicamp
HISTÓRIA DA ENFERMAGEM
Memória da implantação da graduação em enfermagem na Unicamp
Creation memory of the nursing undergraduate course at the University of
Campinas
Memoria de la implantación del curso de graduación en enfermería en la
Universidad de Campinas
Débora Martins ZulskeI; Márcia Regina NozawaII
IAcadêmica do Curso de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas, Unicamp,
Campinas, SP
IIDoutor em Saúde Pública. Professor doutor do Departamento de Enfermagem da
Faculdade de Ciências Médicas, Unicamp, Campinas, SP
1. INTRODUÇÃO
Com a Resolução nº 44 de 1966, o Conselho Estadual de Educação do Estado de São
Paulo(1) autoriza a instalação de uma faculdade de enfermagem na Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) em 1966, ano em que se instala a pedra
fundamental do campusda Universidade. Contudo, a Graduação em Enfermagem,
bacharelado e licenciatura, teve início somente no ano de 1978, e conforma-se
como tal dentro da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), unidade de ensino
também responsável pela graduação médica, a mais antiga da universidade,
legalmente formalizada pela Lei Estadual nº 2.154 de 30 de junho de 1953, mas
autorizada a funcionar somente em 1963(2). Mais recentemente, em 2002, teve
início o curso de graduação em fonoaudiologia, numa parceria entre e FCM e o
Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp e no ano de 2004, o curso de
farmácia, com coordenação compartilhada entre a Faculdade de Ciências Médicas e
os Institutos de Biologia e de Química.
A Unicamp, como entidade autárquica, foi legalmente instituída em dezembro de
1962, mas, efetivamente, passou a existir somente em 1966 quando incorporou a
então Faculdade de Medicina de Campinas. Esta funcionou na Maternidade de
Campinas e transferiu-se, posteriormente, para as instalações da Santa Casa de
Misericórdia de Campinas, ali permanecendo até a construção do Hospital das
Clínicas (HC). A obra do prédio do HC, iniciada em 1975, finalizou-se em 1986,
muito embora o atendimento ambulatorial já funcionasse nas novas instalações
desde 1979(2).
De 1966 até 1978, Unicamp foi dirigida pelo professor Zeferino Vaz, nomeado
reitor por decreto do governador do Estado, grande idealizador que aliava em
seu perfil características autoritárias e paternalistas, imprimiu um estilo de
administração pouco institucional. Os professores eram contratados por mérito,
não havia concurso, a carreira docente não estava definida e as decisões na
universidade eram tomadas caso a caso(3).
Em 1978, quando se encerra o período previsto de implantação, a Unicamp contava
com cerca de 1000 docentes e 14 unidades de ensino (2);(3) ocorrendo a criação
do Curso de Graduação em Enfermagem na universidade. Sabe-se que, a convite do
então diretor da FCM, um enfermeiro não pertencente aos quadros da Unicamp
recebeu a incumbência de formalizar o projeto de criação do Curso de Enfermagem
e iniciar sua implantação.
O currículo adotado, e em vigor até o ano de 1996, correspondia em termos
gerais, ao currículo mínimo para os cursos de graduação em enfermagem,
instituído pelo Parecer nº 163/72 do Conselho Federal de Educação(4).
O reconhecimento dos Cursos de Bacharelado e Licenciatura em Enfermagem ocorreu
mediante Parecer nº 2038/81 do Conselho Estadual de Educação e Portaria MEC nº
322, publicada em Diário Oficial da União em 20/08/82(5).
Obedecendo ao currículo previsto, as disciplinas do tronco básico do Curso de
Graduação em Enfermagem, concentradas no primeiro ano, foram ministradas,
predominantemente, pelo Instituto de Biologia e também por alguns departamentos
da FCM. A partir de 1979, quando se iniciou o oferecimento de disciplinas
específicas de enfermagem, pertencentes ao tronco profissionalizante, houve a
participação de diversos enfermeiros, entre eles, alguns originários do quadro
de pessoal do então Hospital das Clínicas, visto que não havia um corpo docente
constituído para esse fim.
A instalação posterior do Departamento de Enfermagem implicou a incorporação
gradual e não institucional de enfermeiros para atender às necessidades de cada
nova disciplina de graduação que ia sendo oferecida. A partir desse conjunto de
profissionais, a criação oficial do Departamento de Enfermagem na estrutura da
FCM, com dez docentes, ocorreria somente no ano de 1981(6). Desde então, o
Departamento de Enfermagem mantém-se subordinado à FCM, como o único
departamento de ensino, entre os 16 existentes, exclusivamente composto por
docentes não médicos.
O argumento central para a criação do curso de Graduação em Enfermagem da
Unicamp era a necessidade emergente de formação de mão-de-obra para o Hospital
das Clínicas, em fase de construção, e para a rede básica de saúde do município
de Campinas em processo de implantação(1).
Contudo, o currículo adotado, oferecia uma formação compartimentalizada, por
meio de disciplinas que reproduziam as especialidades médicas com ações de
saúde, predominante, de caráter curativo e adequava-se ao modelo econômico
excludente e concentrador de rendas de então, ou seja, a medicalização da saúde
e tecnificação do ato médico e conseqüente expansão dos interesses capitalistas
na saúde.
O curso, sempre ofertado em período integral, era passível de integralização em
oito semestres, na modalidade bacharel (245 créditos ou 3675 horas), e em nove
semestres para abranger a licenciatura, implicando acréscimo de 36 créditos ou
540 horas. Até o ano de 1999, o curso disponibilizava 30 vagas anuais.
Em outubro de 1983, realizou-se, por iniciativa de alunos, o primeiro seminário
de avaliação curricular. Nessa ocasião, o Departamento de Enfermagem contava
com 15 docentes, cinco deles admitidos naquele mesmo ano, entre os quais apenas
dois portavam titulação acadêmica, um mestre e um livre docente, e outro era
mestrando. Assim, o grupo de docentes compunha-se majoritariamente de graduados
em Enfermagem, entre eles alguns especialistas. A admissão de professor
específico para a Enfermagem em Saúde Pública ocorreu somente nesse ano. Outros
dois seminários de avaliação foram realizados nos anos de 1985 e 1991,
organizados pela própria Comissão de Ensino de Graduação, os quais trataram de
identificar problemas e propor medidas para aprimorar o ensino ministrado(7).
Nos últimos anos da década de 80 e primeiros da década de 90, docentes de
algumas disciplinas que tradicionalmente desenvolviam o ensino prático em
campos hospitalares, tais como, fundamentos de enfermagem, enfermagem
ginecológica e obstétrica e enfermagem cirúrgica, tomaram a iniciativa de
estender o ensino a unidades básicas de rede municipal de saúde de Campinas e
outros equipamentos sociais, tendo em vista a necessidade de desenvolver nos
alunos determinadas competências que dificilmente eram possíveis em unidades de
internação ou ambulatoriais de um hospital especializado pela suas
características e finalidade(6).
A constatação dessa mudança não oficializada aliada à crítica da inadequação do
currículo, efetivada, principalmente, por docentes da área de enfermagem de
saúde pública e saúde mental, reforçou a necessidade de iniciar um processo de
revisão e reforma curricular. De modo mais organizado, no ano de 1993, por
ocasião do evento comemorativo dos 15 anos do Curso de Graduação, iniciou-se um
movimento de avaliação curricular que se estendeu pelos três anos subseqüentes
e que resultou na proposta de um novo currículo para a graduação, implantada em
1997(7).
No plano das proposições, o novo currículo de Graduação em Enfermagem da
Unicamp, comparado ao anterior, previa uma subversão da ordem instituída pela
inversão de eixos norteadores do ensino, ou seja, o aprendizado do processo
saúde-doença partiria do enfoque coletivo em direção ao individual, pelo
reconhecimento das condições sociais, políticas, culturais e biológicas de sua
produção.
Somente em 1999 iniciou-se o programa de pós-graduação em enfermagem nível
mestrado na Unicamp. Desde então, as exigências quantitativas de produção
científica do corpo docente, impostas pelas instâncias oficiais de avaliação
dos programas de pós-graduação, somadas aos indicadores institucionais de
avaliação docente aplicados nos últimos anos, ou seja, de valorização da
produtividade científica, acabaram por conformar uma maior preocupação e
atenção dos professores nessa direção com prejuízos evidentes na docência,
principalmente de graduação(8,9).
Em 2000, houve ampliação de dez vagas de graduação, conformando um ingresso
anual de 40 alunos.
Atualmente, o Departamento de Enfermagem é composto por 22 docentes em
exercício efetivo, três professores associados, 19 doutores e 15 enfermeiros da
carreira assistencial que assumem atividades de ensino de graduação. Entre
esses, dois doutores, dois doutorandos e sete mestres e dois mestrandos. O
quadro de pessoal, já deficitário, apresentou redução drástica em virtude da
aposentadoria de sete docentes, ou cerca de 30% do corpo docente, somente no
ano de 2003.
A proposição deste estudo situou-se entre as diversas iniciativas
institucionais de recuperação da memória do Curso de Graduação em Enfermagem da
Unicamp que completou seus 25 anos de existência em 2003, tendo já conferido
graduação a aproximadamente 530 enfermeiros.
2. OBJETIVO
Reconstituir a história da implantação do Curso de Graduação em Enfermagem da
Unicamp.
3. METODOLOGIA
O relato oral tem sempre se constituído, ao longo dos séculos, como a maior
fonte humana de conservação e divulgação do saber, ou a maior fonte de dados
para as ciências em geral(10). A narrativa oral, após transcrição, se
transforma num documento semelhante a qualquer outro texto escrito que serve de
base para o trabalho de investigação.
A história oral recobre relatos acerca de fatos não registrados por outro tipo
de documentação ou que se deseja completar. Ela pode ser colhida por meio de
entrevistas realizadas de formas variadas, registrando a experiência de um só
ou em coletividade, procurando-se, neste caso, atingir uma convergência de
relatos sobre um mesmo acontecimento ou determinado período de tempo(10,11).
Representa, assim, a construção de uma abordagem alternativa à historiografia
tradicional, na medida em que toma por objeto a vida cotidiana, o homem comum,
os fenômenos sociais não escritos, não formalizados(10,11).
A coleta de dados dessa pesquisa foi feita por meio de entrevista orientada por
um roteiro de questões, em consideração aos objetivos propostos, e através da
consulta à documentos oficiais, referentes ao processo de Implantação do Curso
de Graduação em Enfermagem (1) e à constituição do Departamento de Enfermagem
na Faculdade de Ciências Medicas da Unicamp (12).
O projeto recebeu aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da FCM, Unicamp, em
19/08/2003, mediante o parecer de nº 291/2003. No momento da entrevista, os
depoentes tomaram conhecimento do projeto de pesquisa e do roteiro de questões
orientadoras e também assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
As fontes secundárias de pesquisa, ou seja, os documentos institucionais,
contêm indicações que permitiram identificar seis enfermeiros que participaram
do momento histórico de criação do Curso de Enfermagem(1,12). Entre esses,
verifica-se um personagem que foi responsável por formalizar a proposta de
criação do Curso de Graduação. Este, docente aposentado pela Unicamp, deveria
ter sido o primeiro sujeito a ser entrevistado, mas por dificuldades pessoais,
uma vez que reside em outro município, foi o último a ser entrevistado.
A primeira entrevista foi realizada simultaneamente com duas professoras que
apresentaram tal solicitação alegando que a interação, no momento da
entrevista, favoreceria a rememoração dos fatos. Essa entrevista foi realizada
na residência de uma das entrevistadas.
A entrevista seguinte foi realizada com uma das primeiras personagens desse
momento histórico, atualmente integrante do corpo docente aposentado pela
Unicamp, que a ocorrência de problemas de saúde impediu que lhe fosse concedida
a prioridade temporal em relação às demais. Por escolha da depoente, a
entrevista também se deu em sua residência.
O quarto depoente foi um aluno integrante da primeira turma de ingressantes no
Curso de Enfermagem e que hoje faz parte do corpo docente do Departamento de
Enfermagem desta Universidade. Essa escolha deveu-se ao fato de que no decorrer
das entrevistas anteriores identificou-se a necessidade de inserir a
perspectiva de um protagonista que colaborou na construção desse momento
histórico na posição de aluno A entrevista ocorreu a partir de um segundo
agendamento em virtude de impedimentos pessoais do depoente. A entrevista se
deu nas próprias instalações do Departamento de Enfermagem, por escolha do
entrevistado.
Ao longo desse período continuamos tentando estabelecer contatos com o
professor que deveria ter sido o entrevistado inicial.
Ao longo dos relatos obtidos, todos os entrevistados mencionaram o nome de uma
enfermeira que também participou do momento inicial de implantação do Curso,
muito embora não tenha sido jamais contratada como docente. Assim, partimos à
busca de alguma forma de contato com essa enfermeira citada. Com bastante
dificuldade localizamos um número telefônico, mas após inúmeras tentativas não
obtivemos contato. Dada à freqüente convergência na indicação do nome dessa
profissional, entendemos a necessidade e importância de sua contribuição na
história da instalação do Curso de Graduação em Enfermagem, assim, as novas
tentativas de contato resultaram sucesso na obtenção do depoimento dessa
profissional.
O sexto entrevistado foi um professor, também docente em exercício no
Departamento de Enfermagem da FCM, Unicamp, que segundo informações obtidas nos
documentos consultados, teria sido o sétimo integrante desse Departamento. Essa
entrevista foi bastante breve, se comparadas às demais, muito embora esse
docente tenha referido a posse de diversos documentos pertinentes a esse
período histórico e também sua dedicação ao registro de sua memória pessoal
relativa ao tempo de exercício docente nesta instituição.
A última entrevista foi realizada com o docente, aposentado pela Unicamp que
foi o fundador do Curso de Graduação em Enfermagem. Houve várias tentativas
anteriores a esta, mas sem sucesso, devido a disponibilidade pessoal do
entrevistado. A entrevista ocorreu nas dependências do Hospital das Clínicas.
Diante dos objetivos propostos e dos acréscimos realizados nesse momento de
coleta de dados, faltou entrevistar uma ex-docente, protagonista também
fundamental para a reconstrução da história do Curso de Graduação em Enfermagem
da Unicamp. Tratava-se de uma enfermeira já contratada, na época, como docente
da FCM e responsável por ministrar disciplina de procedimentos de enfermagem
para o curso médico, não entrevistada em decorrência do insucesso nas inúmeras
tentativas de estabelecimento de contatos e posterior constatação de que a
mesma transferira temporariamente sua residência para outro município e por
motivo de doença que também a impedia de disponibilizar-se para entrevista. O
limite cronológico para a finalização deste estudo definiu a desistência desse
depoimento.
Todas as entrevistas realizadas foram transcritas em forma datilográfica e, em
seguida, submetidas à conferência de fidelidade, ou seja, os textos transcritos
foram comparados às respectivas gravações para as devidas correções. O passo
seguinte consistiu na limpeza do texto para abolir as repetições, corrigir
eventuais erros de português e inserir pontuações, sem afetar a forma e o
sentido do texto.
Os textos originados das transcrições das fitas foram cuidadosamente lidos e
re-lidos, visando obter um nível de atenção flutuante que permitiu a segura
decomposição do material, a extração de recortes com a finalidade de utilizar,
do conteúdo, apenas aquilo que era compatível com a síntese que se buscava,
tomando por referência os objetivos do estudo.
Os conteúdos dos textos foram cotejados com dados originários de outras fontes
de pesquisa, neste caso, os documentos institucionais já disponíveis, visto que
outros documentos não se tornaram acessíveis no decorrer do processo de
pesquisa, muito embora alguns entrevistados tenham feito menção à existência de
outros documentos.
4. RECONHECIMENTO DA HISTÓRIA CONSTRUÍDA
Na década de 70, o Dr. Luiz Cietto, doutor e livre-docente pela Escola de
Enfermagem Ana Neri da Universidade Federal do Rio de Janeiro, já desenvolvia
atividades docentes na Universidade de Mogi das Cruzes, como professor titular.
Tendo tido interesse em ingressar em uma universidade pública, com vistas a
ampliar suas possibilidades de desenvolvimento acadêmico e científico na área
de administração de enfermagem, submeteu-se e foi aprovado em concursos
públicos para professor titular em uma universidade pública do estado do
Paraná.
Paralelamente, o Dr. Cietto em contato com Dr. Manoel Gonçalves Ferreira Filho,
professor titular da Faculdade de Direito da USP e vice-governador do Estado de
São Paulo naquele momento, com vistas a identificar possibilidades de atuação
docente no cenário de ensino universitário público paulista, recebeu a
recomendação de procurar a Unicamp. Assim, o Dr. Cietto estabeleceu interação
com o professor José Aristodemo Pinotti que, ocupando a direção da FCM,
demonstrou grande interesse em sua contratação tendo em vista o plano de
implantação do curso de enfermagem, formalmente previsto desde 1966, e a
constatação de que o interessado apresentava titulação acadêmica e experiência
docente compatíveis com o perfil desejado pela universidade. O professor
Pinotti, empenhou-se na contratação do Dr. Cietto junto ao reitor da Unicamp. O
sucesso dessa iniciativa levou o Dr. Cietto a desistir da vaga na universidade
paranaense.
Em 03 de agosto de 1976, o Dr. Luiz Cietto foi, então, nomeado pelo reitor da
Unicamp, Prof. Dr. Zeferino Vaz, como Professor Colaborador junto à FCM e
também designado pelo diretor da FCM, Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti, como
presidente da Comissão de Implantação do Curso Superior de Enfermagem da
universidade. Esta comissão era composta por outros nove integrantes, entre
eles, sete docentes, a Chefe do Serviço de Enfermagem do Hospital das Clínicas
e uma funcionária administrativa(1).
Aos 17 de novembro do mesmo ano, o Prof. Dr. Luiz Cietto encaminha ao Diretor
da FCM da Unicamp, o Projeto de Implantação do Curso Superior de Enfermagem. No
ofício de apresentação de tal projeto, o Prof. Luiz Cietto refere que o mesmo
foi elaborado em curto período de tempo, três meses, em atendimento às
determinações da própria direção da FCM.
Tal projeto compunha-se apenas do bloco de disciplinas do chamado tronco básico
do curso, em virtude da necessidade de empreender-se urgente tramitação do
mesmo na universidade (1) e teria sido formulado, essencialmente, pelo empenho
do Dr. Cietto que visitou algumas instituições, tais como a Escola Ana Nery e a
Escola de Enfermagem da USPSP, para apreender a orientação filosófica, a grade
curricular e outros aspectos relevantes para a elaboração do projeto da
enfermagem na Unicamp. A escolha dessas instituições, pelo depoimento do
Professor Cietto, decorreu de suas relações anteriores com as mesmas.
Pelos depoimentos colhidos, identificou-se que nenhum dos sujeitos
entrevistados participou da elaboração do projeto de criação do curso e que
houve a colaboração da então assessora pedagógica da FCM, Sra. Sílvia Véspoli,
na formulação das ementas das disciplinas que comporiam o curso(13).
Em data não precisa, durante o ano de 1977, o Professor Dr. Luiz Cietto passa a
assumir também a direção da Divisão de Enfermagem do Hospital das Clínicas (HC)
da Unicamp, que até então se constituía como Serviço de Enfermagem, e
permaneceu nessa função até o ano de 1980. Assim, esse professor acumulou, por
um certo período, a direção da Divisão de Enfermagem do HC, a responsabilidade
pela implantação do Curso de Graduação, bem como sua coordenação.
É importante ressaltar que até o ano de 1985 o HC, Unicamp, manteve-se nas
instalações na Santa Casa de Misericórdia de Campinas. À frente da Divisão de
Enfermagem do HC, o Prof. Dr. Luiz Cietto pôde aproximar-se dos enfermeiros
pertencentes ao quadro de funcionários da Unicamp e, assim, identificar, entre
esses, aqueles que julgava apresentar o perfil por ele desejado. O interesse
pelo ensino, a disponibilidade em inserir-se em carreira docente foram as
características que lhe pareciam adequadas aos candidatos a assumirem a
responsabilidade de enfrentar os desafios da implantação do Curso de Enfermagem
diante das circunstâncias postas.
Portanto, os enfermeiros, futuros docentes, não foram submetidos à qualquer
tipo de seleção formal. Alguns foram convidados pelo Prof. Cietto, outros,
espontaneamente, manifestaram interesse. No entanto, alguns entrevistados
referiram que o convite que lhes fora feito apresentou-se com característica de
determinação superior, sem possibilidade de recusa.
Sabe-se que, naquele momento, já havia uma docente, enfermeira e mestre, Profª
Leonízia Rosa Moura de Toledo Tobar, nos quadros da FCM, que tinha a
incumbência de ministrar disciplina de procedimentos e técnicas de enfermagem
para o curso médico. Esta docente teve participação no planejamento de
disciplinas, a partir da grade curricular elaborada pelo Prof. Dr. Luiz Cietto,
e colaborou no ensino de disciplina de enfermagem no primeiro ano da graduação.
Entretanto, provavelmente no ano de 1979 ou 1980, essa docente transferiu-se
para outra unidade de ensino da universidade.
A enfermeira Maria José dos Anjos, mestranda na ocasião e professora do Curso
de Auxiliar de Enfermagem do HC, também compartilhou da história prévia à
criação do curso, auxiliando a professora Leonízia na disciplina de enfermagem
oferecida ao curso de Medicina e também ministrando aulas de Licenciatura para
enfermeiros do HC interessados em seguir carreira acadêmica. O Curso de
Auxiliar foi criado em 01 de agosto de 1973 e funcionava mediante convênio da
Unicamp com o Centro Médico de Campinas e a empresa Robert Bosch do Brasil.
Após curto período de tempo, diante de algumas divergências de pensamento e
postura com o coordenador do Curso de Graduação, não superadas, ela se afastou
da graduação e reassumiu suas atividades didáticas no Curso de Auxiliar de
Enfermagem.
Outra participante, também enfermeira do HC, que auxiliou no processo de
implantação do curso foi Dalva Maria Darcoletto Silva Pereira, que, sob a
direção do Prof. Cietto passou a assumir a função de assistente administrativa
da Divisão de Enfermagem do hospital. Nessa época, juntamente com a professora
Leonízia, desenvolveu o planejamento das disciplinas do curso.
A aprovação do funcionamento do Curso Superior de Enfermagem pelo Conselho
Diretor da Unicamp, bem como a devida autorização para a realização do concurso
vestibular que ficaria naquele ano sob responsabilidade da FCM, sob supervisão
da Câmara Curricular e Diretoria Acadêmica, ocorreu em 10 de novembro de 1977
(1).
Em 1978, acontece o primeiro vestibular e inicia-se o curso de Graduação em
Enfermagem da FCM, nas modalidades bacharelado e licenciatura, no dia 01 de
março, oferecendo 30 vagas e com um corpo docente composto apenas por três
professores: Dr. Luiz Cietto, Leonízia Toledo Tobar e Dalva Maria Darcoletto
Silva Pereira. Assim, as duas disciplinas de enfermagem iniciais foram
ministradas por esses professores e a disciplina de nutrição foi ministrada
pela nutricionista Myrta T. de Lima e Silva, da Prefeitura Municipal de
Campinas, na condição de colaboradora voluntária. Esta profissional foi
inserida informalmente para substituir outra nutricionista da universidade que
assumiria o ensino dessas disciplinas, mas que, por razões de ordem pessoal,
precisou afastar-se de suas atividades.
De acordo com o currículo em vigor na ocasião, grande parte das disciplinas, do
primeiro ano, eram ministradas pelo Instituto de Biologia. À medida que as
disciplinas específicas de enfermagem iam surgindo, houve a necessidade de
inserção ou de contratação de outros professores.
No final do ano de 1978, devido às necessidades decorrentes das disciplinas que
iam sendo paulatinamente oferecidas, outras enfermeiras do HC foram compondo o
reduzido grupo de professores, entre elas, Rachel Noronha e Neusa Maria
CostaAlexandre. Essas professoras, juntamente com Dalva, foram responsáveis
pelas disciplinas de Médico Cirúrgica I e II, ministradas no segundo ano. No
segundo semestre desse mesmo ano, houve também a participação da enfermeira
Maria Euridéia de Castro para ministrar o ensino da disciplina de Enfermagem em
Centro Cirúrgico, esta também permaneceu no curso por pouco tempo.
No ano de 1980, a enfermeira Maria Cecília Cardoso Benatti, também enfermeira
do HC, tendo recém concluído curso de especialização em Administração
Hospitalar na Universidade de São Paulo, SP, passou a integrar o grupo de
professores e assumiu as disciplinas de Enfermagem Ginecológica e Obstétrica e,
no ano seguinte as disciplinas de Enfermagem em Saúde Pública e de
Administração Aplicada à Enfermagem. Segundo relatos, devido à escassez de
professores no curso, a enfermeira Maria Cecília Cardoso Benatti participou no
ensino de 14 diferentes disciplinas. Também no ano de 1980, a enfermeira Keila
Esmeralda Montebello Sabóya Brito, teve participação em disciplinas do campo da
saúde da mulher, mas não permaneceu no quadro docente. Nesse mesmo ano, o
enfermeiro José Franscisco Filho, também originário do HC, assumiu o ensino de
disciplinas de Enfermagem em Moléstias Infecciosas e, no ano seguinte, as de
Enfermagem Psiquiátrica.
No ano de 1980 houve as primeiras contratações de enfermeiras na carreira
docente, as professoras Anna de Lucca Oliveira e Eliana Russomano Veiga
Sgambatti, a primeira para a área de enfermagem materno-infantil e a segunda
para as disciplinas de Enfermagem Psiquiátrica. Segundo depoimentos colhidos,
os outros enfermeiros, Dalva, José Francisco, Neusa, Maria Cecília e Rachel
Noronha migraram para a carreira docente em 13 de novembro de 1980 e a criação
do Departamento de Enfermagem foi aprovado pelo Conselho Diretor da Unicamp, em
10 de março de 1981. Em 30 de abril do mesmo ano, por Ato de Reitor, os
docentes, relacionados a seguir, foram lotados no Departamento recém criado,
Anna de Lucca Oliveira, Dalva Maria Darcoletto Silva Pereira, Eliana Russomano
Veiga Sgambatti, José Francisco Filho, Keila Esmeralda Montebello Sabóya Brito,
Leonízia Rosa Moura de Toledo, Luiz Cietto, Maria Cecília Cardoso Benatti,
Neusa Maria Costa Alexandre e Rachel Noronha.